The Water Magician

Volume 1 - Capítulo 5

The Water Magician

Segundo a estimativa de Ryo, já havia se passado cerca de um ano desde seu encontro com os monstros do mar. O feitiço Congelamento de Sangue ainda não funcionava. Ele não acreditava que conseguiria dominá-lo em tão pouco tempo, mas, mesmo assim, continuava treinando diligentemente o controle mágico todos os dias.

Por sinal, agora conseguia descongelar instantaneamente a carne congelada que Fake Michael lhe deixara.

Nos últimos meses, noite após noite, Ryo visitava a margem de um lago localizado no centro dos extensos pântanos ao norte da Floresta de Rondo. Sempre que a lua alcançava o zênite no céu, ele aparecia.

O Dullahan. Um cavaleiro sem cabeça montado em um cavalo também sem cabeça. Este Dullahan em particular não segurava uma cabeça na mão esquerda.

Por que um cavaleiro sem cabeça estaria na Floresta de Rondo? Será que algum país prosperou ali em tempos antigos? Mesmo que fosse o caso, Ryo não encontrara quaisquer vestígios de civilização humana ou objetos feitos pelo homem.

Na Terra, os Dullahans são criaturas do folclore irlandês. Definitivamente não eram almas de cavaleiros mortos. Pensando assim, poderia ser justo considerá-los fadas ou entidades que vieram de algum lugar onde antes havia pessoas vivendo.

Para Ryo, o valor real desse Dullahan estava em seu domínio da espada. Era óbvio que ele não falava, já que não tinha cabeça.

Quando Ryo levantava sua espada — bem, ele chamava assim, mas era apenas um pedaço de madeira revestido com uma camada de gelo para aumentar a durabilidade — o Dullahan respondia da mesma forma. Cada vez que repetiam essa rotina, Ryo tinha a sensação de que seu oponente ficava exasperado, como se pensasse: “De novo, hein... Quando é que você vai aprender, garoto?”

Claro, isso era só uma interpretação de Ryo, pois o Dullahan não tinha cabeça para falar.

Assim começava mais uma de suas lutas de espada.

O Compêndio de Monstros, Edição Iniciante, não possuía entrada para o Dullahan, o que significava que ele ou não era um monstro, ou estava além do nível iniciante. Em termos de derrotá-lo, provavelmente era impossível para Ryo em seu nível atual.

Como o Dullahan não usava magia, Ryo também não a utilizava. Usava apenas sua Ice Armor para proteger o corpo. Mesmo sem magia, a esgrima do Dullahan era incrivelmente forte, além de sua atitude condescendente.

“Vou treinar você goste ou não.”

Era essa a sensação que ele tinha do Dullahan — que permanecia silencioso, sem cabeça.

Após lançar três ataques certeiros que seriam fatais para qualquer outra pessoa, o Dullahan sempre se afastava, como quem dissesse: “Espero algo melhor da próxima vez.”

Ryo ainda não sabia qual efeito seus ataques teriam no Dullahan, pois não conseguira acertá-lo sequer uma vez. Mesmo assim, sua resistência no combate vinha aumentando. No começo, suas derrotas eram quase instantâneas, mas agora a luta durava uma hora.

Claro, alguns aspectos o deixavam insatisfeito. Seja budô, bujutsu ou mesmo jogos, a única forma de melhorar na luta contra outro é enfrentando-o repetidas vezes, adquirindo experiência, conhecimento e técnica, gravando tudo no próprio corpo e sangue. Como treinava sozinho porque não tinha escolha, essa experiência era inestimável. Infelizmente, seu adversário era um Dullahan.

Ao ganhar certo entendimento em combate, dizem que a respiração é fundamental — não só a sua, mas a do oponente. Só que o Dullahan não respirava, o que fazia sentido para alguém sem cabeça! Isso explicava por que Ryo não acumulava experiência ao analisar a respiração do inimigo.

