
Volume 5 - Capítulo 4
No Game No Life
……Eu estraguei tudo.
Por que ela não viu a coisa chegando —? Steph, acompanhando Izuna para fora do castelo e pela cidade vizinha para comprar os ingredientes para cumprir sua promessa de um delicioso banquete de peixe, rangeu os dentes por sua falta de cuidado.
Medo, olhares de ódio, ameaças sussurradas — tudo isso desabou como chuva sobre Izuna, que caminhava ao seu lado. Os sentidos da Lobisomem deviam ter notado.
"Commonwealth" ou não, não pode ser tão fácil para as pessoas aceitarem outra raça, pode? Mas…
Intelectualmente, Steph entendia. De fato, Izuna — Lobisomem — era uma invasora para Elkia, uma subjugadora. Mas isso vinha dos Dez Mandamentos. A razão pela qual a Imanidade estava tão sobrecarregada e provada era simplesmente porque eles haviam perdido nos jogos. Eles guardariam rancor por um resultado baseado em acordo mútuo? Isso não seria injustificado —?
— …Stuch, por que você não me odeia, por favor?
— Hã —?
— …Nós tomamos seu continente, por favor. Obviamente você deveria me odiar, por favor. Por minha causa, eles chamaram seu vovô de tolo, por favor. Por que você não me odeia, por favor?
Enquanto Izuna a encarava, Steph apertou a mão da jovem com mais força.
Que descuido — Steph remoía sua própria falta de perspicácia. Izuna era esperta demais. Ela havia enganado Sora e Shiro pelo domínio continental — carregando a responsabilidade pelo futuro da Imanidade e dos Lobisomens.
— Não era como se, no escritório do avô de Steph, Izuna não tivesse lido nada. Ela sabia como suas ações haviam afetado a Imanidade. Ela já havia compreendido há muito tempo como era percebida, aceitando isso pelo que era. Apenas uma falhou em perceber —
De novo, sou só eu…
Pensando bem, quando Steph acordou — isto é, depois que Izuna aprendeu sobre a Imanidade —, Izuna havia colocado um casaco sobre Steph, uma clara mudança de atitude. Por que ela não percebeu o motivo —? Steph se preocupou, mas balançou a cabeça enquanto os olhos da jovem pairavam ansiosamente sobre ela. Ela havia sido perguntada — então ela tinha que responder. Enquanto caminhavam pela cidade de mãos dadas, Izuna devia ter sentido tanta animosidade. A própria Steph não odiava Izuna…? Essa preocupação persistente tinha que ser apagada.
Sim… eu suponho. De uma perspectiva comum…
Talvez fizesse sentido que, se ela ressentia os nobres que difamavam o avô que ela reverenciava, ela também deveria amaldiçoar a União Oriental que havia trazido esse destino — mas Steph não sabia. Ela não sabia por que — mas isso estava errado. Ela tinha certeza de que estava errado. Ff — a expressão de Steph relaxou, suavizando-se.
— Por quê? Eu não sei!
— …Stuch, você é uma idiota, por favor?
— Heh-heh, talvez eu seja. Mas — eu acredito que está errado.
Steph olhou nos olhos redondos de Izuna.
— A garota de cabelos negros, mais jovem que Shiro, distinguida por suas grandes orelhas e cauda. Com o peso do terceiro maior país do mundo em suas costas, ela havia trocado golpes com " " em pé de igualdade — uma bola de possibilidades.
Inteligente, sincera, inocente, perspicaz, com resolução e sabedoria. Olhando para essa garota — Steph deu um sorriso despreocupado.
— Afinal, senhorita Izuna, você é uma boa menina e adorável.
Basicamente, é assim, ela pensou.
— Eu gosto de você, senhorita Izuna. Então eu lhe darei um tratamento parcial.
Os olhos de Izuna se arregalaram. Um instante depois, ela sacudiu o casaco e desviou o olhar inexpressivamente. Escondendo o rosto de Steph, ela sussurrou fracamente:
— …Stuch, você é uma idiota, por favor.
— Mesmo enquanto dizia isso, Izuna aumentou ligeiramente a pressão de sua mão na de Steph. Steph riu consigo mesma da atitude transparente de Izuna e começou a andar novamente. Mas então —
— Heyyy, é a Izunaaa!
As duas se viraram para o grito. Várias figuras correram em direção a elas, abrindo caminho pela multidão. Eram crianças pequenas.
— O que… o que é isso —?
Enquanto Steph permanecia perplexa, as crianças cercaram as duas jovens, e a multidão recém-formada começou a fazer um barulho terrível.
— É a Izuna! Whoaaa, é a de verdade!
— Heyyy, Izunaaa, vamos brincaaaar. Você é super boa, né?
— Vocês são burros. Super burros. Chamem ela de Madame, cabeção.
— …Que diabos está acontecendo com vocês, seus idiotas, por favor?
Dominada pela energia das crianças animadas, Izuna não pôde deixar de responder. Steph começou a pensar em como se interpor entre elas. Olhando mais de perto para os jovens barulhentos, porém…
…ela notou suas orelhas e caudas de animais — crianças Lobisomens. Steph dirigiu-se a elas apressadamente.
— O que vocês crianças estão fazendo?
— A gente tá brincando! Juntinho!
Uma das crianças — uma menina com orelhas redondas como as de um cão-guaxinim — respondeu com uma pronúncia infantil.
— Vocês são todos… amigos? Mesmo as crianças Lobisomens?
— Claro que sooomos.
A jovem de orelhas redondas pareceu confusa com o interrogatório atordoado de Steph. Ao lado dela, um menino Imanity levantou a voz alegremente.
— Nós todos viramos amigos jogando jogos!
— Com essas palavras concisas e simples, Steph sentiu uma onda de emoção que parecia palpitar do fundo de seu coração. Enquanto isso, as crianças reunidas ao redor de Izuna brincavam animadamente.
— Vamos lá, vamos brincaaaar. Eu vou te derrotaaar!
— Eu tô faminta pra caralho, por favor. Comprando peixe, por favor. Tão ocupada pra caralho, por favor.
Para as crianças que agarravam suas roupas e imploravam, Izuna lançou um olhar azedo —
— …Eu vou chutar a bunda de vocês na próxima, por favor.
— e então, sutilmente, os cantos de sua boca se curvaram para cima em um sorriso. Com essas palavras, um menino com uma aparência particularmente atrevida estendeu o punho e gritou.
— Isso aiii! Lembra que você prometeu, Izuna! Não pode voltar atrás agora!
— Eu já disse, chamem ela de Madame, seus burros! — Madame, me desculpe muito.
E assim, assim como apareceram, as crianças partiram em uma tempestade, acenando com as mãos.
— Embora a comoção tivesse passado, o coração de Steph batia ainda mais forte. Aquela emoção ainda estava lá, como brasas.
— Hee-hee… Algo assim deve servir de resposta para você, certamente…
…Em algum momento, o sentimento que emanava deles de todos os lados tornou-se de perplexidade. Talvez ainda fosse um pouco cedo demais. Mas não demoraria muito. Quando aquelas crianças crescessem e se tornassem adultas… certamente. Teria que se tornar uma história engraçada de que outrora as raças estavam em conflito —
Nutrindo essa esperança, Steph sorriu.
— A gente tem que brincar junto — tenho certeza que é mais divertido assim.
— …Stuch, você não é uma idiota afinal, por favor. Acho que você é realmente inteligente pra caralho, por favor.
Ouvindo o comentário casual de Izuna, Steph pareceu atingida como se na presença de um deus.
— Ohhh, senhorita Izunaaa! Só você não vai dizer que eu sou burra!
— …Mas você parece uma idiota, por favor.
Izuna sorriu um pouco enquanto Steph se agarrava a ela, chorando de alegria.
— O mundo mudaria. Estava mudando. Continuava mudando. Se você sentia que não estava mudando, tudo o que isso significava — era que você não estava olhando —
******
—O mundo foi reescrito.
—Queee?! Que diabos tá acontecendo?!
Sora e Shiro, dançando pelo céu noturno, foram subitamente atacados por um rugido e uma ventania, gritando enquanto se viam em parafuso. Mas mais do que eles — mais do que qualquer um — Plum guinchou com a manifestação de um violento turbilhão.
—Q-que é isssso?! Tantos espíritos — nem mesmo Flügel deveria ser capaz de faaazer isssso?!
Uma força tão poderosa que o tremor aterrorizado de Plum podia ser sentido até mesmo através de seu disfarce de cachecol. Uma força que, se vista diretamente, roubaria a sanidade da maioria dos usuários de magia — incomparável, abaladora dos céus — conquistou o mundo pela força bruta, dobrou-o à sua vontade, reescreveu seu cenário aleatoriamente... não, pintou por cima.
—Uhh, Plum, isso é realmente tão ruim assim?
A pergunta displicente de Sora — É verdade que nunca proibimos a troca de fases, não é? — foi respondida com um grito.
—Ruim?! M-mas isso só poderia ser um Deus Antigo, ou, se não for—
Plum parou no meio da frase, lembrando-se de repente de onde eles estavam voando.
—Ixseed Rank Dois, Phantasma — Avant Heim…
—Não entendo. Não conseguimos compreender.
—Azril estava estática no ar. Seu rosto agora desprovido daquele sorriso perfeito — perfeito demais — angelical. Isso não era aquela ilusão de morte que se experimentava ao confrontar um Flügel... não. Sora deixou cair uma gota de suor frio e sorriu de canto. Com aquele tipo de poder esmagador — a ilusão era impossível. Uma força que desafiava a percepção e a imaginação. Sora e Shiro tiveram arrepios que incendiaram sua pele. Azril — ou algo que se parecia com ela — continuou lentamente.
—Jibril — não conseguimos compreender com que tipo de fantasias eles a enfeitiçaram.
Uma voz oca, sem o menor sentimento.
—Portanto, vocês nos apresentarão diretamente.
Sora e Shiro ficaram boquiabertos com essa coisa que se dirigia a eles enquanto o cenário finalmente se estabilizava. Um céu rachado manchado da cor do sangue; poeira subindo até a estratosfera. Terra queimada além do horizonte. Os céus foram destruídos, a terra era entulho, o mar estava seco — morto.
