Nv. 99 Princesa da Chama Negra

Capítulo 112

Nv. 99 Princesa da Chama Negra

Eunha lançou um olhar para o Sr. Palhaço. O homem que ela encontrara na metade da montanha tinha um nariz vermelho e tremia levemente. Dava para ver de imediato que seu corpo estava congelado pelo frio. Se estivesse em batalha constante, teria se aquecido e não estaria tão enregelado. Eunha supôs que ele não devia ter reunido muitas essências nas últimas três horas.

E suas previsões estavam corretas.

— Eu só consegui três até agora. — Derretendo as mãos congeladas sobre a fogueira crepitante, o Sr. Palhaço sorriu amargamente.

A fogueira negra diante deles era um fogo que Eunha havia feito juntando às pressas alguns galhos próximos. Ela estava prestes a descansar e o considerou, para que pudesse se aquecer ao menos por um momento. Ao lado da chama ardente, marshmallows em espetos assavam de forma apetitosa. O Sr. Palhaço os havia trazido de antemão.

Ele pegou o marshmallow mais bem assado e o ofereceu a Eunha. — Vá em frente.

— Obrigada. — Eunha aceitou. Também estava um pouco faminta. Eunha não estava acostumada a exames de qualificação como aquele e não pensou em levar comida. Durante os treinamentos ou subjugamentos, as unidades sempre lhe forneciam rações de emergência, e Jehwi sempre a acompanhava desde que ela havia saído para o mundo moderno. Mas o Sr. Palhaço, que tinha trazido, não tocou nos marshmallows. Apenas fitava a fogueira com olhos complicados.

— Desde a última gravação eu sinto…

O Sr. Palhaço estava com os olhos fixos nas chamas negras que tremeluziam, quando desviou o olhar. Para ao lado de Eunha. Mirando a bolsa cheia de essências, abriu a boca cautelosamente.

— Por que você trabalharia como caçadora de conceito tendo tanto poder de combate? Ah, não estou dizendo que esse trabalho seja ruim… Mas parece que você poderia viver só de romper portões.

Eunha respondeu secamente, com a boca cheia de marshmallow: — Eu não sou caçadora de conceito.

— Hm? — O Sr. Palhaço virou-se para ela, coçando a nuca de forma constrangida.

A mulher de vestido negro negou calmamente outra vez. — É só que todos me confundem com uma.

— Confundem?

— Sim.

Eunha terminou seu marshmallow e jogou o graveto na fogueira, acrescentando: — Eu nunca me apresentei como caçadora de conceito.

— Oh…

O Sr. Palhaço parou de falar por um instante e pensou na situação daquela vez. Ela de fato se sentara com os caçadores de conceito junto dele. Já fazia alguns meses, então suas memórias estavam vagas, mas não se lembrava de tê-la visto procurando o PD ou o roteirista para reclamar disso.

— Então por que não disse nada no programa? Se tivesse dito que era uma caçadora normal, a emissora poderia ter tomado providências.

Ela ergueu a cabeça devagar e sorriu de leve para o Sr. Palhaço. — Ser caçadora de conceito não é ruim.

Talvez fosse por causa da fogueira, mas naquele lugar sem sol, seu rosto branco parecia incomumente radiante.

— Acho que não existe conceito nem normal na caça.

— …

O Sr. Palhaço piscou, atônito diante dela, como se tivesse ficado sem palavras. Mas aquilo durou apenas um momento, e logo os cantos de sua boca se curvaram.

— …Certo, certo. Você tem razão.

Ele abaixou os olhos para a fogueira e ficou encarando as chamas crepitantes por um tempo.

“Talvez ela… Talvez.”

O Sr. Palhaço se convenceu de alguma forma. Que se abandonasse o orgulho e pedisse ajuda, ela o ajudaria sem questionar o porquê ou impor condições. Mas aquilo era um exame; em outras palavras, uma competição. E ela já tinha recolhido tantas essências sozinha. Isso significava que era realmente habilidosa. Era óbvio que ele não seria de nenhuma ajuda em combate. Na verdade, seria um alívio se não a atrapalhasse, quanto mais ajudá-la. Então, se quisesse a ajuda dela, precisaria apelar com sua utilidade de alguma maneira. O Sr. Palhaço, que mantinha os olhos na fogueira, logo ergueu a cabeça e olhou para Eunha como se tivesse tomado uma decisão.