Além disso, o jogo de pés é vital em qualquer luta. Em um duelo, prever os movimentos do outro é informação valiosa. É por isso que praticantes de kendo e kenjutsu usam hakamas — porque eles dificultam a visão do jogo de pés, dando vantagem. Ryo queria aprender jogo de pés com o Dullahan, que não usava hakama, mas a disparidade entre as habilidades era tão grande que o Dullahan quase não precisava mover os pés.

Quase. Movia-se um pouco, mas para Ryo parecia um professor de kendo desviando facilmente do ataque de uma criança — e ele não conseguia evitar a sensação de que era a criança nessa história.

“Basicamente, você tá dizendo para eu ficar mais forte e ágil, né!”

Havia também pontos positivos em suas lutas regulares com o Dullahan. Seja qual for o budô ou bujutsu, se treinar sozinho inevitavelmente vai favorecer o ataque — e isso é ruim. Especialmente em um mundo como Phi, onde o conflito mortal é constante, negligenciar a defesa é tolice. Nesse sentido, ele estava adquirindo uma lição prática em defesa, protegendo-se e desviando dos ataques do Dullahan, além de contra-atacar.

Mas ele ainda não tinha consciência disso.

Nesta noite, porém, Ryo estava diferente. Movimentava-se com muito mais agilidade e previa os ataques do Dullahan com mais precisão. Como resultado, defletiu uma saraivada de ataques antes de aparar o golpe final — um corte que o teria partido ao meio caso acertasse. Bastou um pequeno movimento para abrir a brecha, e com um único golpe cortou o braço direito do adversário, que voou longe.

Ok, não exatamente. Se estivesse lutando contra um humano ou monstro, teria cortado o braço, mas não era o caso do Dullahan. Com a espada quase arrastando no chão, o Dullahan virou o jogo e o golpeou diagonalmente para cima, invertendo seu ataque de ombro.

Ryo caiu de bruços. Como em todas as noites anteriores, recebeu três ataques fatais. Graças à Ice Armor, o dano físico foi pequeno, mas o psicológico, imenso.

Nesse momento, o Dullahan geralmente embainhava a espada, montava em seu cavalo sem cabeça e partia na noite. Mas hoje foi diferente. Ele se aproximou, sacou uma faca retorcida.

A lâmina media vinte centímetros, a guarda — ou tsuba, como se chama na katana — tinha dez centímetros de largura e era ricamente decorada. O cabo media mais de vinte centímetros.

Ao observar melhor, Ryo percebeu que o cabo tinha o mesmo comprimento que sua espada de madeira: vinte e quatro centímetros.

Segurando o cabo com a mão esquerda, o Dullahan envolveu a mão direita na base da lâmina, deslizando o punho até a ponta. Um fio de água formou uma lâmina ao redor do metal, seguindo o movimento da mão.

“Uma espada de água...” disse Ryo.

Quando o Dullahan colocou mais magia nela, a lâmina congelou, virando uma espada de gelo.

“Então é por isso que o cabo é tão longo?”

O Dullahan dissipou a lâmina de gelo e entregou a espada a Ryo.

“Quer dizer que quer que eu a domine?”

Assim que aceitou a arma, o Dullahan montou em seu cavalo sem cabeça e partiu como sempre.

“Parece coisa de história de fantasia...”

No caminho de volta para casa, Ryo gerou a lâmina de gelo inúmeras vezes. Era assustador como sua nova espada aceitava magia com facilidade, quase como se tivesse sido feita para ele — ou projetada especialmente para um mago da água.

Recriou a lâmina assim que entrou na barreira e testou seu manuseio com alguns balanços. Aproveitou para tentar transformá-la numa lâmina torta, de fio único, parecida com uma katana ou espada de madeira, porque parecia o ideal.

Preocupava-se com o centro de gravidade da arma por causa do formato. Em qualquer tipo de espada, isso influencia a facilidade de uso. Claro, não há um ponto ideal absoluto, pois depende do usuário e do propósito.

