Nv. 99 Princesa da Chama Negra

Capítulo 44

Nv. 99 Princesa da Chama Negra

Isso havia acontecido alguns dias atrás.

Hwarang. Era uma guilda liderada por um caçador coreano de Rank A, o Mestre do Arco, e também a guilda da qual Moebius fazia parte. Moebius se recostou no sofá e observou a mulher de preto na tela. Tinha acontecido um mês atrás, mas ele se lembrava claramente. Era a Princesa da Chama Negra, a caçadora de quinta categoria que tinha se infiltrado num Portão de Rank B.

As cartas de Moebius estavam gastas entre seus dedos###TAG###1. Ele se lembrava bem dela, já que a imagem dela tinha se cravado tão fundo em sua mente que não conseguia esquecer.

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— …Ouvi dizer que ela é da primeira geração.

— O quê?

— Ela disse que se formou na primeira turma.

— Aquela mulher.

Moebius não tinha como não ouvir os boatos entre os caçadores. Mas não se importava. Não só era impossível que ela fosse da primeira geração, como, se fosse mesmo uma caçadora tão incrível assim, nunca teria sido avaliada como Rank F, já que a experiência dela corresponderia à de um Rank C.

— Vou te contar, já que parece que você não sabe, mas há dois motivos principais pelos quais caçadores morrem ou se ferem gravemente num portão. Primeiro, quando acontece um acidente inesperado. Segundo, quando entram sem medo num portão que não corresponde à dificuldade deles.

— E daí?

Ao se lembrar da mulher que desafiou sua decisão de não salvar a mãe da criança e rebateu suas palavras, seu humor despencou. Mesmo ao pensar de novo, ela era de fato a caçadora mais insolente.

Aquela qualquer, que tinha sido avaliada como Rank F, devia estar se achando por ter uma guilda grande como a Lobo por trás. Era até risível, já que ela só tinha um contrato mercenário com eles, nem sequer era oficialmente contratada pela Lobo.

Moebius jogou fora as cartas de truque amassadas e pegou o celular. Seus dedos deslizaram pela tela.

↪□□: Arrasa.

↪□□: Gente, precisamos reavaliar

↪□□: ?? Pera, é aquela Chama Negra ou sei lá????

↪□□: Nunca vi ela antes, mas tem um charme estranho

↪□□: Marcha neutra por enquanto.

↪□□: Ahhh Eonni###TAG###2 casa comigo

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A Princesa da Chama Negra, que tinha aparecido no Caçadores Estelares MAIS QUENTES que o Verão, parecia estar sendo avaliada de forma bastante positiva. Moebius sabia bem disso, já que também já tinha participado de um programa. Mas programas eram gravados com roteiro definido, e tudo não passava de um show com uma edição plausível. O público estava sendo enganado por aquele espetáculo ridículo.

Não só o público. Um dos membros da guilda ao lado dele murmurou, surpreso.

— Nossa. Chamar uma caçadora Rank F pro Portão de Ruptura da estação Yeouinaru, o que a Associação tá pensando?

Exato. A Associação também estava sendo enganada. Ingenuamente, por uma encenação bem produzida. Então, eles também precisavam de alguém que dissesse a verdade. Moebius se levantou de repente em meio ao clima agitado.

— Eu irei com a equipe de busca do Portão de Ruptura da estação Yeouinaru.

Os membros da guilda Hwarang olharam para ele em uníssono.


“— Mas por que o Trapaceiro também?”

Clench.

Moebius rangeu os dentes. Parecia que o Trapaceiro e a Princesa da Chama Negra se conheciam. E até pareciam bem próximos.

Era evidente que ela não era uma mulher qualquer, para enganar não só o público e a Associação, mas também o mestre da Guilda Esquadrão.

Ijun, que caminhava na frente, logo parou. As dez ou mais pessoas que o seguiam também pararam.

— Usaremos este lugar como acampamento temporário.

Quando Ijun sinalizou com os olhos, os agentes ao redor fincaram uma bandeira azul-marinho com uma balança dourada. Era o símbolo da Associação.

— Vamos distribuir dois pacotes de comida de emergência e duas garrafas de água por pessoa. Se a guilda vencedora não entrar até o fim do dia, faremos a distribuição exatamente vinte e quatro horas depois. Embora isso provavelmente não aconteça.

Enquanto isso, Eunha foi envolvida por uma sensação estranha ao ver aquele homem dando ordens com tanta naturalidade diante de tantas pessoas. Ela chegou a se perguntar se aquele era mesmo o Ijun que conhecia. Não era só a aparência jovem que contrariava sua imaginação.

— Alguma dúvida, caçadora Yura Lee?

A atitude dele, como se nunca a tivesse visto antes, era o que mais pesava.

Caçadora Yura Lee.

Foi assim que ele a chamou, como se fosse o verdadeiro nome dela.

— …

Eunha piscou devagar. O que encarava eram olhos calmos e estranhos, que pareciam ignorar os trinta anos que haviam se passado. Ela fechou os lábios entreabertos.

