Nv. 99 Princesa da Chama Negra

Capítulo 114

Nv. 99 Princesa da Chama Negra

Rumble…

As nuvens escuras que se adensavam pareciam incomuns. Um pássaro desconhecido piava de forma sinistra, circulando sob as nuvens pesadas. Embora não houvesse conversa entre eles, ambos pensavam a mesma coisa: não estavam apenas diante de um desastre qualquer.

E suas previsões estavam corretas.

【Conquista oculta desbloqueada – derrotou dez Devoradores de Espíritos Vingativos!】

【A masmorra Necrópole foi ativada.】

No instante em que Eunha viu a mensagem do sistema, teve certeza. O Monte Bokgye estava se transformando em uma masmorra.

Eunha havia testemunhado o, fenômeno de conversão em masmorra, apenas algumas vezes. Em outras palavras, não era algo comum.

Havia várias definições de masmorra, mas a mais utilizada se referia a um lugar que não era nem realidade nem portão, mas sim um espaço especial transformado. Diferente dos portões normais, cujas fendas podiam ser fechadas ao derrotarem os monstros chefes, masmorras não podiam ser subjugadas ou conquistadas por causa dos monstros que se regeneravam quase infinitamente dentro delas. Só era possível proteger casas e áreas privadas de uma masmorra já formada ao fechá-la completamente ou exterminá-la à força.

Havia apenas um motivo pelo qual uma masmorra era melhor que um portão do ponto de vista de um caçador. Podiam detê-la de antemão, se ainda não tivesse se convertido por completo. Mas como era necessário identificar o sistema interno ou as condições em um curto espaço de tempo, a taxa de sucesso era extremamente baixa.

Boooooom…

O chão tremeu levemente. De longe, ouviram uma risada indefinida. Lanternas vermelhas começaram a flutuar no espaço escuro sem qualquer apoio.

O espaço estava mudando.

— …

Eunha ergueu a cabeça com olhos sombrios. O céu escurecido parecia mais um teto negro baixo do que o próprio céu. Mas havia um pôr do sol lúgubre na beira do horizonte, então…

“Ainda temos tempo.”

Ela se convenceu ao ver o rastro escarlate brilhando fracamente ao longe. Mas o que a incomodava era…

“Por que estava tudo bem durante as últimas duas décadas?”

Aquilo era o resquício de um portão. Mesmo sendo proibido para civis havia muito tempo, agentes da Associação gerenciavam a população de monstros periodicamente, e caçadores o visitavam para treinamentos…

Se soubessem que monstros do tipo fada apareciam, a Guilda Rosa certamente teria informado os participantes do exame.

“Então monstros tipo fada nunca haviam aparecido até agora?”

Por que então agora?

— Estou vendo gente ali. Parece que todos desistiram de descer — disse o Sr. Palhaço com a voz um pouco mais animada, apontando para frente. Embora não tivessem descido completamente, haviam conseguido se juntar a outros caçadores no meio do caminho. — Vamos também.

Eunha seguiu em silêncio enquanto o Sr. Palhaço apressava o passo.

Havia cerca de cem caçadores participando do exame, mas apenas uns trinta estavam reunidos ali. A maioria parecia apavorada, ou segurava seus terminais e celulares sem resposta, na vã esperança de que a Guilda Rosa enviasse reforços. Alguns estavam sentados sob as sombras das árvores, com o rosto enterrado nos joelhos.

Medo, raiva, desespero, fúria, suspiros…

No espaço escuro em que tais sentimentos se entrelaçavam, uma nova janela do sistema surgiu.

【Sincronização da masmorra ▶ 11.2%】

【Sincronização da masmorra ▶ 11.9%】

【Sincronização da masmorra ▶ 12.0%】

Os caçadores ficaram mais agitados à medida que o ciclo de aparecimento das janelas encurtava.

— Parece que não podemos escapar até cumprir as condições desta masmorra… Ou não se explicaria como a floresta virou um labirinto.

【Sincronização da masmorra ▶ 13.1%】

— Pistoleiro e Brilho J foram procurar pistas, então devem encontrar algo. Vamos esperar por enquanto.

【Sincronização da masmorra ▶ 14.5%】

— Será que perceberam essa situação lá fora? Droga, o que está acontecendo… Argh, se eu soubesse disso, teria mandado à merda a operação do portão da costa sul e apoiado apenas portões de Rank C!

