The Runesmith

Volume 13 - Capítulo 573

The Runesmith

O som dos cascos ficou mais alto, rítmico e profundo como um trovão estrondoso sobre as planícies. A poeira se acumulava atrás de uma grande coluna de cavalaria e soldados de infantaria vestidos de azul e prata. Estandartes com o veado da Casa Valerian ondulavam ao vento enquanto Alphonse, Cavaleiro Comandante de Theodore Valerian, cavalgava à frente de uma força de quase três mil homens.

Eles vinham em linhas ordenadas, disciplinadas e letais. Suas armaduras brilhavam, intocadas pela batalha, e suas montarias estavam bem cuidadas. No centro da formação marchava um trio de torres de cerco e aríetes encantados, preparados para derrubar muralhas se necessário. Mas, à medida que o exército escalava a colina final com vista para Aldbourne, uma onda de confusão percorreu as fileiras.

A cidade ainda estava de pé. Suas muralhas externas estavam intactas. A fumaça subia preguiçosamente das chaminés, não haviam consequências da destruição que esperavam. As pessoas se moviam pelas ameias, não fugindo de seu exército, apenas curiosas. Evidências de uma batalha mágica se estendiam em todas as direções. Crateras de todos os tamanhos marcavam o chão.

No entanto, algo estava errado. Não havia corpos intactos de monstros à vista. Restavam apenas rastros na terra, como se os corpos tivessem sido arrastados às pressas. Aqui e ali, partes de abominações mortas ainda jaziam espalhadas, mas qualquer coisa de valor havia sido levada. Era como se as pessoas que se moviam após a confusão fossem especialistas em desossar, determinados a lucrar a todo custo.

“Isto é muito estranho.”

Alphonse estreitou os olhos enquanto examinava a cidade. As informações deles haviam relatado que forças inimigas haviam tomado o controle de Aldbourne, mas nada os havia preparado para isso. As muralhas externas apresentavam poucos danos. Marcas de garras cobriam grande parte da superfície, mas a maioria das fortificações de pedra havia se mantido firme. Ele esperava que os portões tivessem sido arrombados e a batalha se espalhasse pelas ruas. Presumira que a cidade só fora capturada depois que os monstros tinham invadido o local. Mas tal invasão não ocorrera. Para piorar a situação, estranhas engenhocas metálicas estavam agora presas às muralhas, com propósitos obscuros e inquietantes.

Os estranhos dispositivos metálicos estalavam e zumbiam, seus movimentos acompanhados por um ruído mecânico silencioso e runas brilhantes e reluzentes. De dentro de suas estruturas metálicas, apêndices tubulares se estendiam, parecendo canhões. Um por um, eles mudaram de mira, como se estivessem esperando alguém se aproximar. Alphonse sentiu que algo estava errado e imediatamente levantou a mão em um sinal claro.

“Levantem seus escudos!”

As fileiras da frente obedeceram imediatamente, erguendo escudos de torre encantados enquanto os constructos começavam a brilhar. Um instante depois, raios de mana concentrado dispararam das muralhas, atingindo os escudos com força explosiva. Os soldados cambalearam. Um grupo azarado não conseguiu erguer as proteções a tempo e foram arremessados ao chão, com as armaduras queimadas pelo mana aquecido.

“Recuem! Retirem-se, para fora do alcance deles, imediatamente, isso é uma ordem!”

Alphonse latiu ordens enquanto parava sua montaria. As tropas recuaram rapidamente para uma distância mais segura, escudos erguidos e magos lançando barreiras defensivas enquanto os constructos paravam, seus mecanismos parando enquanto recarregavam. Alphonse praguejou baixinho e examinou as muralhas mais uma vez. Então, sem aviso, uma figura se ergueu no ar. Era um homem vestido com uma armadura ornamentada e desconhecida. Ele pairava sem esforço, como se o próprio céu o acolhesse, e um momento depois, sua voz ecoou por todo o campo.

“Eu sou o Alto Comandante Wayland de Albrook.”

“É ele!”

Alphonse olhou para o lado, onde um de seus homens gritou indignado. O homem flutuando sobre a cidade era o responsável pela queda deste cavaleiro. Não muito tempo atrás, ele havia sido um promissor Cavaleiro Comandante, mas após sofrer uma derrota esmagadora, foi rebaixado. Apesar da desgraça, sua força como detentor de classe de nível três permanecia inquestionável. Recebera outra chance de provar seu valor, agora servindo como Capitão Cavaleiro. No entanto, nunca esquecera a humilhação que o Comandante Wayland lhe infligiu.

“Acalme-se, Emmerson. Não deixe seu coração te trair.”

