The Runesmith

Volume 13 - Capítulo 577

The Runesmith

“Uma carta do pai?”

Arthur perguntou com uma ponta de confusão no rosto. Ele estava em seu escritório com outras duas pessoas. Uma era sua criada e guarda-costas de confiança, Mary. A outra era seu aliado mais capaz, Roland, conhecido pela maioria como Alto Comandante Wayland.

“Sim, Lorde Arthur. Chegou assim que retornamos de Aldbourne.”

Mary respondeu enquanto lhe entregava a carta com o selo valeriano.

“Quer que eu saia?”

Roland perguntou. Ele pressentiu que o assunto poderia ser pessoal.

“Não. Fique. Provavelmente está relacionado ao abate. Mas este selo.”

Arthur disse enquanto o examinava mais de perto. Havia algo de errado nele. Não era apenas o cervo familiar que representava sua casa. Uma floresta cercava o emblema, juntamente com quatro escudos, sugerindo algo mais. Esta não era uma carta destinada apenas a ele. Outros também a haviam recebido. Era uma convocação para a Grande Assembleia.

Arthur virou a carta na mão. O selo de cera refletiu a luz da manhã, quase como se o desafiasse a quebrá-lo. Mary e Roland esperaram em silêncio, sentindo o peso do momento. Após uma breve pausa, Arthur pressionou o polegar contra o selo e o rompeu.

Seus olhos percorreram o conteúdo rapidamente a princípio, depois diminuíram o ritmo à medida que a mensagem era absorvida. Quando finalmente abaixou o pergaminho, sua expressão era indecifrável. Seu rosto havia se transformado em pedra.

“Eles estão convocando a Assembleia dentro de duas semanas. A presença é obrigatória para todos os nobres que detêm direitos de governo.”

“Até você? É sobre o abate ou algo completamente diferente?”

Roland perguntou, com suspeita clara em sua voz.

“Ainda temos os tribunais analisando as reivindicações de sucessão em Aldbourne. Será que Theodore está por trás disso?”

Arthur parou por um momento enquanto assimilava as palavras de Roland e então respondeu.

“Essa possibilidade é zero. A única pessoa que pode convocar a Grande Assembleia é meu pai. No entanto, há algo errado nisso. Normalmente, leva um mês inteiro para completar a contagem de monstros. As feras errantes também devem ser contadas. Depois disso, os vencedores são anunciados e um grande baile é realizado.”

Ele ficou em silêncio, incerto sobre o verdadeiro propósito da carta. Parecia repentina demais. Algo havia mudado. Talvez fosse o estado de Isgard que forçara seu pai a agir.

“Talvez eles só queiram avaliar os danos em todo o reino e atribuir tarefas diretamente?”

“Ou eles querem que lhes demos fundos para os esforços de reconstrução.”

Roland acrescentou, com um tom sombrio.

“Uma demonstração pública de unidade, seguida de uma repressão silenciosa.”

Era uma ideia simples, mas Arthur não estava convencido. Será que eles realmente convocariam tantos nobres apenas para exigir dinheiro? Seu pai, o Duque, poderia emitir um decreto sem enfrentar oposição. Era preciso haver mais do que isso. Se havia recebido uma carta, seus irmãos também a teriam recebido. Isso significava que logo estaria na mesma sala que muitos que o desprezavam há anos.

“Duas semanas.”

Arthur murmurou.

“Posso fazer isso em duas semanas?”

Roland entendeu o que o jovem nobre estava dizendo e respondeu rapidamente.

“Bem, é possível. Você já está se preparando há algum tempo. Se for esse o caso, talvez consiga na segunda ou terceira tentativa.”

“Segunda ou terceira…”

Arthur repetiu baixinho. Não sabia ao certo de onde vinha a confiança de Roland. Ele esperava ter mais de um mês para o próximo passo em seu plano, que era alcançar o Nível 3. Havia uma grande chance de ser convidado para o baile que se seguiria ao abate, e esperava exibir a força pessoal que havia conquistado.

Com a ajuda de Roland, ele treinou incansavelmente. Aprimorou muitas de suas habilidades e se levou ao auge do Nível 2. O progresso que alcançou em tão pouco tempo foi nada menos que notável. Acreditava que, assim que os outros vissem seu crescimento, finalmente começariam a levá-lo a sério.

Esse era o plano. Mas agora, faltando apenas duas semanas, ele enfrentava um desafio que até mesmo os mais talentosos geralmente levavam um mês inteiro ou mais para superar.