Inúmeros fragmentos de rocha estilhaçada flutuavam ao redor dos irmãos — as ruínas do que um dia fora terra. Os Flügel ainda no jogo pairavam como navios de guerra sinistros em alguma frota aérea deformada—
—Que... que merda é essa?
Embora Sora tivesse recuperado o suficiente para falar, nem Shiro nem Plum puderam responder. Apenas os Flügel voando pelo ar pareciam reconhecer sua pergunta, franzindo a testa diante daquela visão acre com a qual estavam traumaticamente familiarizados.
—Seis mil anos atrás — isto é, perto do fim da Grande Guerra.
Artosh, senhor e criador dos Flügel, reuniu todos os seus Golpes Celestiais e os desencadeou como um único ataque próprio. Uma força trazida para obliterar a terra, o céu, o próprio planeta — em outras palavras, um Golpe Divino. Esta era a consequência daquele único golpe. Emoldurada pelo crepúsculo do mundo atrás dela, Azril continuou.
—Primeiro, lutamos e falhamos.
Ao fundo distante — uma enorme e sinistra sombra se erguia. Provavelmente a antiga imagem da própria terra — a forma de Avant Heim na Grande Guerra. Uma massa de terra como uma baleia flutuando pelo firmamento — uma fortaleza aérea construída não de cubos, mas de incontáveis baterias de artilharia e olhos azuis assassinos.
—Nosso senhor desencadeou seu maior ataque — mas ele foi devolvido, após o que fomos aniquilados e nosso senhor foi morto.
—O que foi que mudou Jibril?
—Por que falhamos? Por que perdemos nosso senhor? Por que ainda vivíamos? Por que—
—O que nos fez encontrar uma razão para viver? Plum agarrou-se desesperadamente aos últimos fragmentos de sua sanidade enquanto a pura manifestação de violência diante deles exigia—
—Por que uma arma sem mestre continuará a viver? A resposta—
—"Artilharia"—
De repente, um clarão atravessou o peito de Azril. Um instante brilhante de iluminação acendeu o crepúsculo e, alguns momentos depois, o rugido de uma explosão sacudiu a atmosfera.
—...Hng?
Alheio à intromissão tola de Plum—
—T—L—D—R! Termine o diálogo de introdução em vinte palavras ou torne-o pulável!
—...Nunca subestime... a impaciência... do maníaco por shmup…
Os rostos de Sora e Shiro se contorceram em desgosto — Em algum momento, eles haviam encontrado um rochedo e formado uma Palavra — e agora um cano de ferro sobressaía de suas mãos. Plum não sabia... infernos, ela nunca sequer tinha visto um. Chamas jorraram do obuseiro de 155 mm que os irmãos haviam gasto quatro sílabas para materializar. Deixando o som para trás, o projétil perfurou Azril, e os sete quilos de explosivo Composição B que carregava detonaram. Uma explosão de oito mil metros por segundo arremessou Azril para longe, deixando apenas fumaça—
—Queee?! O que vocês estão faaazendo?! — Plum gritou, aparentemente finalmente entendendo a situação, e olhou boquiaberta para Sora e Shiro.
—Pulando a cutscene.
—...Idiota pretensioso... que sem graça…
—V-v-vocês sabem quem era aaquela?! Aquela era—
—Sim, ela é Azril — e Avant Heim é o Phantasma, certo?
—...Uh, o quê?
Suspirando — meu Deus — Sora balançou a cabeça e disse:
—Azril era a única Flügel com um chifre na cabeça. Imaginei que devia ser algo assim — mas, sim, então ela é a agente plenipotenciária de Avant Heim, o Phantasma ou algo assim. Bem, não que eu saiba os detalhes.
—...Basicamente... Azril igual a Phantasma... também…
Os dois, que haviam digerido a situação muito mais rápido que Plum, elucidaram com desinteresse apático.
—...Jibril disse que Avant Heim, o Phantasma, é um mundo independente, certo?
Sora lembrou-se da explicação que haviam recebido ao chegar.
—Então o cenário mudou, e isso significava que o mundo foi reescrito. Mas, como Avant Heim é independente, parece improvável que o mundo exterior pudesse ser reescrito a este ponto. O que significa — as coisas mudaram dentro de Avant Heim. Mas, nesse caso, teríamos que estar em Avant Heim, e em vez disso, Avant Heim está na nossa frente — o que significa que é uma fantasia.
—Prova. Se ela fosse real, eles não teriam conseguido feri-la por causa dos Dez Mandamentos.
—...Agora... Plum... eis a questão…
As expressões eufóricas de Sora e Shiro, como se estivessem sendo cócegas em suas almas, deixaram Plum completamente perplexa enquanto eles continuavam.
—Uma troca de fases em larga escala, uma fortaleza diante de nossos olhos que é tipo, "Olá, eu sou a arma suprema". E uma sequência de história longa pra caramba como você veria logo antes do chefe final — e quanto tempo temos até que o limite de uma hora para o jogo acabe?
—...Nove minutos e quarenta e quatro segundos.
—Afinal, o que tudo isso significa? Estamos esperando sua resposta!
—Uma pergunta difícil para Plum, que não tinha conhecimento do antigo mundo de Sora e Shiro. Mas: tendo visto tudo o que eles enfrentariam, sua testa franzida em desespero, Plum, por acaso — acertou.
—...O fim, eu suponho?
—Quê? Eu realmente não achei que você acertaria.
Enfrentando o massivo "inferno de feitiço de captura" tecido de magia violenta e lançado de Avant Heim, Sora e Shiro mais uma vez apertaram suas mãos unidas com força e sorriram.
—Em resumo, esta é a fase final — estamos quase chegando ao final.
—...O clímax... Direção de arte incrível...!
Eles se impulsionaram do chão e bateram suas asas. Deixando para trás o estrondo de sua "aceleração", radiantes, voaram para a tempestade infernal.
—Como vocês conseguem rir de um troço desseeeeee—eeeeee!!
Disparando. Zigzagueando através de infinitos raios, uma cortina de fogo lançada por Avant Heim.
—Os tiros eram incalculáveis, mas careciam da sutileza dos raios de captura dos Flügel para rastrear e recuperar um alvo. Era apenas uma manta de fogo desferindo infinitos projéteis e velocidade — Ha.
—Shiro, você pegou o padrão?
—...Quase... E você?
—Ah, qual é, você sabe? Eu não pego — eu gosto de desviar na pura adrenalina!
Outro bater de asas. Com uma velocidade impressionante, Shiro acompanhou o movimento da asa de Sora. Eles voaram de cabeça para o turbilhão como se estivessem dançando. Assobiando, à vontade—
—Isso é um bocejo comparado ao True Hibachi Custom. Podemos realmente contar com Jibril?
—...Com um chefe final como... este, não podemos... Os capangas eram... muito... mais difíceis.
Já desafiando a compreensão de Plum com suas ações, deslizando graciosamente pela cortina, Sora e Shiro, improvavelmente, desviaram os olhos da barragem para verificar seus pulsos.
—Quarenta e seis sílabas no total.
—...Coletamos quarenta…
—Usamos vinte e três, então—
—...Temos, dezessete…
As sílabas de luz circulando o braço de Sora—
—dis, nekt, min, dih, ih, ah, this, mahyz, with—
As sílabas de luz circulando o braço de Shiro—
—kuh, skyool, pit, nuh, kree, ouhr, kamp, strik, ohn—
Eles tinham munição mais do que suficiente. Mas — Sora notou—
—Hmmm, cher, rey, ri, gohr, shuns, nuh... Ainda faltam seis.
—...Mas nossos trunfos... estão em nossas mãos.
Então Shiro murmurou: Sem problemas, está tudo bem.
—Eu não te disse? Eu sei a Palavra que quero enfiar naquela vadia. Faltam três sílabas.
—...Olha só isso... Como você espera... pegá-las...?
Voar nessa torrente de luz já era suficiente para atordoar completamente Plum. Enfrentar os Flügel por cima disso era demais, até mesmo para Sora e Shiro.
—...Droga, Shiro. Desculpe, mas vou usar um trunfo.
—...Irmão, quantas você precisa?
—Treze.
De forma atípica, os olhos de Shiro se arregalaram, e ela examinou o rosto de seu irmão.
—Treze. É quantas eu preciso. E estamos com três a menos.
Mas a expressão de Sora — era a própria sinceridade infinita.
—Treze sílabas para uma Palavra? O trunfo de que Sora falava — certamente era uma Palavra que poderia superar qualquer crise. Mas então eles só poderiam usá-la uma vez — realmente deveria ser um último recurso—
—Mm, entendi…
Se seu irmão disse que eles precisavam, isso significava que precisavam, não importava o risco. Shiro assentiu. Se ela não conseguia entender o significado por trás disso, seu irmão estava certo — era só isso que importava — !
—Os irmãos juntaram as mãos. Do pulso esquerdo de Sora e do direito de Shiro — através de seus braços entrelaçados — três sílabas caíram. E — reorganizando-as — Sora formou uma Palavra. Ele moveu seu braço grandiosamente e então—
—‘Desconectar’—!!
Ele cortou o ar com o braço em um grande arco horizontal — e naquele momento, uma lâmina invisível cortou a saraivada, através do espaço e até mesmo através do centro de Avant Heim.
—A regra era que ela materializaria a imagem mental de alguém: uma Palavra. O que se podia imaginar, dependendo da colocação das sílabas — isso poderia ser adaptado a qualquer situação: ataque, defesa ou uma combinação dos dois... um trunfo. Sem mencionar a importância e a versatilidade de prefixos ou sufixos, senso comum em jogos de palavras. O resultado daquela Palavra todo-poderosa na qual eles haviam sacrificado este trunfo — a visão de Sora.
—Tudo diante deles, como uma piada ruim — foi cortado ao meio. O espaço, o cenário, o palco cortado: o próprio Avant Heim foi seccionado — a artilharia também foi cortada.
—E então? Plum se perguntou duvidosamente, após o que Sora e Shiro— desaceleraram.
—Quê?!
Plum ofegou em espanto. Em meio ao cenário desmoronando, os Flügel avançaram pela cortina dividida.
—...Irmão... eles estão vindo.