— …Ei. Você gostaria de tosar meu cachorro algum dia? Ele é um bichon frisé, se chama William.

— E-eu-eu estava pensando, quando sairmos do portão amanhã… É… Você, você gostaria de… i-i-ir até minha casa?

O Ijun das memórias dela e o Ijun Baek diante de seus olhos se sobrepunham lentamente.

Então, Eunha percebeu mais uma vez. O mundo tinha mudado. E, com isso, era natural que as pessoas também mudassem.

“…Certo, já se passaram três décadas.”

Para Eunha, tinham sido apenas dois ou três anos, mas no mundo exterior, haviam se passado trinta anos. Ela mal se lembrava do presidente da turma na escola primária, então não havia garantias de que ele lembraria o rosto da ex-comandante de esquadrão de trinta anos atrás. Além disso, fazia sentido que ele não a reconhecesse se ela costumava usar uniforme militar ensanguentado e de repente surgia com um vestido de renda. Nem mesmo Eunha tinha certeza de que ele era o verdadeiro Ijun.

“No entanto…”

Sentiu-se um pouco vazia diante daquele fato óbvio.

— Caçadora Yura Lee?

Ijun deu um passo à frente.

— Não é nada.

Eunha recuou um passo. Talvez fosse apenas uma intuição? Ijun pareceu paralisar por um instante. Mas durou apenas um breve segundo.

Ele desviou o olhar com naturalidade. Parecia não ter mais nada a dizer. Eunha também não.

— …Uma hora deve bastar para a primeira busca. Vocês precisarão de um meio de comunicação nesse meio-tempo.

Psss…

Uma aura tênue começou a vibrar ao redor de Ijun. Algo que parecia uma cortina translúcida ou fios de prata tremia como se dançasse, e então se transformou em dezenas de cobras que caíram no chão.

— C-Cobras?

Todos recuaram. Exceto Eunha.

Quando Ijun fez um gesto com a mão, as cobras de escamas brancas ergueram as cabeças ao mesmo tempo. Pareciam soldados bem treinados.

— …

Quando ele sussurrou algo, as cobras se espalharam como se já tivessem combinado.

— Devemos nos mover em duplas, por precaução. Reúnam-se aqui exatamente em uma hora.

Quando Ijun confirmou que todas as cobras brancas haviam sido distribuídas, ele falou:

— Estão dispensados.

Com esse ponto final, as pessoas começaram a formar grupos. Era natural que agentes se juntassem a agentes, e caçadores a caçadores. No momento em que Eunha também observava o entorno para formar um grupo, alguém se aproximou de repente.

— Ah. A Princesa da Chama Negra vai com o agente Sihan Kim.

Era um membro da Associação. Ele empurrou um agente na direção de Eunha como parceiro. Ela até sentiu um certo peso naquela ação, como se não tivesse escolha.

— Olá, prazer em conhecê-la. Meu nome é Sihan Kim.

O homem que se apresentou como Sihan estendeu a mão para Eunha, e ela a encarou com os olhos negros.

— Essa noona vai comigo.

Uma pequena cabeça laranja se enfiou entre os dois. Ela ouviu o agente ao lado engasgar.

— T-Tra…

— Senhor, vai procurar outro parceiro.

— Isso é complicado.

— Por quê?

Minju o encarou de forma desafiadora. A maneira como firmou a empunhadura da bazuca com adesivos de cometas era estranhamente intimidadora.

— Fico curioso por que isso seria complicado.

— …

— Senhor, estou perguntando por quê. Você devia responder. Ou eu não posso aceitar!

O agente Sihan olhou para trás com uma expressão aflita. Ijun nem sequer estava olhando em sua direção. Isso significava que ninguém podia ajudá-lo — ou seja, impedir o Trapaceiro.

— …Pode ir.

— Ah, sério? Obrigado!

Minju pulou de alegria. Sihan os observou com uma expressão um tanto complicada, depois desviou o olhar como se não houvesse nada que pudesse fazer.

— Vamos, noona!

Minju puxou a mão de Eunha com força. Até mesmo ela se surpreendeu com a força do garoto.

— …Então, eu peguei o MK 16 que tinha jogado num canto e converti, mas não gostei muito.

Vinte minutos depois, Minju ainda tagarelava ao lado de Eunha.

— Aí eu refiz ele como uma versão de bazuca, e acho que ficou legal de um jeito próprio.

— Sério?

— Sim. Acho que vai ficar completo quando eu ajustar direitinho. Quer ir lá ver depois?

Parecia que ele não se importava com a busca, só queria mostrar o brinquedo novo para Eunha.

— Claro.

— Sério? De verdade?

Minju pulou surpreso, mesmo sendo ele quem tinha convidado, como se nem esperasse que ela aceitasse. Antenas laranjas brotaram do topo da sua cabeça. Era tão adorável que Eunha assentiu com uma expressão relaxada.

— Sim.

— Oba! Vou te convidar para a sede do Esquadrão em breve. Tem uma sala de produção no subsolo. Com certeza você vai gostar.

— Sala de produção?

