
Capítulo 45
Nv. 99 Princesa da Chama Negra
“Ding.”
【A Criatura Mítica Viajante Felina das Trevas diz: — O que foi, o que foi? — e acorda de seu doce cochilo por causa da explosão repentina.】
【Ela se pergunta se a cobra acabou de explodir e pisca, incrédula. Ela sorri e diz: — Que tipo de cobra explode?】
“Essas explodem.”
Mesmo no passado, Ijun usava insetos como formigas como pólvora. Não havia razão para que cobras não explodissem também.
“Mas colocar espécies explosivas em caçadores?” Eunha franziu levemente a testa. “Por quê?”
O Ijun que ela conhecia jamais faria algo tão perigoso. Ele não tinha a malícia nem a audácia para causar mal às pessoas. Como ele havia mudado nesses trinta anos? Mas isso não importava agora.
“O que fazer…”
O teto e as paredes haviam desabado, e o local estava tomado pela poeira. Eunha se concentrou totalmente na audição. Mas, mesmo com sua audição apurada, não conseguia ouvir nem a voz nem os passos de Minju.
Eunha começou a afastar lentamente os destroços do portão desabado. Parecia que a espessura dos escombros era inimaginável. Teria que limpar tudo para seguir adiante. Mas não sabia quanto tempo isso levaria.
【A Criatura Mítica Viajante Felina das Trevas se assusta ao ver sua mão direita.】
【Ela diz: — Você acabou de ser pega na explosão? Sua mão ficou toda esfarelada — e parece triste.】
— Ah.
Eunha olhou para a mão direita com indiferença. Mão queimada. Pus amarelado escorria da superfície avermelhada da palma.
Ela havia se ferido ao empurrar Minju pouco antes da explosão. Eunha era uma caçadora do atributo fogo e conseguia absorver parte do impacto da explosão. Um civil comum não teria apenas se queimado.
Depois de encarar a própria mão direita, Eunha vasculhou a mochila que havia recebido e tirou uma garrafa d’água e uma toalha.
Derramou água na toalha e envolveu a mão com habilidade. Nem piscou diante da dor latejante, como se ferimentos assim fossem comuns para ela.
【A Criatura Mítica Viajante Felina das Trevas diz que vai curar seu ferimento e pede que você estenda a mão. Ela parece muito aflita com seu machucado.】
Eunha olhou para a janela de mensagem amarela tremendo, depois desviou o olhar. Não era hora de se preocupar com uma queimadura leve.
“Tenho algo pra fazer primeiro.”
Eunha prendeu firmemente a toalha úmida na mão e abriu a boca devagar.
— Ijun Baek. — Eunha lançou um olhar à cobra em seu ombro.
As pupilas verticais a observavam em silêncio. — Está ouvindo, não está?
Nenhuma resposta veio. Mas Eunha tinha certeza de que Ijun estava ouvindo sua voz.
— Houve um acidente. Envie reforços.
Seria muito mais rápido e eficiente se várias pessoas retirassem os destroços, por isso pediu ajuda.
Mas ainda assim, não houve resposta.
Talvez a telepatia não estivesse funcionando por causa dos escombros do portão. Ou talvez ele estivesse a ignorando de propósito.
— …
Eunha se virou. Nesse caso, teria que ir até a tropa principal pessoalmente e pedir ajuda.
Seguindo pelo corredor e andando sem direção fixa ao longo da parede interna, ela avistou um enorme monstro, provavelmente o chefe intermediário, roncando em sono profundo. Era um monstro do tipo dragão, reconhecido por ser difícil de enfrentar. Suas escamas resistentes a quase todos os ataques e os espinhos que percorriam suas costas longas eram bastante selvagens.
— Noona, olha as garras desse monstro! Acho que dá pra fazer umas armas boas com isso. Vamos levar uma?
— Deixa.
Era um local por onde ela e Minju já haviam passado. Significava que estava no caminho certo.
Logo após lançar outro olhar ao dragão adormecido e virar-se para seguir rumo à tropa principal, Eunha parou de repente.
— Tem algo que quer me dizer?
Havia uma confiança inabalável em sua voz calma. A confiança de que não estava sozinha.
Após um breve silêncio, ela ouviu uma risada baixa ao longe.
Strut, strut.
Os passos se aproximaram.
— Já tinha sentido da outra vez, mas parece que sua audição é excelente.
Era um homem de cabelos longos, Moebius.
— O que aconteceu com o Trapaceiro pra você estar sozinha? Ótimo. Também me separei do meu parceiro.
Ele encarou Eunha diretamente e sorriu. Aquela era sua chance. Estava esperando a oportunidade certa desde que entrou no portão. O fato de ela ter vindo com o Trapaceiro fora inesperado, mas talvez estivesse com sorte. Ela estava sozinha agora.
— Mesmo que os monstros tenham sido colocados para dormir pelo Maestro, ainda assim é perigoso uma caçadora de Rank F andar sozinha. Vou com você.
Eunha respondeu imediatamente, sem nem fingir pensar. — Dispenso.
— Vai ser perigoso.
— Nem um pouco.
Eunha passou por Moebius. Ele cerrou os lábios ao encarar os cabelos negros que esvoaçaram diante dos seus olhos.
— …Sua atitude continua a mesma.
