
Volume 1 - Capítulo 18
The Water Magician
— A marca no seu ombro certamente foi feita por uma espada... — disse o homem.
— Foi ele... O homem que matou o papai e a mamãe... — a voz de Oscar quebrou-se. Ele olhou para o chão, mas nenhuma lágrima caiu. Ele havia decidido viver, e chorar não era viver. Estava cansado das lágrimas.
— Velho, não tenho para onde ir. Por favor, deixe-me ficar aqui. Eu faço qualquer coisa. Aprendi ferraria com meu mestre. Ainda não sou bom em martelar, mas sei afiar. Sei acender um fogão também.
— Acender um fogão? Oscar, quer dizer que você é um mago do fogo?
— Um mago... do fogo? Não entendo bem o que está dizendo...
— Ah, claro. Me perdoe. Que tal acender aquela lareira ali? — o velho disse, apontando para a lareira próxima.
Berlocke entrou na sala e imediatamente colocou mais lenha, como se tivesse entendido a intenção do seu mestre sem precisar ser informado.
Oscar virou-se para a lareira e pronunciou:
— Queime.
Instantaneamente, uma pequena chama surgiu da mão de Oscar, voou até a lenha e começou a arder.
— Ora, ora...
— Que coisa...
Berlocke e o velho ficaram surpresos.
— Ele nem sequer usou um encantamento...
— Eu já suspeitava.
— O que querem dizer? — Oscar perguntou, curioso. O comentário surpreso de Berlocke parecia confirmar as suspeitas do velho.
— Não, só tive uma sensação ao ver seu cabelo. Lembrei-me de uma lenda sobre cabelos ruivos.
— Que tipo de lenda?
— “Amados são os que têm cabelos rubros flamejantes, pois é prova do amor do deus do fogo.” Pelo menos era assim que eu lembro.
O velho pronunciou as palavras com um tom solene.
— Basicamente, significa que aqueles com cabelos vermelhos flamejantes nasceram abençoados pelo deus do fogo. É uma lenda bem antiga... tão antiga que nem se passa mais nos templos...
Por alguns segundos, o velho ficou pensativo.
— Muito bem, está decidido. Berlocke, Oscar vai ficar aqui na propriedade. Oscar, isso significa que você vai aprender muitas coisas para se aprimorar. A partir de amanhã, você estudará leitura, escrita e aritmética todas as manhãs.
— Hã...
Nascido e criado numa vila, Oscar dava agora seus primeiros passos no mundo do “estudo”.
Berlocke tornou-se seu instrutor nos fundamentos de leitura, escrita e aritmética, enquanto o velho lhe ensinava sobre as Províncias Centrais — sua história, situação política, geografia e mais.
De manhã, ele assistia às aulas, e à tarde Berlocke o treinava na esgrima. Era isso que Oscar queria.
— Quero ser mais forte — ele disse a eles.
Oscar tinha um colega. Era Cohn, o garoto que avistou seu corpo desacordado no rio. O velho arranjou para que o outro garoto também participasse, dizendo que “é importante ter amigos na escola.”
Cohn era filho do mercador Latatow, que mantinha uma loja na vila de Shuk, perto da propriedade do aposentado. Era o quarto filho e sua tarefa era entregar o que a propriedade precisasse da loja da família.
Todos os dias, o garoto dizia que queria ser aventureiro quando crescesse — um sonho que seu pai apoiava plenamente. Afinal, como quarto filho, não herdaria a loja nem abriria uma filial.
O velho via muito potencial em Cohn por sua inteligência. Por isso, foi ele mesmo até Latatow e propôs um acordo:
— Você deixaria Cohn trabalhar como colega de estudos do Oscar?
Se seu filho estava mesmo decidido a ser aventureiro no futuro, deveria saber ler, escrever e fazer contas. Além disso, quanto mais alto seu nível, maiores seriam suas chances de contato com a aristocracia. Não havia mal algum em educá-lo. Sem contar que ele também poderia treinar esgrima, e como isso seria “trabalho”, Luke pagaria uma bolsa para ele...
Nem Latatow nem Cohn tinham motivo para recusar. Na verdade, as condições eram tão boas que o pai do garoto só podia sentir gratidão.
— Chegou minha hora! — exclamou Cohn, animado.