Basicamente, o mais importante numa katana é a manobrabilidade que o centro de gravidade na mão proporciona. Ele se preocupava com o efeito da combinação do metal e gelo no equilíbrio. A parte metálica era mais leve do que imaginava, então alongou a lâmina de gelo até setenta centímetros, ajustando a espessura para afinar o centro de gravidade até ficar perfeito.

“Beleza, com isso eu posso... não necessariamente vencer o Dullahan, mas pelo menos acertar um golpe!”

Porque Ryo também conhecia a força do adversário.

“O fato de ele ter me dado essa espada nessa fase da nossa relação significa que posso usá-la à vontade. Aposto que é uma aprovação para eu atacar com confiança. Ele não vai sumir, não importa quantos golpes eu dê.”

Claro que Ryo ainda não entendia totalmente a disparidade de habilidades entre eles...

Naturalmente, Ryo e o Dullahan voltaram a se enfrentar no dia seguinte, às margens do lago.

◆◆◆

Ryo ganhava confiança aos poucos em sua esgrima, graças às lutas de espada que travava com o Dullahan... mesmo que fosse sorte conseguir ao menos um golpe durante as batalhas. Ainda assim, sua confiança crescia.

Também sentia que seu controle mágico melhorava, embora o feitiço Congelamento de Sangue ainda não tivesse funcionado. Na verdade, nem sequer tinha certeza se conseguiria dominá-lo algum dia.

De qualquer forma, queria ter certeza de que continuava avançando. Era um caminho inevitável.

Desde o dia em que fora nocauteado, evitava entrar no mar. Obtinha sal coletando água do mar enquanto permanecia na terra e evaporando-a, mas não colocava os pés na água salgada. Quando sentia vontade de comer peixe, contentava-se com os de água doce.

Mesmo assim, outro combate submarino era inevitável — ele precisava vencer a batalha pelo controle mágico do cardume!

Embora não pudesse negar que tinha repelido a formação da última vez, sua fuga só foi possível graças a um ataque surpresa, mesmo estando travado pelo controle mágico dos monstros. Enquanto vivesse em Phi, não podia permitir que isso se repetisse. No fim, só acumulando vitórias ganharia confiança.

Ele estava sobre um trecho rochoso à beira-mar, encarando o oceano. Como da última vez, empunhava sua arma, a lança-faca de bambu, na mão direita. Sua tanga e sandálias descansavam na praia junto da espada de gelo que o Dullahan lhe dera, chamada Murasame. Decidiu manter o mesmo equipamento nesta ocasião.

“Vamos nessa!”

No momento em que mergulhou, espetou o peixe mais próximo com a lança de bambu. Diferente da vez anterior, não sentia vontade de admirar a paisagem. Graças ao treino desde então, aumentara sua resistência e capacidade pulmonar.

Mesmo assim, só aguentava cinco minutos.

Talvez esse fosse o limite humano... algumas pessoas com baços muito desenvolvidos conseguissem ficar mais tempo, mas ele não almejava tamanha resistência. Precisava terminar o combate rápido.

Assim que espetou o peixe, o mundo mudou, como antes. O cardume logo se formou à sua frente, então partiu para cima — do jeito que ele queria. Ryo logo confirmou que não podia controlar a água com as mãos ou os pés.

Primeiro, preciso retomar o controle da água salgada ao redor dos meus membros.

Sentiu a mesma repulsa da última vez só de imaginar o movimento mentalmente. Desta vez, porém, seu controle mágico estava absurdamente mais forte. Bastou aumentar o uso de energia mágica e afiar a imagem mental para conseguir agarrar a água com as mãos e pés.

Sim! Estou revidando à altura.

Era sua vez. Imaginou tomar controle total da água salgada que envolvia o cardume, imobilizando os monstros da formação.

O Mundo é Meu.

Assim que proferiu o feitiço na mente, o cardume começou a se distorcer. Os monstros perderam o controle sobre suas posições e movimentos.

