Fui parar dentro de uma história de fantasma... e ainda tenho que trabalhar

Capítulo 83

Fui parar dentro de uma história de fantasma... e ainda tenho que trabalhar

– Que alívio, um bruto até o osso. Se esse fosse meu programa, jamais o deixaria entrar como convidado!

Nunca tinha sido tão grato por só eu poder ouvir a voz do Braun.

Reuni uma voz calma e me dirigi ao sargento, que ainda segurava a cabeça de Go Seonha.

— Obrigado, sargento.

— Urrgh...

– Ele diz que está cansado. Que falta de educação!

Você é mais assustador traduzindo aquele rosnado monstruoso...

Mas então, naquele momento.

Um som baixo e abafado escapou debaixo da mão do sargento.

Era uma voz humana.

— E-Espere, por favor...

— ......!

De algum jeito, o rosto de Go Seonha voltou ao normal, sua expressão era de puro terror, enquanto gemia fraca.

— P-Por favor, me ajudem... salvem...

Deixem essa criança aqui...

— Uh, ugh...

Seus olhos reviraram, e a voz do changgwi voltou a tomar conta.

Só você precisa morrer... Hm? Certo? Você merece morrer. Você matou pessoas. Tentou matar as crianças. Eu sei de tudo. Você merece morrer.

Go Seonha lutava.

— Não, não...

Só a deixe para trás. Deixe ela, sim? Hmmmm?

— Por favor, me salva, me salva! Aaaah!

Nesse momento —

— Me diga,

A voz do sargento, agora soando humana, perguntou,

— Você solicitou formalmente o resgate emergencial da <Daydream Inc.>...?

Não conseguia ver seu rosto sob a forma monstruosa, mas sua voz direcionou a pergunta claramente para Go Seonha.

— Isso é um pedido oficial que requer contrato assinado... não é isso?

Algo ali parecia errado.

Go Seonha, atordoada, olhou para cima, então pareceu recobrar a consciência e respondeu em tom desesperado.

— Ri—

Espere.

— Não, não é.

Intervi, forçando as palavras para fora.

— Essa Escuridão não está sob jurisdição da Daydream Inc., nós não entramos para resgatar civis e, além disso, houve ajuda mútua dos dois lados.

— Huh...? Estranho...

A voz do sargento abaixou, perigosamente rouca e com um rosnado.

— Ela não estava tentando nos impedir de fugir...?

Gaaasp.

— ...Isso não importa, senhor. No fim das contas, ela nos ajudou.

Falei firme.

— O que faz isso uma cooperação.

— ......

O sargento me encarou, depois olhou para Go Seonha...

— Ah... é mesmo...

— ......

— Talvez isso esteja certo...

Srrrk.

Sua voz relaxou, voltando ao tom usual de indiferença casual.

‘Huuu.’

Intervim porque algo parecia errado, e parecia que fiz a coisa certa.

‘É melhor não se enroscar com a Daydream Inc...’

Ainda mais para acabar devendo algo a eles. Só de pensar, já dava um mal pressentimento.

— Hm... e o que vamos fazer agora...?

— Um momento, por favor.

Me aproximei do chefe de seção Lee Byeongjin, que estava afastado, olhos fechados, segurando as crianças. Ele pulou com o som dos meus passos.

— Ai! Você veio... me levar também...?

— O incensário.

— Huh...?

— Entregue.

Peguei o incensário dele. Embora o incenso de pêssego já tivesse queimado, as cinzas permaneciam intactas dentro.

‘O changgwi não gostava dos galhos de pêssego.’

Se for isso...

Joguei as cinzas sobre o ombro de Go Seonha.

AAAAAAHHHHHHH!

Chilro.

Embora as cinzas não estivessem quentes, o cheiro de queimado e sal tomou o ar enquanto a fumaça subia do ombro dela.

Eu não vou! Não vou! Vou me agarrar de novo! Vou me agarrar... Aaaaagh!

Joguei o resto das cinzas sobre a cabeça dela.

O corpo dela, possuído pelo changgwi, convulsionou violentamente e então —

Gaaasp —

Seus olhos se abriram, cheios de clareza e alívio.

Era Go Seonha.

— E-Estou bem agora! Acho que... estou bem...

— Não, você não está.

— Como?

— Este é um lugar em que fomos atraídos pelo changgwi, então há chance de ele voltar a te possuir a qualquer momento.

— E-Então...

— Vamos garantir que ele não possa te possuir de novo, só para garantir.

— ......?

Eu tinha trazido um pacote extra do suco de maçã comigo.

Entreguei o pacote lacrado para Go Seonha.

— Uh...?

— Beba tudo de uma vez.

Insisti, e embora ela parecesse confusa, aceitou a contragosto e começou a engolir o suco enquanto estava abatida no chão.

E um momento depois —

Ela desabou, caindo em sono profundo, como o ginseng.

Ufah.

— Pelo menos isso está resolvido...

— Pode soltar agora.

— ......

O sargento de segurança soltou o aperto e, com voz levemente divertida, perguntou,

— Está pensando em trocar de setor...?

— Não, obrigado, senhor.

Por favor, me poupe.

Depois de agradecer novamente ao sargento, que felizmente voltou a sua forma mais humana, fui até o chefe de seção Lee e as crianças, que ainda mantinham os olhos bem fechados.

— Podem abrir os olhos agora. Está seguro.

— Ah...!

O alívio tomou conta do rosto do chefe de seção Lee, que logo lançou um olhar preocupado às crianças e sussurrou para mim com expressão desesperada.

— Mas e agora? Como vamos encontrar a saída...?

— ......

— O amanhecer está quase aí!

Olhei para o céu.

Através da névoa espessa, uma luz fraca parecia começar a passar...

A lua cheia estava quase se pondo.

‘Não há tempo para refazer o ritual.’

Mas...

— Vamos conseguir.

— ...O quê?

— Acredito que conseguimos pelo menos metade do ritual.

Lembrei como o caminho mudava a cada passo enquanto cantávamos e como o incenso queimava corretamente.

‘Tudo o que preparamos estava certo.’

O ritual, falando estritamente, tinha dois objetivos.

Evitar o changgwi.

E buscar uma rota de fuga apelando para Sangun-nim.

— Parece que alcançamos o segundo objetivo.

Enquanto o primeiro falhou por causa da possessão do changgwi em um dos nossos, nos trazendo perto da margem da água...

— Talvez exista uma saída por aqui perto.

— ......!

Nos agrupamos e começamos a vasculhar a névoa densa, nos afastando da beira d’água em direção a uma clareira próxima à montanha.

Procuramos onde o caminho do ritual havia terminado.

– ‘Se encontrar um pequeno buraco de cobra num lugar sem grama, agradeça pela misericórdia de Sangun-nim e alcance a mão para dentro. Certifique-se de que sua mão esteja coberta com água da cisterna misturada com sal.’

‘Um lugar sem grama... um lugar sem grama...’

E então, alguns momentos depois —

— E-Eu achei!

— ......!!

Uma das estudantes do ensino médio avistou um pequeno buraco embaixo de uma árvore.

Um raio de luar atravessava a névoa, iluminando diretamente o buraco escuro, negro como tinta.

— ......

O buraco da cobra.

Fiz todos molharem as mãos na água salgada, sem ligar para o medo ou hesitação que nos tomava.

— Rápido, rápido.

Às vésperas do amanhecer, cada um de nós colocou a mão dentro do buraco da cobra.