The Runesmith

Volume 13 - Capítulo 576

The Runesmith

De volta a Aldbourne, as comemorações continuaram noite adentro. Comida foi distribuída das lojas, tochas iluminaram as ruas e até mesmo o bairro nobre foi aberto para admiração dos cidadãos. Apesar da atmosfera festiva, Arthur permaneceu tenso. Ele havia trazido seu próprio povo para servir como os novos líderes locais, já que os anteriores haviam se mostrado indignos de confiança. A única exceção era o vice-prefeito. Roland havia garantido a Arthur que o homem havia sido persuadido com sucesso a apoiar a causa deles.

Mesmo assim, a burocracia da cidade estava em ruínas. O livro de impostos havia desaparecido e a maior parte do tesouro havia sido levado.

“Isso é muito desagradável.”

“Por favor, perdoe-me, meu senhor. Eu não sabia…”

A voz vinha do jovem vice-prefeito, que agora estava diante dele. Seu nome era Joseph. Ele não tinha nem trinta anos, era excepcionalmente jovem para o cargo e o candidato perfeito para assumir a responsabilidade. Arthur suspeitava que o verdadeiro prefeito já estivesse longe e jamais retornaria. Tanto seus fundos pessoais quanto o tesouro da cidade provavelmente haviam sido esvaziados e enviados para seu irmão. Essa era a única maneira de escapar sem ser tachado de criminoso por roubar uma cidade controlada pelos Valerian.

“Sir Gareth, Sir Morien, por favor, deem um pouco de espaço para o nosso prefeito respirar.”

“Sim, Lorde Valerian!”

Os dois cavaleiros assentiram e se afastaram. Joseph recebeu a ordem de sentar-se em uma cadeira diante de Arthur, que acabara de revisar os últimos documentos que o oficial da cidade conseguira apresentar. Embora o tesouro estivesse quase vazio, nem tudo havia desaparecido. Ainda havia reservas de alimentos e suprimentos médicos, além de alguns estoques escondidos de materiais de construção espalhados pelo bairro nobre.

“Assumimos o controle da guilda dos ladrões e de algumas outras fontes. Não é o ideal, mas é um começo.”

Por ora, teria que bastar. Ele havia passado mais de um ano se preparando para esta campanha, e a primeira etapa estava concluída. Os próximos passos já estavam em andamento. Com um aceno silencioso para si mesmo, se levantou e olhou para Joseph.

“Joseph.”

Ele disse, com a voz mais suave agora, mas ainda autoritária.

“Você permanecerá. Não como vice-prefeito, mas como o novo prefeito de Aldbourne.”

“Não, por favor, meu Senhor, farei qualquer coisa…”

Joseph caiu de joelhos e bateu a testa no chão de madeira, convencido de que estava prestes a ser atingido por uma das espadas de Arthur. Sua voz sumiu ao perceber o que havia sido dito.

“Você quer que eu me torne prefeito?”

“Sim. Precisamos de alguém familiarizado com esta cidade. Você receberá um assistente, e escolheremos um novo vice-prefeito para você orientar. Se mostrar lealdade, poderá manter este cargo permanentemente.”

“Eu… eu farei o meu melhor, Lorde Valerian!”

Joseph, que estivera aterrorizado momentos antes, agora parecia perceber que a situação talvez não fosse tão grave quanto temia. Ele estava sendo promovido a prefeito – pelo menos por enquanto. E havia uma possibilidade real de que isso se tornasse permanente. Mais importante ainda, entendia que, enquanto permanecesse útil, lhe seria permitido viver. Essa, acima de tudo, era sua prioridade.

“Tenho certeza que sim, apenas isso.”

“Eu… eu entendo, meu senhor. Obrigado. Não vou decepcioná-lo. Não se arrependerá, eu provarei que sou útil!”

O homem continuou a se curvar, repetidamente, como um louco, por algo muito mais forte do que apenas medo. Arthur sentiu uma pontada de desconforto diante da demonstração. A humilhação do homem o fazia parecer um tirano sanguinário atormentando um plebeu indefeso. Ele esperava que as pessoas reagissem à sua liderança com respeito, ou pelo menos com uma confiança cautelosa. Talvez o medo de Joseph tivesse menos a ver com o próprio Arthur e mais com seu encontro com Roland. Arthur não pôde deixar de se perguntar o que exatamente seu amigo havia feito para convencer o homem a assinar todos os documentos necessários.

