
Volume 1 - Capítulo 17
The Water Magician
Preparativos para o jantar estavam a todo vapor, e tudo o que restava era acender a lareira.
— Cheguei, mãe. Vou começar o fogo.
— Seja bem-vindo, Oscar, e, por favor, faça isso.
Atendendo ao pedido de sua mãe Scottie, ele visualizou o fogo em sua mente.
— Queime.
Chamas surgiram na lareira.
Oscar era o único mago da aldeia.
Na manhã seguinte, Oscar foi até a ferraria de Rasan. Já haviam montado o forno de tijolos necessário para extrair o ferro do minério. Labaredas saíam do topo da chaminé, que se elevava dois metros acima do chão.
Basicamente, uma mistura de carvão triturado e minério de ferro era despejada no forno pela parte superior, depois o fogo era aceso e ar era constantemente soprado pela chaminé para manter a temperatura alta. O tempo de queima dependia dos materiais, mas Rasan havia conseguido manter o fogo aceso por doze horas.
O ferro puro é um metal macio, mas ao aquecer o minério, as moléculas de carbono do carvão entram nos espaços entre os átomos de ferro, endurecendo-o em nível atômico. Isso é conhecido como aço.
Na verdade, a quantidade de ferro extraída do forno de tijolos não era grande. Mesmo assim, era mais do que suficiente para a aldeia de oito casas. Às vezes, Rasan ainda tinha um pouco para vender em suas viagens à cidade.
A cidade mais próxima de Fost ficava a dois dias de viagem, só de ida, então os aldeões iam até lá cerca de três vezes ao ano. Como a aldeia era praticamente autossuficiente, só faziam essas viagens para comprar itens relacionados a costura, como tecidos e linhas. Quando iam à cidade, as ferramentas de ferro de Fost sempre esgotavam, tamanha sua reputação.
O material bruto para fabricar o aço saía pela parte inferior do forno de tijolos. As muitas impurezas restantes precisavam ser marteladas para fora. Era aí que Oscar entrava. Usando um martelo grande, ele batia suavemente no metal. Cada batida produzia uma faísca, e cada faísca continha impurezas, por isso cada golpe deixava o material cada vez menor, restando uma peça surpreendentemente pequena no final.
Enquanto Oscar martelava, Rasan desmontava o forno de tijolos e retirava o aço bruto que não pôde ser extraído por baixo. Esses restos também seriam martelados e usados para fazer ferramentas.
Rasan deveria estar exausto após alimentar o fogo por doze horas seguidas, mas para Oscar, o ferreiro não parecia cansado. O homem sempre trabalhava sorrindo, como se realmente estivesse se divertindo.
— Fazer algo bom requer esforço constante.
Era a frase favorita do ferreiro e o motivo pelo qual nunca fazia suas criações pela metade. Todos na aldeia conheciam isso, explicando a imensa confiança nas coisas que ele fazia.
Os aldeões caçavam animais. Às vezes, enfrentavam monstros também. Em raras ocasiões, bandidos atacavam o povoado. Por isso, naturalmente, as armas usadas nesses casos eram feitas por Rasan. O principal objetivo da produção atual era fabricar essas armas.
De vez em quando, a magia do fogo de Oscar aumentava a intensidade das chamas enfraquecidas. Ele também fazia a fumaça da fornalha mudar de direção para longe dele e de Rasan. O garoto era um recurso incrível para a ferraria.
Martelar as impurezas do aço, achatá-lo, colocar sobre outra peça já trabalhada e bater neles juntos, aquecer de novo, retirar, martelar outra vez... O processo é repetido muitas vezes na produção de espadas japonesas, mas a base é a mesma. A diferença está na força dos golpes.
No mundo ocidental da Terra, o processo era o mesmo, da Idade Média até a era moderna. As armaduras expostas em museus eram feitas não de uma única placa de aço, mas de várias marteladas e soldadas.
Forjar, o processo de bater o ferro e outros metais para torná-los mais resistentes, é uma técnica que já existia na Terra antes de 4000 a.C. Por volta do século XVIII a.C., os hititas conquistaram vastas regiões usando suas armas de ferro. Era uma história tão famosa que aparecia com certeza nos testes de história do ensino médio.
Hoje, poucos sabem que essa tecnologia tem tanto tempo...
Embora Oscar não tivesse como conhecer a história da Terra, ele continuava martelando. Suavemente, levemente... Assim ajudava Rasan a fabricar ferramentas de estudo.
Essas eram as noções básicas que Oscar aprendera.