“…”

Emmerson cerrou os dentes, mas ouviu. Os olhos de Alphonse permaneceram fixos na figura flutuante. Ele sabia quem era Roland e já o conhecera antes. Sua força fora confirmada com a vitória sobre Emmerson, mas não acreditava que perderia em uma batalha justa.

“A pedido do prefeito interino de Aldbourne, respondemos à quebra de masmorra. As forças locais abandonaram a cidade. Sob a lei nobre e o decreto de crise, este território está agora sob a proteção de Arthur Valerian.”

Um silêncio atordoado tomou conta dos soldados atrás de Alphonse. Até Emmerson, que fervia de fúria silenciosa, hesitou diante da ousadia da declaração.

“Esta cidade não caiu graças apenas aos nossos esforços. Theodore Valerian a abandonou. Ele não tem o direito de reivindicá-la. É por isso que vocês devem partir agora, vocês não são bem-vindos nestas terras. Se não recuarem, veremos isso como um ato de guerra!”

Alphonse zombou. Era evidente que o homem viera preparado, talvez até mesmo prevendo aquele confronto. Ainda assim, não era assim que o mundo funcionava. Os fortes sempre chegavam ao topo, e pelo que Alphonse podia ver, seus oponentes careciam de um exército adequado. Muito provavelmente, sua própria cidade havia sido duramente atingida pela quebra de masmorra, e eles só podiam ceder um punhado de soldados para defender Aldbourne. Essa era a diferença entre o homem a quem ele servia, Theodore, e o arrivista chamado Arthur. As forças de Theodore vinham se reunindo há anos, apoiadas por recursos e planejamento superiores. Tomar aquela cidade não seria difícil.

“Não me venhas com tuas justificativas. Não me importam leis distorcidas nem bandeiras emprestadas. Este solo foi jurado a Lorde Theodore Valerian, por sangue, por laço e por direito de nascença. Sois todos invasores.”

Ele ergueu o braço, sinalizando para seus oficiais. Os magos começaram a entoar conjurações, formando contra-barreiras para interceptar outra saraivada dos golens da muralha. No entanto, antes que alguém pudesse atacar, algo inesperado aconteceu, algo com que nem mesmo o homem flutuando no céu contava.

“Eu desafio você para um duelo, enfrente-me!”

A voz de Emmerson ecoou pelo campo, cortando a tensão crescente como uma lâmina. Todos os olhares se voltaram para ele, seu olhar de aço fixo em Roland, e sua voz transbordava de uma raiva mal contida. Alphonse se virou, surpreso, mas não o impediu.

“Vou resolver isso com ele, aqui e agora.”

Os olhos de Roland se estreitaram por trás do elmo cravejado de runas. Ele não esperava essa reviravolta, mas viu a oportunidade imediatamente. O que precisava era de tempo. O plano havia sido adiado, mas tudo ainda estava progredindo dentro de limites aceitáveis. Se essas pessoas estivessem lhe dando um motivo para protelar, ele o aceitaria sem hesitar.

“Aceito.”

Com essa única palavra, Roland começou a descer. Aterrissou com graça silenciosa na terra rachada que se estendia entre a cidade e o exército que avançava. Emmerson desmontou, passando as rédeas para um cavaleiro próximo, e avançou com a espada já desembainhada.

Atrás deles, no topo das muralhas da cidade, as construções golêmicas permaneciam de frente para o exército, com seus canhões travados. Guardas e civis se reuniram para assistir ao duelo. Para muitos, era a primeira vez que testemunhavam tal confronto: dois cavaleiros de nível 3, um ex-Cavaleiro Comandante que havia perdido sua honra, o outro um Alto Cavaleiro Comandante a serviço de um jovem nobre em ascensão. Para os espectadores, era um espetáculo lendário. Mas para o homem vestido com armadura rúnica, não era nada extraordinário.

“Eu serei vitorioso. Recuperarei minha honra!”

Roland não respondeu. Em vez disso, convocou um grande escudo de torre de seu depósito espacial, seguido por seu refinado martelo de guerra. Sua armadura brilhava com tons carmesim profundos, projetada para canalizar magia de chamas e confeccionada para se assemelhar às escamas de uma salamandra. Ele havia escolhido um traje construído para um poder de fogo avassalador. O elemento fogo era tipicamente usado em combates agressivos, mas desta vez não tinha intenção de encerrar a luta rapidamente.

O que se seguiu não foi o choque explosivo de titãs que muitos esperavam, mas uma dança estranha e unilateral. Emmerson avançou, sua lâmina brilhando com encantamentos, cada golpe preciso e afiado por anos de treinamento. No entanto, Roland não revidou. Ele se movia com uma fluidez inesperada, sua armadura pesada parecendo deslizar enquanto desviava e se contorcia para resistir a cada golpe. Ele se defendia apenas quando absolutamente necessário.