—...Dezoito — mais do que eu pensava. Sílabas?
—...Seis... todas aqui... mas...!
—Certo, a questão era como eles iriam coletá-las. Agora que haviam usado "desconectar", eles tinham quatorze sílabas e, de acordo com Sora, havia treze sílabas finais que ele havia reservado. Ele também havia dito que precisava de três das seis não coletadas. Mesmo que tivessem sucesso em coletar as sílabas, as que eles poderiam usar aumentariam apenas em três.
—Muito bem, hora da nossa grande aposta climática. Vamos nessa, Shiro!
Eles se viraram para se preparar para o confronto. Enquanto os Flügel se aproximavam, eles bateram — bem, eles pretendiam bater suas asas... mas...
—Q-quê?
Plum gaguejou. E, honestamente, Sora e Shiro sentiram o mesmo. Os Flügel que avançavam contra Sora e Shiro — pararam. Reverentemente. Sim, assim como Jibril, um dos Flügel se curvou.
—Estas sílabas. Vocês precisam delas, não precisam?
...Em sincronia com sua pergunta, a Flügel colocou a mão no ri em seu peito. Como se seguindo sua liderança, os outros cinco portadores de sílabas também expuseram as suas.
Sora e Shiro, perplexos, não conseguiram entender o significado disso, mas a Flügel apenas sorriu gentilmente.
—Já vimos tudo o que queríamos—
—Quanto aos apertos de mão e encontros e abraços... bem, não posso dizer que não me importo!
—Mas estamos muito felizes apenas por termos podido brincar com vocês!
—Então, se vocês pudessem, por favor.
E então, com as palavras da última—
—Por favor, cuidem da Irmã Azril, nossos futuros — senhores e salvadores.
—Finalmente. Sora e Shiro entenderam — a armadilha que Jibril havia plantado no jogo. Sentindo como se fossem explodir de tanto rir, os irmãos alcançaram seu tributo.
—Ha-ha, Jibril também está no seu ritmo agora, não está?!
—Jibril, por uma grande... justiça...!
Fazendo palhaçada, Sora e Shiro tocaram as seis sílabas finais.
—Uh, humm, do que se trata isssso?
Para Plum, a única que não entendeu, um Flügel respondeu com um sorriso:
—Você se esqueceu, verme? Nós, afinal—
—Somos Flügel, sob o comando da Irmã Azril, mas antes disso—
—Somos fãs do Rei Sora e da Rainha Shiro, sabe?
E assim, sorrindo — principalmente do desprezo casual que derrubou a pobre Plum atrás deles — Sora e Shiro riram consigo mesmos e mais uma vez bateram suas asas e ganharam velocidade. Em direção ao Avant Heim cortado — e a Azril, que certamente esperava lá dentro.
******
—Parece que alguns deles entenderam... Com isso, você ainda insiste que só eu sou especial? — Jibril repreendeu com um risinho.
A expressão de Azril — era inexistente. Mas sob aquela máscara, ela se contorcia em tormento.
—O que era isso? Qual era o significado disso? Não fazia sentido algum.
Fitando a imagem projetada no espaço, Azril continuou pensando. Duas Imanidades navegando por todos os obstáculos em meio a um Avant Heim desmoronando com precisão divina. Sua direção era reta — em direção a ela. Como se soubessem sua localização — ! Não, eles sabiam! Ao remover a fachada, eles descobriram o cenário antigo, e presumiram que Jibril e Azril ainda estariam no mesmo lugar — não, eles concluíram isso!
—Diante disso, Azril experimentou um flashback doloroso. Isso mesmo, naquela época, foi assim que Artosh foi morto. Tudo foi quebrado, tudo foi exposto, tudo foi entrelaçado — e seu senhor foi morto.
Por que falhamos. Por que sobrevivemos! Por que vivemos?!
……
—Wauuuhhhngyaaaaaaieeeeeeghyaaaahh!!
—Plum! C—A—L—A—B—O—C—A—AAAAAA!!
No Avant Heim em colapso, eles passaram correndo por inúmeros obstáculos a velocidades superiores à do som. Um pequeno erro, e eles estariam mortos — e para a dupla, que pilotava essa catástrofe com velocidade insana, Plum gritou:
—Aaaaaah!! Vocês dois estão bem da cabeça?!
—Já estamos tão enjoados dessa frase! Shiro!!
Diante de seus olhos, o cenário desmoronava, incontáveis cubos desabavam. O caminho estava bloqueado. Eles não podiam virar — uma colisão frontal.
—Eeeeeeeeeeek!
Ignorando a histérica Plum, Shiro calmamente teceu uma Palavra:
—‘Minúsculo’…
Dezessete sílabas restantes. Com um toque em um dos cubos à frente deles, a Palavra ativou. O cubo encolheu, deixando uma brecha, mas não de um tamanho que eles pudessem atravessar…
Prontamente, Sora apontou para o buraco e gritou a Palavra que havia criado:
—‘Debandar!!’
Quinze sílabas restantes. Através da fenda estreita como uma agulha, foi como se eles tivessem simplesmente passado sorrateiramente pelo obstáculo e continuaram voando. Enquanto a mandíbula de Plum caía diante de sua inacreditável adaptabilidade, Sora perguntou de repente:
—Plum, você pode mostrar suas presas por um segundo?
—Eu não consiiigo! Eu não quero porque estou com um mau sentimeeeento!!
—Ah, é mesmo? Que pena — eu estava pensando em te dar um pou—
—Por favor, me desculpeee! Rei Sora, eu pressionarei minhas presas em seu ombro. Acredito que você poderá senti-laaas!!
—‘Sangue’ para a vitória.
Quatorze sílabas restantes. O sangue que manchou seu dedo sem um arranhão encharcou a presa de Plum. Plum, tendo conseguido sugar sangue sem morder, estava exultante—
—Mgahhh, o que é isssso?! Essa riqueza densa e suavidade cremeosa, esse umami sedoso e cheio de alma que percorre meu corpo! Só posso comparar às lágrimas de uma tartaruga marinha pondo ovos na noite de lua cheia! ♥
—Você está se sentindo melhor? — Sora riu, enquanto Plum os presenteava com sua incompreensível resenha gastronômica requintada.
—Siiiim! Estou me sentindo muuuito melhorrr! Sinto como se agora pudesse fazer qualqueeer coiiisa!
Plum — perdão, seu cachecol — conjurou uma massa de flores desabrochando que voaram pelo ar. Mas, diante dessa trombeta de alegria, Sora e Shiro sorriram maliciosamente.
—Beeem, é bom ouvir isso. Nesse caso—
—Vamos... ver você, fazer qualquer coisa...
—...Claro... Eu sabia que seria assim. Eu juro…
******
Seis mil anos atrás, Artosh havia sido morto. Diante dessa realidade que eles jamais poderiam acreditar, mas não tinham escolha a não ser aceitar, os Flügel permaneceram por seis mil anos. A espada criada por Artosh para exterminar deuses — para erradicar outras raças. Eles tinham sido a espada nascida para Artosh, para colocá-lo no trono como o Único Deus Verdadeiro. Mas, diante dos restos mortais de seu Senhor, agora inexistente, a espada incomparável havia perdido seu propósito. Uma questão que eles nunca tiveram que considerar quando eram manejados livremente pelo peso do comando agora se apresentava.
—O que fazer agora?
A raça criada por Artosh, os arautos, haviam perdido o caminho, e sua conclusão — foi parar de pensar. Quem quer que tenha começado, um por um, eles concentraram a totalidade de seu poder — e se apunhalaram. Eles eram ferramentas criadas para tomar o trono do Único Deus Verdadeiro, e uma vez que aquele que tomaria o trono se foi, as ferramentas não eram mais necessárias. Diante de suas irmãs se empalando uma após a outra, Azril — a primeira de todas — de repente contou uma mentira. Não, estritamente falando, não era uma mentira. Mas, incapaz de suportar a visão dos suicídios de suas irmãs, a luz sumindo de seus olhos, Azril disse a elas:
—A missão de nosso senhor não está completa.
Se, por algum acaso, improvável embora seja, se vosso senhor falhar, for destruído como um deus da guerra por alguma força desconhecida... em nome de vosso senhor, vós desenterrareis a causa. Essa permanece nossa missão final de nosso senhor, ela lhes disse.
—Uma missão designada apenas a Azril — uma ordem. Mas ela a apresentou como uma ordem dada a todos os Flügel e foi além.
—Quando eles tivessem cumprido seu dever. Quando tivessem completado a última missão concedida por seu senhor.
—Ela faria o julgamento de quando eles terminariam, se eles se dignassem a confiar isso a ela, ela disse.
...Era apenas uma tática para ganhar tempo, apenas uma solução conveniente. Mas, mesmo assim — os Flügel começaram a buscar a verdade por trás do "desconhecido" que havia derrubado seu senhor. Com o fim da guerra, eles coletaram todos os tipos de informações. Como se para transformar tudo o que era desconhecido no mundo naquilo que era conhecido. E o tempo passou, até que logo se passaram seis mil anos — e ainda assim a Resposta não havia sido encontrada. Se alguém pudesse encontrá-la, só poderia ser Jibril, Azril acreditava. As palavras deixadas por seu senhor. A última. A especial.
Mas.
—Eu só estou... cansada disso…
******
Sora e Shiro chegaram ao salão onde esperavam encontrar Azril e Jibril.
...Estava escuro. Sora forjou uma Palavra e a ativou.
—‘Raio!’
—Treze sílabas restantes. Perfeito. Agora, se eles simplesmente lançassem aquela Palavra que estavam planejando, teriam vencido o jogo com todas as sílabas e conquistas.
—Mas agora não temos mais Palavras para usar... Desculpe por isso, Shiro.
—...Se você acha que é necessário... Eu acredito em você.
Enquanto essa frase o lembrava das bênçãos de ser um irmão mais velho — uma "luz" iluminou o chão.
—Por seis mil anos buscamos. E ainda não encontramos a Resposta.
No chão brilhante, um trono vazio. Azril estava diante dele, e—
—Que diabos é "nós"? Vejo alguns caras além de você que têm uma pista.
