
Volume 2 - Capítulo 402
Brasas do Mar Profundo
Após um período de adaptação no navio, Nina já estava acostumada a enfrentar as pequenas dificuldades do processo de estudo — incluindo, mas não se limitando a, sombras que emergiam do Plano Espiritual, demônios que apareciam das Profundezas Abissais e as próprias mutações dos livros. Além disso, com o treinamento árduo constante, seu controle sobre seus poderes também havia progredido muito.
A manifestação específica era que, mesmo que ela desse um chute voador de 6000°C, podia garantir que não incendiaria a colcha na cama ao lado.
Um brilho ofuscante passou rapidamente. O demônio das profundezas do mundo se transformou instantaneamente em cinzas sob o poder do sol. O ar nem teve tempo de reter qualquer cheiro de queimado — apenas o cheiro quente e agradável de roupa de cama aquecida pelo sol do meio-dia.
O último Cão de Caça Abissal, atraído pelos livros, ficou sozinho no centro do quarto. Mesmo sendo um demônio abissal caótico, de pouca inteligência e que age apenas por instinto, a criatura assustadora pareceu cair em um breve estado de perplexidade. Ele parecia incapaz de entender por que de repente perdeu dois companheiros. Agora, à sua frente, estava Cão, sendo segurado pela corrente de Shirley, rosnando baixo, e atrás dele, Nina se aproximava passo a passo, envolta em um brilho como o do sol.
A pressão aterrorizante vinda de trás excedia em muito a do “semelhante” de aparência não muito normal à sua frente.
O demônio abissal virou a cabeça por instinto e encontrou um olhar tão quente quanto o sol.
Nina inclinou a cabeça ligeiramente. Seus cabelos já estavam completamente tingidos com um brilho dourado, e uma luz ofuscante emanava de seus sete orifícios. Sob esta casca humana, queimava o poder de um sol antigo. Ela encarou o demônio, e os ossos do demônio começaram a queimar diretamente sob seu olhar.
Shirley ficou assustada. Ela nunca tinha visto Nina com raiva antes. Ela até pensava que sua amiga, normalmente ensolarada e alegre, nunca ficava com raiva. Mas agora ela sabia que estava redondamente enganada. Nina estava obviamente muito zangada.
Sua fúria se erguia como uma proeminência solar. Mesmo contendo o calor que emanava, aquelas luzes ainda pareciam tão ofuscantes que podiam queimar a alma de uma pessoa.
Enquanto Shirley ficava cada vez mais nervosa e finalmente não conseguia deixar de falar, Nina finalmente falou. Ela abriu a boca, e uma chama de plasma quente emanou dos cantos de seus lábios, sua voz como um trovão:
“Minha lição de casa!”, sua voz estava até cheia de indignação. “Meus exercícios! Meus livros de referência! E a lição de casa da Shirley! Foram todos rasgados por esses cachorros!”
A fúria do sol paralisou o demônio, que perdeu a capacidade de se mover. Ao ouvir isso, Shirley ficou ainda mais surpresa, quase rindo alto: “Sério? Minha lição de casa também se foi?”
Mas no segundo seguinte ela percebeu e rapidamente impediu Nina, que estava prestes a vingar a lição de casa com um chute voador: “Ah, espere! Deixe este demônio vivo por enquanto! Cão tem perguntas a fazer!”
Nina já tinha levantado o pé, mas ao ouvir o chamado da amiga, parou por instinto, olhando para Shirley com o canto do olho: “O que mais há para perguntar? Não é apenas um demônio abissal que veio perturbar enquanto alguém lia? Já matamos vários no navio…”
“Mas agora é de dia!”, disse Shirley em voz alta.
Nina hesitou por um momento e de repente percebeu.
Agora era de dia. Embora houvesse uma névoa densa lá fora e o céu estivesse escuro como o entardecer, pelo horário, era de dia — o tempo em que o Fenômeno 001 ainda cobria o mundo.
A cidade-estado neste momento era segura, e a leitura não atrairia invasões da escuridão. Por que esses demônios abissais apareceram?