O metal era aquecido e martelado inúmeras vezes. Cada golpe reduzia o tamanho do aço, expulsando impurezas. Ainda assim, era necessário endurecer o aço.
É como qualquer coisa: só quando se dedica tempo e esforço constantes é que se cria algo bom.
A última etapa era a têmpera do aço para endurecê-lo. Depois que o metal era aquecido para permitir que o carbono entrasse em áreas com baixa concentração, ele era rapidamente resfriado para fixar o carbono no lugar.
Mas essa etapa não era o fim. A essa altura, o metal estava duro, porém frágil. Por isso, era reaquecido para amolecer um pouco e adquirir resistência e flexibilidade.
Após alguns dias de esforço, eles finalmente produziram três espadas e uma faca.
— Sna, se estiver tudo bem para você, dê esta para o Oscar.
Rasan entregou uma das três espadas ao pai de Oscar.
— Tem certeza?
— Sim, ele já tem seis anos. Logo fará sete, não? Está praticando com a espada, então acho que é uma boa ideia dar a ele uma própria. É mais leve que a de um adulto, porque fiz ela menor e mais fina.
Aquele dia marcou a entrega da primeira espada de Oscar. Na remota região norte onde fica a aldeia de Fost, esse era um rito de passagem que reconhecia o menino como homem. Mesmo não sendo um adulto de fato, Oscar sentiu orgulho por ser aceito assim pela aldeia. Finalmente, sentiu-se um deles.
No dia seguinte, uma grande caçada reuniu metade dos aldeões. Conseguiram abater um enorme javali — o animal, não um monstro.
Os javalis e ursos caçados no outono forneciam uma boa reserva de proteínas para o inverno. Por isso, não só os homens participavam dessas grandes caçadas: um terço das mulheres também ia, usando arco e flechas, enquanto o restante ficava preparando a festa para a volta dos caçadores.
Os aldeões eram muito habilidosos e raramente erravam o alvo! Sempre que os grupos de caça saíam com a promessa de trazer algo, eles cumpriam.
Como líder das expedições, Sna, o pai de Oscar, era um homem que cumpria suas promessas.
Aquela noite, a aldeia celebrou um banquete na praça central.
Oscar acertou seu primeiro animal com uma flecha. Muitos aldeões o elogiaram, mas o chefe Schulast e Sna ficaram um pouco afastados, conversando seriamente.
— Schu, você está falando sério?
— Sim. Bassa avistou o que parece ser um batedor de bandidos.
Os dois homens franziram o cenho. Em áreas remotas como essa, bandidos eram tão perigosos quanto monstros. Muitos eram ex-soldados ou ex-aventureiros caídos em desgraça, melhores lutadores que os agricultores locais, tornando-os uma ameaça real.
— A última vez que fomos atacados foi...
— Mais de cinco anos atrás, não é?
— Sim, pouco depois do nascimento do Oscar.
Schulast e Sna lembraram do ataque dos bandidos à aldeia.
— Não eram muitos e nem muito habilidosos. Conseguimos expulsá-los facilmente, mas...
— Mas o fato de terem enviado um batedor mostra que o líder é cauteloso. Isso o torna ainda mais perigoso, não é?
A maioria dos bandidos não tinha a palavra “plano” no vocabulário e agiam de forma desorganizada — razão pela qual se tornaram bandidos.
Mas esses eram diferentes. Inteligentes e cautelosos o suficiente para fazer um reconhecimento prévio, coletando informações sobre tamanho e defesas da aldeia.
— Mesmo assim, não temos para onde fugir ou quem pedir ajuda... Então não nos resta outra escolha a não ser lutar.
— Mesma história, dia diferente, hein?
Concordando, Sna assentiu para Schulast.
Os dois eram amigos de longa data, enfrentando juntos vários problemas desde a infância. Embora o problema dos bandidos não fosse pequeno, as dificuldades anteriores também não tinham sido fáceis.
O mesmo valia para a aldeia como um todo desde sua fundação. Uma série interminável de desafios. Mas eles não podiam desistir, não agora.
No dia seguinte, todos os aldeões se reuniram para discutir o problema dos bandidos e chegaram a uma decisão unânime: enfrentariam o inimigo de frente.
Desde então, todos começaram a se dedicar à produção de flechas. Quanto à defesa, o arco e flecha era o sistema mais eficaz. Na aldeia de Fost, todos sabiam usar, homens e mulheres, jovens e idosos. Claro que nem sempre acertavam o alvo, mas todos tinham habilidade. Mesmo uma flecha infantil podia matar um homem forte.
