Nv. 99 Princesa da Chama Negra

Capítulo 113

Nv. 99 Princesa da Chama Negra

— …O quê?

Ijun ergueu lentamente a cabeça enquanto mexia a xícara de chá com a colherinha.

Andrea, sentado à sua frente, abriu a boca novamente com uma expressão um tanto abatida.

— Eu vi uma nuvem negra cobrindo o Monte Bokgye.

Monte Bokgye… deveria ser a Colônia dos Mortos. Ijun franziu levemente o cenho.

Além disso, Andrea explicou em detalhes a Ijun a paisagem que vira com seus Olhos Sábios. Como sempre, o que podiam deduzir apenas das profecias dele era extremamente limitado. Uma nuvem negra, sons de risadas, lanternas vermelhas, chamas ardentes, pensamentos sinistros, ressentimento e…

— Há um homem que perdeu seu nome lá.

— Um homem que perdeu o nome?

— Não tenho certeza dos detalhes. Se é o nome de um monstro, ou se é algum tipo de pista. Mas de uma coisa eu tenho certeza…

Andrea hesitou um pouco, depois ergueu os olhos para Ijun.

— Ela estava de pé sob as nuvens negras.

Havia apenas uma pessoa a quem Andrea se referia como ‘ela’.

“Eunha.”

Ijun não reagiu, mas Andrea percebeu a minúscula rachadura que se espalhou por seu rosto por um brevíssimo instante.

Ele sabia que os caçadores que desejavam participar do portão da costa sul estavam fazendo o exame de qualificação lá. Mas Eunha estava lá? Não, o que eram aquelas nuvens negras de que Andrea falava? Talvez tivesse acontecido algo com ela…

Salto!

Ijun levantou-se de repente da cadeira. O chá da xícara, que estava bem posta sobre a mesa, transbordou com o impulso.

Uma reação esperada. Andrea calmamente pegou um lenço de papel próximo e falou enquanto limpava a mesa.

— Catherine estará esperando lá fora.

Ijun se virou bruscamente com as palavras de Andrea. E logo depois, ouviu-se um estrondo e o som da porta se fechando.

Andrea jogou o lenço usado na lixeira e ergueu a cabeça. Ijun partira como o vento e já não estava mais ali. — Talvez ele finalmente tenha pensado em agir de forma mais honesta agora? — murmurou Andrea, fitando a porta fechada.

— De todo modo, John vai atrás de encrenca.

“Não vai? Se é para fazer aquela cara ao ouvir a profecia, por que agir daquele jeito na frente dela…”

Andrea balançou a cabeça e se aproximou da janela. A gaiola sobre a mesa simples. O pássaro branco dentro dela inclinava a cabeça. Andrea acariciou a superfície de aço com seus dedos delgados e sorriu sem emitir som.

— Você não acha também, William?


— …Está bem? — Eunha perguntou, olhando por cima do ombro.

— Isso não é nada — respondeu o Sr. Palhaço com um sorriso bem-humorado. Diferente da resposta descontraída, gotas de suor escorriam em sua testa apesar do clima frio. Com um — Hmph — ele amarrou firmemente o embrulho sobre os ombros e seguiu em frente.

Ele carregava um total de três embrulhos. Cada um com mais de duzentas essências. Só o peso já era significativo, mas outro problema era a altitude da montanha. Quanto mais subiam, menos oxigênio havia, e ele ficava sem fôlego porque o caminho se inclinava cada vez mais. Mesmo sendo um Desperto, com habilidades físicas superiores às de um civil, era de baixo rank, o que tornava a tarefa difícil. Além disso, não tinham feito uma pausa sequer desde que formaram um grupo. Ainda assim, o Sr. Palhaço acompanhava Eunha sem reclamar. Para ser sincera, até Eunha se surpreendia um pouco.

— Vamos descansar por aqui. — Ela começava a sentir fome e, ao ver um riacho próximo, achou o momento perfeito para uma pausa. Depois de verificar se não havia monstros por perto, Eunha reuniu os embrulhos e a mochila sob uma árvore.

— Senhorita, vou armar algumas armadilhas por aqui e trazer coisas para acender uma fogueira.

Eunha virou-se para olhar o Sr. Palhaço, que havia terminado de organizar a bagagem às pressas e falava agora. Confirmou que não havia monstros nas redondezas…

E, assumindo que ele não saísse da área, Eunha tinha detecção suficiente para perceber de imediato se algo acontecesse.

— …Não vá muito longe.

— Claro. Nem conseguiria, de tanto medo. — O Sr. Palhaço riu, arregaçou as mangas e se preparou para sair. — O de tampa vermelha é gimbap de atum, e o de tampa azul é o picante com pimenta. Pode escolher.

Eunha o observou partir e mexeu na mochila enquanto se encostava à sombra da árvore. A fome, antes esquecida, a invadiu de repente com o cheiro de óleo de gergelim que lhe subiu ao nariz assim que abriu a marmita.

