Capítulo 6

Tendo retornado para sua cabana, Eunha examinou atentamente seu saque, o Vestido de Seda Negra. A vestimenta era feita de duas camadas, uma de malha e outra de seda preta, e se armava em formato de guarda-chuva arredondado, sem necessidade de anágua. Havia uma rosa preta como corsage no peito e uma fita preta enfeitando as costas. Um tecido translúcido e cintilante envolvia seus ombros como uma echarpe.

— Hmm. — Uma carranca tão densa quanto a angústia de Eunha surgiu em sua testa. Pensando bem, ela só havia usado uniforme escolar até o ensino médio e, depois de ser convocada, uniformes militares. Nunca havia vestido propriamente um vestido de verão, muito menos uma peça tão elaborada como aquele traje. Era extravagante demais para ela. Eunha se perguntou se seria sequer possível lutar vestindo roupas tão soltas.

“Mas ainda assim… Esse vestido deve ser útil em algum lugar, como a sombrinha.”

Saque era saque. De fato, fazia tanto tempo desde a última vez que Eunha lavara o uniforme militar que ele exalava um cheiro forte e desagradável. Estava rasgado em vários pontos também. Ela podia curar seu corpo com o kit de emergência e seus poderes de caçadora, mas não podia reparar as roupas. Com determinação, Eunha tirou o uniforme militar e, com cuidado, começou a vestir o novo traje.

Eunha permaneceu parada, agora com o vestido. A sensação da seda negra contra sua pele não era nada ruim. Contudo, era óbvio que um tecido tão fino e delicado seria facilmente rasgado pelas garras dos monstros. Os uniformes militares eram revestidos com materiais especiais, mas aquele vestido… Eunha lançou um olhar nada amistoso à peça.

A fogueira mortiça iluminava seu rosto. Eunha baixou os olhos para sua imagem refletida numa poça d’água.

— …Eu fico bem com isso?

Sua pele, já branca, tornara-se ainda mais pálida após tanto tempo sem ver a luz do sol. Seus cabelos negros, sem corte, agora desciam até a cintura. Seus cotovelos, joelhos e bochechas estavam cobertos de crostas e cortes. Com o vestido preto e a sombrinha, Eunha parecia uma vampira saída de uma história de fantasmas. De qualquer forma, por que nada acontecia mesmo vestindo o vestido?

“Talvez ele só ative em situações específicas?”

Eunha levantou a barra do vestido e girou sobre o próprio eixo. Nada aconteceu, como era de se esperar.

Então, seu estômago roncou. Eunha decidiu estudar o vestido mais tarde e priorizar uma refeição. A maneira mais eficaz de recuperar sua saúde era comer bem e dormir bem. Ela checou as entranhas do monstro que havia caçado no dia anterior. Estavam bastante secas. Eunha as reuniu em um único lugar para fazer uma fogueira. Quando colocou a carne magra sobre as pedras que prendera acima do fogo, pôde ouvir o som apetitoso da carne assando.

— …Ptwey. — Apesar do som, o sabor era horrível. Embora já devesse estar acostumada, ainda era difícil conter o impulso de vomitar. No momento em que limpou a boca, uma janela de mensagem amarela surgiu.

Algo caiu à sua frente, acompanhado de uma breve fanfarra barulhenta. Era um pequeno pote de vidro contendo um pó branco que parecia sal. Com ele, a carne nauseante se tornaria mais comestível.

— Obrigada. — Eunha nunca imaginara que uma criatura mítica seria útil dessa maneira.

Justo quando estava prestes a temperar a carne com sal e dar a primeira mordida, uma nova mensagem apareceu.

Pimenta também? Eunha não sabia se o gato era mesmo uma das doze Criaturas Míticas, mas sem dúvida estava sendo muito útil.

“Estou apenas aceitando o que está sendo oferecido.”

A pimenta neutralizou perfeitamente o gosto gorduroso. Eunha pegou o pote de pimenta e o trouxe para perto da carne já salgada.

— Já chega. Eu preciso comer. — Eunha pressionou o botão de fechar da janela amarela. Então, outra mensagem apareceu.

Foi a primeira refeição saborosa em muito tempo.

Alguns dias depois, o portão resetou novamente.

Um monstro.

Dois monstros.

Três monstros.

Dezessete monstros.

As batalhas duraram mais do que Eunha imaginava, mas isso não importava, graças ao que aprendera sobre como usar o vestido e a sombrinha nos últimos dias. Sobre a sombrinha, não havia mais o que comentar: era extremamente poderosa. Quanto ao Vestido de Seda Negra, que antes parecia inútil, era surpreendentemente leve e, ao mesmo tempo, mais resistente do que qualquer armadura. Mesmo os monstros não conseguiam rasgá-lo com as garras.

O contrato com a Criatura Mítica também impulsionara o crescimento explosivo de Eunha. A habilidade única Garras Felinas era uma técnica passiva que deixava uma imagem residual cortante em todos os ataques dela, causando dano adicional. Eunha conseguia eliminar os monstros com muito mais facilidade. Não evitava mais as investidas das criaturas, em vez disso, balançava sua sombrinha para enfrentá-las.

Bam!

O monstro que foi lançado no ar com um baque surdo simplesmente se desintegrou.

Os ombros de Eunha subiam e desciam enquanto ela arfava. Embora tivesse se tornado incomparavelmente mais forte do que antes, ela ainda era humana e tinha resistência limitada. Durante horas a fio, Eunha vinha destruindo monstros sem descanso. Como resultado, conseguiu realizar a façanha esplêndida de eliminar perfeitamente todos os monstros no portão. Eunha ergueu lentamente a cabeça. De dentro das sombras, seus olhos negros e cintilantes surgiram afiados. Ela se abaixou e pegou sua sombrinha caída. Em seguida, caminhou devagar até a montanha de carcaças monstruosas.