Não saberiam o tamanho do exército dos bandidos até o ataque começar, então os moradores queriam evitar combate corpo a corpo a todo custo, pois as chances de baixas eram altas. Se não pudessem evitar, ao menos atrasariam o contato direto com o inimigo, comprando tempo e garantindo que não faltassem flechas.
A característica mais marcante da aldeia de Fost era a abundância de halita e minério de ferro nas montanhas. O sal-gema garantia a autossuficiência, enquanto o minério de ferro assegurava a defesa. Usavam o ferro para fabricar pontas pequenas de flechas, o diferencial das flechas de Fost em relação às outras aldeias remotas, que geralmente só tinham pedaços de madeira afiados.
Essas pontas de ferro, produzidas em massa com moldes, aumentavam o alcance e a precisão das flechas. Além disso, fixá-las era mais fácil e rápido do que afiar o próprio cabo: bastava encaixar firmemente a ponta na haste para que não caísse.
Isso representava uma arma poderosa para o povo de Fost.
Uma cerca feita de troncos entrelaçados cercava a aldeia, formando um obstáculo para invasores. Foi construída em conjunto após o ataque dos bandidos cinco anos antes. Embora tivessem facilmente derrotado os invasores naquela época, decidiram que uma barreira seria necessária para resistir a ataques maiores no futuro. A superfície da cerca era tratada com extrato de caqui adstringente, conhecido como tanino na Terra moderna. Isso protegia contra o apodrecimento e também indicava a rota de entrada para os invasores.
Assim, era mais fácil calcular onde posicionar os arqueiros.
Como o ataque provavelmente ocorreria à noite, os aldeões precisavam colocar os arqueiros próximos às suas casas. Se soubessem quando o ataque aconteceria, poderiam ficar acordados esperando, mas como não sabiam, o melhor era posicionar os arqueiros perto dos locais onde dormiriam — ou pelo menos era o que pensavam.
— Bassa descobriu os bandidos. Eles provavelmente atacam hoje à noite.
— Agora entendo porque ele era batedor da sua equipe de aventureiros.
O chefe Schulast e Sna concordaram, então começaram a distribuir as posições dos aldeões. A ideia básica era mantê-los perto de cada casa, conforme planejado, mas agora, com o horário do ataque conhecido, mudaram para posições mais eficientes.
Bassa também trouxe outra má notícia: havia mais de cinquenta bandidos, um grupo maior do que a população total de Fost.
Essa informação foi compartilhada com todos. Ninguém mostrou vontade de fugir, pois não tinham para onde ir. O número de inimigos só fortaleceu a determinação deles. Estavam prontos para lutar até o fim.
Assim começou a noite mais longa da história da aldeia de Fost.
◆◆◆
Poche, líder da gangue de bandidos Lobos da Noite, sentiu que algo estava errado. A sensação surgira cinco dias antes, ao receber o relatório de que seu batedor poderia ter sido visto. Mesmo em áreas remotas como aquela, havia aventureiros aposentados, então ele sempre fazia um reconhecimento minucioso. Não era surpresa que os aldeões às vezes avistassem seus batedores.
Ele supôs que fosse isso também dessa vez. Mas seu subordinado lhe disse: “Existe a chance do batedor ter sido visto, mas não sabemos quem viu nem que tipo de pessoa era.” O batedor dos bandidos era bastante experiente, e o fato de não ter conseguido identificar a testemunha era muito estranho.
— Será que o batedor da vila é tão habilidoso? — pensou Poche, mantendo a expressão séria enquanto ouvia o restante do relatório. Por um instante, cogitou cancelar o ataque.
Mas o inverno se aproximava. Nem mesmo os bandidos podiam saquear o ano inteiro, pois a neve limitava seus movimentos. Ele queria estocar o máximo possível de suprimentos, principalmente comida e bebida, antes disso.
Apesar da hesitação, Poche ordenou o ataque noturno cinco dias depois.
Na tarde que antecedeu o ataque, seu batedor mais uma vez informou: “Alguém pode ter visto nossa força principal.” Não havia o que fazer. Já tinham feito vários preparativos para o ataque daquela noite, então o aviso não mudou nada.
Mas o maior pressentimento de erro veio naquela mesma noite, quando iniciaram o ataque. A vila estivera completamente silenciosa o dia inteiro, mesmo correndo o risco de terem sido vistos. Parecia quase que todos estavam dormindo.