— Obrigada pela refeição — murmurou baixinho, prestes a abrir os hashis de madeira…

【1】

Uma… janela do sistema surgiu diante de seus olhos? Eunha parou o movimento e estudou o painel. O número um. Só isso.

“O que é isso?”

Ela nunca tinha visto aquilo antes. Quando estendeu a mão na direção, intrigada, logo a janela desapareceu.

— …

Eunha pousou os hashis e olhou ao redor. Nada em sua visão havia mudado.

Dessa vez, fechou os olhos e se concentrou.

【Passiva ► Bigodes de Gato ativada.】

…Sudoeste. Ela sentiu uma presença, presumivelmente o Sr. Palhaço, não muito longe. Não havia cheiro de sangue trazido pelo vento. Tudo estava como antes.

Seria apenas um erro do sistema? Um tipo de bug? De qualquer forma, era um alívio não haver nada de errado.

Eunha abriu os olhos e encarou o ar onde a janela desaparecera, depois pegou novamente os hashis e voltou a comer. Como o Sr. Palhaço dissera, o gimbap estava delicioso. Talvez ainda mais saboroso porque estava faminta. Sentada sozinha à beira do riacho na floresta, lembrou-se dos piqueniques com o gimbap preparado por sua mãe. Porém…

Boom…

Ao levantar os olhos para o céu, percebeu que o clima não tinha nada de um piquenique. Estava ficando bem mais frio, e, talvez por estar mais fundo na floresta ou simplesmente porque a noite caía, o céu, que escurecia gradualmente, começou a soltar um lamento baixo.

Eunha parou com o gimbap à boca.

【2】

A janela não identificada do sistema surgiu de novo diante de seus olhos e logo desapareceu.

O vento ficava mais forte. Com aquele tempo, não seria estranho se viesse trovão e uma tempestade.

Swish.

Quando girou a cabeça bruscamente, viu uma árvore alta balançando ao vento no limite de sua visão.

【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas eriça o pelo agressivamente diante da presença estranha.】

O gato também devia ter sentido. Que havia algo atrás daquela árvore.

Eunha semiserrou os olhos, mirando a árvore. Seus instintos animais diziam que aquilo não era um esqueleto.

Swish…

O vento súbito trouxe não só o cheiro de madeira, mas também um fedor pútrido. Eunha franziu levemente o rosto e lançou os hashis da mão.

Flash!

Os hashis voaram em linha reta, tão rápidos que, ao atingir a superfície da árvore, não se quebraram, mas cravaram-se nela como um punção. E então…

Prrr…

Algo que se escondia atrás da árvore levantou voo suavemente.

Aquilo é…

Asas verde-claras. Era uma bruxa, a enorme mariposa que Eunha havia visto algumas horas antes na floresta. Mas agora tinha certeza. Aquilo era…

【Nv. 30 Devorador de Espíritos Vingativos foge.】

Um monstro. Convencida, Eunha saltou de seu assento.

Poderia se pensar que era um monstro do tipo inseto, mas não era. Pupilas negras sem esclera. Pele de tom arroxeado. Até mesmo as antenas finas e longas na testa. Aquilo era uma criança com asas. Em outras palavras, um monstro do tipo fada.

Não esperava encontrar monstros de outra categoria além dos mortos-vivos… Não, mas nível trinta? Era mais alto que os esqueletos que havia enfrentado até então. Seria aquele o fenômeno comum de falha de portão? Não, ali não havia portão. Então significava que era uma mutação?

“Primeiro…”

Eunha pegou a sombrinha que havia deixado ao lado e estudou o Devorador de Espíritos Vingativos, o monstro fada que batia asas para longe. De qualquer forma, só restava uma opção.

Flash! Segurando firme a sombrinha, deu um leve chute no chão. Assustado, o Devorador de Espíritos Vingativos bateu as asas mais rápido, como se quisesse fugir. Talvez não tivesse intenção de lutar?

Mas ela não se importou com a reação. Eunha balançou a sombrinha sem hesitar. Moveu-se rápida e facilmente, como se espantasse um mosquito.

Wham!

O monstro atingiu a sombrinha e caiu inerte, como uma mosca atingida por inseticida. Eunha já havia enfrentado inúmeros monstros de nível trinta. Com uma leve dose de exagero, poderia derrotá-los enquanto limpava a orelha. Mas…

“É fraco demais.”

Eunha observou o monstro caído no chão e o cutucou com a ponta da sombrinha.

Keeeee…!

Ele se contorceu com uma voz tão pequena quanto seu corpo. Logo, no momento em que seus gritos cessaram…

【3】

Outra janela do sistema surgiu diante dos olhos dela. Uma suposição repentina lampejou como um raio em sua mente.

“Não pode ser.”

No mesmo instante em que Eunha se levantou bruscamente…

— Senhorita!

Ela viu o Sr. Palhaço correndo em sua direção.

— Ah, você também recebeu aquelas mensagens estranhas de número? Não, deixa isso pra depois. Pegue suas coisas. Temos que descer a montanha rápido.