“O trabalho de um Lorde nunca é tão simples…”

Arthur murmurou para si mesmo, embora não estivesse sozinho em seus esforços. Roland não estava lá apenas para ler a carta. Ele viera com um propósito completamente diferente: ajudar Arthur a reter memórias de dentro do Espaço da Ascensão. Pelo que Arthur ouvira, Roland havia feito progressos significativos nessa área e já havia ajudado Durendal e Curtana a avançar em algumas das classes mais difíceis. A classe que Arthur estava almejando era especialmente desafiadora, então precisava de toda a ajuda possível.

“Não é impossível, então por que não começamos? Cada segundo conta.”

Roland disse.

“Suponho que você esteja certo, meu amigo. De certa forma, a Grande Assembleia trabalha a nosso favor. Meu irmão Theodore não conseguirá mover suas forças.”

Arthur respondeu. Havia regras rígidas em relação à Assembleia. Uma vez anunciada, todas as batalhas e disputas em andamento entre a nobreza deveriam cessar imediatamente. Isso significava que Theodore não poderia fazer nenhum movimento para retomar Aldbourne, mesmo que quisesse. Embora o julgamento fosse adiado, o atraso lhes daria um tempo precioso para reforçar a cidade com golens e tropas adicionais.

Isso lhes daria tempo suficiente para estabelecer uma defesa adequada e impedir que uma força ainda maior invadisse a cidade. No momento, Sir Durendal, Lady Curtana e Sir Wischard haviam permanecido para defender Aldbourne. Os cavaleiros equipados com próteses rúnicas provaram ser seus recursos mais poderosos. No entanto, apesar de sua força, as próteses exigiam manutenção frequente – algo que só Roland compreendia plenamente.

Mesmo assim, Arthur tinha outros assuntos em que se concentrar. Alcançar o Nível 3 finalmente lhe permitiria ir além do papel de espectador indefeso. Era a única maneira de se colocar em pé de igualdade com os outros e defender o que era seu.

“Então, eu me coloco em suas mãos capazes.”

Depois de se livrar da carta, Arthur se voltou para Roland, que deveria ajudá-lo a reter memórias da Prova de Ascensão que estava prestes a realizar. Roland assentiu brevemente e gesticulou em direção à saída com a mão enluvada.

“Já tomei as providências, mas precisaremos ir para minha própria oficina. O subsolo da mansão ainda não é adequado para esse tipo de procedimento.”

“Procedimento?”

Arthur repetiu, arqueando uma sobrancelha diante da escolha das palavras. Preferiu não questionar mais. Roland nunca lhe dera motivos para duvidar de sua lealdade. O mago-engenheiro já havia se provado confiável mais de uma vez.

A oficina ficava abaixo da propriedade de Roland, e eles chegaram lá atravessando um dos túneis secretos que passavam por baixo da cidade. Ao longo do último ano, eles trabalharam arduamente para construir uma rede de rotas de fuga. Uma delas começava embaixo da mansão de Arthur e terminava diretamente abaixo da casa de Roland.

Roland conduziu Arthur pelo túnel sinuoso e surpreendentemente bem iluminado, seus passos ecoando suavemente nas paredes de pedra. No chão, Arthur notou algo que parecia trilhos, embora ainda não se estendessem por toda a extensão da passagem. Roland havia mencionado planos para uma ferrovia subterrânea, e aquilo era apenas um protótipo. Por enquanto, servia apenas para ajudá-los a se moverem mais rapidamente durante a fuga. Mas, no futuro, quando a cidade ficasse mais lotada, tal sistema poderia se tornar essencial. As ruas acima já estavam congestionadas com carruagens, animais domesticados e corpulentos e um fluxo constante de pedestres.

Ao chegarem, uma porta os aguardava. Arthur ainda se maravilhava com a magia usada naquele lugar. Trechos do túnel atrás deles estavam selados por portas, projetadas para bloquear qualquer perseguidor. Ao longo das paredes, notou runas gravadas na pedra. Segundo Roland, essas runas detonariam se uma retirada fosse necessária. Essa rota de fuga não era apenas inteligente, mas também criada por alguém que deveria estar trabalhando para a realeza.