Será que posso congelá-los agora? Caixão de Gelo.

O cardume distorcido congelou — não os monstros em si, mas a água salgada em seu redor. Antes, ele não podia tocar a água a menos de dez centímetros do corpo dos monstros; agora, conseguia até mesmo contra aqueles com alto domínio sobre a magia da água.

Ryo ficou muito feliz ao ver os frutos de seu esforço. Ele havia incapacitado completamente todo o cardume sem usar sua lança. Era o poder de todo o treinamento para aprimorar o controle mágico.

Talvez fosse inevitável que, em meio à euforia, ele notasse o gigantesco lula se aproximando com um atraso preocupante. Na última vez, ele baixou a guarda após derrotar o cardume e acabou nocauteado pelo camarão. Parecia que ia repetir o mesmo erro.

Inevitável, de fato.

Um enorme lula... Ryo se perguntou se seria a lendária criatura chamada kraken na Terra. Media quarenta metros de comprimento.

Felizmente, sua reação foi muito mais rápida ao percebê-lo.

Ice Wall de 5 camadas.

No instante em que ergueu a estrutura defensiva, algo a golpeou, fazendo-a se despedaçar.

Quebrou o Ice Wall de 5 camadas com um só golpe?!

Ele não esperava por isso.

Ice Wall de 5 camadas. Ice Wall de 5 camadas. Ice Wall de 5 camadas.

Ele ergueu a parede três vezes consecutivas, mas cada uma foi destruída assim que apareceu. O Ice Wall que Ryo tecera com o controle mágico que treinara arduamente durante o último ano... fora facilmente tomado pelo kraken.

Caixão de Gelo.

Ryo usou o mesmo feitiço para congelar a área ao redor do kraken, como fizera com o cardume. O gelo surgiu por um instante, depois desapareceu, derretendo de volta em água salgada. O kraken controlava tudo.

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“Não tenho chance de vencer isso aqui. Hora de sair fora.” Water Jet 32.

Ele fez sua fuga de emergência, lançando jatos d’água dos solados dos pés. O kraken definitivamente não esperava por aquilo.

A fuga foi um sucesso. Apressado, calçou as sandálias, pegou sua tanga e a Murasame, e correu para casa como se estivesse sendo perseguido por cães infernais. Só conseguiu respirar aliviado quando entrou dentro da barreira.

“Caramba, o mar é realmente assustador...”

“Ok, perdi para o kraken que surgiu do nada, mas pelo menos tive uma vitória total sobre o cardume. Sim, estou definitivamente evoluindo. Só tive azar de topar com um kraken tão cedo. Com certeza um monstro chefe que eu teria preferido enfrentar quando estivesse mais forte.”

O nível de controle mágico do enorme lula era totalmente diferente do cardume. Ele sentiu isso nitidamente, por mais que odiasse admitir. Em outras palavras, significava que podia melhorar muito mais seu controle mágico... provavelmente muito mais.

“Não tenho escolha a não ser continuar treinando. Hora de subir o nível — de um pagode de cinco andares para a Tokyo Skytree.”

Ele sentia que estava fazendo algo muito, muito errado, mas esse era o Ryo.

◆◆◆

A aparência dele havia sido totalmente transformada.

“Sim, é assim que deve ser.”

Primeira fase concluída.

O próximo passo era encher o arrozal com água e umedecer o solo.

Em lugares como o Japão, onde a terra para arrozais é regulamentada por lei, você simplesmente abre uma torneira e usa a água que quiser. Claro, isso significa que os proprietários pagam taxas municipais de melhoria fundiária por décadas, gerações — praticamente para sempre. Além disso, continuam pagando pelo uso da água. No entanto, não precisar se preocupar com água ainda é ótimo para os agricultores.

Historicamente, a falta de água causou muitas vezes grandes fomes em diferentes eras e países.

