The Water Magician

Volume 1 - Capítulo 19

The Water Magician

O plano original era se esconder no porão do navio dentro de um barril, esperar a noite cair e então procurar provas na escuridão... “Era” essa a palavra-chave. O navio deveria zarpar no dia seguinte, então o plano parecia à prova de falhas.

Mas...

“Como? Como isso aconteceu...” Abel murmurava para si mesmo.

O véu da noite havia caído ao seu redor, envolvendo-o em completa escuridão. O mar noturno era mais escuro que tudo, um verdadeiro breu.

Nem a luz da costa podia mais alcançá-lo. Na verdade, ele estava tão longe do litoral que mal podia avistá-lo.

O momento parecia certo. O pôr do sol naquele dia na cidade portuária de Whitnash foi logo depois das dezoito horas. Exatamente às dezoito e trinta, Abel saiu do barril e conferiu seu relógio de bolso: 18h30.

Ele até se perguntou por que havia tanto barulho dentro do navio. Tinha recebido informações de que a maioria da tripulação desceria em terra ao chegar ao porto, deixando poucos a bordo... Mas não parecia assim. Ainda assim, atribuiu todo aquele barulho aos preparativos para a partida no dia seguinte.

Abel estava errado. O barulho era porque o capitão decidira zarpar mais cedo do que o previsto.

Abel era um aventureiro classe B pertencente ao Reino. Isso significava que ele era um dos melhores aventureiros do país.

Aventureiros aceitavam missões via guildas e recebiam recompensas por completá-las.

A missão dele era conseguir provas de contrabando, especialmente ligando um nobre de alta patente do reino a um comércio ilegal com um país vizinho.

No entanto, mesmo que encontrasse as provas, ele claramente não estava em posição de desembarcar em segurança. Abel suspirou profundamente, desapontado.

O navio, feito para navegar no mar aberto, tinha um casco grande. Abel estimou cerca de sessenta metros de proa à popa. Três mastros erguiam-se imponentes.

“Mastro da proa, mastro principal e...” Abel hesitou, tentando lembrar onde havia aprendido aquilo. “Mastro de mezena, não era?”

Ele observava os mastros de um esconderijo. Os dois primeiros, da proa e principal, tinham velas quadradas, e o de mezena possuía velas à ré e à vante. As velas quadradas pegavam o vento de popa, as à ré e à vante, o vento de proa. Esse navio dos contrabandistas tinha ambos.

Claro, por mais que as velas à ré e à vante facilitem enfrentar o vento contrário, veleiros nunca conseguem navegar exatamente contra o vento. Eles zigzagueiam até se aproximar do lado de onde sopra o vento — o chamado ângulo de bordo —, e o desempenho depende de quão pequeno esse ângulo pode ser.

O navio dos contrabandistas era curto e robusto comparado aos clippers, considerados a forma máxima de veleiro na Terra.

Mesmo assim, era um navio oceânico padrão para essa era em Phi. Alguém da Terra que entendesse de navios poderia gritar: “É uma carraca!”

Apesar do formato robusto, o navio tinha excelente capacidade de carga.

Os ouvidos de Abel captaram uma conversa enquanto ele se escondia nas sombras.

“Foi por pouco, hein, capitão?”

“Pode falar, foi mesmo. Ainda bem que carregamos não só a carga, mas a água e mantimentos também à tarde. Quem diria que os guardas de Whitnash fechariam o porto?”

“Nem me fale, principalmente com tanta coisa suspeita a bordo. Eles devem estar atrás da esfera especial, né?”

“Duvido. Algum tesouro deve ter sido roubado da família real, e provavelmente souberam que ia ser levado para fora do país. Não vejo outro motivo para o bloqueio pesado do porto.”

O capitão riu. “Sério? Será que temos algo tão perigoso assim aqui também...?”

“Segura a língua, tudo que você precisa saber é que não podemos ser pegos. Entendeu?”

“...Entendi.”

“Mas...” O capitão franziu o cenho. “Não era essa a hora que eu queria partir, sabe?”

“Faz sentido... Tá vindo uma tempestade.”