— Senhorita, gostaria de formar um grupo comigo?

— Um grupo? — Eunha também olhou para o Sr. Palhaço. — Eu realmente não pl…

— Tenho muita comida além disso. Minha esposa preparou várias coisas para mim.

O Sr. Palhaço abriu sua mochila e a estendeu para Eunha como se a convidasse a olhar. Não havia apenas lanches como biscoitos e balas, mas também gimbap, garrafas de água e até remédios de emergência como digestivos.

— Como pode ver, tenho tanto que seria difícil acabar sozinho.

— …

Eunha examinou em silêncio o conteúdo da mochila. Não havia pensado nisso até então, mas ao ver a comida, sentiu-se faminta. Ainda faltavam cerca de sete horas para o fim do exame. Claro, não morreria se não comesse nada, mas era natural que fizesse suas refeições na hora certa, se possível.

— E… — O Sr. Palhaço guardou a mochila e apontou para o embrulho de Eunha. — Parece que você tem bastante bagagem, e eu seria um bom carregador. Pode não parecer, mas eu já vivi como Carregador quando não tinha trabalho como caçador de conceito.

Além disso, acrescentou que com sua habilidade de Armadilha Surpresa, poderia prender monstros. Era apenas uma habilidade que tirava monstros de combate por um curtíssimo tempo, com métodos como encobrir sua visão com balões coloridos ou emitir sons altos de trombetas. Não tinha poder para derrotar monstros de uma vez, mas, se montassem armadilhas ao redor durante o descanso, poderiam perceber antes que eles chegassem e ganhar tempo.

Eunha refletiu enquanto ouvia em silêncio o Sr. Palhaço. Se o recusasse ali, ele não conseguiria encontrar um grupo adequado. Francamente, Eunha não era obrigada a considerar sua proposta…

“É verdade, se eu tiver as duas mãos livres, vai ser muito mais fácil lutar do que agora.”

Ela não podia esvaziar o inventário naquele momento, principalmente considerando as essências que ainda recolheria. Além disso, seria mentira dizer que não queria a comida da mochila. Desde que sentira o cheiro do óleo de gergelim do gimbap, seu estômago vinha roncando. Mas seria difícil pedir ajuda em combate a ele, que tinha um poder notavelmente baixo comparado ao dela. Em outras palavras, estaria adicionando um fardo de outra forma. No fim, Eunha decidiu perguntar o ponto mais importante.

— O que você acha da divisão?

— Só cinco por cento do que você conseguir. Não, pode até me dar um por cento.

— …Isso seria suficiente?

— Com certeza.

Pelo que ouvira no ônibus, outros grupos dividiam meio a meio, ou no máximo seis para quatro. Cinco por cento significava que, se Eunha obtivesse cem essências, daria cinco a ele. Nesse ponto, Eunha tinha mais a ganhar do que a perder.

Perdida em pensamentos enquanto fitava a dança oscilante da fogueira, Eunha logo lambeu os lábios devagar. — Certo. Mas tenho mais uma condição.

Os olhos negros de Eunha se voltaram para o Sr. Palhaço.

— Você tem que seguir minhas ordens, sem importar o motivo, durante a batalha. Você pode se ferir gravemente.

Ferir gravemente? Contra esqueletos entre níveis cinco e dez? Mesmo sendo Rank E, ainda era um caçador.

“Ela disse que não existia caçador de conceito nem normal, mas essa moça devia ter seus preconceitos…” pensou o Sr. Palhaço, mas não demonstrou. Apenas assentiu, sorrindo. — Eu prometo.

E cerca de meia hora depois, o Sr. Palhaço entendeu de fato por que Eunha impôs tal condição.

— O-O que é isso…

O Sr. Palhaço encarava, perplexo, a cena diante de seus olhos.

Clunk, clunk…

Esqueletos se reuniam como abelhas. Ele e Eunha já estavam cercados havia algum tempo. Sabia que os números aumentavam exponencialmente conforme iam mais fundo na floresta, mas nunca assim. Diante daquela quantidade absurda, o Sr. Palhaço lançou um olhar para Eunha.