Felizmente para Ryo, ele tinha acesso livre e fácil à água a qualquer momento que quisesse. Que bênção! A agricultura era, sem dúvida, a vocação perfeita para um mago da água!

“Vou fazer isso de uma vez só. Squall.”

Era o mesmo feitiço que ele usou para lavar a névoa venenosa da cobra-kite, um que frequentemente usava para regar as plantas e as árvores de phig no seu quintal. Nem preciso dizer que a cena foi bem violenta quando a chuva caiu sobre o terreno de sessenta por sessenta metros. O Squall durou dois minutos, tempo mais que suficiente para transformar o chão em lama. Ele podia ver a água se acumulando um pouco dentro da área.

Mesmo essa pequena quantidade de água rapidamente escorreria para o subsolo se deixada sozinha, devolvendo o arrozal ao seu estado normal. Normalmente, o agricultor usaria um trator para misturar a lama e o solo. Infelizmente para Ryo, ele não tinha um trator. Mas isso não era problema — ele se virava bem sem ele!

“Double Ice Wall.”

Seu Ice Wall normal media dois metros de altura, mas esta versão tinha o dobro: quatro metros. Naturalmente, era alto o suficiente para impedir que a lama espirrasse para fora do quadrado.

“Icicle Lance 256.”

“Icicle Lance 256.”

“Icicle Lance 256.”

“Icicle Lance 256.”

Desta vez, ele gerou os Icicle Lances a trinta metros de altura. Deixou-os cair livremente dentro do terreno que queria cultivar como arrozal. Seu raciocínio era o mesmo: sem trator, bastava lançar um arsenal de lanças!

De vez em quando, ele reabastecia a água usando o feitiço Squall enquanto continuava disparando Icicle Lances para misturar a lama ao solo. Ryo manteve o bombardeio por trinta minutos, em ritmo mais lento que na etapa inicial de limpeza do terreno. Quando terminou, não sabia exatamente quanto do fundo ele tinha preenchido, mas via que a lama estava mais uniforme.

Finalmente, a superfície de lama na água precisava ser nivelada. Um solo irregular só causaria problemas porque, ao plantar as mudas e encher o arrozal, algumas poderiam acabar totalmente submersas.

“Sim, isso é vital para as mudas... Espera... mudas...”

Ele ficou chocado.

“Eu não... preparei nenhuma muda...”

Ele havia esquecido algo crucial. Antes de montar um arrozal, é preciso cultivar as mudas a partir dos grãos por cerca de um mês em local separado — uma etapa essencial que Ryo havia esquecido.

Cabisbaixo, ele caiu no chão decepcionado. Todo esforço daquele dia tinha sido em vão...

“N-não. Aprendi que posso fazer o trabalho necessário para construir um arrozal, então o dia não foi totalmente perdido. Sim, não foi desperdício algum... pelo menos é isso que quero acreditar.”

Demorou um bom tempo até que ele conseguisse se levantar novamente.

Após alguns dias, ele enfrentou seu destino pela terceira — e espera-se última — vez...

Ele apareceu diante de Ryo durante uma de suas caçadas habituais na parte leste da floresta.

“Ice Shield.”

Ele conjurou o feitiço defensivo ao sentir um ataque invisível de magia do ar vindo em sua direção. Pelo jeito, seu oponente não queria matá-lo com um único golpe.

Sim, era isso.

O mesmo falcão assassino que Ryo enfrentou em batalhas de vida ou morte duas vezes antes.

Ele havia tirado o olho direito da ave no primeiro encontro, e derrotado seu aprendiz no segundo.

O mesmo falcão assassino que lhe fez encarar sua própria mortalidade.

O mesmo falcão que ele enfrentou não uma, mas duas vezes.

“Será mesmo o mesmo? De jeito nenhum. Esse aqui é todo preto e bem maior que o que vi da última vez...”

Ambos sentiam o fio do destino que os unia como adversários, mas o peso daquela luta era muito maior do que antes. A mudança na aparência do inimigo, junto com sua confiança?