O olhar de Nina (de 6000°C) pousou imediatamente no último Cão de Caça Abissal.
Banhado pela luz estelar a uma distância extremamente próxima, os ossos do demônio começaram a soltar fumaça verde. Ele lutou por instinto, parecendo ainda querer abrir uma fenda para retornar às Profundezas Abissais, mas essa fuga instintiva foi interrompida instantaneamente.
Cão interferiu na fenda que acabara de aparecer ao lado do demônio, ainda não formada.
“Consegue perguntar alguma coisa?”, Nina conteve um pouco de seu poder, olhando para Cão com curiosidade. “Você não disse que os demônios abissais normais não têm muita inteligência e não dá para se comunicar?”
“Serem sem cérebro é uma coisa, mas se for para investigar, dá para descobrir algo. Eles têm memória, e em suas mentes caóticas, ocasionalmente aparecem alguns fragmentos contínuos”, Cão balançou a cabeça, parecendo um pouco tonto depois de bater cabeça com outro Cão de Caça Abissal. “Não se preocupe, demônios abissais têm seus próprios métodos de ‘comunicação’.”
“Que métodos de comunicação?”, Nina e Shirley perguntaram em uníssono.
“…Não é muito bonito”, resmungou Cão, caminhando lentamente em direção ao Cão de Caça Abissal que já parara de lutar sob o sol escaldante. Em seguida, ele levantou a cabeça e olhou para Shirley. “Feche os olhos, Shirley.”
Shirley hesitou por um momento e fechou os olhos obedientemente.
Um rosnado curto, uma luta, e em seguida o som de fragmentos de osso sendo rasgados, esmagados e mastigados. Em meio a um rangido de arrepiar, a luta violenta de um demônio durou apenas um instante.
Depois de um tempo, Shirley abriu os olhos, hesitante, e viu que no chão, no centro do quarto, restava apenas uma pequena pilha de poeira negra que se dissipava rapidamente. Cão estava parado ao lado da pilha, e Nina estava em frente, um pouco atordoada. Só depois de um bom tempo o brilho do sol em seu corpo diminuiu gradualmente, e ela exclamou com admiração: “Uau—”
Shirley adivinhou o que havia acontecido enquanto estava de olhos fechados. Ela olhou para Cão com uma expressão um tanto complexa: “Na verdade… eu também não…”
“Você teria pesadelos, eu te conheço”, Cão balançou a cabeça, depois rangeu os dentes e cuspiu ao lado com certo nojo. “Tsc.”
“Machucou os dentes?”
“Comer um demônio analfabeto como este é como morder pedra, não dá para extrair uma frase completa dele. E pensar que este cara também saiu correndo atrás de conhecimento”, Cão reclamou de seu semelhante analfabeto com nojo, exibindo sua confiança e orgulho como um cão culto. Em seguida, ele baixou a cabeça, parecendo se concentrar seriamente nas informações que acabara de “comunicar”.
Momentos depois, ele levantou a cabeça, um tanto confuso, e olhou para Shirley e Nina: “Estranho… a memória residual deste Cão de Caça Abissal mostra… que ele nunca sentiu a supressão do Fenômeno 001…”
Shirley e Nina se entreolharam, perplexas.
“Mas agora… é de dia…”
Shirley resmungou por instinto e caminhou lentamente até a janela, espiando para fora.
A névoa cada vez mais densa já havia coberto todas as ruas. A névoa espessa e as nuvens altas eram como camadas de cortinas cobrindo Geada. E nesta cortina pesada, a luz do dia já estava tão fraca quanto o crepúsculo, e à distância não se via nem a fachada do prédio do outro lado da rua.
Mas no céu ainda havia uma massa de luz, era a posição do sol — era de fato de dia, era de fato o Fenômeno 001.
“Nina, olhe”, Shirley apontou para o céu. “O sol está ali…”
Ela parou de repente.
Nas profundezas da névoa espessa e das nuvens, a massa de luz brilhante tremeu silenciosamente algumas vezes e, em seguida, espalhou-se para os lados como um reflexo na água.