—enquanto falava, Sora viu Jibril ao lado de sua irmã mais velha, seus olhos fechados. Sua expressão era uma mistura de fé e convicção, assim como — esperança pelo que aconteceria a seguir, uma qualidade totalmente ausente em Azril.
—Este mundo vão, esta vida infrutífera buscando uma Resposta inexistente, tornou-se cansativo — lamentou Azril — e o Phantasma dentro dela, Avant Heim. Seus verdadeiros sentimentos como seres vivos — não, como um fantoche e uma fantasia.
—Se a Resposta encontrada por Jibril corresponder à mentira que contamos…
Uma pausa. Com olhos desesperados mais profundos que o inferno, ela se concentrou em Sora e Shiro.
—...então concluiremos que a razão da falha foi apenas um absurdo — e acabaremos com todos os Flügel.
—Isso seria um problema.
—...Jibril é... nossa... parça.
Mas, enquanto os dois ignoravam essa ameaça com indiferença, Sora mergulhou em seus pensamentos: Hmm.
—Entendi. Então vocês, seus idiotas, ficaram enchendo suas cabeças com livros como ferramentas para encontrar alguma "Resposta" estúpida. Para ser honesto, não consigo simpatizar ou me identificar de forma alguma. Mas posso dizer uma coisa?
E então, assim como havia feito ao rejeitar a proposta de Azril pela primeira vez—
—como se avaliasse alguma ferramenta profundamente desinteressante:
—...Você, alguma vez pensou em algo e escreveu você mesma—?
—?!
Os olhos de Azril se arregalaram. Ao lado dela, Jibril, cujo olhar estava baixo, agarrava um livro que chamava de escritura sagrada, um que até havia conquistado fãs dentro de Avant Heim. Escrito de próprio punho — seu diário de observação de Sora e Shiro — a história de um futuro ainda inacabado…
—Mas sim, entendi. Então estávamos dizendo, se Shiro e eu ganhássemos, conseguiríamos ajuda para reunir livros, e se perdêssemos, daríamos autógrafos. Mas vocês duas tinham alguma aposta assim rolando nos bastidores. Vamos ter que dar uma boa bronca em Jibril mais tarde por apostar sua vida sem nos perguntar, mas—
—Sora apertou a mão de Shiro com força novamente e desdobrou sua asa—
—Você realmente não entende por que Jibril aceitou essa aposta?
—Ela devia estar certa de que vocês, seus tolos, nos apresentariam uma Resposta convincente—
—Viu? Você é estúpida! Você é tão estúpida pra caralho!! Uma vadia estúpida como você acha que pode agir como uma irmã mais velha?!
Seu rosto se contorcendo em pura e inalterada raiva, Sora gritou:
—Ela estava apostando em você! Em sua "irmã mais velha"! Apostando sua vida em sua fé de que você entenderia!!
...
......
Sora e Shiro tensionaram os pés — e teceram sua Palavra final.
—Você nem sequer entende isso, e quer que ela te chame de "irmã mais velha"!!
—Não nos faça rir... Nos seus... sonhos!
Simultaneamente — eles se impulsionaram e saltaram.
—Rápido. Um disparo empregando a Palavra da aceleração. Sora e Shiro se aproximaram em velocidade obscena. Mas para Azril, que detinha o poder de Avant Heim dentro de si — eles pareciam imóveis.
—...Entendo, Jibs apostou sua vida porque acreditava em mim…
Até isso estava além dela. Ela nem sequer entendeu o ponto — então.
—Muito bem. É hora de acabar com tudo isso…
Azril também se impulsionou e voou. No salão com apenas algumas centenas de metros de largura, para os dois corpos se movendo em velocidades supersônicas colidirem, levaria menos de um instante.
—Nem havia dúvida quanto ao resultado. Azril estenderia a mão, os agarraria e tudo estaria acabado. Afinal, ela não havia encontrado a Resposta, mas alguns sim. Se fosse assim... era o suficiente. Era hora de encerrar — No que lhe concernia, esses seis mil anos — não haviam tido significado algum—
—Eeyauuuugh, me desculpe, me desculpe! Não me mate, por favor!
...
—Hein?
Um lamento emanou das mãos de Azril, que ela havia fechado com os olhos ligeiramente desviados. Ela pensou que havia capturado Sora e Shiro... mas então o que era esse grito em suas mãos—? Uh, o quê, hum…
...Hm? Eu alguma vez ouvi o nome dessa garota?
—Era uma garota Dhampir anônima.
—Magia de ilusão... Um momento tarde demais, ela entendeu. A magia de ilusão dos Dhampir — exercida ao máximo — era capaz de confundir até mesmo Elfos e Flügel. E se eles tivessem acabado de ingerir uma alma poderosa — sangue — talvez pudessem até enganar os Deuses Antigos...? Mas nesse caso, e Sora e Shiro? Suas asas — os acelerados Sora e Shiro... onde eles—?!
—Enquanto ela estava perdida em contemplação em alta velocidade — algo passou zunindo por Azril em uma velocidade assustadora. Era como se o tempo tivesse parado. Para Azril, tudo parecia estar em câmera lenta. Sem Plum — sem o cachecol — sem suas asas, restando apenas seus corpos humanos. Em velocidade desumana. O punho de Sora, armado para trás, atingiu o ombro de Azril!
******
—‘Epitomize esta criatura com nossas próprias restrições’—
Nenhuma sílaba restante. Os olhos de Azril se abriram. Não pela Palavra cravada nela. Os dois em voo de alta velocidade — eles haviam perdido suas asas. A Dhampir havia lançado um feitiço de ilusão?!
—Não há regra que impeça de usar magia — certo?
Um encontro momentâneo. Uma voz que ela jamais poderia ter ouvido—
Olhando para trás, Sora definitivamente havia dito isso. Mas não— Naquela velocidade, como meros humanos, sem asas... eles teriam atingido o chão e morrido em um— Toda essa dúvida e confusão foram dissipadas com as palavras que ecoaram nos ouvidos de Azril:
—Sessenta minutos exatos... Fim de jogo.
Sem relógio nem nada. Shiro apenas leu o cronômetro que havia contado mentalmente. Uma Jibril transportada suavemente... reverentemente, recebeu seus dois senhores.
...Para Azril, tudo parecia tão distante, a Palavra funcionou nela.
"Restrições." Toda a extensão do poder de Avant Heim contida em Azril foi restringida. O poder massivo que estava reescrevendo o espaço foi liberado, e o salão ao redor deles, o próprio cenário, desabou como se estivesse quebrado em pedaços. No centro de tudo, Azril ficou inerte e olhou fixamente, como se dissesse que ainda não conseguia acreditar. Não havia necessidade de relembrar. De fato, essa era a mesma sensação que ela havia experimentado quando seu senhor Artosh foi morto—
Inconfundivelmente, era medo.
...Estava além da compreensão. Ela não entendia. Ela não entendia. Havia muitas coisas que ela não entendia. Era assustador. Era aterrador. O que era que eles entendiam que lhes permitia caminhar nessa corda bamba delicada? Não importa quanto conhecimento você enfiasse, não importa o quão longe você planejasse sua estratégia... mesmo que você fizesse tudo o que podia, no amargo fim jazia o desconhecido — uma escuridão envolta em variáveis indeterminadas. Em meio a toda essa incerteza... como? Como — eles podiam avançar naquela única e tênue corda tão livres de hesitação? Testemunhando uma série de eventos além de qualquer cálculo, Azril, caindo, sentiu sua consciência se esvair—
******
—Em um sonho, Azril reviveu suas memórias de seu senhor, Artosh.
A devastação da guerra, continuando infinitamente, servia apenas para alimentar Artosh, deus da guerra. Um Deus Antigo para quem o ódio, a malevolência, a hostilidade e o sangue eram pão de cada dia — Artosh, senhor do caos. A essa altura, os fragmentos de suas dezoito asas — os Flügel (Asas). E seu mensageiro, Avant Heim. Um deus, um fantasma e uma raça. Esse pequeno exército — estava subjugando o mundo. O trono do Único Deus Verdadeiro pertencia a Artosh — a essa altura, ninguém podia duvidar disso. Esse era seu senhor, e ainda assim ele havia falado da possibilidade de derrota — apenas uma vez.
—Eu posso ser derrotado.
—Vós gracejais.
—Eu sou forte.
—Claro, Senhor.
—A essa altura, não há ninguém com poder superior ao meu.
—Claro, Senhor.
—Portanto, há coisas além da minha compreensão.
—Coisas que vós não compreendeis, Senhor?
—Pelo que está além da minha compreensão, pelo que apenas os fracos entendem, pelo que me é desconhecido por minha força, eu posso ser derrotado.
—......
—Portanto — eu criarei um ser com a imperfeição que, para alguém tão poderoso quanto eu, jamais poderá ser conhecida.
—Imperfeição, Senhor?
—Pode a imperfeição servir como perfeição — pode ela servir para transcender o paradoxo? Eu não sei.
—......
—No entanto, quer eu suceda ou falhe — esta deve ser a causa.
—......
—Tu que és uma de minhas dezoito asas, a primeira de todas, Azril.
—...Sim, Senhor.
—No momento em que eu for vencido e banido deste mundo, tu, sob o disfarce do derrotado, tomarás a medida disso em meu lugar, para que eu possa descansar em paz.
—Azril não sabia o que era que seu senhor via. Mas a expressão no rosto de seu senhor ao sugerir a possibilidade de derrota não era medo, mas meramente, como a de um deus da guerra — um desejo de que um inimigo desconhecido aparecesse... e a motivação para vencer até mesmo esse desconhecido — apenas um sorriso vicioso, mas terrivelmente divertido.
—Agora eu criarei uma unidade fora da série... Eu a nomeio—
E então seu senhor, Artosh, criou aquilo pelo qual logo seria lembrado — o Número Irregular, o Número Final... o imperfeito. Aquele que poderia olhar para o horizonte que, no final, nem mesmo seu senhor poderia compreender ou ver além. Ele a chamou pelo nome.
—Jibril…
******
—Anciã. Finalmente acordou?