‘Ele realmente não pertence a uma cidade tão pequena…’

Ao entrar na oficina de Roland, Arthur sentiu um nó de inquietação no peito. Seu amigo era brilhante, talvez até perigosamente brilhante. Ainda não tinha trinta anos e já havia conquistado feitos que deixariam mestres experientes sem palavras. Se quisesse, poderia facilmente conquistar um lugar em um respeitado laboratório na capital. Era certo que os altos nobres notariam, e talvez até a família real buscaria suas habilidades.

Artesãos rúnicos eram extremamente raros, e humanos do seu nível eram quase inéditos. Só esse fato já fazia Roland se destacar. Por razões que Arthur ainda não conseguia compreender completamente, esse indivíduo notável havia escolhido trabalhar com ele.

‘Tenho que estar à altura disso. Não posso me dar ao luxo de fracassar. Não posso continuar sendo um fardo.’

Embora sentisse a necessidade de se parabenizar por vencer sua primeira batalha em larga escala, Arthur sabia a verdade. Ele jamais teria tido sucesso sem as invenções de Roland. Sua força atual, sua rápida ascensão na hierarquia, nada disso teria sido possível sozinho. Sem a ajuda de Roland, ele provavelmente ainda estaria preso em Albrook, vivendo na obscuridade como um bastardo sem nome que ninguém respeitava.

“Chegamos. Sente-se e tente relaxar.”

Por fim, ele foi levado a uma sala. Era um espaço simples e branco, sem decoração, exceto por uma única cadeira posicionada no centro, cercada por um semicírculo de consoles suavemente brilhantes. Runas pulsavam suavemente pelas paredes e pelo chão, lançando leves ondulações azuis que cintilavam na superfície estéril. A sala estava silenciosa, quase anormalmente silenciosa. O único som vinha do zumbido baixo de mana percorrendo os conduítes e fios rúnicos que se espalhavam pela câmara.

Arthur entrou lentamente, com os olhos fixos na cadeira. À primeira vista, parecia comum, feita de aço polido e couro escuro, mas o ar ao redor vibrava com magia. Ficava bem no centro de vários círculos rúnicos gravados no chão e no teto. Cabos grossos se estendiam dos consoles até a cadeira, e preso a ela havia um dispositivo semelhante a um capacete. O capacete parecia simples, mais parecido com uma tigela metálica, embora estivesse coberto de runas detalhadas.

“Você projetou tudo isso apenas para o procedimento de retenção de memória?”

Arthur perguntou enquanto se sentava na cadeira. Tentou parecer calmo, mas um leve tremor na voz o denunciou.

“Sim e não.”

Roland respondeu.

“Começou assim, mas também estou usando para analisar o próprio ritual de ascensão. Muitas pessoas acham que é uma bênção dos deuses e que somos levados para o reino deles, mas ainda não estou convencido…”

Arthur piscou.

“Ah… provavelmente é melhor não contar isso à igreja.”

“Eu sei. Eles provavelmente tentariam me rotular de herege, talvez até você, por usar essa tecnologia.”

“Hah, bem, é melhor não dizer nada então.”

Roland assentiu levemente e acionou a cadeira. Ela se moveu sob Arthur, reclinando-se lentamente até que ele foi forçado a se deitar. O movimento foi suave, mas algo o deixou inquieto. Lembrou-o dos antigos instrumentos de tortura que vira nas masmorras subterrâneas. Felizmente, não havia algemas ou amarras.

“Apenas relaxe e entre no seu espaço de ascensão. Quando voltar, concentre-se na provação. Tente se lembrar das partes importantes, como o que você precisa realizar, quaisquer atalhos em potencial ou brechas ocultas. Sempre há uma maneira mais simples de superar essas provações. É melhor encontrá-la mais cedo do que tarde demais.”

“Bom… então vamos começar, Mary.”

Mary assentiu e deu um passo à frente, colocando o cristal da ascensão na mão de Arthur. A tigela metálica repousava sobre sua cabeça agora, e Roland se afastou em direção ao console. Arthur olhou para ele uma última vez, depois fechou os olhos e agarrou o cristal.

À medida que a magia o invadia, o quarto se esvaiu. Ele sentiu a atração familiar, uma mudança suave que o afastou do presente. Quando a sensação se dissipou, ele se viu em um lugar que conhecia bem: o pátio de sua antiga mansão, o lar que compartilhara com sua mãe por tantos anos.