Seu pai, logo depois, deu-lhe um tapinha na cabeça com os nós dos dedos. Mas isso era segredo.
Cohn tinha doze anos na época. Levava a sério os estudos como nunca antes.
Na verdade, todos os dias, depois de voltar para casa da propriedade do velho, ele revisava as lições do dia. Muito provavelmente, era bem mais avançado que a maioria das crianças da idade dele.
Mas o fato ainda era que Cohn, aos doze anos, não era tão diferente do Oscar de seis anos. Simplificando: o mais novo era um prodígio em muitos aspectos.
Leitura, escrita, aritmética — bastava aprender um conceito uma vez para dominá-lo. História das Províncias Centrais, situação de cada país, geografia — ele absorvia tudo numa velocidade impressionante, como areia seca sugando água.
Até o próprio velho, que dava as aulas, se surpreendia com o desempenho de Oscar. Antes de se aposentar, ele conhecera muitas pessoas brilhantes, mas nenhuma tão precoce quanto Oscar.
Por isso, Cohn parecia mesmo merecer pena diante do talento do amigo. Mesmo assim, ele estudava com uma simplicidade quase tola, mas cheia de determinação. O fato de seu colega ser um prodígio não bastava para ele desistir.
Ele estava decidido a se tornar um aventureiro, e para isso aproveitaria tudo o que pudesse aprender ali... Então estudava com afinco.
Era só isso. Ninguém é mais forte que aquele que tem um objetivo e não vacila na sua busca.
Estudando junto com ele, Oscar devia ter sentido algo em Cohn. No começo, não queria nada com o outro garoto. Mas, seis meses depois, eles já eram grandes amigos.
Costumavam praticar esgrima à tarde, mas tinham dois dias livres por semana. Na maioria dessas vezes, Oscar usava o tempo para praticar magia de fogo, enquanto Cohn revisava as aulas. Ultimamente, Cohn notou que Oscar desaparecia da propriedade nesses períodos livres.
Hoje, finalmente descobriu para onde o amigo ia. Quando o encontrou, viu Oscar afiando uma lâmina na antiga forja do ferreiro, a apenas quinhentos metros da mansão.
— Oscar, o que está fazendo?
— Cohn! Como pode ver, estou afiando essa lâmina.
— C-Certo...
Oscar afiava uma faca com uma pedra de amolar na mão. Havia uma grande pedra rotativa na oficina, mas não funcionava bem, pois estava sem manutenção há algum tempo.
— Se não me engano, essa oficina pertencia ao velho Basan... Ele faleceu no ano passado.
— Foi o que me disseram também. Não tinha sucessores ou herdeiros, então a vila usa como oficina comunitária. O velho disse que eu podia usar, então tenho afiado minhas lâminas aqui. As pedras de amolar, do grão grosso ao fino, estão todas em ótimo estado e são muito fáceis de usar.
Então ele mostrou a Cohn a faca que acabara de afiar.
— Uau, está linda e afiada... Oscar, você é muito bom nisso.
— Meu mestre me ensinou. Ele era ferreiro.
Com um olhar um pouco nostálgico, Oscar começou a trabalhar numa segunda lâmina.
— Então você sabe trabalhar como ferreiro, Oscar? — Cohn perguntou timidamente.
— Não. Eu só assistia meu mestre quando ele trabalhava... Por quê?
— Ah, certo. Você conhece o velho que eu mencionei? O dono dessa forja que faleceu? Não tem ninguém na vila que saiba trabalhar com metal agora. Acho que por isso essa oficina virou comunitária. Bem, tem uma cidade grande chamada Mashuu, que fica a meio dia daqui. A gente vai lá comprar o que precisar, mas... tudo mudou muito desde que o ferreiro morreu. Por exemplo, a afiação. Ninguém na vila sabe fazer direito porque sempre pediam para o Basan fazer.
— Acho que entendi... — disse Oscar. Sempre lhe pareceu estranho que Berlocke, tão competente em tudo, não fosse bom com a pedra de amolar. Agora entendia que era porque os moradores da vila sempre dependeram do velho Basan para esse serviço.
— Hm... Se o velho permitir, acho que vou tentar praticar a ferraria aos poucos.