—Seu corpo inteiro estava pesado como chumbo. Essa foi a primeira impressão de Azril ao acordar. Suas asas não se moviam; seu corpo não se levantava — Não. Para começar, seu corpo não sabia o que significava levantar, ela percebeu. Como se movia esse corpo? Como lamber o espaço... não era? O chão — desde quando era tão forte, prendendo seu corpo assim? Levantando a cabeça que parecia um peso, Azril fitou as sombras pairando sobre ela. Olhando para ela, Jibril — e as duas Imanidades, Sora e Shiro. Rankeamento Ixseed Inferior. A raça mais fraca olhou para ela e falou.
—Então você é toda "eu te owno" na força de suas trapaças, e depois diz que o jogo está quebrado porque levou um game over uma vez. WTF?
Shiro sorriu enquanto Sora ria — Mas incapaz de compreender o significado de suas palavras—
—Tente outra vez desde o começo como um peão. Se você fizer isso e ainda achar que está quebrado…
—...Nós jogaremos com você... tudo... o que quiser.
—Azril, no entanto, entendeu que a Palavra cravada nela havia restringido seu poder ao nível de Imanidade. Ela baixou os olhos e riu dos irmãos, que sorriram enquanto explicavam a ela.
—Então era assim. Ela não podia voar. Ela não podia usar magia. Ela nem sequer podia ver espíritos. Distância e peso, conceitos dos quais ela nunca antes estivera consciente, prendiam seu corpo. Ela rolou de costas, moveu sua mão restringida e estendeu-a em direção ao céu.
—Estava tão alto. Tão alto, tão vasto. A força que prendia seu corpo ao chão parecia ter criado uma parede intransponível entre a terra e o céu. Pensar que ela poderia voar lá fora agora estava além de sua imaginação. Mesmo que lhe dissessem que ela podia voar, ela nem sequer sentiria vontade. Ela não tinha coragem. Enquanto isso, aqueles que supostamente haviam brincado com ela, sorrindo e dançando por aquele céu embora possuíssem as mesmas habilidades — as duas Imanidades perguntaram:
—...Qual o gosto do chão... não é ruim... certo?
—Afinal, você realmente não quer voar de novo até cair uma vez.
Tendo voado por aqueles céus com vivacidade, mas dizendo que cair não era ruim…
—Vamos, quando você cai, tem que levantar de novo. A próxima rodada está chegando, certo?
Estendendo a mão com um sorriso — sim. Como se dissesse: Assim como nós fizemos.
—Finalmente, tudo se encaixou dentro de Azril, e um sorriso surgiu. Tarde. Ridiculamente tarde. Dado isso, ela não podia reclamar se a chamassem de estúpida, mas Azril pegou sua mão.
—Anciã, você é teimosa demais.
Observando com olhos frios, mas gentis, enquanto Azril se levantava, Jibril a cumprimentou. Aquela por quem Artosh era lembrado — a imperfeita. O Número Irregular e o Número Final. Imperfeição. O que significava — era a busca pela perfeição. Porque alguém era imperfeito, buscava o desconhecido, o futuro, a esperança — alcançava para agarrá-los.
—A razão pela qual Jibril finalmente insistira em caçar sozinha—
—Jibs, você é boazinha demais…
Sem sequer receber ordens, aniquilando uma metrópole élfica e voltando com um sorriso e um braço cheio de livros. Tendo sido dito que ela não tinha as especificações, indo matar uma raça superior sozinha e retornando à beira da morte. Abandonando o Conselho e fugindo de sua terra natal, depois voltando com novos mestres — Verdadeiramente, ela era inquestionavelmente imperfeita e — por essa razão — havia se tornado mais forte do que qualquer um.
—...Entendo. Apenas ler livros não é suficiente para te ensinar nada…
Entender nunca foi uma questão de apenas memorizar fatos para aumentar o conhecimento. Era algo que vinha de fazer, de se machucar, até que finalmente penetrasse nos ossos. O que nem Artosh nem Azril jamais foram capazes de compreender era o "desconhecido". O que era — era "possibilidade", certamente: a capacidade de tornar o impossível possível. Algo que, como os fortes, como aqueles que nunca falharam, aqueles que nunca perderam — estava além de sua capacidade de conceituar. E ainda assim—
—Viver sob o disfarce do derrotado já me tornava imperfeita... Eu estava apenas... assustada.
Foi apenas Jibril quem começou a sentir isso antes que eles provassem a derrota.
—Com sua falha, os Flügel, e Avant Heim também, haviam alcançado a imperfeição. Então... com sua lamúria e choradeira, não era de se admirar que fossem abandonados, por causa da incapacidade dos Flügel — incluindo Azril — de fazer qualquer coisa além de coletar conhecimento. Apenas Jibril ia livremente onde sua curiosidade a levava para criar conhecimento e deixar para trás o que havia ganhado. Apesar de sua força esmagadora, ela ainda almejava mais alto — abraçando sua adoração pelo desconhecido.
—Havia apenas uma coisa que isso podia significar.
—Nya-ha, nya-ha-ha-ha... é tão tolo. Agora que vejo, é tão terrivelmente tolo.
Abaixando o rosto, Azril só conseguia rir agora — levando Jibril a perguntar:
—Suponho que agora você entende?
—...Sim, entendo — que nunca houve nada para entender.
—Como não rir? Pensar que a resposta pela qual eles procuraram por seis mil anos era — Não há resposta…
—O desconhecido nunca pode se tornar o conhecido, pois o conhecido depois se torna o desconhecido. Não há fim. A sabedoria de ontem é a tolice de hoje.
Nunca tendo perdido antes, desde aquela primeira derrota, Azril a temeu profundamente — o desconhecido. Quanto mais ela tentava entendê-lo, mais ele recuava.
—Portanto, não memorizaremos, mas aprenderemos — desfrutaremos até mesmo dos riscos que vêm com a mudança.
E assim — ela só podia se aproximar. Avançando ousadamente—
—Foi nossa incapacidade de fazer isso que nos fez perder a Guerra. Anciã Azril, quando perdi para meus mestres, ajoelhei-me diante deles e jurei servi-los, a missão final de Artosh — havia sido cumprida.
Seus olhos ainda baixos — Azril sussurrou:
—...Lorde Artosh... eu também, finalmente, cumpri seu último pedido?
—Posso finalmente parar de mentir? Limpando as lágrimas que escorriam por suas bochechas, Azril olhou humildemente para os céus distantes. Ela possuía tal habilidade, uma que nunca conheceu — mas talvez, com isso, ele pudesse descansar em paz.
Sora quebrou o momento, estudando seu rosto como um voyeur.
—...Hmm, eu realmente não entendo, mas você é capaz de parecer fofa afinal, hein?
Finalmente. Pela primeira vez, ele sorriu ao se dirigir a Azril.
—Posso fazer quatro perguntas a vocês, Imanidades —? Não, quero dizer, Sora e Shiro.
—De fato, não havia resposta. Ela havia voltado ao início — nesse caso, havia algo que ela precisava verificar.
—Vocês... para que vivem?
—Shiro.
—...Irmão.
—O que vocês fariam se um de vocês morresse?
—Quando morrermos, será juntos, então isso é irrelevante.
—...O que ele disse.
—Vocês... para que nasceram?
—Sei lá.
—...É.
—Não temos tempo para pensar nessa merda. Diferente de vocês, nossa vida é curta.
—Estamos tão ocupados...!
—Todas respostas instantâneas. Sora com um sorriso, Shiro mortalmente séria. Mas — não eram suas respostas — só podiam ser usadas como referência. Então, finalmente — Azril perguntou:
—Posso... ser Jibs?
—Não. Você só pode ser você mesma.
Uma resposta instantânea. Claro. Azril sabia, mas estava um pouco confusa, o que levou Sora a perguntar—
—Bem, mas e daí?
Como um céu sem nuvens — (...sim, fiel ao seu nome...)
—Agora mesmo, você está fofa. Gosto de você do jeito que está agora.
—céu, ele sorriu radiante.
...
...Nya-ha-ha.
—Depois de procurar por milhares de anos, eu ouço "Volte ao começo". Viver para sempre é cansativo.
Sim. Aquelas que eles próprios criaram... suas próprias — respostas. Ela procuraria por si mesma e, como Jibril, encontraria seu próprio significado.
—Contanto que eu saiba... que eu posso... isso basta…
Azril murmurou cansadamente, mas então ouviu Jibril se desculpando com Sora.
—Mestre. Ter apostado minha vida sem consultá-lo e ainda ter confiado em seu poder até o fim... eu realmente não posso—
—Oh, sobre isso, Jibril.
Coçando a cabeça como se fosse difícil dizer, Sora disse a ela:
—Essa garota não tem o direito de ordenar que todos os Flügel se matem — sabe?
—Perdão?
Deixando a perplexa Jibril para trás, Azril sorriu.
—Ops. Você percebeu?
Mostrando a língua travessamente, ela fez um Nya-nya.
—Proibi-la de se matar sem permissão — não significa que eu possa ordená-la a se matar! Hmmmm, é incrível que ninguém tenha percebido isso em seis mil anos, uma mentira dessas, nya-ha-ha-ha!
Shiro cravou mais um prego em cima disso—
—Mesmo que fosse o caso... Jibril... pertence a nós... então…
Tendo envolvido seus mestres, até se preparando para a morte — os ombros de Jibril começaram a tremer. Mas, suspirando, Sora disse a ela:
—Mas Azril poderia fazer isso sozinha, com certeza.
Em seu tom cortante, Jibril ofegou, e Azril parou de sorrir.
—Desde o começo, ela estava apenas se colocando na mesa. Provavelmente planejava se matar de qualquer jeito. Quer dizer, que tipo de irmã pediria à sua própria irmãzinha para morrer? Jibril, não é ela a irmã mais velha em quem você acreditava?
A resposta? Silêncio seguido de um suspiro, afirmando as palavras de Sora mais eloquentemente do que qualquer outra coisa poderia ter feito. Dado que havia uma Resposta, e que os Flügel eram capazes de alcançá-la, mesmo que Azril devolvesse a capacidade de cometer suicídio que suas irmãs lhe haviam confiado, a essa altura provavelmente não o fariam. Mesmo que não houvesse resposta, se, como Jibril, todos pudessem encontrar uma razão para não morrer, não havia razão para esperar que se matassem.