A armadura, embora projetada para o ataque, era usada de forma diferente. Roland conjurou escudos de fogo protetores para bloquear golpes repentinos e liberou rajadas de ar aquecido para se impulsionar para fora do perigo com esquivas rápidas. Ele absorvia a maioria dos ataques com seu escudo de torre, nunca permitindo um único golpe certeiro.

Minutos se passaram. A luta se arrastou e nada mudou. Às vezes, parecia até que Emmerson estava perto da vitória. Alguns na multidão começaram a aplaudir, convencidos de que ele estava levando vantagem. Mas Alphonse não se deixou enganar tão facilmente. Ele observou atentamente e logo entendeu o que realmente estava acontecendo.

“Ele quer nos atrasar…”

Ele murmurou, estreitando os olhos.

“Ele está ganhando tempo para algum plano diabólico…”

No momento em que se deu conta, se virou bruscamente e gritou uma nova série de ordens. O duelo não lhe importava mais.

“Cerquem-os! Ataquem os portões com fúria! Magos derrubem suas construções amaldiçoadas com magia e fogo!”

O ar irrompeu em movimento. Torres de cerco avançaram com estrondo, suas rodas reforçadas por escudos arcanos. Raios de mana dos golens aracnídeos dispararam novamente, mas desta vez colidiram com barreiras em camadas, com seu impacto enfraquecido ou completamente absorvido. Os magos lançaram seus próprios feitiços contra as muralhas da cidade, mirando os pontos fracos com precisão. No entanto, cada explosão foi dispersada por estranhas explosões de energia rúnica.

Então eles os viram. Finas barras metálicas, antes escondidas sob o gesso, agora eram visíveis ao longo das paredes. Uma vez ativadas, as runas gravadas em sua superfície brilhavam através da camada desbotada de revestimento. Sua função rapidamente se tornou aparente. Elas geravam barreiras protetoras cada vez que um feitiço atingia a parede.

O que os tornava ainda mais incomuns era o timing. Os escudos só eram ativados momentos antes do impacto e desapareciam com a mesma rapidez. Era como se os constructos pudessem sentir os ataques e conservar energia, respondendo apenas no último segundo possível.

Roland sentiu a mudança de ritmo. Seu tempo havia acabado, mas isso significava que ele não precisava mais enrolar. Emmerson parecia animado, usando constantemente habilidades e equipamentos que continuavam a se deteriorar devido ao uso excessivo de encantamentos. Ele não parecia se importar com o fato de o exército atrás dele estar começando a se agitar. Era como se vencer, mesmo em maior número, ainda bastasse para restaurar seu senso de honra.

“Então é isso que os homens de Theodore chamam de duelo honroso?”

Roland desencadeou uma explosão de energia, impulsionando-se para trás e para o ar. Embora seu oponente tivesse algumas habilidades de longo alcance graças à sua esgrima, seus atributos eram simplesmente muito diferentes. Mesmo no passado, usando uma armadura inferior, Roland havia derrotado aquele homem com nada além das próprias mãos. Agora, trajando um traje superior confeccionado com runas de última geração, sua vitória estava praticamente garantida.

“Eu pensei que você fosse um guerreiro!”

Emmerson cuspiu de raiva.

“Lute comigo direito!”

Mas Roland não estava ouvindo. Ele estendeu as mãos diante do peito. O painel do seu torso se abriu, revelando um cristal avermelhado no centro. O mineral mágico começou a brilhar, e traços rúnicos ao seu redor pulsaram com poder bruto. Uma torrente de energia ígnea irrompeu do cristal. Um enorme ciclone de chamas avançou, engolfando Emmerson enquanto ele tentava encurtar a distância com um salto desesperado.

O chão sob eles estava chamuscado e negro. O salto de Emmerson se transformou em um tropeço desajeitado enquanto o inferno subjugava suas proteções mágicas. Ele caiu no chão, sua armadura brilhando em brasa em alguns pontos devido à intensidade da explosão. Firmando os pés, ele ergueu o escudo em uma tentativa desesperada de se defender.

Em segundos, percebeu seu erro. Sua armadura começou a brilhar em vermelho, queimando sua pele enquanto as chamas se aproximavam. O fogo o envolveu, engolindo-o inteiro em uma prisão flamejante.

“Emmerson!”

Alphonse gritou, observando horrorizado enquanto seu companheiro cavaleiro era consumido diante de seus olhos. Tudo acontecera rápido demais. Os magos não tiveram tempo de reagir. Mesmo quando finalmente lançaram seus feitiços de água e os sacerdotes começaram seus cânticos de recuperação, já era tarde demais. O corpo de Emmerson fora reduzido a carvão. A magia de fogo o cozinhara por dentro. Sua armadura pesada apenas intensificara o efeito, transformando-o em um caixão derretido. Sua carne fundiu-se ao metal. Quando finalmente caiu, já estava morto, sem vida e imóvel.