“Alguém estará esperando lá fora. Ela será sua nova assistente. Comece encontrando as famílias que perderam alguém durante a defesa da cidade e faça uma lista, por menor que seja. Inclua também aqueles que perderam familiares nos meses que antecederam a quebra da masmorra.”

“Sim, milorde!”

Joseph não fez perguntas. Simplesmente ouviu e obedeceu. Arthur sabia que pessoas haviam sido capturadas e vendidas como escravas naquela cidade. Quanto mais testemunhas conseguisse reunir para depor contra o irmão, mais forte seria seu caso. Momentos depois, o jovem prefeito saiu da sala, segurando o livro-razão que Arthur havia devolvido após examinar seu conteúdo. Quando a porta se fechou atrás dele, uma voz feminina falou das sombras.

“Não tenho certeza se podemos confiar nele, Lorde Arthur.”

“É por isso que uma de suas criadas está observando cada movimento dele.”

Uma figura vestida de túnica surgiu da escuridão, sua voz instantaneamente familiar. Ao se aproximar, ela abaixou o capuz, revelando orelhas de gato laranja no topo da cabeça. Seus movimentos eram silenciosos como sempre, tanto que nem mesmo os dois cavaleiros de Nível 3 notaram sua presença até que ela já estivesse dentro da sala – algo que claramente a incomodava.

“Vocês dois precisam de mais treinamento. E se eu fosse um assassino inimigo?”

“… Minhas desculpas.”

Os dois cavaleiros abaixaram a cabeça como crianças sendo repreendidas pela mãe. Arthur não pôde deixar de rir ao ver seus escudeiros mais confiáveis interagindo. Sabia que fora Mary quem permitira que Gareth e Morien desferissem seus golpes em Alphonse, o cavaleiro de alta patente que antes parecia estar muito além do alcance deles. Embora os golpes tivessem acertado, fora um dos líderes dos cavaleiros protéticos quem desferira o golpe final.

Arthur foi até a janela, com as mãos cruzadas atrás das costas, enquanto contemplava Aldbourne. A cidade brilhava suavemente sob o luar. Estava tudo quieto agora, embora longe de estar parado. Em algum lugar lá embaixo, planos já estavam se desenrolando. Alguns eram seus, outros não.

A queda de Alphonse foi rápida e pública. Graças à gravação de Roland, não havia ambiguidade quanto à legalidade da tomada de poder por Arthur. A gravação mostrava claramente Alphonse rejeitando a reivindicação de Arthur e se recusando a reconhecer o estatuto que lhe garantia o direito legal de assumir a liderança.

Essa tecnologia, a capacidade de registrar e reproduzir o passado, era poderosa e perturbadora. Superava em muito o uso tradicional de magos poderosos para vislumbrar eventos passados. Esse método era extremamente difícil, pouco confiável e acessível apenas a algumas casas nobres. A nova tecnologia de gravação tinha suas próprias limitações, pois exigia a presença de um dispositivo de gravação no momento do evento. No entanto, uma vez capturada, a memória podia ser copiada e reproduzida livremente por praticamente qualquer mago rúnico.

Um desses magos, um amigo de confiança de seu Alto Comandante, já havia se dirigido ao próximo lugar que Arthur precisava abordar: a corte nobre.

“Quanto tempo até que a corte nobre analise o assunto?”

Arthur perguntou baixinho. Mary se pôs ao lado dele, seus olhos felinos brilhando fracamente na penumbra.

“Alguns dias, no máximo. Sir Wayland enviou a gravação pelos canais aprovados. A esta altura, talvez até o Alto Trono já a tenha visto.”

Arthur assentiu lentamente.

“E Theodore?”

A expressão de Mary escureceu.

“Exatamente como esperávamos. Ele não está enviando mais tropas. Relatos sugerem que está redirecionando suas forças para as passagens ao norte e as estradas principais. Parece que ele espera que seu irmão mais velho aja, mas nossos espiões confirmaram que Julius não fez nenhum movimento. Pelo contrário, Lorde Arthur…”

Mary fez uma pausa, sua expressão mudando conforme a preocupação tomava conta de seu rosto.

“O que é?”

Arthur perguntou enquanto levantava uma sobrancelha.

“É melhor você ler isso sozinho.”

Ela lhe entregou algumas páginas de um relatório. Arthur examinou o conteúdo rapidamente, arregalando os olhos a cada linha.

“Isso… Isgard, como isso pode ser possível? A quebra da masmorra foi realmente tão devastadora?”

Mary assentiu lentamente.