— Sim. Nem deixo os membros da guilda entrarem, mas pra você, vou fazer um tour especial. A figura do DDG-101 USS chegou faz pouco também.

Ela sentia a empolgação de Minju pelos ombros agitados.

— Seria divertido montar juntos. Né?

O jeito como ele sorria, empolgado, era como um garoto do ensino fundamental — embora provavelmente não parecesse assim para os outros.

— Ah! Tem meu esconderijo especial atrás da sala de produção, e lá…

Blá, blá, blá.

Enquanto os pequenos lábios dele se mexiam sem parar, Eunha o observava com um olhar peculiar.

“Essa criança é o mestre de uma guilda?”

E não era qualquer guilda. Si-u tinha dito que a Esquadrão de Minju era uma das cinco maiores entre as incontáveis guildas da Coreia.

— Então é melhor não se envolver. Seria melhor devolver a essência do portão pensando no futuro.

…Se soubesse que encontraria Minju ali hoje, teria trazido consigo. Mas jamais imaginou.

Bem, não fazia diferença. Ele mesmo a tinha convidado, então ela poderia devolver a essência quando fosse visitá-lo. Observando Minju, ocupado se gabando da coleção, Eunha abriu os lábios devagar.

— Mas isso aqui não parece estranho?

— Hã? O quê?

Eunha olhou ao redor. Durante todo o trajeto, não haviam visto um único monstro, muito menos sinais de civis.

— Já devíamos ter tido pelo menos uma ou duas batalhas.

Eles ainda não tinham chegado ao centro, mas não haver absolutamente nenhum monstro num local que devia estar infestado era definitivamente estranho.

— Ah. O Maestro provavelmente colocou todos pra dormir — disse Minju, despreocupado, dando de ombros.

“Colocou pra dormir?”

Eunha também conhecia a habilidade única de Ijun.

Feromônio. Simplificando, era a habilidade de atrair seres vivos. As cobras mansas penduradas nos ombros de Eunha e Minju também eram fruto dessa habilidade.

Trinta anos atrás, Ijun já atraía insetos como formigas para dar suporte em combate. Usavam os insetos que ele invocava como combustível de pólvora ou para tapar buracos nos alojamentos destruídos. O Ijun de agora parecia ter ultrapassado aquele nível, passando a controlar cobras ou fazer monstros dormirem.

Minju olhou para a cobra branca em seu ombro e abaixou a voz.

— …É tão conveniente… ou covarde.

Boom!

Algo explodiu no ombro de Minju.

Eunha parou de andar, assustada.

Tap.

Algo caiu sem vida como uma folha aos seus pés.

Era a cabeça da cobra que explodira. Quando Minju se abaixou um pouco para verificar o corpo da cobra, deu um salto.

— Uau. Olha esse sangue vermelho aqui, noona. Parece que era uma cobra de verdade!

Não havia nem sinal de culpa na forma inocente dele.

— Conveniente é o quê? Isso aqui não tem durabilidade nenhuma!

Minju cutucou a cabeça estourada da cobra com a ponta do pé e caiu na risada. A cobra sem cabeça deslizou do ombro dele e caiu diante dos seus sapatos.

— …Elas não eram pra servir de contato em caso de emergência? — Eunha fixou os olhos no corpo da cobra e perguntou. Então, Minju sorriu enquanto estourava um chiclete rosa.

— Noona, você confia no que aquele cara disse?

Um sorriso tão inocente que chegava a ser cruel. Com aquele sorriso no rosto, Minju se aproximou de repente.

— Por favor. Acho que vou me livrar dessa também.

Eunha entendeu na hora para onde os olhos castanhos, redondos e adoráveis estavam olhando.

Ela virou-se para o próprio ombro. As pupilas verticais da cobra a encaravam em silêncio. Teve a sensação de ter cruzado olhares. Não com a cobra, mas com algo dentro daqueles olhos.

— Corra…

Eunha desviou o olhar da cobra e estava prestes a dizer algo a Minju, quando…

Psssst…

Um som estranho se fez ouvir. Eunha e Minju giraram ao mesmo tempo na direção do som.

Era a cobra. A cobra sem cabeça e a cabeça sem corpo estavam se movendo. Os dois pedaços pareciam estar sendo puxados lentamente, mas com força, um em direção ao outro.

— Ué, ela ainda não morreu?

— Que estranho. Eu com certeza matei com um só golpe. — Minju inclinou a cabeça, prestes a acender outro rojão…

Whack!

— Argh?!

Eunha empurrou Minju de repente. Quando ele levantou a cabeça após ser lançado para longe pelo empurrão…

Bang…!

Uma enorme explosão aconteceu bem diante de seus olhos.

  1. Referência tanto a ‘cartas na manga’ quanto a cartas de baralho real que ele usava. Não consegui fazer uma tradução que encaixasse ambos aspectos, foi mal.[###TAG###]###TAG###
  2. 언니, Unnie ou Eonni, é o termo usado por mulheres para se referir a outras como ‘irmã mais velha’[###TAG###]###TAG###