— O que aconteceu? — Eunha perguntou ao Sr. Palhaço, que estava aflito. Então ele contou sobre um grupo de caçadores que encontrara enquanto armava armadilhas ali perto.

— Disseram que encontraram monstros de nível trinta enquanto derrotavam esqueletos. Os caçadores de Rank B e C estão liderando a caçada… Mas com o clima e essas janelas estranhas do sistema, as coisas não estão nada boas na floresta. Todos dizem que precisamos reportar à Guilda Rosa na base da montanha. Certo, vamos logo.

O Sr. Palhaço apressou-se em arrumar a bagagem sob a árvore e se levantou. Monstros de nível trinta… estaria ele falando do monstro do tipo fada, o Devorador de Espíritos Vingativos, que ela acabara de matar? Pelo que ele dizia, parecia haver outros em diferentes lugares.

Os Devoradores de Espíritos Vingativos não eram ameaça para Eunha, mas poderiam ser complicados para mais da metade dos caçadores ali. Ela entendia por que eles estariam com pressa para descer a montanha. Eunha olhou para os embrulhos nas costas do Sr. Palhaço.

“Acho que já temos essências suficientes… Deve ser seguro voltarmos agora.”

Eunha decidiu retornar pelo mesmo caminho com o Sr. Palhaço. Mas havia algo estranho.

— Hã? Tenho certeza de que era por aqui…

O Sr. Palhaço parou e inclinou a cabeça. Viram uma grande árvore com um lenço amarrado. Haviam passado por ela uns dez minutos antes, e já era a terceira vez que chegavam àquela árvore.

— Que esquisito — murmurou ele, olhando o aplicativo de mapa no celular. Estavam andando em círculos no mesmo lugar havia algum tempo… Agora, ao perceber, a área estava marcada como fora dos limites.

Eunha e o Sr. Palhaço não eram os únicos perdidos. Mais adiante, um grupo de caçadores também tentava descer a montanha.

— Ei, não é por aqui?

— Confere direito. O sol vai se pôr desse jeito.

Todos olhavam ao redor, confusos.

【4】

As janelas do sistema se ergueram diante de seus olhos em uníssono, como por magia. Nessa situação, em que não encontravam o caminho e ainda surgiam aqueles números estranhos, a sensação não era nada boa. Os caçadores fingiam não ver os números sinistros e mexiam ansiosos em seus terminais e celulares.

— A Guilda Rosa não vai mandar reforços?

【5】

— Não conseguimos saber o que está acontecendo lá fora… Alguém tem terminal funcionando? O meu apagou.

【6】

— O meu também não funciona. Até agora estava normal… O que está acontecendo?

【7】

O ciclo de aparecimento das janelas do sistema acelerava. Logo, o número passou de sete para oito e chegou a nove. Ninguém ali sabia o que aquele número significava, até onde iria aumentar ou o que aconteceria quando chegasse ao fim. Ninguém mencionava o número, como se não devessem nem questioná-lo. Mas todos sabiam que estavam deliberadamente virando o rosto para não encarar. Porque temiam que eles próprios fossem devorados pela escuridão que avançava sobre a floresta.

— Merda, estamos presos aqui?

Quando alguém, incapaz de aguentar, xingou em voz baixa…

— Uma fada! — um caçador gritou, apontando para o fundo da mata.

Prrr…

Podiam ver asas verde-claras batendo entre as árvores cerradas. Nível trinta, Devorador de Espíritos Vingativos. Era o monstro do tipo fada que Eunha havia derrotado mais cedo.

— Eu achei primeiro.

Quando o caçador de bandana branca avançou rapidamente, outro caçador com cajado o seguiu. Eram os caçadores de Rank B Pistoleiro e Brilho J. Provavelmente os de maior rank entre os que estavam ali.

“Sorte.”

Pistoleiro arreganhou os dentes num sorriso ao persegui-los. Monstros do tipo fada eram raros, difíceis até de encontrar. Quem sabe? Talvez deixasse cair um item de classe Relíquia. Como pó de fada. Um tesouro escondido nesse lugar que ele pensava estar cheio apenas de esqueletos nível cinco? E sendo nível trinta? Era um alvo fácil para ele, um caçador Rank B. Em outras palavras, um estágio bônus. Descer a montanha ou não já não importava. Já haviam lhe roubado outro Devorador de Espíritos Vingativos, então não podia perder este.

Pistoleiro sacou a pistola da cintura, mirou no monstro num piscar de olhos com um clarão e…

BANG…!

【10】

Ouviu-se apenas o som de árvores desconhecidas se despedaçando no ar por onde os tiros ecoaram.

— Ei, esse número…

No instante em que alguém gaguejou para abrir a boca.

Boom…

O chão começou a tremer violentamente. As árvores perderam as folhas como chuva. Talvez tivessem ouvido um grito não muito distante.

【Conquista oculta desbloqueada – derrotou dez Devoradores de Espíritos Vingativos!】

【A masmorra Necrópole foi ativada.】

Nuvens negras cobriram por completo o Monte Bokgye.