Gravidade? Não sabia explicar direito, mas sentia que algo diferente cobria seu oponente agora.

“Obviamente, você ficou muito mais forte. Evoluiu, talvez? De qualquer forma, não vou deixar você escapar, e nem tenho intenção de fugir! Ice Armor.”

Ryo não via o ataque, mas sabia que algo vinha velozmente do local onde estava o falcão assassino, pela distorção no ar.

Um ataque de ar aprimorado? 5-layer Ice Wall.

O ataque atravessou seu muro de gelo num instante. O oponente seguiu disparando uma série de cortes de ar, mas Ryo nunca perdeu o foco no falcão assassino, desviando habilmente das investidas longas e incansáveis. Ele escapou de todos durante três minutos. Cada vez que o falcão atacava com cortes de ar, movia-se tão rápido que parecia desaparecer.

10-layer Ice Wall.

Esse feitiço era a versão avançada de sua defesa preferida. Seu inimigo o atacou ao mesmo tempo que lançou outro corte de ar.

“Um breakdown rush! Maldito mestre da magia do ar! Droga, como invejo essa técnica!”

Uma pena que fosse provavelmente impossível para um humano dominar isso...

Ryo contra-atacou ao parar o ataque com o Ice Wall.

Icicle Lance 16.

Lanças de gelo surgiram do chão e foram em direção ao falcão assassino. Ele desviou tão rápido para o lado que quase parecia ignorar as leis da aerodinâmica, então bateu sua asa direita no 10-layer Ice Wall como um boxeador dando um gancho.

“Droga.”

Ele se abaixou imediatamente. Krak. O som cortante veio junto do rasgo da asa do oponente no muro de gelo enquanto tentava derrubá-lo de cima.

“Você também luta corpo a corpo...?”

Ao ver a perigosidade das asas, gotas de suor frio escorreram por suas costas. O falcão lançou uma série rápida de cortes de ar de perto. Ryo se defendia criando Ice Walls, mas o monstro as quebrava.

Claro, ele não pretendia se entregar assim.

Criou dezesseis Icicle Lances no ar acima do falcão, onde o inimigo não percebeu. A queda vertical das lanças as tornava especialmente mortais.

Infelizmente para Ryo, o falcão escapou do ataque, pulando para trás como se dissesse: “Já vi esse seu truque.” Enquanto esse mesmo ataque o matou da última vez, essas lanças eram muito mais rápidas que as anteriores.

Ele decidiu se reagrupar. Quando fez isso, a aura do falcão mudou. Simultaneamente, seu Ice Wall e Ice Armor desapareceram.

“Ngh! Ice Armor.”

Seu Ice Armor não apareceu.

“Não! Tirou meu controle?!”

Em pânico, tentou retomar o controle da magia, mas... algo estava errado. Não sentia a mesma repulsão de antes. Contra o cardume e o kraken, ele conseguia manter o Ice Wall mesmo que brevemente, mesmo com o controle mágico sendo repelido.

Desta vez, não conseguiu conjurar nada. Parecia que sua magia simplesmente havia deixado de existir, ou até que tivesse sido desativada.

“Espera aí. Anulação mágica...?”

Ele não sabia se algo assim existia, mas era a única explicação plausível.

Isso era muito, muito ruim.

Water Jet 16.

Não funcionou. O feitiço falhou.

“Droga, que tipo de habilidade louca esse bicho evoluiu? Que saco...”

Ele sabia que o Monster Compendium, Beginner Edition, não mencionava nada sobre “anulação mágica” na entrada do falcão. E o falcão estava tramando algo.

Outra técnica nova...? Deve ser algo insano relacionado à magia do ar...

Magia do ar. Espera, não pode ser...

Foi coincidência ele olhar para o céu e largar o bambu-arma da mão direita? Ou era seu instinto de combate, aguçado por seus duelos diários com o Dullahan?