— Viva! Estou ansioso!
Cohn ficou genuinamente feliz, e Oscar também gostou de ser necessário. Afinal, todo mundo gosta de ser confiável. Claro que ser constantemente dependido de algo pode cansar qualquer um, mas Oscar ainda não tinha experimentado isso.
Nas tardes em que não tinham aula de esgrima, Oscar normalmente praticava sua magia. Mas, às vezes, ia até a oficina.
Berlocke era mago da terra, mas precisava de encantamentos para usar sua magia. O velho não tinha magia alguma. Por isso decidiram contratar um tutor particular para Oscar. Nos dias em que o tutor não vinha até a mansão, encontrava o menino na forja.
O tutor era um mago chamado Assa, que morava na cidade próxima de Mashuu.
— Estou ansioso pela aula de hoje, senhor Assa.
— Concordo, Oscar. Vamos nos esforçar hoje também.
Assa era um homem jovial de uns cinquenta anos. Cohn imaginava que todos os magos fossem sisudos, então o jeito alegre de Assa o surpreendeu.
— Vamos começar revisando o que aprendemos na última aula. Tente criar uma barreira.
— Sim, senhor.
Oscar conjurou uma barreira mágica sobreposta a uma física à sua frente. Assa testou sua resistência, primeiro batendo com o punho e depois lançando um pequeno ataque de fogo.
— Muito bom. Vejo que tem praticado direito todo dia, hein? Está muito mais resistente que antes. Ótimo trabalho.
Oscar ficou feliz com o elogio de Assa. Na vila, a única utilidade que sua magia tinha era acender fogões. Magia de fogo não servia para caçar, já que queimaria a carne e a pele dos animais. Por isso, ele havia dedicado seu esforço a melhorar no arco e flecha, não na magia. Agora, porém, era diferente. Ainda tinha dificuldades com o fogo, mas não com magias não elementais.
Na vila, ninguém lhe ensinou magia. Como quase ninguém sabia sobre o assunto, não sabiam que o primeiro aprendizado dos magos é a magia não elemental, como a criação de barreiras.
Assa suspeitava disso, então ensinou Oscar a criar dois tipos de barreiras: uma física, para defesa contra ataques físicos, e outra mágica, para se proteger de ataques mágicos.
— A barreira é um escudo. Combine-a com a espada do ataque mágico ofensivo, e terá o que precisa para proteger a si mesmo e seus aliados, Oscar. Pratique a construção das barreiras todos os dias, certo?
Embora Assa fosse mago do fogo, ele precisava de encantamentos para lançar magia, como a maioria na Província Central. Ficou muito impressionado ao ver Oscar criar magia sem pronunciá-los. Ele havia ouvido falar disso, mas presenciar o fato pessoalmente era outra coisa. Com base nisso, estudou melhor o método de Oscar e concluiu que ele gerava a magia apenas imaginando-a.
Assa tentou fazer o mesmo, mas nunca conseguiu. Apesar de lamentar sua própria limitação, achava que poderia ajudar Oscar a desenvolver esse poder.
Ele ensinava mostrando o que a magia deveria parecer quando feita com sucesso, depois pedia que Oscar imaginasse o mesmo sem usar encantamentos.
Assim, Oscar dominou a criação das duas barreiras em pouco tempo, fosse com magia de fogo ou não.
Além disso, descobriu que, repetindo a magia muitas vezes, Oscar poderia fazê-la mais rápido e mais forte.
Assa não achava que haveria outro aluno tão divertido de ensinar como Oscar. Estava feliz.
Ele já havia ensinado muitos magos jovens, tendo sido o principal mago da região de Mashuu antes de se aposentar. Apesar disso, nunca vira ninguém criar magia sem encantamentos.
Com o tempo, aprendeu a adaptar seu método às personalidades, forças e fraquezas dos alunos para que evoluíssem mais rápido. Sabia da importância de orientar bem.
— A magia de fogo é fraca na defesa, pois não dá para endurecer o fogo. Por isso, deve aprender a usar bem as duas barreiras. Encantamentos criam barreiras físicas fracas, mas não é problema para sua magia, Oscar.
— Sim, senhor.
Assa era do tipo que usava elogios para incentivar o crescimento.