— Fique atrás.

Flash.

Eunha estendeu a mão direita na direção dele. No instante em que ele estremeceu de susto e deu um passo para trás…

【O Nv. 5 Esqueleto capturou seu alvo. Preparando para disparar.】

Creak…

Os esqueletos de ataque à distância puxaram as cordas de suas bestas.

Whir…

O Sr. Palhaço fechou os olhos antes mesmo de gritar diante das flechas disparadas todas ao mesmo tempo. Eunha balançou a sombrinha contra a chuva de setas. E então…

Snap…

As flechas em queda foram partidas ao meio pela firme sombrinha e despencaram. Um único movimento, curto e preciso. E bastou. Eunha pisou nos estilhaços sem força sob seus sapatos e olhou para trás.

— …

Atônito, o Sr. Palhaço a encarava. Estava ileso. Assim que confirmou que ele estava seguro, Eunha finalmente se voltou aos monstros.

【Um forte poder de dominação impregna o Nv. 5 Esqueleto. ▶ Ressuscitar】

【Um forte poder de dominação impregna o Nv. 5 Esqueleto. ▶ Ressuscitar】

【Um forte poder de dominação impregna o Nv. 5 Esqueleto. ▶ Ressuscitar】

Esqueletos se erguiam em um grande círculo ao redor de Eunha e do Sr. Palhaço. No instante em que baixassem a guarda, as flechas voariam novamente sem hesitar. Deixando Eunha de lado, não passaria de questão de tempo até que o Sr. Palhaço fosse transformado em colmeia. Não poderiam se defender das flechas para sempre. Lutar protegendo-o atrás era mais complicado do que parecia. Além disso, eles ressuscitariam sem parar, então tinha que exterminá-los todos de uma vez, sem dar tempo. Todos os vinte e poucos monstros, num único golpe.

Crack…

Eunha apertou firme a sombrinha. Veias azuis saltaram sobre sua mão pálida.

— Abaixe-se.

— …!

O Sr. Palhaço se jogou no chão, de bruços, com a ordem curta de Eunha. Não teve nem tempo de perguntar por quê. E logo em seguida…

Voom!

Eunha girou furiosamente com a sombrinha em mãos, no mesmo lugar.

Swish…

Parecia que dançava. O vestido ébano se inflou como um guarda-chuva, e a sombrinha negra fez um círculo ainda maior ao cortar o ar. O rastro circular deixado pela sombrinha. Os cabelos negros esvoaçando acima dela. Porém…

“A sombrinha não alcança os monstros.”

O Sr. Palhaço engoliu em seco, observando a cena só com os olhos, ainda deitado. A sombrinha era curta demais para chegar aos esqueletos que os cercavam.

Click.

Um dos esqueletos mirou novamente a besta. No instante em que Eunha parou após girar em círculo, começaram a disparar em uníssono, sem necessidade de sinal.

Swoosh!

“N-Não!”

Foi justamente quando o Sr. Palhaço ergueu a cabeça.

Boooom…!

Um estrondo tremendo ecoou com um compasso de atraso. O resultado do ataque de agora? Não, aquele foi o golpe do gato que copiara o ataque de Eunha. As árvores ressequidas ao redor tremeram com o impacto devastador. Quando o Sr. Palhaço abriu os olhos cautelosamente, havia apenas…

— Você está bem?

A Princesa da Chama Negra, intacta e serena como sempre. Claro, sem um único arranhão. Nem nela, nem no Sr. Palhaço.

— A-Ahh… Graças a você, estou bem — o Sr. Palhaço murmurou, atônito.

O que foi aquilo? Tinha acontecido tão rápido que ele ficou confuso.

Mas ele viu. Os fragmentos de flecha caídos sob os sapatos negros dela como folhas secas. Os pobres ossos reduzidos a cacos irreconhecíveis. A sombrinha negra em sua mão, intacta e perfeita.

Agora o Sr. Palhaço entendia.

— Você tem que seguir minhas ordens, sem importar o motivo, durante a batalha. Você pode se ferir gravemente.

O que ela realmente quis dizer.