Parece que a capital levou a pior. Monstros de Nível 4 foram vistos na área, e até grupos de aventureiros de nível Oricalco foram convocados. Alguns de seus membros caíram durante a luta…

Os pensamentos de Arthur giravam em círculos. Ele não previra que a fortaleza de seu pai sofreria um golpe tão devastador. Segundo o relato, os monstros haviam invadido a cidade e causado uma destruição generalizada. As baixas foram muitas e o destino de muitos moradores permanecia desconhecido. A única certeza era que seu pai havia sobrevivido, ou pelo menos era o que havia sido relatado. Arthur sabia que, se algo lhe acontecesse, seu pai provavelmente faria de tudo para esconder.

“Você está bem, Lorde Arthur?”

“Sim, estou bem…”

Na verdade, sentia pouca afeição pelo pai ou pelas pessoas que viviam naquele castelo frio e distante. Preferia não se lembrar dos anos que ali passara. Sua juventude fora tudo menos alegre. Somente sua mãe trouxera luz àquele lugar, a única pessoa capaz de atravessar a constante melancolia que cercava sua infância. Seu pai fora seu escudo, a única razão pela qual ela permanecera ilesa. Enquanto o Duque permanecesse no poder, sua segurança estaria garantida. Se um dos irmãos de Arthur ascendesse àquela posição, ele temia por sua vida.

‘Mas o que eu deveria fazer? Será que eles me permitiriam uma audiência com o pai?’

Para confirmar o estado de saúde do pai, Arthur precisaria ir até lá e vê-lo pessoalmente. Mas o momento não poderia ter sido pior. Se fosse embora agora, Theodore poderia aproveitar a oportunidade para agir. Assim que começou a ponderar suas opções, algo no relatório chamou sua atenção, algo que ele quase havia ignorado.

‘Espere, o que é isso?’

Uma parte que ele quase perdeu. Havia mais. Algo inesperado. Algo inquietante, mas também algo que poderia se transformar em uma possibilidade.

“Isso pode ser uma oportunidade, mas também uma armadilha…”

Seus olhos se estreitaram diante da oportunidade que se apresentou. Não tinha certeza se era algo bom ou ruim, mas não parecia ter escolha.

“Onde está nosso Alto Comandante agora?”

Enquanto falava, Arthur jogou o relatório na lareira próxima. O papel pegou fogo imediatamente, brilhando em um tom alaranjado antes de se desfazer em cinzas. Mary fez uma pausa e então falou.

“Ele deve estar trabalhando no portal de teletransporte. Devo chamá-lo aqui?”

“Sim, seria melhor assim.”

Arthur respondeu enquanto se sentava na cadeira à sua mesa. Seus olhos se voltaram para um cristal deitado de lado. Era do mesmo tipo usado no ritual de ascensão. Todos os requisitos haviam sido finalmente atendidos. O título que ele conquistou por liderar suas forças era o último que precisava.

Ele se esforçara incansavelmente. Suas habilidades haviam sido treinadas ao máximo. Ele caçou monstros para dominar o combate, estudou todos os textos que pudessem oferecer insights e garantiu que não houvesse nenhuma fraqueza em sua preparação. Agora, chegara o momento de ascender ao próximo estágio de poder. Sem seu amigo, sabia que nunca conseguiria concluí-lo a tempo.

*****

‘Gostaria de saber como Arion está, ele não parecia muito ansioso para ir à corte nobre.’

Roland pensou consigo mesmo enquanto conectava as peças finais do portal de teletransporte. Os anões haviam preparado tudo com antecedência, deixando-o com a tarefa de soldar os componentes usando sua magia. A cidade havia sido capturada, as evidências necessárias haviam sido obtidas e agora tudo o que lhes restava fazer era esperar.

A batalha havia terminado, e ele desempenhara um papel fundamental na garantia da vitória. Seus golens, juntamente com os de Lucille, agora patrulhavam as ruas sob a proteção da noite. Houve algumas reclamações dos moradores da cidade, mas, por enquanto, eles estavam proibidos de sair de casa. O motivo oficial alegado foi o perigo de ataques de monstros, o que não era mentira.

O Mestre da Guilda já estava organizando grupos de aventureiros para lidar com as ameaças restantes. Seu exército havia cumprido sua missão, e agora cabia a outros concluí-la.

No passado, após um abate, aventureiros se espalhavam para limpar as aldeias vizinhas. Muitos dos que viviam lá estavam agora temporariamente alojados nesta cidade e em assentamentos próximos. Os rumores que Roland havia espalhado provaram ser eficazes. As pessoas receberam ordens de evacuar as áreas menos defensáveis para reduzir as baixas. Agora, assim como naqueles tempos antigos, aventureiros retomariam as aldeias abandonadas e caçariam quaisquer monstros que restassem.