Enquanto isso, o velho murmurava desconfiado ao examinar documentos.
— Isso tudo cheira a trapaça.
— Está falando do domínio vizinho de Hunt? — comentou Berlocke, enquanto servia café.
— Exato. Duvido que algo aconteça logo, mas se a Federação não desistir dos planos de expansão... Bem, talvez precisemos nos envolver, gostemos ou não.
O velho balançou a cabeça em desaprovação e suspirou baixinho.
— Mesmo que este não seja momento para guerra.
◆◆◆
Quatro anos se passaram desde a chegada de Oscar à propriedade. Agora com dez anos, ele ia uma vez por semana à cidade vizinha, Mashuu, capital do território do Barão Rothko, para treinar esgrima com a ordem dos cavaleiros local.
Saía da mansão cedo nas manhãs de terça-feira e chegava a Mashuu pouco depois do meio-dia. Lá, ia direto para o campo de treinamento e, após os exercícios, passava a noite na cidade. Na quarta-feira à tarde, voltava a pé para a propriedade, chegando no começo da noite.
Essa era sua rotina. Para treinamento, ele fazia a ida e a volta a pé. Seu colega de escola, Cohn, de dezesseis anos, o acompanhava como se fosse a coisa mais natural do mundo. Eles até reclamavam da longa caminhada, mas não negavam que fortalecia seu condicionamento físico.
— Ainda me espanta como o Groun é forte... Não conseguimos acertar um golpe sequer nele. — Cohn dizia.
— É porque ele é o comandante dos cavaleiros. Mas não é o único assim. Todos são os melhores dos melhores da Armadura Escarlate. — Oscar respondia.
No caminho de volta, eles sempre conversavam assim, analisando o treino e discutindo o que poderiam ter feito diferente.
Depois de quatro anos na mansão, já haviam terminado as aulas de leitura, escrita e aritmética com Berlocke. No ano anterior, finalizaram o currículo do velho também. Além disso, a habilidade de ambos com a espada superava a do mordomo, que por isso pediu à ordem dos cavaleiros para treiná-los.
Quando chegaram perto da vila de Shuk, Cohn percebeu algo estranho.
— Oscar, aquele fumaça está estranha.
Nas áreas rurais em torno de Shuk, fumaça era comum no céu, feita por queima de grama e árvores, quase sempre branca. Mas a coluna escura e turva que se erguia da vila indicava que algo diferente queimava...
— Cohn, corre! — Oscar disparou, e Cohn o seguiu em corrida.
Chegaram à prefeitura da vila, que estava em chamas, mas não se demoraram. Precisavam chegar à propriedade.
Perto da entrada da mansão, uma batalha acontecia.
— Que diabos?! — Oscar gritou ao se aproximar.
Os bandidos hesitaram ao ouvir o grito. Berlocke aproveitou para derrubar um deles rapidamente, o que só os deixou mais enfurecidos.
Em segundos, Oscar avançou contra dois bandidos que cercavam Berlocke. Cortou a garganta de um e cravou a espada no peito do outro. Berlocke, aliviado ao ver o garoto vivo, caiu ao chão.
— Berlocke! — Oscar gritou, correndo para socorrê-lo. Cohn, que demorou a reagir, também chegou ao lado do mordomo, que estava ferido profundamente, sinais claros de sua bravura no combate. Felizmente, ainda estava consciente.
— Oscar — disse Berlocke, ofegante — meu senhor ainda está lá dentro...
— Entendi. Vou até ele. Cohn, cuide do Berlocke.
Com isso, Oscar abriu a porta da mansão, correu para dentro e subiu até o salão do segundo andar, de onde vinha o som do choque de aço.
Ao entrar, viu com horror a espada de um bandido perfurar o corpo do velho.
Por um instante, Oscar ficou paralisado, petrificado. Depois, sua mente se esvaziou ao ver o corpo do velho cair no chão...
Não havia dúvidas do que vira. A calma desaparecera.
— Seu bastardo!
Oscar sacou a espada, gritou de raiva e investiu contra o bandido. O inimigo estava sozinho, mas Oscar estava tão dominado pela emoção que talvez nem tenha percebido. Sem pensar, deixou a memória muscular guiar seus movimentos. A espada brilhou na frente dele com velocidade relâmpago.