Se tivessem percebido os bandidos se preparando durante o dia, não teriam reforçado a vigilância e acendido mais fogueiras? Ou será que seu batedor havia se enganado ao dizer que fora visto mais cedo?
Seus sentimentos eram uma mistura inquietante de desconfiança e apreensão.
No fim das contas, Poche não encontrou um bom motivo para cancelar o ataque, e os bandidos seguiram com o plano. Atacaram a vila em duas frentes.
◆◆◆
Então um homem gigante apareceu diante do trio. Ele jogou seu arco de lado e desembainhou uma espada enorme. Media cerca de cento e noventa centímetros e devia pesar ao menos noventa quilos. Músculos definidos cobriam todo seu corpo — era a única forma de descrevê-lo.
A expressão selvagem em seu rosto era suficiente para gelar o sangue de qualquer um, mas a enorme cicatriz na bochecha direita deixava uma impressão ainda mais desagradável. Ela ia desde logo abaixo da orelha até a mandíbula, claramente feita por uma espada.
Neste mundo de magias curativas e poções, cicatrizes grandes assim eram raras. Reparar danos internos podia ser difícil em alguns casos com poções de baixo nível, mas ao menos elas funcionavam para recuperar a pele.
Claro que, uma vez que a ferida se fechava e o tempo passava, nem magia nem poções poderiam curá-la. Situações assim aconteciam quando as pessoas tinham que lutar sem magia ou poções... Em resumo, o homem era claramente alguém poderoso que tinha sobrevivido a tais circunstâncias.
— É isso que acontece a quem deixa só um homem para trás — disse o homem da cicatriz. — Sorte a minha que ele já tá fora do jogo.
Então ele avançou contra os três. As palavras cruéis fizeram Scottie voltar à realidade, e ela pôde se mover novamente. Imediatamente, ela investiu com sua lança contra o homem que avançava.
O alcance da lança dava vantagem contra bandidos em combates corpo a corpo — ou ao menos deveria. Mas aquele homem era diferente. Ele afastou a lança com a ponta da espada, abrindo espaço para fechar a distância entre eles.
Um único golpe de sua lâmina seria suficiente para cortar a artéria carotídea dela. O sangue jorrou sob a luz da lua. Banho em sangue vermelho, o homem da cicatriz sorriu grotescamente. A cena era assustadora. Ele abriu os braços levemente, recebendo o fluxo sanguíneo como se estivesse tomando banho.
Aquela visão congelou todos os movimentos e pensamentos de Oscar. Quanto tempo passou assim? Um minuto? Ou apenas segundos?
De repente, ele recobrou a consciência. Mamãe estava morta. Não, assassinada... Seu cérebro finalmente aceitou a verdade. E naquele instante, algo quebrou dentro de Oscar.
— Queime! — gritou.
Chamas jorraram de sua mão. Até então, ele só conseguira criar fogo pequeno o suficiente para acender um fogão, mas agora, sem o limitador na mente, uma labareda poderosa de magia do fogo irrompeu a menos de cinco metros.
Infelizmente, o homem defletiu as chamas casualmente com a espada, enquanto ainda se deliciava com o sangue que o banhava.
Oscar não parou. Lançou a lança contra ele, mas o homem a desviou com um golpe da espada.
Foi quando Oscar investiu contra o homem com sua própria espada. Cortou de lado. Krsssh.
— Hã? — o homem disse.
A cota de malha sob suas roupas absorveu o golpe.
— Pena, garoto. Essa espada é bonita, mas você ainda não tem habilidade suficiente para usá-la — zombou o homem antes de balançar a espada de forma preguiçosa.
Oscar pulou para trás para evitar o golpe, mas a lâmina roçou seu ombro. O movimento do homem foi deliberado para forçá-lo a se afastar.
No entanto, o homem da cicatriz começou a se descuidar. Sabia que a criança não era páreo para a espada que empunhava. Perto dali, uma mulher chorava sobre o corpo sem vida do homem que ele matara com o arco. Era natural que sua guarda caísse, mas aquele era um campo de batalha. Ele sabia que os que via na sua frente não eram seus únicos inimigos.
Corte.
Seu instinto fez o corpo se torcer antes que os olhos confirmassem a ameaça. Sentira a aura assassina atrás de si. Mesmo enquanto se virava para desviar, a lâmina não só o atingiu, mas cortou a cota de malha e penetrou profundamente na carne.
— Uau.
Que experiência surpreendente. Ninguém negaria que era possível cortar uma cota de malha... Possível, sim, mas apenas isso: uma possibilidade. Apenas cavaleiros eram capazes de tal façanha. Portanto, que isso acontecesse numa vila remota era totalmente inesperado para o homem.