“Talvez eu tenha que ficar aqui por um tempo…”

A cidade agora lhes pertencia por lei, mas Roland sabia que Theodore não a veria dessa forma. Assim que percebesse que seu irmão Julius não viria em seu auxílio, sem dúvida traria seu exército completo à porta deles. Os três mil soldados que haviam derrotado, juntamente com os poucos detentores de classe de nível 3 que haviam capturado, não eram nada comparados à força principal de Theodore.

Mesmo que se mantivessem firmes em Albrook, com as defesas dos golens em pleno funcionamento, Roland não tinha certeza se conseguiriam resistir a um ataque completo. Theodore vinha construindo sua base de poder há mais de uma década. Em contraste, Arthur e Roland estavam apenas começando.

“Pelo menos com isso, teremos uma maneira de escapar se algo acontecer…”

A situação estava longe de ser ideal, mas o portal de teletransporte lhes dava uma vantagem vital. Oferecia mobilidade, uma saída caso as coisas dessem errado. Mesmo assim, Roland via outro problema no horizonte, um problema muito menos mortal, porém muito mais pessoal. Ele não tinha ideia de como explicaria tudo aquilo à Diretora. Ela já relutara em lhe conceder qualquer clemência, e faltara às aulas só para estar ali.

“Tenho certeza de que ela vai entender. Nada aconteceu no Instituto desde então.”

Ele vinha desempenhando suas funções com diligência e equipara toda a instalação com um sistema de monitoramento. Havia poucos motivos para permanecer no local, além de ocasionalmente dar palestras e explicar magia rúnica aos alunos. Até havia contratado um assistente pessoal capaz de ministrar as palestras em seu lugar. Com as ferramentas de aprendizagem que havia desenvolvido, o currículo estava completo. Talvez a Diretora fosse mais tolerante se decidisse fazer um pedido.

Mesmo assim, não tinha a mínima vontade de se apresentar diante de uma portadora de classe de nível 4, a menos que fosse absolutamente necessário. Ainda assim, aquela mulher talvez fosse a menor de suas preocupações, pois foi subitamente interrompido.

“Sir Wayland, o Lorde deseja falar com você.”

“… Estarei aí em breve.”

******

“Qual é o significado disso? O Julius não estava envolvido em tudo isso? Quem me deu essa informação falsa?”

Em uma sala mal iluminada, um nobre furioso, com um nariz proeminente em forma de bico, atirou uma pilha de papéis no mordomo à sua frente. O homem não se moveu. Recebeu o golpe no rosto sem pestanejar. Os papéis caíram no chão como folhas de outono. O nobre, Lorde Theodore Valerian, fervia de fúria mal contida enquanto andava de um lado para o outro em seu escritório.

“Estacionei tropas em todas as minhas cidades. Interrompi o comércio. Forcei meus aliados à submissão. Por nada?”

O mordomo endireitou a postura enquanto a última folha de papel pousava a seus pés. Esperou em silêncio, como fazia há anos, até que o discurso começasse a se dissipar.

“Nenhuma ação repentina do Julius. Nem mesmo do Ivan. Aquele desgraçado realmente orquestrou tudo isso? Não. Eu não vou acreditar. Me fizeram de bobo. E Arthur entra em Aldbourne como se fosse dele…”

O nobre continuou a xingar e a proferir palavras ofensivas pela sala antes de finalmente desabar na cadeira. Franziu as sobrancelhas e recostou-se, exalando com os dentes cerrados. Só então o mordomo falou.

“Milorde, isto acabou de chegar. Traz o selo da Corte Nobre.”

Theodore congelou. Sua fúria cessou abruptamente quando se virou para o mordomo, incrédulo.

“A Corte Nobre?”

O mordomo se adiantou e apresentou um envelope grosso, lacrado com cera vermelha e com um brasão incrustado em ouro desbotado. Theodore arrancou-o de suas mãos e o abriu com um movimento rápido da faca. Seus olhos se estreitaram enquanto lia.

“Estão me convocando? Que absurdo!”

Agora parecia que ele fora o autor do crime o tempo todo, e Theodore estava sendo intimado a responder pelos erros de Alphonse. As veias em sua testa saltaram com fúria renovada. Mesmo assim, o mordomo permaneceu calmo, em silêncio, com outra carta na mão. Esta trazia a marca da Casa Valerian, embora fosse incomum, quase idêntica ao selo usado para a Grande Assembléia, a reunião de todos os nobres de toda a ilha…