—Nesse ponto, Azril, que havia vivido para que eles não morressem, teria visto seu papel terminar.
—...Sora, muitas pessoas já ficaram bravas com você por ultrapassar os limites?
—Oh, sim, ficaram. Mas a regra deste jogo é que ninguém pode morrer. Então—
—Um estalo retumbante.
—Vamos jogar.
Sora bateu palmas e sorriu.
—Quer dizer, é uma droga perder seu progresso e clicar em "Novo Jogo", certo?
—Então, sim, vamos jogar.
—Então é simples. Tudo o que você precisa fazer é jogar um jogo diferente.
—Um jogo que certamente será divertido, divertido, divertido.
—Este mundo — vamos torná-lo muito, muito mais divertido para você.
—Um jogo do qual nunca nos cansaremos.
—Você acha que podemos fazer isso? Vamos, no que você vai apostar?
...
......
—Nya-ha... Nya-ha-ha-ha, nya-ha-ha-ha-ha-ha-ha-ha-ha-ha-ha-ha-ha-ha!!
De seu coração, pela primeira vez em seis mil anos — não, talvez nunca — ela riu espontaneamente. Talvez como consequência de ter seu desempenho físico restringido por Imanidades — ela riu tanto que sua barriga doeu. Ela riu tanto que seus olhos ficaram marejados, e Azril levantou o rosto e—
—deliberadamente colocou os braços em volta de Sora e o beijou.
—Mmph?!
—?!
—Q-quê? M-Mestre?! A-Anciã Azril!!
...Após vários segundos completos de beijo de língua, Azril se afastou.
—Nya-ha-haa, não existe um jogo em que você aposte em ambos os lados vencendo. ♥
—“……”
Ignorando os olhares do perplexo Sora e dos dois que a encaravam como se quisessem abrir um buraco letal nela, Azril disse:
—Seus grandinhos... Estou muito feliz que me convidaram para me divertir com vocês, justo quando eu queria me matar. Mas ainda assim — eu não sou como Jibs. Eu não sou digna de estar ao seu lado — ainda não.
Ela acenou, virou-se... e caminhou, sentindo a gravidade que restringia seu corpo. Ela deixou sua irmãzinha preocupada com ela; deixou Imanidades preocupadas com ela; foi consolada; até foi proibida de se matar. Depois de tudo isso — ela não podia mais depender deles. Ela riu consigo mesma.
—Mas tanto faz. Eu aposto que vocês conseguem. Até lá — vou tentar a fé de Jibs, a fé em minhas possibilidades que ela me deu. Então, espero que me deem um pouco de tempo.
******
—...Irmão... ela te beijou.
—Ei, espera aí, ela simplesmente fez isso, caramba. Você tem olhos?
—Mestre, com todo o respeito, os Dez Mandamentos tornam a violação de direitos impossível. Portanto, o fato de a Anciã Azril ter conseguido beijá-lo só pode significar que o senhor permitiu, consciente ou inconscientemente.
—Espera, espera, espera — que tipo de homem eu seria se rejeitasse uma gata daquelas, mesmo inconscientemente\!
—...Irmão, você pegaria... qualquer fêmea…
—Você me lembra bastante o Sr. Ino.
—Ei, espera... Quer dizer, olha, eu obviamente sou a vítima aqui\! Vamos lá, gente\!
Soltando um sorriso de canto com o barulho atrás dela enquanto se afastava, Azril murmurou:
—...A propósito, Jibsy—
—...Finalmente é Jibsy, é? Depois de tratar meus mestres de forma tão abominável, depois de nos mentir por milhares de anos — minha branda graça está começando a atingir seu limite. Mas o que foi, Anciã Azril?
Jibril passou para o lado da irmã mais velha ao chamado de Azril, comentando com mau humor.
Azril deixou escapar uma pergunta que ela mesma havia pensado:
—Jibsy, como você acha que a Imanidade conseguiu sobreviver à Grande Guerra?
—......Bem.
Uma pergunta antiga. Uma pergunta que atormentava Jibril com intensidade especial ultimamente. A teoria predominante era que eles eram tão fracos que ninguém lhes dava atenção, e eles simplesmente sobreviveram por acaso. Mas desde que conheceu Sora e Shiro, Jibril começou a sentir que algo estava errado. Poderia ter acontecido por acaso que, ao final da guerra, todo o continente de Lucia era território da Imanidade? Imanidade — de onde vinha seu poder?
Azril pensou nisso sozinha e elaborou:
—Perder e perder até não poder mais perder — devemos supor que isso é Imanidade?
—Aceitar a derrota e o fracasso como certos e aprender a cada vez, não temer o desconhecido, mas se lançar nele com alegria. A raça mais imperfeita, que por essa mesma razão tinha mais sede de ser perfeita do que qualquer outra — se eles supusessem isso... Azril riu. Por que eles sobreviveram —? Não.
—...Por que nunca nos precavemos contra tal raça na Guerra?
—Jibril ofegou. Não apenas seus dois senhores... mas o velho rei que havia desvendado o jogo da União Oriental, e Chlammy, que havia colaborado com os Elfos, juntos, mostraram a ela as possibilidades da raça, o suficiente para inspirar admiração e temor, agora intimamente familiares a ela. Uma raça de pessoas às vezes loucas, entregando-se à própria morte — e ainda assim invariavelmente chegando à próxima rodada.
—Uma raça que aprende sem fim — me pergunto por que nunca notamos tal ameaça?
Significava que, não importa o quão frágeis pudessem ser, se continuassem para sempre, inevitavelmente — em algum momento — se tornariam uma ameaça inescapável. Se eles tivessem percebido a natureza de tal raça durante a Guerra, o que teriam feito? Não havia necessidade de pensar sobre isso — eles seriam perigosos demais. Seriam eliminados no local.
—...E ainda assim, registros da Imanidade — são inexistentes. Me pergunto por quê?
Sim, os registros da Imanidade durante a Grande Guerra eram completamente inexistentes — de forma não natural.
—Nya-ha-ha-ha, bem, isso é apenas algo que eu pensei. Poderia ser—
Azril olhou para Sora e Shiro—
—eles nos enganaram para afastar todas as linhas de frente de Lucia?
Sim, isso soava exatamente como algo que eles fariam—
—E nunca fomos capazes de descobrir o que aqueles Ex Machinas que mataram Lorde Artosh estavam fazendo perto do fim da Guerra, então—
Sorrindo com tudo, exceto os olhos, Azril conjeturou:
—e se a Imanidade os liderou—?
E se — a morte de Artosh, que desencadeou o fim da Grande Guerra — tivesse sido planejada —?
—Awwww\! Talvez eu esteja pensando demais? Nya-ha-ha-ha-ha-ha\!
E então Azril se afastou, deixando a atordoada Jibril para trás.
—Mesmo tendo pensado que havia se afastado bastante, ela percebeu que não havia chegado a lugar nenhum. Que Jibril não havia testemunhado sua grande saída, mas estava calmamente ao seu lado, era tão engraçado.
—Jibsy, vou seguir a sugestão daquele garoto e viver com este corpo por um tempo — e também…
—Ela sorriu.
—...na próxima assembleia — vou propor que Avant Heim se junte à Comunidade de Elkia.
—Devo dizer que ainda duvido que passe.
Seria um sonho para ela também, Jibril pensou consigo mesma. Mas Azril lhe lançou um sorriso enorme e pegajoso.
—Observaremos e aprenderemos com Elkia. Seremos um "membro apenas no nome"... para que todos possam encontrar a Resposta que encontramos — cumprir a missão final de Lorde Artosh — que tal como pretexto? Nya-ha. ♥
Sua expressão implicava que não era à toa que ela havia conseguido enganá-los por seis mil anos.
—Devo dizer que isso parece difícil de recusar…
Para começar, Avant Heim era uma força sem lealdade. Não tinha território nem recursos. Mesmo que obtivessem a filiação formal, isso não significava que teriam que ajudar; eles poderiam simplesmente se envolver nas coisas que quisessem. E se a Plenipotenciária dissesse que era por Artosh — os Flügel não teriam motivos para recusar.
...Se Azril possuía esse tipo de destreza mental, então por que— Jibril suspirou.
—Flügel, incluindo eu, não podem reconhecer essas crianças como os novos senhores até que todos vejamos por nós mesmos — que seu potencial é digno de nossa fé. Você sabe disso, certo?
—Sim. Todos devem estar cientes disso. Continuarei meus esforços missionários, então não há motivo para preocupação.
Jibril exibiu seu diário sagrado e descartou-o como uma simples questão de construir a base de fãs — ahem, fé. Com isso, Azril riu e olhou para ela.
—...Por enquanto, você pode cuidar deles pessoalmente para mim, Jibsy?
Esses dois eram uma bola do desconhecido. A essa altura, Azril entendia o que os tornava tão atraentes. Mas, ao mesmo tempo — eles eram arriscados demais.
Sorrindo consigo mesma por não poder deixá-los morrer antes que uma conclusão fosse alcançada:
—Posso pedir isso a você não como a Plenipotenciária — mas como amiga?
—Jibril voltou ao seu comportamento habitual.
—É óbvio que pretendo proteger meus mestres com minha vida — então eu me recuso.
—Entendo... nya-ha-ha…
Implicando que eles não eram amigos — bem, é claro. Depois de tudo o que ela fez, como ela poderia presumir—?
—Mas se você demorar muito, perderá os melhores momentos — irmã mais velha.
—Jibril sorriu ao inserir aquele "irmã".
...
—Não se preocupe... irmãzinha, eu—irei buscá-la, muito em breve.
Nya-ha-ha-ha-ha. Sorrindo para conter as lágrimas, ela trotava. Afinal, ela havia conseguido mudar a si mesma em uma única hora. Não deveria demorar muito—
Despedindo-se, ela parou, virou-se — e suspirou. Acenou.
—Ei, pessoal, alguém me dá uma carona nas costas? E eu quero convocar uma assembleia rapidinho\! Preciso de uma estrada para minha casa, pelo menos... Seria bom se alguém pudesse construir uma estrada para mim, nya-ha-ha-ha-ha-ha\!