Parecia que, desde o início, aquilo não era o sol — era apenas uma imagem residual visual que permaneceu no céu da cidade-estado quando a cortina se ergueu.
No céu de Geada, o sol desapareceu.
Ao mesmo tempo, na área central da cidade-estado, nas profundezas da terra, logo abaixo da Mina de Ouro Fervente, na antiga e poeirenta Segunda Via Fluvial.
A névoa na cidade não se espalhou para o subterrâneo, e a pequena anormalidade na superfície não afetaria as ações da equipe de exploração. No mundo subterrâneo, profundo e abandonado, as tropas de guardas da Igreja estavam reforçando de forma tensa e ordenada o posto avançado que acabaram de estabelecer.
Caminhantes a Vapor, semelhantes a aranhas, deslizavam pelo largo corredor do esgoto. Holofotes de alta potência varriam cada canto escuro do corredor. Canhões de múltiplos canos nas torres em ambos os lados do casco da “aranha” ajustavam ligeiramente seus ângulos, sempre alertas às sombras que poderiam se esconder nas bifurcações escuras. Monges do silêncio###TAG###1###TAG###, vestidos com longas túnicas pretas, oravam em silêncio nas trincheiras no cruzamento, acumulando energia para o avanço subsequente. Guardas veteranos de elite guardavam os postos de sentinela e os portões em cada cruzamento. Eles tinham lanternas penduradas na cintura, uma bengala em uma mão e um fuzil de caça especialmente modificado ou um revólver de grande calibre na outra.
A Segunda Via Fluvial foi governada pela escuridão por muito tempo. Realizar uma missão de exploração neste lugar escuro era menos como “investigar” algo e mais como declarar guerra a um reino aterrorizante que gradualmente se distorceu e se deformou.
O inimigo poderia ser qualquer coisa, o inimigo era a própria escuridão.
Um silvo bizarro veio de uma bifurcação distante, misturado com o som de um grande membro rastejando e se contorcendo. Duas máquinas a vapor em alerta no posto avançado do cruzamento reagiram imediatamente. Quatro granadas de luz forte foram lançadas primeiro da frente do corpo da aranha e, em seguida, os guardas nas máquinas de caminhada operaram os canhões de múltiplos canos e dispararam uma rajada na direção do som estranho. Em meio a um rugido ensurdecedor, a escuridão se expandiu violentamente, como se algo tivesse se ferido e estivesse prestes a revelar sua forma da escuridão.
Doze monges do silêncio vestidos de preto se levantaram de trás das trincheiras, erguendo simultaneamente seus livros sagrados. Braços envoltos em ataduras apontavam para a escuridão, emitindo um grito de raiva em uníssono.
Na escuridão, chamas pálidas se acenderam e, em coordenação com a barragem de tiros das caminhantes a vapor, queimaram até virar cinzas a coisa que a escuridão sem forma havia gerado.
A escuridão agitada voltou à calma. A bifurcação gradualmente passou de preta para escura, e depois para clara. A luz se espalhou normalmente para aquele cruzamento, iluminando a situação ali.
Não havia nada ali, apenas buracos de bala de vários tamanhos nas paredes.
E no ar, um cheiro fraco que se dissipava rapidamente.
Agatha desviou o olhar da bifurcação distante.
Uma bifurcação foi reconquistada, as tropas de guardas haviam dispersado mais um pedaço da escuridão deste mundo subterrâneo — e para toda a vasta Segunda Via Fluvial, este era apenas um canto minúsculo.
Ela não veio aqui para lidar com aquelas “bifurcações”.
“Leve-me àquele portão.”
A Guardiã do Portão virou a cabeça ligeiramente e disse ao seu subordinado ao lado.
- Anteriormente tinha traduzido como Monges Ascetas, apesar de correto, pode causar confusão com o grupo de ascetas que apareceram no Banido 100 anos atrás, assim usarei Monges do silêncio aqui, é basicamente a mesma coisa, só pra ter distinção mesmo.[###TAG###↩]###TAG###