— Ei, ali! As árvores…!

【Sincronização da masmorra ▶ 16.0%】

Shhhh…

As árvores ao redor começaram a balançar de maneira estranha. Os galhos não apenas se agitavam com o vento. Estavam literalmente se movendo. Como animais vivos.

— O-O quê?!

Alguém gritou, apavorado pelo ar lúgubre. E era compreensível. Rugas surgiram na casca áspera, e cada árvore começou a formar uma expressão.

Rostos sorridentes. Rostos chorosos, rostos furiosos… Entre eles, um rosto assustado semelhante ao do quadro mundialmente famoso, ‘O Grito’, de Munch. A paisagem da floresta negra repleta de árvores cada qual com sua própria expressão era tão horripilante que causava arrepios.

Enquanto todos prendiam a respiração, uma risada alegre ecoou. Ninguém virou a cabeça na direção do som, mas todos sabiam:

Não pertencia a uma pessoa.

【Sincronização da masmorra ▶ 20.0%】

【Lanternas vermelhas iluminarão em ordem para substituir a luz da lua. Isso logo se tornará um palco esplêndido.】

“Um palco?”

Eunha olhou ao redor rapidamente. Estava escrito na janela do sistema. A luz no ar flutuava cada vez mais alto. Não parecia ligada a nada. Era como se toda a floresta estivesse encantada. Mas a floresta negra iluminada pelo vermelho parecia ainda mais sinistra.

— E-Ei. Vocês não estão ouvindo isso? — alguém murmurou, lívido.

Thump thump…

Rufares animados de tambor, totalmente destoantes do lugar. Até sons de trombetas deslizavam de forma cômica sobre o compasso alegre. Uma melodia festiva, como música de fundo em um desfile de parque temático. Mas não sabiam de onde vinha ou quem tocava os instrumentos.

“Parece uma sala de concertos”, pensou Eunha ao encarar a cena que mudava rapidamente diante de seus olhos.

Uma súbita sensação de estranhamento tomou conta. O nome dessa masmorra que via na janela era Necrópole; em outras palavras, um túmulo. Mas a cena esplêndida e colorida que se desdobrava diante de seus olhos estava longe de lembrar um túmulo.

Boom! Boom! Boom!

O estrondoso compasso dos tambores acelerava. Os arbustos densos ao redor desapareceram, e fumaça negra começou a se espalhar.

【Sincronização da masmorra ▶ 23.1%】

【O público está chegando. Preparem uma grande performance e agradem-nos.】

“Público?”

Quando a fumaça se dissipou, Eunha percebeu esqueletos reunidos ao redor deles.

Tic tic tic tic tic tic tic tic tic tic tic tic…

Os inúmeros esqueletos que cercaram a área em um instante moviam suas mandíbulas a uma velocidade incrivelmente rápida.

— O que estou vendo? Que diabos está acontecendo?

— N-Não pode ser, temos que derrotar todos esses esqueletos?

— Droga! Não sei quanto a isso, mas vamos pensar depois de acabar com eles!

Um caçador praguejou e se levantou de um salto. No instante em que fechou o punho, ele se transformou em uma enorme pata de urso. Parecia ser um caçador do tipo reforço físico, mas provavelmente tinha uma habilidade próxima da transformação. Ele golpeou um esqueleto sem hesitar. Porém…

Whoosh!

O punho dele cortou o ar de forma desajeitada. Erro? Impossível. O homem arregalou os olhos para o próprio punho e para o esqueleto diante de si. Lentamente, sua mão voltou à forma humana. Logo abriu a boca e a fechou, como se tivesse acabado de perceber algo.

— Isso… não é real.

Click…

A mandíbula do esqueleto caiu no chão como se respondesse às palavras do homem.

Tic tic tic…

Tic tic tic tic tic tic tic tic tic tic tic tic tic tic tic tic tic tic tic tic tic…

O som de osso contra osso acelerou gradualmente. Quando conseguiram enfim recuperar o foco em meio à confusão, o lugar já não era mais uma floresta.

【Sincronização da masmorra ▶ 30.0%】

【Apresentando o dono do palco!】

Ta-da…!

Todos ergueram os olhos ao som de trombetas vindas do alto, como se estivessem possuídos. Um trapézio caiu sob as nuvens cinzentas.

— O quê…?!