Ela caminhou para casa, seu poder ainda selado. Ser incapaz de fazer coisas como voar era de alguma forma revigorante. Cheia de pensamentos frívolos como esse, ela riu consigo mesma, achando cada pequena coisa divertida. Com os pés no chão, seu olhar nivelado com o deles, sua velocidade não maior que a marcha de uma formiga, ela absorveu o mundo.
—Depois de viver por vinte e seis mil anos — não era tão ruim tentar algo novo.
......
—Vocês os aceitarão como seus novos senhores?
—Não sou eu quem decide isso. Av'n', você também deveria pensar nisso.
—...Uma proposta intrigante, mas considerada digna de teste.
—Bem, para ser honesto, acho que talvez se submeter a eles por um tempo seria bom.
—Pelo potencial deles?
A essa pergunta, Azril agitou suas asas sem voo pelo ar e respondeu:
—Porque seria divertido! Nya-ha-ha-ha!
—A excitação encheu seu coração só de pensar em que tipo de jogo eles poderiam jogar em seguida—
******
—Enquanto isso. Castelo Real de Elkia, o estudo do rei anterior. Ao lado de Izuna, que se ocupava em devastar uma mesa de frutos do mar de proporções reais, Steph folheava um livro.
Olhando para Izuna, que devorava a comida que ela havia preparado com verdadeiro gosto, ela comentou: "...Senhorita Izuna, você realmente come bastante."
Era tão reconfortante — mas então, quando ela se lembrou que a vida do avô de Izuna estava em risco, ela começou a se perguntar. Izuna também estava desesperada. Ela estava tentando, dando o seu melhor — Mas, estranhamente — Steph não conseguia detectar em seu comportamento pânico, agitação ou inquietação.
“Ah, isso é difícil de dizer... mas, Senhorita Izuna, você não está preocupada com o Sr. Ino?”
Parando bruscamente — um peixe ainda na boca — Izuna respondeu secamente:
—De jeito nenhum, por favor. Por que eu estaria preocupada, por favor?
—Por que você...? Quer dizer…
—Sora e Shiro disseram: ‘Não se preocupe, nós o salvaremos’, por favor.
—Izuna colocou isso sem uma ponta de dúvida e retomou sua refeição. Com um suspiro, Steph voltou sua atenção para o livro em suas mãos e resmungou. Uma pequena pergunta a estava incomodando há um tempo—
—Como é que você e a Donzela do Santuário conseguem confiar tanto nesses mentirosos?
Era verdade que eles sempre davam um jeito no final. Mas o caminho era sempre tão cheio de mentiras e fraudes. Como eles podiam confiar—? Steph ponderou, mas Izuna voltou a ela com um olhar fulminante.
—Sora e Shiro não são mentirosos, por favor.
—Senhorita Izuna, embora tenha aprendido a ler a língua da Imanidade, parece que ainda não é totalmente proficiente.
Se aqueles dois não eram mentirosos, então o que eram? Steph riu.
—Eles não cheiram a mentirosos — como aqueles malditos mentirosos que cheiram a ‘Te peguei, vadia’. — Odeio esse cheiro, por favor.
Steph ficou sem palavras. Izuna se lembrou daquele dia em que Sora disse que salvaria seu avô. O cheiro de Sora que ela havia sentido na praia — a havia acalmado. Ela deu a Steph um pequeno sorriso.
—Sora e Shiro cheiram bem, por favor. Aqueles idiotas enganam as pessoas, as iludem, as provocam, por favor. Mas — eles nunca mentem, por favor — é por isso que gosto deles, por favor.
—Instruída por uma garota de um dígito de idade, Steph respirou fundo. Era absurdo, e ainda assim explicava as coisas — uma estranha compreensão brilhou em seu cérebro. Sora — aquele fraude nato que respirava mentiras. Como era possível que, mesmo assim, às vezes — ele a lembrasse de seu avô? Quando ela pensou nisso, era óbvio. Se ele era tão bom em mentir, então por que se comportar de tal maneira a ser sempre suspeito de ser um mentiroso?
—Por que ele não fingiria ser uma boa pessoa—?
Steph notou Izuna a observando friamente.
—Stuch, você também cheira bem, por favor. Mas às vezes você cheira a mentirosa, por favor.
—H-huhh?! Q-quando eu menti para você?!
—Quando você fala sobre Sora, você cheira a uma maldita mentirosa, por favor. Eu não gosto de você assim, por favor.
—É que Sora me forçou a me apaixonar por ele! Não é natural que eu resistisse?!
Magoada pela implicação de que Izuna não gostava dela, Steph argumentou com um nó na garganta, mas Izuna a dispensou com uma expressão complicada.
—Mais das suas besteiras, por favor... Mas você geralmente cheira bem, então vou te dar um desconto, por favor.
Dito isso, ela voltou a enfiar peixe na boca, deixando Steph com seus pensamentos.
—Tudo bem, vamos supor, por uma questão de argumento — não que pudesse haver um argumento — que Sora não é um mentiroso. Mas mesmo assim—
—Isso não justifica ele cooptar meus sentimentos com os Mandamentos. É um completo absurdo!
Enquanto Steph agarrava a cabeça em seu desabafo, um livro chamou sua atenção. Em uma prateleira a alguma distância — um livro com uma encadernação antiga.
—...O Tesouro da Princesa Orgulhosa... Um conto infantil?
Um título escrito em Imanidade — que soava como se pertencesse a um berçário.
Quando ela abriu a capa, foi isso que estava escrito:
—Este é um conto de fadas transmitido entre os Anões—
—Uma tradução? O tradutor — não é meu avô, aparentemente. O que este livro está fazendo...?
Steph, murmurando, virou a página e ofegou. Foi isso que estava escrito ali.
—Este é um conto de fadas de um passado distante. Mais longe que o mar—
......
E abaixo, com uma letra familiar — ou seja, a letra de seu avô — havia uma nota.
—Supomos que a rainha adormecida do mar leu este conto antes de seu sono.
—Como a princesa do conto, a rainha era amada por todos e possuía tudo.
—E assim... ela desejou o que não conhecia.
—Tendo tudo, ela ansiava pela única coisa que lhe escapava: um amor além de seu alcance—
—Eurekaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
Izuna se assustou quando Steph saltou da cadeira com um grito.
******
Avant Heim — um cubo relativamente grande no distrito central. Esta era a antiga morada de Jibril, agora um depósito. Ela deve ter transferido todos os seus livros e objetos de valor para a biblioteca em Elkia, pois não tinha a atmosfera de um espaço habitável. Como seria de se esperar de Flügel, que não necessitavam de sono, não havia cama nem janelas. O quarto selado, forrado com sua coleção de tesouros não-livros, parecia surpreendentemente confortável para habitantes das sombras como Sora, Shiro e Plum. Contanto que se atentassem a certos avisos que ela lhes dava — Oh, Mestre, é melhor não tocar nisso. Você provavelmente, não, certamente morrerá. Espólios da Grande Guerra, massas de crânios e assim por diante, mas —
—Isso é estranho…
No centro da sala repousavam os livros que os quase cem Flügel haviam coletado para eles, conforme jurado pelos Mandamentos. Enterrado na pilha de livros, escuro de fadiga, Sora reclamou divertido. Shiro, em seu colo, escrevia algo, depois riscava com raiva, gemendo.
—Mestres, por que não tiram um descanso?
Percebendo que os irmãos estavam frustrados com a falta de progresso, Jibril os repreendeu suavemente.
—Imediatamente após o jogo, os dois mergulharam direto nos livros coletados para sua informação. Registrando seu evangelho, Jibril de repente percebeu que haviam se passado cerca de cinco dias desde que seus mestres haviam dormido — antes da chegada de Plum. Com isso em mente, ela os exortou, mas Sora coçou a cabeça, aparentemente alheio a ela.
—Como é que existem dezenove relatos — e todos são iguais sobre a condição para acordá-la?!
—Nããão... não me diga que foi tudo um... desperdício...?
O encontro no final do jogo. O rito para enganar até mesmo Azril, que havia absorvido o poder de um Fantasma. Plum, exausta de seus esforços, jazia estirada no chão, guinchando lamentavelmente com o que restava de seu fôlego. Pensar que ela havia feito tudo aquilo, e foi sem sentido — sua expressão perdeu toda a esperança, mas Sora insistiu.
—O problema é mais profundo que isso... Vou resumir, ok?
Com um suspiro, ele se virou para Plum.
—A rainha de Siren é sua agente plenipotenciária. A rainha apostou todos os seus direitos e depois adormeceu. Mas para Siren, se alguém a acordar, essa pessoa receberá sua Peça de Raça, e isso seria fatal — então eles encobriram a condição para acordar a rainha.
—S-sim... Isso mesmo…
—A maneira definitiva de encobrir algo é se ninguém souber. Então eles também não lhe disseram como acordá-la.
—Mas.
—Quando a rainha atual adormeceu, ela ainda não era rainha. Siren deve ter tentado de tudo para acordá-la — mas isso significaria que alguém soube uma vez, mas os relatos atuais foram falsificados.
Está me seguindo? Sora perguntou, e Plum assentiu.
—Oitocentos anos atrás, houve caras que tentaram vencer o jogo da rainha. Podemos ver dezenove deles apenas pelos registros que desenterramos em Avant Heim, abrangendo cinco raças diferentes, e podemos ver as palavras que supostamente foram usadas. Se as compararmos, deveríamos ser capazes de rastreá-las até a condição para acordá-la — ou assim pensei.
Shiro gemeu, Nghhhh, e desabou no colo de Sora — cérebro frito. Eles verificaram a redação nos idiomas de cinco raças, até mesmo verificaram a maneira de interpretação das palavras — mas.
—‘Quem acordar a rainha ganhará o amor da rainha e tudo o que ela tem’ — é tudo o que conseguimos.
Quem acordar a rainha — ou seja, ela não tinha que se apaixonar. Ganha tudo — ou seja, você recebeu todos os direitos. Essas duas coisas foram definidas, mas isso não valia mais nada agora. O verdadeiro problema era — Sora reclamou —
—Por que eles não dizem como acordá-la —? Essa é realmente a parte que eles deixariam de fora?
Antes que a rainha anterior falecesse, alguém receber todos os direitos não teria afetado a sobrevivência da raça. Eles deveriam ter anunciado a condição de vitória para que alguém se apressasse e a vencesse logo. Mas então, se nada disso foi registrado…
—......Pior cenário…
—Huh?
