
Capítulo 75
Fui parar dentro de uma história de fantasma... e ainda tenho que trabalhar
— “Seria possível você fazer o mesmo por outra pessoa?”
— “Por alguém que não seja um amigo?”
A voz de Braun se contorceu por um instante, como se eu tivesse feito uma proposta desagradável, mas ele respondeu com seu tom alegre de sempre, típico de um verdadeiro showman.
— “Bem, talvez eu pudesse, mas não correria esse risco!”
— “Sr. Roe Deer, tudo tem limite, e quanto mais você distribui, menos sobra para você mesmo, não concorda?”
Parecia que, se Braun estendesse seu poder a outra pessoa, sua duração ou força diminuiriam.
— “Então, para garantir a segurança, é mesmo uma solução individual.”
Mesmo assim, deixar as crianças para trás me corroía a consciência, especialmente sendo alguém da era moderna, que recebeu educação pública.
E tem mais...
— “Braun, se não conseguirmos tirar o Chefe de Seção Lee Byeongjin conosco, nosso orçamento vai ficar sério.”
— “...Hm?”
— “Não vamos conseguir comprar a Banheira de Sangue...”
O capitalismo me segurava.
— “Ahhh... isso não pode!”
— “Mas se apagarmos duas luzes, qualquer observador atento vai perceber na hora! Isso vai acabar com a qualidade da cena!”
É.
— “Então vou procurar outra solução.”
Claro que, se a situação ficasse crítica, eu acionaria Braun com um SOS e sairia correndo com pelo menos mais uma pessoa.
— “Farei o que puder.”
— “Lamentável! Mas entendido.”
Vasculhei o bolso. Felizmente, alguns itens essenciais que eu sempre levava ao trabalho ainda estavam lá, mesmo depois de vestir o uniforme da segurança.
O Adesivo Sorridente, as comidas que aumentavam ou diminuiam status da Alice, e até algumas maçãs da Branca de Neve. Eu perdi o garfo do meu Conjunto de Talheres Sanguessugas, mas...
— “Ele sempre foi um par.”
Claro, eu ainda tinha a faca.
Retirei a peça restante do Conjunto de Talheres Sanguessugas do bolso da perna oposta.
E fiquei surpreso.
— “...Cresceu!”
A faca não era mais do tamanho de um talher de sobremesa. Agora tinha um cabo trabalhado com detalhes intricados e uma pequena pedra vermelha elegante incrustada como enfeite.
Claramente havia evoluído.
— “Será que o sangue que o garfo absorveu se transferiu para cá?”
— Afinal, eles eram um par.
“……!! I-Isso é a arma de contenção da Equipe de Segurança?”
Não respondi, deixando Lee criar a interpretação errada.
Com cuidado, enxuguei a faca agora do tamanho de uma lâmina na roupa e coloquei-a no bolso frontal da jaqueta, onde podia pegar facilmente.
Por favor, que eu não precise usá-la.
— “Então, vou começar a vasculhar a casa.”
— “A... A-Está bem!”
Quando me movi, Lee rapidamente se afastou.
Fixei o olhar nele enquanto ele congelava no lugar.
— “……?”
— “Gostaria que viesse comigo.”
— “Q-Que?! A-Ah, não. Eu, hum, já procurei em tudo...”
— “Você já procurou, então estou pedindo que me guie.”
— “E-Entendo, senhor.”
Lee hesitou, mas obedeceu, olhando nervoso para mim enquanto começava a andar.
Bom. Evitei que ele surtasse ou desmaiasse de medo sozinho.
— “Este lugar, hum... provavelmente é a cozinha, senhor. Mas não tinha comida nenhuma.”
A velha casa, enferrujada e coberta de poeira, com mofo avançando, estava cheia apenas de talismãs em todas as paredes.
Lembrei das casas abandonadas nas estradas de montanha, no meio do caminho, esquecidas e sem moradores.
— “Você ficou aqui por uma semana. Não se sentiu desconfortável?”
— “Bom... eu nunca senti sede nem fome...”
O rosto dele ficou pálido.
— “Toda vez que o f-fantasma aparecia à noite, era estranho—eu sentia minha energia esvaindo...”
— “Você tentou sair durante o dia?”
— “...Quis sair, mas... por mais longe que andasse, só via floresta atrás de floresta... Eu tinha medo do sol se pôr enquanto eu estavam lá fora, então voltava para cá.”
O relato dele conferia com outros registros de exploração.
Nesse caso...
— “P-Pra onde você vai?”
Fui até o fim do corredor, que não tinha portas, até chegar a um beco sem saída.
— “Deve ter um andar superior.”
— “Hã?? Não, não tem escada nem nada no caminho para cima! Eu procurei cada canto deste lugar na última semana e não encontrei nenhum sinal de escada...”
Convoquei a mão remota, segurei a Faca Sanguessuga restante e atirei para o alto.
Mais precisamente, em direção ao teto.
Gaaasp!
Ouvi um estalo quando algo cedeu. A faca ficou presa numa pequena fresta no teto. Com um barulho alto, o teto se abriu, e uma escada velha despencou barulhenta.
— “Achei o sótão.”
— “M-Minha nossa! Realmente a Equipe de Segurança... seu olho para espaços é, é além do normal!”
— “……”
Nem um pouco.
Eu só li muitos registros de exploração...
Casas abandonadas sempre têm sótão.
— “É natural que quem sabe onde procurar veja diferente de quem não sabe nada...”
De qualquer forma, parecia mesmo que aquilo levava ao sótão.
— “Uau.”
Sério, eu não queria ir.
— “Parece que estou entrando naquele cômodo mal-assombrado que se abre sozinho numa casa maldita.”
Mas eu já estava me fazendo passar pela Equipe de Segurança, então essencialmente me comprometi a ser o tanque da situação. Peguei a escada e subi, fingindo estar calmo.
Ruuuiii.
— “Por favor, me sigam!”
Como esperado, ninguém me acompanhou.
— “Vou gravar nessa cabeça essa atuação de Equipe de Segurança...”
Forcei minhas pernas a se manterem firmes, alcancei o sótão com dificuldade e terminei a busca rápida, descendo apressado.
Foi como se tivesse concluído minha investigação de forma rápida e eficiente.
— “Ufa.”
Provavelmente parecia natural o suficiente.
— “C-Como foi?”
— “Só um sótão velho. Não tinha nada de anormal...”
Mostrei minha única descoberta.
— “Isso estava em uma bandeja antiga.”
Era um livro gasto, encadernado no estilo antigo.
[活路]
— “Caminho pra sobrevivência! Será que tem uma saída mesmo?”
Ah, ele lê chinês clássico.
Abri cuidadosamente o livro frágil e antigo.
O livro inteiro estava em chinês clássico.
— “Chinês clássico... o máximo que tirei foi passar na prova nível 2 no ensino médio...”
— “Hoho. Conteúdo interessante.”
— “……!”
Será que ele realmente entendia chinês clássico?
— “Nossa, Sr. Roe Deer. Um anfitrião capaz como eu deve poder se comunicar com todas as pessoas do universo... bem, quase todas.”
Soava meio inverossímil, mas o que importava era isto:
— “...Pode ler isso em voz alta pra mim?”
— “Claro!”
Depois de um breve som, como se Braun estivesse limpando a garganta no estilo de um narrador clássico, sua voz ganhou um tom mais formal e profundo.