Alguém piscou, incrédulo. Viram uma sombra longa e sinistra pendurada de cabeça para baixo. A criatura, com o pescoço torcido em noventa graus e braços mais compridos que as pernas esticados, observava-os com um sorriso aberto que parecia desenhado.

【Nv. 60 ???? aparece!】

【Apenas calorosos aplausos e vivas poderão conduzi-lo ao palco.】

【Lembre-se! A menos que o dono do palco decore o final, este palco nunca acabará.】

Os olhos, tingidos de preto até o ponto de não se distinguir pupila de esclera. Os lábios pintados de vermelho estavam meio derretidos, expondo a estrutura da cavidade oral.

Crunch.

A coisa dobrou a cabeça a noventa graus para o outro lado e começou a rir.

— N-Não… pode ser…

O Sr. Palhaço estava pálido como quem vira um fantasma, os joelhos cederam e ele desabou ali mesmo.

— Por que você…

Ele murmurava para a criatura pendurada no trapézio. Foi nesse instante que os olhos de Eunha pousaram de leve sobre ele…

【As cortinas estão subindo! Façam o público responder!】

Tap. Tap tap…

Algo caiu do céu. Chuva? Não. Eram bolas de borracha. O monstro estava atacando. Vermelhas, amarelas, azuis. Um caçador, ao ver as cores vivas, gritou:

— Corram!

Os caçadores, que estavam parados olhando para o céu, recobraram os sentidos com o grito e se espalharam. Podiam ser bombas. Ou algum outro tipo de armadilha. Instintivamente, sabiam que aquelas bolas não eram comuns.

Porém…

— …

— …

Silêncio.

No instante em que as bolas tocaram o chão, não explodiram como esperavam e permaneceram intactas. Nada aconteceu. Mas nenhum caçador se aproximou delas, pois, mesmo sem entender a situação, sabiam que não deviam agir de forma imprudente.

Enquanto todos permaneciam imóveis, alguém se adiantou, aproveitando a tensão no ar. — Pessoal, já ouviram? Dizem que até na toca do leão se sobrevive se ficar alerta.

Uma mulher segurando um cajado incrustado de gemas azuis com ambas as mãos colocou-se à frente de todos.

Brilho J. A caçadora de Rank B que formava dupla com Pistoleiro, e a mesma que havia sinalizado para todos desviarem antes. Quando ergueu o cajado, barreiras translúcidas e douradas se formaram sobre todos os caçadores ali. Um buff de emergência caso algo acontecesse. Não seria o bastante para bloquear ataques massivos, mas protegeria do impacto de explosões. Depois de confirmar que as barreiras haviam se formado, ela falou num tom calmo:

— É melhor para nós que haja uma presença semelhante a um chefe nesta masmorra, porque assim há grande chance de descobrirmos a chave para escapar ao derrotá-lo. Agora é a nossa vez. — Brilho J lançou um olhar ao parceiro e melhor aliado, Pistoleiro.

Então, ele puxou o gatilho contra o alvo já mirado.

BANG…!

— …?

Pistoleiro levantou os olhos da mira. Enquanto sua passiva Disparo Mirado estivesse ativada, seus tiros sempre acertariam dentro de certa distância. E agora, com a bênção de Brilho J, teria ainda mais poder e velocidade…

【Sincronização da masmorra ▶ 36.3%】

Então por que ainda estava sorrindo de lá?

— Ei, você atirou direito?

Brilho J o olhou com desconfiança. Pistoleiro estalou a língua e voltou os olhos para a mira. Certo, não tinha como dar errado. Puxou o gatilho novamente, confiante.

BANG!

BANG! BANG! BANG!

Tap.

Pistoleiro abaixou a arma e piscou, incrédulo. O monstro estava intacto. Não era que seus tiros não funcionassem, mas sim que todas as balas ricocheteavam antes de atingi-lo…

— Coisas assim não vão funcionar — disse uma voz calma.

— …Coisas assim? — Pistoleiro virou-se de súbito. Uma mulher de vestido negro e longos cabelos se aproximava com o som nítido de saltos.

— Não viram a janela do sistema que surgiu? Apenas calorosos aplausos e vivas poderão conduzi-lo ao palco. Há condições a serem cumpridas antes de lutar contra o monstro chefe. — Eunha, a mulher, encarou diretamente a coisa pendurada do trapézio e moveu os lábios.