Sna ficou à sua frente, com expressão furiosa. Ambas as mãos seguravam uma espada magnífica, ainda mais fantástica que a de Oscar. Não era mágica nem sagrada, apenas uma peça genuinamente primorosa, forjada por um ferreiro.
Apesar do perigo de enfrentar aquela lâmina magnífica e seu dono furioso, o homem da cicatriz avançou contra Sna sem hesitar. Em habilidade com a espada, o cicatrizado superava Sna.
Mas a determinação de Sna era outra história. Enfurecido, ele estava disposto a dar a vida para vingar sua esposa. Enquanto isso, o homem da cicatriz só sabia se deleitar em matar. Lentamente, viu-se dominado pela fúria enlouquecida do espírito de Sna.
Então percebeu algo. Após um confronto especialmente forte, recuou para ganhar distância. No instante seguinte, quatro flechas voaram na direção de Sna. Ele desviou de uma e cortou outra com a espada, mas as duas restantes perfuraram sua carne — uma na perna direita e outra no braço direito.
O homem da cicatriz não deixaria essa oportunidade escapar. As flechas pararam Sna por um momento, e o cicatrizado aproveitou para fechar a distância. Cortou o braço direito de Sna e o estocou no peito.
— Ngh —
Sna tossiu sangue.
Oscar só pôde assistir. Não conseguia se mover nem falar. Não podia fazer nada.
O homem da cicatriz pegou o braço direito de Sna, arrancou a espada dos dedos ainda rígidos e olhou para a arma. Uma voz aguda chamou-o.
— Boskona, estamos recuando.
— O quê? Mas mal começamos, Poche.
— Isso não é discutível. Rápido, eles estão chegando.
— Tsk — Boskona lançou um olhar para o garoto de cabelo vermelho flamejante, que permanecia parado em choque, e então escapou habilidosamente.
A gangue de bandidos Lobos da Noite deixou a vila de Fost, mas não sem causar pesadas perdas aos moradores, incluindo Oscar. Infelizmente, a noite mais longa de Fost ainda não havia terminado.
Rasan, o ferreiro, correu até a cena chocante. O chefe Schulast havia sido morto por uma flecha, e sua esposa chorava agarrada ao corpo dele. Sna e Scottie estavam no chão, cobertos de sangue, e Oscar os observava com olhar vazio.
Depois de ficar parado por um tempo, a realidade finalmente atingiu Oscar, e as pernas de Rasan fraquejaram. Ele caiu, sentando-se de joelhos no chão.
Embora os bandidos tivessem partido sem levar os mantimentos da vila, a magnitude das perdas era enorme.
Schulast era o coração e a cabeça da vila.
Sna, seu amigo de infância e pai de Oscar, era o pilar da vila e líder das caçadas.
Junto com Rasan, o ferreiro, eles haviam fundado a vila.
Quando ainda moravam na cidade, Schulast e Sna convidaram Rasan para estabelecer um assentamento com eles. Rasan havia se tornado uma casca vazia depois que a esposa morreu pouco tempo após o casamento. Schulast escolheu uma localização perto de minério de ferro. Sna permitiu que seu único filho, Oscar, fosse seu aprendiz, dando a Rasan esperança e um motivo para viver.
Para Rasan, aquela vila, Schulast e Sna significavam tudo. Eram os mesmos homens agora caídos diante de seus olhos. Suas pernas não aguentaram a dura realidade e ele sentou-se, sem reação, desejando que fosse algum erro ou sonho.
Ele achava que nunca mais sentiria a perda que teve ao perder a esposa, mas estava enganado. Aquela dor o atingiu com toda a força — talvez até mais forte do que antes.
Rasan fixou o olhar nos corpos por um tempo. De repente, voltou sua atenção para Oscar, que ainda estava paralisado, segurando a espada desembainhada.
Foi então que um pensamento entrou na mente do ferreiro. Uma percepção. Ele não havia perdido tudo e precisava proteger Oscar.
A vila perdera sua liderança e metade dos moradores, mas havia sobreviventes. Entre eles, Rasan e Oscar.
Agora que estavam vivos, precisavam continuar. Seriam fortes por aqueles que se foram.
Infelizmente, Rasan ouviu passos descendo a colina tarde demais.
Quando percebeu o perigo, a origem dos passos já estava perto o bastante para ser vista.
