
Volume 1 - Capítulo 4
The Water Magician
Segundo o provérbio, a taxa de vitórias de Ryo caiu pela metade, para cinquenta por cento, num piscar de olhos...
Mas outras palavras também se aplicavam a esse campo de batalha que era o mundo: “Tempo, lugar e pessoas.” Deixando de lado o primeiro, seu oponente tinha vantagem no “lugar”, já que o mar era seu território. Para Ryo, que nem sequer conseguia respirar debaixo d’água, aquilo era definitivamente um “jogo fora de casa”. Quanto a “pessoas”, a incrível bola de iscas que se formava diante de seus olhos era prova da comunicação impecável entre todas as criaturas que a compunham.
Não importava como ele visse a situação: Ryo não tinha chance de vencer. A melhor opção seria uma retirada rápida.
Foi então que ele percebeu algo incomum. “Eu não sei nadar... nem consigo usar magia na água...” Seu corpo não afundava, mas ele não conseguia mover os membros através da água.
Ryo era um mago da água. Mesmo sendo um “jogo fora de casa” por ocorrer no mar, ele simplesmente não conseguia entender por que não conseguia manipular a água nessas circunstâncias.
Mas o inimigo não esperou enquanto ele entrava em estado quase-pânico. Um monstro disparou da bola de iscas, avançando como um míssil.
Ice Wall. Apesar da confusão, ele sabia que a defesa era a única opção, pois sua incapacidade de se mover impedia que ele contra-atacasse. Depois de repelir alguns dos “torpedos” monstruosos, ele perdeu o controle do Ice Wall.
“Será que perdi o controle do feitiço?” pensou, vendo a parede de gelo se dissipar diante dos seus olhos.
Os torpedos continuavam atacando incansavelmente. Para se proteger, Ryo criava um Ice Wall após outro, mas cada um se quebrava em menos de um segundo.
“A água ao meu redor está sob o controle deles?” Isso explicaria por que ele não conseguia se mover.
Ele era um mago da água, que treinava arduamente para controlar sua magia, inclusive em nível molecular. Mesmo assim, estava em desvantagem contra seus oponentes atuais.
Porque eram monstros do mar... a magia da água estava literalmente em seus genes, com uma infinidade de técnicas herdadas e aperfeiçoadas por gerações. Apesar do intenso treinamento, Ryo era um novato, há poucos meses na arte.
Além disso, eram milhares — talvez mais de mil, dada a formação da bola de iscas.
Ele mal conseguia manter o equilíbrio contra os ataques com o Ice Wall, que desaparecia logo após ser erguido para bloquear os salvos. Defendia-se, mas o oxigênio estava acabando: graças ao treino diário, podia prender a respiração por quatro minutos — e eram só quatro minutos naquele instante.
“Será que consigo controlar a água ao redor dos meus membros?” A água do mar rejeitava sua magia até agora. A resistência era maior do que quando tentou descongelar a carne congelada que Fake Michael deixara para ele.
Ryo percebeu que provavelmente não conseguiria tirar o controle da água dos inimigos, dado o poder e o número deles. Suas chances de vencer a batalha mágica eram praticamente nulas.
Então decidiu investigar o motivo da água estar sob controle dos inimigos.
“Vou analisar a água perto das minhas mãos e pés. Está fina, talvez por isso não consigo usá-la com magia. Mas o método ainda deve funcionar. É parecido com Water Jet, então vamos lá!”
Ele produzia Ice Walls quase sem pensar enquanto visualizava Water Jet saindo das solas dos pés — não mais os jatos finos do começo, mas 32 jatos grossos.
Water Jet 64. Após conjurar, os jatos dispararam dos pés, impulsionando Ryo com tanta força que ele saiu da água em alta velocidade.
Mas não acabou.
Assim que caiu na superfície, respirou fundo e mergulhou novamente, planejando atacar a bola de iscas por cima.
Como previsto, o impulso repentino causou caos na formação inimiga — mesmo com comunicação perfeita, monstros em grupo não lidam bem com surpresas.
Ryo avançou, espetando com seu bambu-faca. Movimentava-se sem se preocupar com a resistência da água, que era menor do que esperava.
Ele feriu vários monstros — embora controlassem magia, eram tão frágeis quanto peixes normais. Um a um, ele os derrubava.
Em um minuto, desfez a formação da bola de iscas e forçou os monstros a se dispersarem.
“Consegui escapar!”
Ryo relaxou a guarda. Agora, depois de antagonizar toda a vida marinha, não lutava só contra aquele grupo, mas contra todos os monstros do mar.
O melhor era correr para a praia assim que saísse da água — mas já era tarde.
À sombra de uma pedra perto dele, viu um camarão de um metro, com uma pinça direita estranhamente grande — parecia uma bolha de ar.
Um momento depois, perdeu a consciência.
Ryo abriu os olhos. Não estava morto, apenas desmaiado há segundos — sabia disso porque seu bambu-faca ainda flutuava perto, apesar de ele tê-lo soltado ao cair.
Como estava vivo? Não sabia, mas tinha coisas mais importantes a pensar. O camarão enfrentava um caranguejo, então não estava mais atrás dele.
Esticou a mão para o bambu-faca, segurou e usou Water Jet para impulsionar-se até a superfície, saindo do mar e caindo na praia.
Calçou as sandálias e pegou seu pagão, correndo para casa como um raio. Só relaxou ao chegar na barreira de segurança.
“Caramba, quase morri dessa vez...”
“Droga... devo ser fraco, considerando que perdi o controle da água tão fácil, mesmo sendo mago da água.”
Ryo estava desanimado. Tinha sido surpreendido pela capacidade inimiga de controlar a magia alheia.