Eunha não sabia exatamente quais eram as condições, mas devia haver pistas escondidas ali. Elas tinham que estar em algum lugar, bastava examinar o campo que havia se transformado repentinamente de floresta em circo. O monstro chefe havia aparecido, mas nem se movia, nem atacava, e nem recebia dano. O cenário peculiar com colunas em vez de árvores, luzes vermelhas em vez da lua, e tapetes em vez de solo. Os esqueletos incorpóreos que agora formavam a plateia.

— E nós, no centro.

A luta seria até a sincronização da masmorra chegar a cem por cento. Em outras palavras, o que importava agora era julgamento mais do que poder de combate, e olhos atentos mais do que julgamento.

Eunha pareceu refletir, então lançou um olhar ao lado. Viu o Sr. Palhaço, olhando fixamente para o trapézio. À primeira vista, parecia assustado…

“Não.”

Se estivesse assustado, teria desviado ou fugido quando as bolas caíram do céu há pouco. Mas não o fez.

— Você… Por que você…

Ele apenas permaneceu ali, encarando a criatura no trapézio com olhos trêmulos. Por isso Eunha pensou que ele estava agitado.

— Você sabe de algo, não é? — Eunha perguntou ao Sr. Palhaço. Ele estremeceu, como se tivesse voltado à realidade, e se virou para ela. — Qualquer coisa serve. Por favor, diga se tiver algum palpite. Cada pequena informação é importante nesta situação.

— Ah…

No momento em que o Sr. Palhaço abriu levemente os lábios…

— Você sabe que está perguntando a um caçador de Rank E, não é? — um caçador próximo falou com olhar de reprovação. — Com o rank dele, provavelmente nunca nem participou da limpeza de portões de nível médio, muito menos de fenômenos de conversão em masmorra.

Não era uma crítica injusta. Era natural. Por isso o Sr. Palhaço sabia e fechou a boca novamente.

Mas Eunha pensava diferente.

— Não precisamos de poder de combate agora. O mais importante é reunir informações e agir de acordo.

— Faz sentido. Mas estou dizendo: por que pedir justamente a ele uma informação tão crítica?

— Então? — Eunha ergueu o olhar de lado e o encarou. Seus cabelos negros deslizaram sobre as faces pálidas.

Ela abriu a boca com olhos firmes. — Alguém aqui notou alguma coisa sobre a situação?

Diferente do passado, a atual indústria dos caçadores tinha algo chamado ranks. Como o mundo havia mudado junto com o tempo que passara, ela aceitava e reconhecia isso. Mas aquilo nada tinha a ver com ranks.

— Ela tem razão. — Brilho J, que observava a situação em silêncio, apoiou o longo cajado no chão. — Vamos ouvi-lo primeiro.

A caçadora de Rank B, de maior classificação entre todos ali. Com suas palavras, o caçador não aliviou a expressão descontente, mas fechou a boca de vez.

Eunha lançou um olhar ao Sr. Palhaço. Vá em frente. Era isso que ela queria dizer.

Só então ele finalmente começou a falar, ainda que de modo hesitante.

— …Nós sempre começávamos as apresentações com malabares.

Nós? Os olhos de Eunha mudaram um pouco ao fitá-lo.

— Se eu estiver certo, essas bolas provavelmente são…

O Sr. Palhaço titubeou e dobrou os joelhos para pegar uma bola do chão.

【Sincronização da masmorra ▶ 43.4%】

Quando pegou uma, duas, três, quatro e cinco bolas, lançou-as levemente ao ar.

Zip, zip, zip…

Assim, o espetáculo de malabares começou.

— Cara, mas que diabos…

Foi justamente quando um caçador abriu a boca, sem palavras diante da cena repentina…

Ding!

【A plateia começa a aplaudir!】

Tic tic tic tic tic tic…

Os esqueletos, que haviam parado, voltaram a mover suas mandíbulas e a produzir sons. Não, desta vez não ficou só nisso. Alguns balançavam os crânios ao acaso ou erguiam os braços ossudos, girando em círculos.

“…Eles estão felizes?”

Eunha desviou o olhar dos esqueletos mudados e voltou a encarar o Sr. Palhaço. Nesse instante, ouviu uma voz assustada atrás dela.

— O-O trapézio…!

Ding!

【A sala de concertos está em ebulição!】

【Nv.60 O Homem que Perdeu o Nome desce ao palco.】

Voom, leap.

A coisa desceu do trapézio.

【Sincronização da masmorra ▶ 50.0%】