
Capítulo 4
Nv. 99 Princesa da Chama Negra
— …Jun. Ijun.
Ijun estava sentado, atônito, na sala de espera do aeroporto quando virou a cabeça. Seus olhos prateados pareciam desfocados, vazios e enevoados.
A mãe de Ijun olhou para o filho com uma expressão complexa, mas logo lhe deu um tapinha no ombro.
— Vamos. Logo vai ser hora de embarcar.
— …Tá bom. — Ijun caminhou pelo interior do aeroporto ao lado da mãe. Via ao longe o avião que partiria para os Estados Unidos. Sabia que, uma vez a bordo, não seria fácil voltar à Coreia. Por algum motivo, o pensamento fazia seus passos parecerem ainda mais pesados.
— Ai, meu Deus, eu completamente esqueci. Em qual portão era pra embarcar mesmo? — Ela remexeu na bolsa. Ijun estava parado silenciosamente ao lado dela quando, de repente, ergueu a cabeça para o letreiro: ‘Portão 21’. Portão. A palavra fez seu coração afundar. Seus olhos vazios começaram a tremer violentamente. O tremor se espalhou dos ombros até a ponta dos dedos e dos pés, e Ijun acabou desabando no chão.
— Isso mesmo. Portão número 21. Estamos bem na frente… Hã? Jun? — Ela se assustou ao ver o filho tremendo como uma folha e agarrou seu ombro. — Você está bem? Jun, Ijun Baek!
— …Ela. — Uma lágrima cristalina caiu dos olhos de Ijun. — Eu a deixei lá. — Mais uma vez, soltou um suspiro profundo.
Diferente da Coreia, onde todos os caçadores despertos eram convocados, nos Estados Unidos era diferente. Além disso, o pai de Ijun era Tenente-Coronel do Exército Americano, prestes a ser promovido a Coronel, e já havia despertado como caçador há tempos. A mãe de Ijun achava quase cruel que o filho recusasse trabalhar ao lado do pai e preferisse ficar na Coreia. Ela fingia não perceber quando brincava dizendo que ele devia ter se apaixonado.
— Jun…
No entanto, desde a última incursão, seu filho havia se quebrado. Tremia e surtava ao ver um gato de rua, ficava em choque ao avistar alguém de uniforme militar de caçador. Sempre foi um garoto de coração mole. Era compreensível, afinal, vira todos os seus colegas serem massacrados diante de seus olhos. Se soubesse que ele ficaria assim, tê-lo-ia arrastado para os Estados Unidos à força. Agora era tarde demais para arrependimentos.
Ela abraçou o filho, tomada de ansiedade e culpa, e beijou sua testa suada e fria.
— Jun, eu repito, não foi sua culpa. Foi um acidente inevitável.
— M-mas…
— O sistema de caçadores na América é mais organizado e seguro que o da Coreia. Vamos tirar alguns meses de descanso da caça, e depois você pode começar de novo na guilda que seu pai vai fundar. Tudo bem? Você não precisa fazer nada que não queira. — Ela repetiu o que já dissera no dia anterior.
Ijun ergueu os olhos molhados em vez de responder. Portão 21. O letreiro amarelo sobre sua cabeça brilhava intensamente, como se o puxasse e o acusasse. Ele achou ter vislumbrado as chamas de Eunha além do campo de visão turvo.
— Eunha… — Ijun não conseguiu desviar o olhar até que as portas do elevador se fecharam.
Drop.
Estava frio.
Drop.
Algo frio continuava batendo em seu rosto. Ela forçou suas pálpebras teimosas a se abrirem. Eunha percebeu que havia desmaiado e se ergueu com dificuldade.
— Ugh.
Caiu de novo para a frente. Seu ombro direito latejava. Na verdade, era uma dor lancinante, como se seu braço tivesse sido arrancado, o que, de fato, havia acontecido. Óbvio ou não, o sistema de autocura dos caçadores não podia regenerar um braço amputado. Pelo menos o sangramento havia parado depois que cauterizou a ferida com fogo. Sua pele queimada brilhava, mas sua capacidade de cura e o unguento do kit de primeiros socorros dariam conta. Poderia ficar com uma cicatriz, mas não se importava com isso, se se importasse, não teria explodido o próprio braço.
Eunha se levantou, oscilando. Descobriu que ainda conseguia andar. Era quase estranho pensar que isso era graças à autocura de caçadora. Apesar de ter estancado o sangramento, já havia perdido muito sangue e sofrido uma queimadura severa.
“Mas meu corpo está… bom demais…”
No momento em que deu um passo hesitante, algo prendeu seus pés. Era uma sombrinha preta. Eunha piscou.
【Parabéns! Você adquiriu a Sombrinha Elegante pertencente à Princesa da Chama Negra!】
Era o que dizia a mensagem antes de desmaiar, se não estava enganada. Eunha hesitou por um momento e pegou o objeto.
Whip.
Seu rosto se contorceu ao abrir a sombrinha. Um par de meias da mochila de Ijun teria sido mais útil.
— …Onde, exatamente, eu vou usar isso? — resmungou, examinando o item.
Não havia criado expectativa ao ver o nome, e agora, aberta, continuava não criando. A sombrinha negra era coberta de padrões de rosas negras em excesso. A renda que a envolvia era opressora. A expressão ‘lixo bonito’ parecia ter sido criada só para ela.