“Então eles... seja lá quem for, só podem controlar magia do mesmo elemento, certo? Imagine que poder eu teria se pudesse dominar a magia dos outros, independentemente do tipo...”
Deixando de lado as afinidades, ele tirou uma lição importante: precisava aprender a controlar as criações mágicas alheias. Senão, acabaria repetindo a derrota, vendo seu poder ser manipulado como os monstros do mar fizeram com seu Ice Wall.
Claro que seu foco principal era impedir que a própria magia caísse sob controle. Mas, sinceramente, ele não fazia ideia de como.
Ryo chamava isso de “controle mágico” por conveniência, mas no fundo ainda não entendia o que era exatamente.
A primeira vez que percebeu isso foi ao tentar descongelar a carne congelada, sentindo a magia repelida. A segunda foi no confronto no mar, quando a bola de iscas controlou a água ao redor de seus membros.
Em ambas as vezes, sua magia foi repelida. Ele sentiu claramente a resistência mental. Recordou como descongelou a carne.
“Se bem lembro, concentrei minha magia em desfazer as ligações moleculares, passando de uma molécula para outra. O gelo virou água onde o vínculo se quebrou. Acho que foi isso.”
Naquele momento percebeu que não fizera nada de especial, apenas colocou mais magia do que o normal para desfazer a magia de Fake Michael. Sabia que poderia descongelar a carne porque Fake Michael não deixaria algo impossível.
Mas a luta no mar foi diferente. Não importava o quanto se concentrasse, não sabia se a magia funcionaria. Trabalhar em nível molecular sem certeza, em batalha, era impossível. Mesmo assim, precisava adquirir o poder para enfrentar quem controla a magia alheia, ou sua vida correria risco.
A dúvida era como conseguir esse poder. Primeiro pensou em melhorar sua habilidade de manipular ligações moleculares e vibrações, mas logo cogitou outras formas.
“Deve existir um método tradicional para controlar a energia mágica.”
Na magia da terra, usavam-se amuletos.
“Droga, magia da terra... se eu pudesse fazer o mesmo com a água...”
Dizem que a grama é sempre mais verde no campo do vizinho.
“Tá, vou fazer uma réplica da Torre de Tóquio com gelo.”
Ele lembrava vagamente de algo assim em algum anime.
“O outro problema é... aquele camarão, né...”
Ryo tinha a sensação de já ter visto aquilo, mas não se lembrava onde.
“Tá, ele não está me perseguindo, então vou deixar isso pra depois.”
Saber mudar de foco era importante.
“Agora só falta descobrir por que não morri... Será que o camarão se satisfez em apenas me nocaute... Não, essa explicação é fácil demais.”
Sentiu que o mar inteiro virou contra ele naquele instante.
Acreditava não estar enganado. O fato de o camarão atacá-lo logo após a bola de iscas indicava que a existência de “Ryo, inimigo do mar” se tornou de conhecimento geral. Claro que ele só tinha a si para culpar, por ter matado peixes parecidos com pargos sem pensar.
Lembrou-se de que ao desmaiar, sua presença deixou de existir. Assim, imaginava que a vida marinha retomara a luta constante pela sobrevivência assim que “Ryo” deixou de “existir”. Isso explicaria por que o camarão e o caranguejo passaram a se enfrentar assim que ele perdeu a consciência.
“Não entendo muito bem, mas faz sentido. Só posso dizer que tive muita sorte... Certamente não haverá próxima vez, né?”
Ele tinha ainda muitas habilidades para desenvolver. Talvez tenha ficado um pouco convencido depois de derrotar dois javalis maiores e dominar o Water Jet, mas os monstros do mar mostraram que ele ainda estava muito longe.
Era assim que Ryo decidiu encarar a situação. Afinal, não valia a pena ficar deprimido eternamente.
No dia seguinte, voltou a praticar controle mágico enquanto corria, como sempre. Criava mentalmente uma Torre de Tóquio do tamanho da palma da mão, junto com uma pagoda gigante de cinco andares.
Também fez um pequeno experimento numa caçada: um coelho menor, que ficaria delicioso depois.
Em média, sessenta por cento do corpo humano é água, e o mesmo valia para monstros, variando de 50% a 70%, dependendo da espécie. Ryo imaginava se poderia manipular diretamente a água dentro do corpo de um monstro.
Visualizou mentalmente o sangue congelando enquanto o monstro pulava na sua frente.
“Congelamento de Sangue.”
...
Magia repelida! Como na vez que tentou descongelar a carne. Sentiu o retorno na mente.
“Posso usar isso para treinar.”
A partir dali, sempre que caçava um coelho ou javali, tentava congelar o sangue antes de finalizar. Mas o feitiço ainda não tinha sucesso — nem mesmo no sangue que jorrava das feridas. Porém, congelar o corpo inteiro do monstro morto era possível.
Ele então se perguntou: e congelar monstros vivos congelando a água no ar ao redor?
Resultado: não conseguia. Podia congelar a água a dez centímetros ou mais, mas tentava congelar mais perto e a magia era repelida. Isso indicava que o espaço de dez centímetros ao redor do corpo do monstro era controlado por ele.
Espaço pessoal, hein...
Lembrou-se da luta em que atravessou a cabeça do javali maior com inúmeras correntes de Water Jet à curta distância. Agora entendia que a vitória fora porque lançou os jatos a 30 centímetros, fora do alcance do controle do monstro.
Quanto mais experimentava, mais claras ficavam as regras da magia e o alcance do controle sobre ela.
“Preciso aprender muito mais. Muito mesmo.”
Ryo fez essa promessa a si mesmo.