— Uma matilha de lobos de guerra... —
Aquelas criaturas pareciam lobos, mas eram monstros, não animais.
Um único lobo de guerra não era especialmente forte — comparado a monstros tipo javalis menores, por exemplo, não era um lutador poderoso — mas uma matilha inteira era extremamente perigosa.
Como se se comunicassem por sentidos além da visão e audição, a matilha trabalhava em uníssono para capturar a presa. Humanos eram alvos.
Rasan sabia o que fazer antes de enfrentar os lobos de guerra.
Andou rápido até Oscar, que permanecia parado em choque, encarou-o e apertou seu ombro.
— Oscar! Reaja! — gritou, sacudindo-o.
Oscar não respondeu. Então Rasan bateu forte na sua bochecha direita.
— Mestre...? — finalmente falou Oscar.
— Oscar, escute. O cheiro do sangue atraiu monstros. Você precisa fugir.
— Eu não quero...
— Não. Não vou deixar você morrer.
— Papai e mamãe não estão mais aqui. Eu não quero viver...
Pela primeira vez, lágrimas escorreram dos olhos de Oscar. Rasan conhecia bem aquela dor, mas não podia se deixar abater.
— Oscar, você precisa viver.
— Por quê?!
— Porque Sna e Scottie gostariam que você vivesse!
Sna disse as mesmas palavras a Rasan depois que sua esposa morreu e ele ficou sem vontade de viver.
— Você não sabe disso...
— Sei! Sei. Por isso você vai viver, Oscar.
Naquele momento, gritos de agonia ecoaram em outra parte da vila. Como só restavam aldeões, significava que um deles havia caído vítima dos lobos de guerra.
Logo, os lobos estavam sobre Oscar e Rasan.
Rasan afastou Oscar e cortou um dos monstros com sua espada. Os demais focaram nele, exatamente como ele pretendia.
— Oscar, corra para o rio. Eles odeiam água.
— Mestre...
— Vá! Agora!
Rasan avançou contra os lobos de guerra.
Oscar lançou um último olhar para ele e correu em direção ao rio.
A vila de Fost ficava às margens de um largo rio, que estava logo à sua frente, mas a matilha era numerosa. Dois lobos atacaram-no assim que alcançou a água. Oscar conseguiu impedir a mordida de um com um golpe de espada, mas o outro arranhou suas costas com a pata dianteira.
— Ahhh! — gritou.
Ele não sentira dor quando o homem da cicatriz cortara seu ombro, pois estava concentrado na luta. Agora, a dor nas costas era tão forte que quase o fez desmaiar. Mesmo assim, resistiu. Mantendo os dois monstros à vista, recuou lentamente até o rio. Faltava pouco para alcançá-lo.
Então, ambos os lobos atacaram simultaneamente, com as mandíbulas estalando ferozmente. Um veio pela esquerda, o outro pela direita.
Resignado a perder o braço esquerdo, parou o lobo vindo da direita com a espada. O lobo da esquerda mordeu seu braço esquerdo quando ele pulou na água.
No instante em que tocou a água, percebeu que os lobos realmente eram lobos, pois a criatura que o mordeu encolheu-se assustada.
Enquanto isso, o lobo da direita expôs o pescoço, e Oscar teve forças para golpeá-lo com a espada.
Então ele perdeu a consciência.
◆◆◆
— O que houve, Cohn? — perguntou Latatow.
— Pai — Cohn começou, franzindo os olhos para o rio enquanto empurrava a carroça —. Aquela... aquela é uma pessoa?
— Ah, não... Cohn, corra até a mansão e chame por Berlocke ou pelo senhor. Eu vou entrar na água.
— Entendido.
O coração de Latatow disparava. Embora estivesse desacordado, o leve subir e descer do peito do menino indicava que ele ainda respirava. Era um garoto de seis ou sete anos, com cabelos vermelhos flamejantes, que segurava uma espada como se fosse a coisa mais importante do mundo.
Por enquanto, Latatow cobriu o menino com um saco de estopa vazio e tudo o que tinha à mão. Achou melhor aquecê-lo com camadas, já que suas roupas estavam molhadas. Enquanto isso, Cohn voltou correndo, acompanhado por Berlocke, o mordomo da mansão.
— Latatow, como ele está?
— O coração está batendo e ele ainda respira um pouco — respondeu Latatow. Não era especialista, mas sua resposta foi suficiente para o mordomo.
— Ok, ótimo. Então ele está vivo. Vamos logo levá-lo para dentro da mansão.
E assim começou a segunda vida de Oscar.