O sol estava baixo no céu, lançando um tom dourado sobre o caminho do jardim. O ar cheirava a lilases e grama recém-cortada. Diante de Arthur, erguiam-se os degraus de mármore claro de uma vila, aninhada no topo de uma colina suave, à meia-sombra de imponentes salgueiros-da-lua. Sua arquitetura era uma fusão de graça élfica e praticidade humana: janelas em arco, varandas cobertas de hera e caracteres mágicos esculpidos brilhando fracamente na parede externa. Ele sentiu a brisa roçar sua bochecha, como se carregasse uma voz do passado. A ilusão era perfeita. Perfeita demais.

“Só uma pessoa ainda está desaparecida…”

Arthur apoiou a mão em uma das árvores no centro do pátio. Ali, leves arranhões na casca representavam registros de sua altura ao longo dos anos. Sua mãe o trazia ali todos os aniversários para medir o quanto ele havia crescido. Era uma tradição discreta, que significava tudo para ele.

Mas aquele lugar não era real. Era apenas um reflexo, uma projeção de segurança moldada por sua mente. Aquele era o espaço do teste de ascensão, uma ilusão familiar extraída da memória. Nenhum outro ser estava presente. A mansão, as árvores, a brisa suave – tudo era eco de algo há muito desaparecido.

“Só percebi que tudo era uma ilusão depois do meu décimo aniversário…”

Ele começou a caminhar, seus pensamentos retornando àqueles primeiros anos. Não havia sinal de perigo ali. Nenhuma montanha imponente, nenhuma cinza vulcânica, apenas céus claros e o suave canto dos pássaros. O pátio fora uma espécie de gaiola, elegante e aconchegante, mas ainda assim uma gaiola. Um lugar destinado a proteger sua mãe e ele do mundo exterior e, mais especificamente, impedir que outros vissem sua herança meio-élfica.

Ele se lembrou das runas brilhantes que mantinham a ilusão, escondidas nas paredes e entrelaçadas em tudo. Foi só quando recebeu sua primeira classe, aos dez anos, que começou a entender a verdade. O que parecia um santuário era uma prisão, e sua mãe fora sua prisioneira silenciosa.

Os passos de Arthur diminuíram ao chegar à entrada da vila, uma porta esculpida em madeira maciça e incrustada com caracteres prateados. Sua mão pairou sobre a maçaneta, hesitante. Além daquela porta, era onde seu futuro o aguardava. Ele achou um tanto irônico buscar o progresso futuro enquanto via uma representação de seu passado. Assim como antes, precisava ir ao seu antigo quarto e escolher.

Com uma respiração lenta, girou a maçaneta e entrou. Se seguiu todos os passos corretamente, a classe que desejava alcançar estaria à sua espera, caso contrário, provavelmente teria que se contentar com algo inferior, pois seu tempo estava se esgotando. Se não conseguisse se apresentar ao pai como alguém extraordinário agora, provavelmente não seria levado a sério como um candidato adequado.

*****

“Os sinais parecem normais… ele deve voltar em alguns segundos, então prepare-se.”

“Estou sempre pronta.”

Mary respondeu, permanecendo calmamente ao lado de Roland com um travesseiro na mão. Roland mantinha os olhos fixos na tela. Ele havia construído aquela estrutura após estudar cuidadosamente os testes de ascensão de Robert, Lucille e muitos outros. A cada teste, reunia mais dados, trabalhando gradualmente para descobrir as verdades mais profundas por trás do processo.

Sua compreensão das almas começara com o encontro com a bruxa. Aquele estranho encontro o apresentara à ideia de que a alma podia deixar o corpo temporariamente. Por meio de pesquisas adicionais, confirmou que, durante o teste de ascensão, a alma desaparecia brevemente antes de retornar com as informações que havia coletado. Embora não pudesse interferir no processo em si, havia mudado seu foco para o que acontecia depois.

Quando a alma retornava, a experiência era armazenada no cérebro, embora as memórias fossem frágeis e desaparecessem rapidamente. Certos feitiços podiam estender o período de retenção e, com a ajuda de sua mais recente configuração, planejava que Sebastian ajudasse a preservar os dados excedentes. O tempo era curto, mas mesmo alguns segundos de clareza poderiam fornecer insights valiosos sobre o julgamento.

E agora o momento havia chegado. Uma mudança sutil nas leituras o confirmou. A alma de Arthur havia retornado. Ele rapidamente ativou o procedimento e, diante de seus olhos, uma série de imagens começou a aparecer. As imagens às vezes estavam borradas ou fora de foco, mas outras vezes nítidas. Ele havia conseguido, sua criação estava funcionando e, com isso, talvez ter sucesso em duas semanas não fosse mais um sonho…