— …Acho que vou levar comigo. Afinal, é meu primeiro saque.
Monstros derrubavam itens em raras ocasiões ao serem eliminados. Diziam que quanto mais alto o nível do monstro, maior a chance de drop e o nível do item. O monstro mutante que ela havia derrotado era nada menos que de Nv. 68. A sombrinha era o saque deixado por tal criatura, então tinha que ser útil. Tinha que ser. Ela havia trocado o braço direito por isso.
No caminho de volta para sua cabana, Eunha recordava o enorme monstro de elite toda vez que seu ombro latejava.
“Foi o primeiro monstro nomeado.”, A mensagem dizia claramente: ‘Você eliminou o primeiro monstro nomeado!’
“Isso deve significar que existem o segundo e o terceiro também.”, E, além disso, havia uma alta probabilidade de existir um último monstro nomeado. “Se eu matar o último monstro nomeado, talvez consiga sair daqui.”
Apesar de ser apenas uma pequena esperança, ela ficava mais nítida a cada segundo. Eunha logo chegou à sua cabana. Seu ombro pulsava. Precisava pegar o kit de primeiros socorros. Ela abriu a aba da entrada após olhar ao redor e desapareceu para dentro.
Ding!
Uma pequena mensagem surgiu atrás dela.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas pisa em sua sombra. Suas íris douradas a observam atentamente.】
A mensagem que apareceu sem ninguém à vista era diferente da janela azul normal, mas ninguém sabia por que ou para quem ela surgiu ali.
Agora que havia perdido o braço direito, Eunha só podia conjurar fogo com a mão esquerda. Em outras palavras, sua capacidade de destruição estava reduzida pela metade. Felizmente, nenhum monstro mutante havia aparecido desde então, mas ninguém sabia quanto tempo ela ainda ficaria presa naquele portão. Precisava compensar a perda de poder de combate.
Eunha puxou a sombrinha e a estudou. Relutava em lutar usando um item como aquele. Mas, ainda assim… Tinha que ser útil de alguma forma. Era um drop de um monstro de Nv. 68. Tinha que ser útil. Ela praticamente se hipnotizou com esse pensamento, confortando-se, então levantou a cabeça e encarou o monstro à sua frente.
【Nv. 30 Tigre Negro de Olhos Vermelhos está petrificado. Nv. 30 Tigre Negro de Olhos Vermelhos usa uma habilidade. ► Contra-ataque Final. O monstro está enfurecido / confuso. Seu poder ofensivo aumentou significativamente.】
Enfrentar monstros de nível 30 já não era difícil, então aquele tigre era o melhor oponente para testar. O monstro avançou com a boca aberta, seus caninos reluzindo como se estivesse pronto para engoli-la. Instintivamente, Eunha balançou a sombrinha. Estava prestes a usá-la como um porrete.
Booom!
— Hã? — ela soltou, sem entender. O monstro que vinha em sua direção desaparecera sem deixar rastro.
【O monstro foi eliminado!】
Ta-da!
A mensagem familiar surgiu acompanhada por um BGM###TAG###1 animado. Eunha nem olhou para a mensagem, apenas fixou o olhar no chão. O monstro havia sumido, deixando para trás montes de cinzas negras. Piscou lentamente, alternando o olhar entre as cinzas e sua arma. Aquela não era uma sombrinha comum.
###TAG###Com o passar do tempo, a suspeita dela transformou-se em certeza. A sombrinha era mais afiada e resistente que qualquer lâmina ou bastão. A ponta perfurava facilmente as peles espessas dos monstros, e, se balançada com mais força, desintegrava-os.
— O saque de monstros de nível 60 ou superior é de outro nível. — Eunha encarou a sombrinha em sua mão. Foi o momento em que aprendeu que não se deve julgar um item, ou uma pessoa, pela aparência. Talvez pudesse até derrotar o segundo monstro nomeado com aquilo.
Eunha fechou a sombrinha e se aproximou do monstro caído. Sem hesitar, estendeu a mão esquerda em direção ao tigre, que gemia como se pedisse misericórdia.
Whoosh.
As chamas escarlates engoliram a criatura com grande força.
— Hoje não vou precisar me preocupar com o jantar.
Mas não conseguiria carregar toda aquela carne de uma vez. Precisava cortá-la em pedaços. Estava prestes a desembainhar a adaga quando—
Ding!
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas observa você. Suas íris douradas brilham como estrelas.】
Eunha congelou no meio do movimento. Normalmente, as mensagens eram azuis, mas aquela era maior que o normal e cintilava em amarelo brilhante.
— O quê?
Talvez porque Eunha não tenha reagido, outra mensagem apareceu.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas diz: — O quê? Nunca viu uma Criatura Mítica antes? — e mexe seus bigodes.】
Uma Criatura Mítica? Nesse momento, uma memória lhe veio à mente.
— Sempre tive curiosidade… Eunha, você já fez contrato com alguma Criatura Mítica?
— Não.
— Sério? Por quê? Você era tão forte que achei que já tivesse feito. Eunha, acho que o dragão combinaria com você entre as doze Criaturas Míticas, já que é a mais forte.
Ding!
A mensagem dourada apareceu em frente aos olhos de Eunha novamente.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas propõe um contrato a você. Você aceita?】
- Background music[###TAG###↩]###TAG###