“Seu patife! Por isso, pagarás essa afronta com a tua vida! Arrastarei teu cadáver miserável diante do meu senhor como prova da tua loucura!”

“Bem, boa sorte com isso…”

Roland não ficou por ali para se transformar em um alfineteiro pela onda de flechas que voava em sua direção. Os magos eram igualmente implacáveis, bombardeando-o com uma saraivada de feitiços combinados. Mas no céu, ele era intocável. Ninguém na força inimiga poderia persegui-lo lá. Eles não tinham naves voadoras, nem dragões, nada que pudesse acompanhá-lo. Depois de se esquivar de alguns feitiços teleguiados, deu a volta e retornou às ameias.

“Isso foi incrível. Vamos nos mover agora?”

“Mover? Vou fingir que não ouvi isso. Só fique quieto e torça para não termos que abandonar este lugar.”

Assim que Roland pousou, Armand o chamou. Ele e o restante do grupo que havia chego à cidade já estavam em posição. Todos estavam na mesma muralha, observando o exército inimigo avançar em sua direção. Roland rapidamente se conectou aos golens posicionados ao longo da fortificação e começou a emitir ordens para que abrissem fogo. Apesar do apoio dos golens e de uma rede de armadilhas mágicas no caminho do inimigo, o exército de Alphonse continuou seu avanço.

“Lutar contra um exército bem organizado é algo completamente diferente.”

Era fácil atrair monstros irracionais para suas armadilhas rúnicas, mas não esses oponentes. Era um exército devidamente treinado que sabia como se virar em batalha. Seus magos podiam acionar armadilhas à distância, e seus arqueiros usavam táticas semelhantes. O inimigo continuou seu avanço, trazendo consigo aríetes e plataformas de cerco. Para piorar a situação, eles começaram a flanquear a cidade, como se tivessem descoberto mais um de seus truques.

A maior parte do fluido de mana já havia sido consumida durante a defesa contra a quebra da masmorra. Seus golens sofreram queimaduras em alguns componentes, e ele fez o que pôde para consertá-los ou substituí-los sempre que possível. Isso o deixou diante de uma decisão difícil.

Pegou os golens funcionais restantes e os posicionou no lado da cidade onde a força principal de Alphonse estava chegando. O outro lado ficou praticamente desprotegido, e agora parecia que o inimigo havia começado a se mover naquela direção.

Os olhos de Roland percorreram o campo de batalha. De seu lugar no topo das ameias, podia ver agora que a manobra de flanqueamento de Alphonse estava funcionando. A outra muralha, que ele havia deixado deliberadamente levemente defendida para conservar poder e concentrar o fogo, estava agora vulnerável. As tropas inimigas começavam a se afunilar em sua direção, suas fileiras se dispersando em uma corrida constante.

“Eles estão indo em frente… Façam aquilo agora!”

Embora a área estivesse praticamente desprotegida, um ser ainda estava de guarda: um lobo enorme envolto em chamas divinas. À medida que o inimigo avançava, a fera saltou no ar, posicionando-se sobre uma estranha plataforma brilhante. Com um rugido estrondoso, liberou uma onda de fogo em todas as direções. O céu se iluminou enquanto as chamas caíam como uma cortina flamejante, interrompendo brevemente o ímpeto do inimigo.

Mas Roland sabia que o lobo não conseguiria manter a linha por muito tempo. Mesmo assim, manteve a calma. Um estrondo profundo ecoou pelas colinas além da serra oriental. Ecoou pelo vale como os passos distantes de gigantes. Seus aliados finalmente haviam chegado.

O som do estrondo ficou mais alto à medida que algo maciço se aproximava à distância. Uma nuvem de poeira se ergueu atrás de uma densa coluna de cavalaria e infantaria, cujas armaduras brilhavam sob a luz do sol. Estandartes com o veado da Casa Valerian ondulavam ao vento. A visão era inconfundível. Era Arthur, não apenas o jovem lorde em nome, mas o verdadeiro comandante. Ele cavalgava à frente de uma força de cinco mil homens, sua armadura pessoal brilhando em mythril polido, lanças erguidas e mantos esvoaçando atrás deles como ondas do mar…

Arthur Valerian finalmente se manifestava ao mundo. Roland soltou um suspiro de alívio ao ver o exército aliado se aproximando finalmente. Seus esforços para deter o inimigo não haviam sido em vão. Agora, a situação voltava a favor deles, e era hora de acabar com aquilo.