Uma janela de mensagem amarela apareceu, como se preocupada com ela.

Eunha não deu sequer um olhar para a janela de mensagem e apenas continuou andando para dentro. Quando chegou diante do monte de carcaças, firmou as mãos na sombrinha.

Stab! Stab! Stab!

Sangue espirrou para todos os lados e flores vermelhas desabrocharam sobre seu vestido negro. Os monstros mortos começaram a perder braços e pernas. Seus músculos rasgados se agarravam à sombrinha e pendiam dela.

— Vocês, filhos da puta, nem carcaça intacta merecem ter. — Sua voz afundada ecoou pela caverna. Ela sentia vívida a sensação de rasgar carne, agora mais familiar do que segurar um lápis.

Thud.

Algo caiu aos pés de Eunha: a pulseira dos desejos. Ao ver a joia que fora cortada durante a batalha contra um monstro de Nv. 30, os olhos negros de Eunha se endureceram mais uma vez.

— Vou cortar seus braços e pernas, e suas veias do mesmo jeito.

Eunha jogou a sombrinha para o lado sem a menor hesitação. Em vez da sombrinha sem vida, pegou uma pedra.

Stab! Stab! Stab!

Ela perfurava, cortava e destruía. Nem mesmo o gato ousou dizer qualquer coisa diante daquela figura insana de costas. O dilúvio cruel e sádico só terminou quando Eunha reduziu os monstros a pó com suas chamas. Graças a isso, não restou sequer um pedaço de carne para o jantar, mas isso não importava. Com as mãos manchadas de sangue seco, ela remexeu os bolsos. Ao encontrar a pulseira dos desejos quebrada e sem vida, a fúria reacendeu em seu peito.

De volta à cabana, Eunha procurou o kit de emergência sem nem se preocupar em limpar o rosto. Com as mãos endurecidas pelo sangue seco, tirou uma agulha médica e linha, e começou a costurar a pulseira com cautela. Embora tivesse prestado um cuidado de emergência, havia limites para o que podia consertar com ferramentas tão inadequadas.

Sem sequer comer, Eunha encostou-se nas paredes da cabana. Fechou os olhos devagar, com a pulseira dos desejos apertada entre as duas mãos.

— Mamãe! Olha, eu fiz isso!

— Uau, onde foi que minha Eunha aprendeu a fazer uma coisa dessas?

— Foi minha professora que ensinou. Vou te dar, mamãe. É uma pulseira dos desejos, então vai fazer seus desejos se realizarem!

— Sério? Então pode amarrá-la no meu pulso?

Eunha, com suas pequenas mãos gordinhas, amarrou um nó desajeitado no pulso da mãe.

— Mamãe! O que você desejou?

— Uhm. Eu desejei…

O que… mesmo que ela tivesse desejado?

O tempo passou, e Eunha despertou de seu leve cochilo. Quando coçou os olhos distraidamente, percebeu que a pulseira não estava mais em seu pulso e deu um salto. Deu um pulo e começou a procurar por toda a cabana. Logo encontrou a pulseira caída em um canto.

“Quase perdi ela.”

Um alívio se espalhou por seus olhos aguçados. No instante em que segurou a pulseira, percebeu que ela estava completamente restaurada. Era óbvio que não fora Eunha quem a consertara, nem algum monstro. Ela permaneceu parada por um bom tempo, observando a pulseira.

“…O gato.”

Houve uma pausa.

— …Foi você?

Eunha contemplava a pulseira com um olhar insondável quando, de repente, ergueu a cabeça e falou à janela de mensagem amarela.

— …Obrigada.

Ela apertou a pulseira dos desejos com suas mãos marcadas por cicatrizes.

Deve ter ficado tão contente por ouvir Eunha agradecer que a janela de mensagem amarela começou a dançar alegremente. Eunha pendurou cautelosamente a pulseira restaurada no pulso. Não esqueceu de fazer um nó firme, para que nunca mais a perdesse ou a rompesse por acidente.

Subitamente, o corpo de Eunha começou a brilhar. Um raio de luz quente limpou as manchas de sangue de seu rosto, mãos e vestido.

Um leve sorriso despontou nos lábios de Eunha enquanto encarava a mensagem. Ela não podia ver o gato, mas era como se seus olhares tivessem se encontrado.

O tempo passou, ainda que devagar, sem jamais parar. O gato, de quem antes desconfiava, havia se tornado um ajudante surpreendentemente competente, e seu único amigo naquele espaço fechado.

Quando estava à beira da morte ou descansava na cabana, Eunha sempre estava acompanhada do gato, enquanto, de vez em quando, falava sobre os velhos tempos.

Talvez fosse apenas intuição, mas as batalhas pareciam ficar mais fáceis quanto mais próxima ela se tornava do gato. Talvez fosse apenas porque o tempo havia passado. A Sombrinha Elegante, mais flexível do que imaginava, o Vestido de Seda Negra, que reduzia enormemente o dano recebido, e o poder único do gato, todos ajudavam imensamente nas batalhas.

Graças a esses itens, ela conseguiu terminar as batalhas contra o terceiro e o quarto monstros nomeados de forma bastante limpa. Eunha listou os quatro saques que havia adquirido até o momento: primeiro, a Sombrinha Elegante; segundo, o Vestido de Seda Negra; terceiro, o Pingente de Rosa Negra; e quarto, os Sapatos de Espinhos.

“Falta só mais um.”

Radiante, Eunha brincava distraidamente com seus saques.