Eunha ainda não respondeu. Não podia se dar ao luxo de falar demais naquele lugar. O monstro adormecido podia acordar, e ela precisava se apressar para reencontrar Minju.
O desprezo claro e resoluto de Eunha deve ter sido desagradável, pois o sorriso de Moebius se quebrou. Moebius odiava caçadores como ela. Do tipo fraco, mas que ignorava a própria fraqueza e a embrulhava como se fosse bravura. Ele desprezava os caçadores de conceito que mal tinham habilidades, mas ganhavam dinheiro fazendo charme.
E a Princesa da Chama Negra à sua frente reunia perfeitamente os dois traços que ele mais odiava. Pensando no futuro da indústria dos caçadores, era seu dever, como veterano, punir caçadores repugnantes como ela.
— Igual da última vez, você é uma caçadora de Rank F que não valoriza a própria vida, mas se finge de corajosa.
— …
Só então Eunha parou de andar e olhou para trás. Seus olhos negros deslizaram até a cobra branca no ombro dele.
— Cuidado com o que diz.
— O quê?
— Nunca se sabe quem está ouvindo.
Eunha o advertiu brevemente e voltou a caminhar como se não tivesse mais nada a dizer.
— Que sabichona — rosnou Moebius. Parecia que o aviso de Eunha nem tinha feito efeito.
Mas ela não parou. Quando o som dos saltos dela se perdeu…
Bam!
Algo caiu do alto. Eunha se virou ao som ensurdecedor da explosão.
— Grrrrt…
【O Guardião do Labirinto Azul de Nv. 50 abriu os olhos!】
Suas pupilas negras analisaram a situação num instante. Parecia que uma rocha havia caído na cabeça do monstro adormecido. Eunha levantou o rosto e olhou para o teto do portão. Não havia sinal de desabamento nem rachaduras.
“Neste caso…”
Ela viu Moebius rindo à distância. Sua habilidade única era telecinese, que permitia mover objetos sem tocá-los. Ele podia ter derrubado uma pedra próxima sobre o monstro dormindo com os olhos fechados. Eunha parou e abriu a boca com uma expressão levemente cansada.
— O que é que você quer fazer?
— O que eu quero fazer? — Ele se escondia pela metade atrás de uma coluna e ria, como se estivesse ansioso pelo que viria a seguir. — Só quero confirmar a verdade. Saber o que você, uma caçadora de Rank F, é capaz de fazer aqui.
Era o sétimo ano de Moebius como caçador, e ele conhecia bem os portões e as leis de gerenciamento de caçadores.
Convenientemente, não havia câmeras de segurança dentro de portões. Portanto, ele não seria punido criminalmente nem interrogado pelo que acontecesse ali dentro. E graças a Minju, que gentilmente derrubou o portão, nenhum caçador os encontraria por enquanto. Todos esses fatos faziam Moebius se sentir justificado.
— Espero que decida se vai ser uma caçadora de conceito ou uma caçadora de verdade — ele alertou, parando de sorrir com os olhos. — Porque isso é repulsivo.
Crrrrrr!
【O Guardião do Labirinto Azul de Nv. 50 encontrou você! Aviso: o monstro acordado entra em modo de fúria por um tempo determinado.】
【O poder das habilidades do Guardião do Labirinto Azul aumenta temporariamente em 30%】
【Os olhos do Guardião do Labirinto Azul brilham. Habilidade ▶ Nevasca Congelante.】
Shhhh!
Uma nevasca tão forte que mal conseguia abrir os olhos varreu o local. Moebius já tinha sumido. Eunha clicou a língua.
Ela poderia persegui-lo, se quisesse, pois tinha capacidade suficiente para despistar aquele monstro.
Mas não fez isso.
Se um monstro tão grande começasse a se enfurecer, também acordaria os outros. Precisava derrotá-lo ou incapacitar a fera antes que o estrago aumentasse.
Eunha estendeu a mão esquerda em direção ao monstro. Precisava dissipar aquela nevasca agressiva.
【Aviso. Cuidado com Anomalia de Status: Congelamento.】
Psss.
As pontas dos dedos começaram a congelar. Aconteceu antes mesmo de conseguir invocar suas chamas. Poderia simplesmente derretê-lo, mas não havia chance de o monstro esperar. Sua outra mão estava levemente queimada. Ou seja, ambas estavam inutilizadas. Porém…
“Não importa.”
Aquilo não era nada comparado a ter o braço arrancado. Estar com as mãos inutilizadas não era problema, pois, se quisesse, suas chamas sempre estariam ali.
Flash!
Chamas negras floresceram sobre os ombros de Eunha.
【AVISO. Você não pode derreter a neve inimiga com um ataque de atributo fogo.】
A janela do sistema surgiu diante de seus olhos, como se zombasse dela.
Claro. Era uma nevasca tão forte que apagaria um fogo comum como se fosse um fósforo. Certo, se fosse um fogo comum.
— Só quero confirmar a verdade. Saber o que você, uma caçadora de Rank F, é capaz de fazer aqui.
Moebius provavelmente estava escondido em algum lugar, assistindo Eunha ser esmagada pelo monstro. Se ele queria a verdade, ela deveria mostrar.
Whoosh!
As chamas negras dançantes em seus ombros se estenderam à sua frente.