O outro olhou para o céu.

“Duvido que vão nos perseguir, considerando que já estamos tão longe do mar.”

Após uma pausa, o capitão ordenou:

“Ei, pessoal! Tempestade vindo, recolham as velas!”

A tripulação correu para obedecer.

“Uma tempestade... Você está brincando.”

Abel fez uma careta pior que a do capitão ao ouvir a notícia. Ele ainda não tinha pensado em como escapar, e agora, uma tempestade se aproximava?

Até então, ele nunca tinha sentido enjoo do mar, mas ouvira dizer que o balanço violento no meio de uma tempestade era indescritível. Até marinheiros experientes perdiam o controle.

Ou seja, ele precisava sobreviver à tempestade, encontrar provas e ainda escapar...

“Droga. Isso é péssimo.”

Ninguém ouviu Abel murmurando.

Por enquanto, decidiu voltar ao porão. Todo o navio, exceto o porão, estava cheio de tripulantes; lá só tinha carga. Claro que se algo caísse em cima dele ali, seria o fim. Além disso, logo o navio enfrentaria a tempestade.

Felizmente, a carga estava muito bem amarrada. Navios do mar sempre tomavam esse cuidado, porque se algo se perdesse, os donos exigiriam cabeças da tripulação.

Ao voltar ao porão, Abel amarrou-se com um barbante e uma rede que pegou emprestado no caminho. Recusou-se a ficar suspenso pelo teto — um destino ainda pior para quem pode ficar enjoado. A melhor forma para evitar o enjoo é sentar com as costas e a cabeça encostadas na parede, para não bater na madeira quando o navio balançar.

Abel terminara de se amarrar quando um tremor enorme sacudiu o navio. Ouvia o som das ondas batendo contra o casco e o ranger da madeira. O navio balançava tanto que às vezes parecia ser lançado para o ar antes de cair de volta ao mar. Ele temia até que o barco virasse.

Preso, Abel se mexia conforme o navio se movia.

Horas depois, quando o balanço finalmente cessou, ele soltou-se e conferiu a hora: três da tarde.

“Demorou pra caramba, hein?”

A tempestade começara na noite anterior, e ele aguentara cerca de doze horas de sacolejo. Quando espiou pela porta do porão, ouviu passos frenéticos da tripulação no convés.

“Rápido! Temos que consertar o leme e os mastros!”

“Droga, as ondas nos arrastaram pra muito mais ao sul...”

“Nunca vi uma corrente dessas. Se não controlássemos o navio com o leme e os mastros, teríamos sido levados até o fim...”

“Não saberemos a localização exata até anoitecer. As estrelas guiarão o caminho.”

Uma corrente oceânica que nem a tripulação conhecia? Então não posso voltar...

O pensamento deprimia Abel, mas aquilo era só o começo da tragédia.

Ele voltou ao porão e remexeu a carga procurando comida. Depois de comer, esperou a noite para se mover. Seria loucura andar pelo navio de dia — a tripulação estava em todo lugar, mas à noite, quase todos estariam dormindo.

Mas havia outro problema: as provas provavelmente estavam na cabine do capitão, que certamente estaria lá à noite. Nada a fazer; teria que derrubar o homem o mais silenciosamente possível. Abel já decidira e era prático ao extremo.

Porém, assim que a noite caiu e ele resolveu sair, ouviu de novo:

“Tempestade chegando, senhores!”

Hã? De novo?

Segunda tempestade desde que embarcara.

Essa era pior que a anterior. Abel amarrou-se à parede de novo, mas as ondas balançavam o navio para cima e para baixo sem parar. Ouviu madeira rachando — algo grande havia quebrado no convés. Provavelmente um dos mastros.

Quando a tempestade passou, Abel espiou a passagem do porão para o convés. Era um desastre: os três mastros haviam sido arrancados pela base. Nenhum restava.

Ele ouviu os marinheiros dizerem que muitos da tripulação haviam caído no mar. Também ouviu o capitão dando ordens para os sobreviventes, enquanto tentava reparar o navio.

É agora ou nunca!