Na avaliação sombria de Shiro, Plum buscou esclarecimentos com tristeza.
—Ninguém... nunca, soube... como…
—Poderia ser que nem mesmo a própria rainha tenha explicitado claramente as condições de vitória quando criou o jogo — por exemplo…
Após um suspiro profundo, Sora o espremeu:
—‘Me agrade. Só que eu não sei o que me agradará...’ — ou algo assim.
—Os olhos de Plum reviraram e ela caiu. Francamente, Sora sentiu vontade de fazer o mesmo. Se isso fosse verdade, explicaria por que ninguém conseguiu acordá-la, por que Plum não conseguiu descobrir como acordá-la, por que um feitiço que a faria se apaixonar incondicionalmente funcionou, mas ainda assim não a acordou, e também — como Siren conseguiu encobrir tudo completamente — tudo. Se ninguém soube desde o início, então não havia nada para encobrir. E então eles teriam que atacar o problema do ponto de vista de "O que a rainha queria quando dormiu?" — Eles estavam de volta à estaca zero.
—Ah, merda, o que há de errado com essa vadia?!
Transbordando angústia, Sora vociferou e caiu no chão. Shiro também deu GG, roncando audivelmente no colo de Sora, e Plum — desmaiou. A cena parecia que ficaria perfeita em um museu de arte sob o título Desespero.
—Bem, por que eu não conto uma história para mudar o ritmo?
Jibril estalou os dedos levemente, e as paredes e o teto de sua casa ficaram transparentes como vidro. Enquanto jazia estirado no chão, Sora viu a noite se desenrolar acima dele — não, não era isso. Eles flutuavam na borda da estratosfera — a fronteira entre o planeta e o espaço. Então era o espaço. Essa percepção foi acompanhada por uma reverberação suave como o grito de uma baleia.
—O que foi...?
—É ele — Era a voz do Avant Heim, o Fantasma.
Agora que ela mencionou — Sora se lembrou de ter visto uma massa de terra como uma baleia gigante durante o jogo com Azril.
...O fato de ele estar montado em suas costas agora era tão fantástico que era fácil esquecer.
—Ele já foi um mensageiro de meu antigo senhor, o Deus Antigo Artosh.
Jibril continuou com um olhar distante.
—Artosh caiu no final da Grande Guerra — mas ele ainda não aceitou isso. Ele vagueia em busca de Artosh e, quando sente a presença de um Deus Antigo, ele se aproxima.
Jibril ergueu o olhar — para a lua vermelha-escura flutuando no céu.
—Lá fora estão os Elementais, Lunamana e o Deus Antigo que os criou.
—A gigante lua vermelha que Sora vira inúmeras vezes, maior ou mais próxima que a lua de seu antigo mundo. Ainda era difícil imaginar que um Ixseed habitasse ali.
—Quando a lua vermelha está visível, Avant Heim eleva sua altitude na presença do Deus Antigo. No entanto—
Com um sorriso complicado, um tanto triste, Jibril confessou:
—Avant Heim não consegue alcançá-la.
—Não consegue alcançá-la?
—Avant Heim não está voando pelo céu, mas circulando o planeta — nadando ao longo das correntes de espíritos invisíveis para a Imanidade. Ele não consegue nadar no espaço, que carece desses — e assim.
Sora inconscientemente seguiu o olhar de Jibril — e ficou sem palavras.
—Ele nunca havia olhado para a Via Láctea com seus próprios olhos. Mas um rio de estrelas que fazia as imagens que ele vira na Internet parecerem insignificantes flutuava no vazio. A luz fluía como para ofuscar a lua vermelha.
—Ele olha para a lua vermelha... e chora.
A torrente de luz fluía como uma aurora, tremulando levemente. Novamente, o gemido de baleia que ele ouvira antes. Desta vez, soou — terrivelmente solitário.
—Então, Phantasmas têm sentimentos?
—Ixseed Rank Dois, Phantasma. Considerando que eles estavam listados entre os Ixseeds, e que Azril havia dito nós, fazia todo o sentido, Sora percebeu. Mas ainda assim, era estranho pensar que essa massa de terra flutuando pelo céu tinha sentimentos. E então — fwoop, caiu a ficha, e ele reclamou com desgosto.
—Então até Avant Heim entende o amor romântico e eu não…
—Perdão? Por que você supõe que ele entende?
—Ele sente um certo romance por Artosh e o ama como seu mestre — então ele entende tanto o romance quanto o amor, certo?
…………
—Então Jibril pareceu se agarrar a algo e perguntou:
—Mestre, há alguém sem quem você se perderia?
—Shiro.
—E há alguém que você ama—?
—Shiro — ohh, então só porque você entende romance e amor, não é a mesma coisa que amor romântico.
O amor tomava formas diferentes para cada um — cara, esse conceito era uma baita dor de cabeça. Se o desejo da rainha quando ela adormeceu realmente tinha algo a ver com amor romântico, ele estava perdido — Sora capitulou, mas Jibril estava pensando em outra coisa.
—...Me pergunto se é realmente assim.
Quando Artosh foi morto, Jibril, como o resto dos Flügel, sentiu perda. Depois disso, os Flügel reuniram conhecimento. Procurando por algo sem saber o quê: um sentido na vida, uma justificativa para a existência, uma razão para não morrer — uma resposta que nunca poderia ser — mas Jibril a encontrou. A resposta de que não havia resposta universal, mas ela mesma poderia — querer existir.
—? Que foi, Jibril?
Não era conhecimento, mas o desconhecido diante dela que a fez inclinar a cabeça com dúvida. E se—?
—M-Mestre, por favor, desculpe minha impertinência, mas posso lhe pedir um favor?
—Ah, o quê?
—Você poderia dizer: ‘Você é inútil, Jibril. Cansei de você’?
—...Umm, deixe-me apenas salientar, não tenho ideia do que você está querendo dizer aqui.
—Por favor. Não pergunte nada — me faça essa gentileza, se puder.
Enquanto Jibril pressionava a testa profundamente contra o chão, Sora relutantemente fez o que ela pediu.
—‘Você é inútil, Jibril. Cansei de você.’ —Assim está bom?
—M-M—M-M-M—Mestre!!
—S—s-s-s-s-sim?!
Uma mudança trouxe seu rosto perto o suficiente para tocar o dele, e Sora gritou.
—P-por que é que me sinto muito como no outro dia, quando você me ordenou que lamber os pés daquela orelhuda, ou quando eu roubei Lorde Shiro de você no FPS com a União Oriental? Um arrepio trêmulo — como se meu próprio coração estivesse sendo espremido! Q-q-que emoção desconhecida é essa?!
—Que diabos eu sei! Mas, cara, você não tem traços de personalidade estranhos o suficiente?!
Enquanto Jibril ofegava, corava e praticamente babava, Sora se encolheu. Mas tendo aparentemente experimentado algum tipo de profunda epifania — Jibril assentiu e anunciou:
—Mestre, pela primeira vez nos 6.407 anos desde meu nascimento — eu compreendi a natureza do amor romântico.
—O quê? Sério?
—Sim. Finalmente, provarei meu valor para você, Mestre. — O que, então, é o amor?
Com essa pergunta retórica, Jibril ajoelhou-se diante de Sora, baixou a cabeça e começou uma explicação.
—Mestre, você ordenou que a pequena Dora o amasse pelos Mandamentos, e então você a submeteu sistematicamente à humilhação do abandono. E ainda assim a própria Dora, em quem você plantou a emoção, testifica que isso é amor romântico! Essa emoção desconhecida que ocorre quando meu senhor, a quem me dediquei, me diz que terminou comigo — essa mistura de carinho, dor, segurança e todos os tipos de outros sentimentos emocionantes — Isso é amor—!!
—Jibril, calma, você está saindo muito do controle em tantos—
Enquanto Sora murmurava, agora inequivocamente encolhendo-se — Wham!! De repente, Shiro saltou para os pés.
—Whoagh?! Q-que foi, Shiro? Meu coração quase saltou do peito!
Sem parecer se importar com os sentimentos de Sora sobre o assunto:
—Emoção desconhecida... ela não a conhece... ela não consegue alcançá-la... ela aspira a ela... Azril não conseguiu encontrá-la... Jibril a encontrou... Steph a sente... desconhecida... ainda por vir... esperança.
—Talvez ouvindo a conversa enquanto fingia dormir, Shiro marcou uma série de pontos de dados e procurou furiosamente pelos livros.
—A rainha, que encanta a todos—... As condições de vitória, não foram falsificadas.
Murmurando isso, com um foomp ela bateu o livro que havia extraído furiosamente — e declarou:
—...Irmão... eu descobri... a condição... para acordar a rainha.
—Com essa simples afirmação, Sora, Jibril e até Plum pularam e olharam para Shiro, que parecia de alguma forma feliz — Não…
—...Irmão, até você... pode interpretar... coisas errado.
Seu sorriso claramente indicava extrema exuberância contrastando com sua disposição habitual.
—...Irmão, irmaaaão, hee-hee... Irmão, você errou feio...!
Seus ombros balançavam, seus pés agitavam-se — Ela sorriu radiante, como se estivesse se vangloriando. Seu significado era indecifrável. Sora gemeu, horrorizado—
—Ei—espera. O quê—eu interpretei coisas errado? M-mas ler pessoas é minha—
—Certo. Sua... especialidade... mas desta vez... eu ganhei!
—Como se estivesse tonta de coração, Shiro se gabou de que, neste jogo, pela primeira vez, ela havia superado seu irmão em leitura, e Sora se sentiu tonto.
—N-não pode ser... Se eu perco em leitura de pessoas, lógica e estratégia, qual o meu propósito...?
—“ ”—o jogador dois-em-um que era o mais forte que a humanidade tinha a oferecer. Se um de seus cérebros não conseguia mais ler pessoas — Ignorando Sora enquanto ele se desfazia em lágrimas, Plum insistiu:
—Q-que quer dizer?! Como podemos acordar a rainha?!
Bebendo as esperanças de todos — e as lágrimas perversas nos olhos de Sora —Shiro falou.