O bandido, talvez subestimando o adversário por ser criança, tentou desviar curvando o corpo para trás, mas acabou com um corte profundo na bochecha esquerda. Isso o enfureceu.
— Seu moleque desgraçado! — rugiu.
Os golpes de Oscar eram precisos e fundamentados na técnica, mas nada mais. O homem parou facilmente suas investidas e cravou a espada na lateral do garoto.
— Ngh —
Oscar cuspiu sangue quando a lâmina tocou seus órgãos internos. Um segundo depois, o bandido cortou suas costas. A ferida já dificultava sua sustentação, e esse golpe o fez cair numa poça de sangue.
— É uma espada bonita, mas você não sabe usar, hein?
Quando o bandido se preparava para o golpe fatal, outro entrou na sala e falou:
— Boskona, rápido! Os cavaleiros estão vindo. Hora de recuar.
— Relaxa, Poche.
Boskona... Poche...
Oscar olhou para o homem que o derrubara, agarrando sua consciência que desaparecia. Foi então que viu melhor o rosto do bandido. Uma enorme cicatriz descia da orelha até o queixo na bochecha direita... Na mão direita, ele segurava a lâmina que seu mestre fizera para Sna, seu pai...
Não... Isso não podia ser...
Algumas lágrimas de arrependimento caíram dos olhos de Oscar. O canalha que matou seus pais também assassinara o velho. Ele fora derrotado de forma tão vergonhosa, sem poder se vingar.
Com esse último pensamento, Oscar perdeu a consciência.
◆◆◆
Berlocke sobreviveu graças a uma poção que Cohn sempre carregava consigo quando iam a Mashuu. O ancião havia insistido nisso desde a primeira viagem deles.
As feridas de Oscar eram graves. Os cavaleiros de Mashuu correram para a vila de Shuk ao verem os sinais de fumaça, mas o sacerdote que os acompanhava não podia lançar Extra Cura. Mais precisamente, não havia sacerdotes de alta patente na região capazes de usar esse feitiço...
De qualquer forma, o sacerdote aplicou uma série de Curar para reparar os danos nos órgãos de Oscar. Infelizmente, ele havia perdido muito sangue e não acordou por três dias.
Quando finalmente despertou, o funeral do ancião já havia sido realizado. Seu nome formal era Barão Luke Rothko, ex-senhor do domínio de Mashuu. A esposa do atual senhor era a filha mais velha do ancião. Por isso, o funeral não pôde ser adiado pelo despertar de Oscar.
O garoto ouviu meio distraído enquanto Berlocke explicava tudo isso com pesar. Contou ainda como ele e o ancião discutiram o fato de o senhor do domínio de Hunt estar aterrorizando os feudos vizinhos ao empregar bandidos, suspeitando que esse ataque fizesse parte desse plano.
Toda essa informação entrou nos ouvidos de Oscar, mas ele não reagiu.
Após recobrar a consciência, a cena do assassinato de seus pais se repetia em sua mente incessantemente. Desde que havia sido encontrado no rio perto da vila de Shuk, não tinha pensado nela uma única vez. Ao mesmo tempo, começou a sonhar com a morte do ancião.
Com o passar dos dias, Oscar ficou cada vez mais magro. Perdeu até mesmo a generosidade de espírito. E, acima de tudo, seu cabelo — aquele cabelo vermelho fogo — ficou completamente branco.
Claro que as pessoas ao seu redor — Berlocke, o Sr. Assa e Cohn — se preocupavam, mas nenhuma de suas palavras chegava ao coração do garoto.
Seu comportamento não piorou, nem sua fala foi afetada. Na verdade, ele continuava com todos os hábitos que já havia adquirido, só que simplesmente... parou de sorrir. Era como se todas as emoções humanas tivessem desaparecido.
Um mês após acordar, Oscar desapareceu sem deixar rastros da propriedade. Era natural que todos na vila o procurassem, inclusive os cavaleiros da cidade de Mashuu. Todos sabiam o quanto o ancião falecido, que frequentemente assistia aos treinos de Oscar, gostava do garoto.
Mas ninguém fazia ideia de onde Oscar havia ido.
Dois anos depois, começaram a surgir rumores sobre um mago do fogo que caçava bandidos.