O céu iluminou-se e um raio atingiu. Não Ryo, mas a lança de bambu que ele acabara de soltar. A força do impacto o jogou para trás, pois estava bem próximo da arma. Levantou-se rápido, sabendo que o falcão atacaria se ele desse qualquer brecha.

Talvez tenha percebido sua dificuldade e usado o raio para desarmá-lo. De qualquer forma, o monstro investiu contra ele.

Ryo rolou para a esquerda para desviar do ataque e sacou Murasame da cintura. Ao puxar a espada, criou uma lâmina de gelo e fez um corte horizontal na direção do falcão. O inimigo recuou surpreso, afastando-se mais do que pretendia. Apesar do susto, ficou no alcance, mostrando que queria lutar corpo a corpo. Era o que Ryo queria também.

Com sua magia bloqueada, o combate corpo a corpo era seu único caminho.

Ele não sabia por que conseguia formar a lâmina de gelo na Murasame mesmo sem acesso à magia, mas não tinha tempo para pensar. Estava em uma luta difícil contra um oponente com ganchos poderosos o suficiente para cortar seu Ice Wall de dez camadas. E ele não sabia o que mais o monstro podia fazer.

Precisava aguçar os sentidos como fazia contra o Dullahan. A ideia o centralizou, dissipando suas preocupações. Só tinha que fazer o que sempre fazia: encarar o inimigo e entrar em posição de combate.

Após uma pausa, o falcão pairava à sua frente e lançou golpes de gancho direito e esquerdo. Ryo parou cuidadosamente cada um. Sim, parou, não desviou. A lâmina de gelo da Murasame resistiu aos ganchos, que cortavam até seu Ice Wall. Nem um risco apareceu na lâmina.

Do bico do inimigo, algo voou em direção aos seus olhos, que ele desviou com a cabeça. Era um tipo de corte de ar. Agora sabia que podia usar asas e bico para atacar com cortes de ar, mas não pensaria muito nisso. Se pensasse demais, perderia o foco. A luta corpo a corpo já era difícil. Além dos ganchos e cortes de ar, o falcão lançava penas como shurikens. Não eram rápidas, mas complicavam ainda mais o combate de perto... Que saco.

Ryo teria sido esmagado há muito tempo se não fosse por sua devoção à defesa. Apesar da variedade dos ataques, suas defesas aguentavam.

O falcão atacava, Ryo defendia. Repetiram isso até o monstro, talvez perdendo a paciência com a defesa impenetrável, lançar um gancho desajeitado.

Ryo aproveitou a impaciência. Parou o gancho e desviou o braço do oponente para um ângulo estranho. Seu contra-ataque desequilibrou o falcão, dando-lhe chance de cortar o pescoço. O monstro recuou e saltou para trás para escapar. Desesperado, lançou um corte de ar do bico. Ele parou com a ponta da Murasame, cortou de novo, mais uma vez, mas o falcão evitou.

Depois de evitar os três ataques, Ryo desacelerou os golpes por um momento. O falcão, como que aprovando, lançou um gancho esquerdo na cabeça dele. Ryo não tentou bloquear. Apenas moveu o pé esquerdo para trás, desviando e mudando o centro de gravidade.

Então, transferiu o peso para o pé direito, avançou, tirou a mão direita da Murasame, esticou a mão esquerda e deu uma estocada certeira.

A lâmina perfurou logo abaixo do bico, área equivalente à garganta humana. Um golpe fatal.

Enquanto caía, cuspindo sangue, o olhar do falcão nunca desviou. O ódio ardia no único olho.

“Tá, entendi. Eu tirei seu olho e matei seu discípulo. Você deu tudo de si e perdeu, mas isso não facilita aceitar o fim.”

Ryo não relaxou.

“Pelo menos nosso encontro me fez crescer. Sou grato por isso. Você mostrou o quanto evoluiu para vingar a si e seu discípulo. Honrarei você com o golpe final.”

Naquele dia, um destino chegou ao fim.