A presença do capitão no convés indicava que sua cabine estava vazia. Abel havia invadido o navio para conseguir provas de contrabando. Ele não sabia se conseguiria voltar em segurança, mas precisava fazer o que podia. Afinal, se não encontrasse as provas, qual seria o sentido de tanto sacrifício?

A cabine ficava na popa. Surpreendentemente, foi fácil encontrar as provas. Bastou abrir a gaveta da escrivaninha — trancada, mas Abel abriu com facilidade. Apesar de ser espadachim, seus dedos eram ágeis.

Missão cumprida.

Ao se virar para sair, a porta se abriu e um homem — o mesmo que falava com o capitão — entrou.

“Ei!” ele gritou. “O que você—Mpf—”

Abel atacou com um soco no plexo solar, mas já era tarde. Os outros marinheiros ouviram o barulho.

Mesmo no navio, o domínio de Abel com a espada era impressionante. Usava as paredes e obstáculos para não ser cercado. Contanto que visse o inimigo, podia lidar com ele, mesmo em menor número. A diferença de habilidade era clara.

Mas o número de inimigos pesava. E a tripulação estava em casa, enquanto Abel era o invasor. Precisava cuidar.

Quando possível, evitava lutar; quando não dava, derrubava um inimigo com um único golpe. Esquiva, golpe. Parada, golpe.

Mesmo focado, a fadiga crescia. Normal para qualquer um.

Apesar de ser classe B, com resistência acima da média, o balanço instável do navio aumentava seu cansaço. Enfrentar mais de quarenta pessoas nessas condições era exaustivo.

Os dois últimos tripulantes pareciam esperar esse momento. Um era o capitão; Abel não conhecia o outro, mas parecia um espadachim, pela forma como segurava a lâmina. Mestre e arma combinavam.

Contrabandistas enfrentavam piratas e até navios de guerra. A força era o único recurso. Ter um espadachim a bordo não era estranho.

O capitão ficou parado enquanto o espadachim deu um passo à frente.

Abel estava cansado, mas não podia reclamar.

O espadachim avançou e atacou com um estocada.

Abel parou com a espada a estocada. O golpe mostrava habilidade.

Se tentasse acabar rápido por cansaço, poderia perder. A diferença de nível era pequena; o outro era perigoso.

Decidido, Abel aguentava as investidas e contra-atacava só para mantê-lo ocupado. O objetivo era levá-lo ao mesmo cansaço.

O estilo que Abel aprendera na capital era sólido, belo e econômico, mas seu segredo era o pântano: quando ambos estavam exaustos, quem persistisse vencia. Era a técnica secreta.

Não tinha nada de espetacular; era a busca pela força final.

Abel manteve os olhos no capitão, que esperava um momento para agir. Ele escondia a mão direita atrás das costas, provavelmente segurava uma adaga ou algo parecido. Um golpe seu na hora errada complicaria tudo.

Mas o capitão não podia se mexer. Os olhos de Abel o mantinham preso — uma técnica para poucos.

Assim, o impasse seguiu.

O impasse era o que Abel queria. Mantendo o capitão sob controle, desgastava o espadachim.

Logo, a espada do adversário voou longe, ele estava exausto demais para lutar. Abel não hesitou e cravou a espada no peito dele.

O capitão, ainda imóvel, apenas assistia.

Vitória total para Abel.

Pelo menos, deveria ter sido.

De repente, o navio pulou no ar. Isso mesmo: pulou. Como se fosse golpeado por uma onda — mas o mar estava calmo. Incrivelmente calmo.

Todos a bordo — Abel, os dois homens e a tripulação derrotada — foram lançados ao ar junto com o navio. No ar, Abel viu o que fizera isso.

Ele sabia o que era... Bem, a versão pequena dele.

Um polvo.

Mas o polvo que via no oceano media sessenta metros, maior que o navio!

“Kraken...” a palavra escapou de sua boca. “Spartei alguns da tripulação porque ainda precisava deles para operar o navio. Acho que perdi tempo.”

Foi o último pensamento de Abel antes de ser arremessado para fora do navio. Quando caiu na água, começou a afundar.