Capítulo 16

Capítulo 17: Algumas Coisas

“Olá!”, Tim chamou alegremente enquanto o corpo de Noah se espatifava contra a jaula de ferro, sacudindo seu cérebro latejante em seu crânio e enviando espasmos de agonia por todo ele. “Vejo que suas roupas sobreviveram à viagem desta vez.”

Se você soubesse…

Noah grunhiu em concordância, incapaz de reunir energia para dar uma resposta melhor. Ele deu a Tim um sorriso fraco, só para garantir que o homem não se ofendesse muito com sua repentina falta de interesse em comunicação, e então entrou no elevador.

Sua cabeça protestou furiosamente contra sua morte durante todo o caminho de volta para o seu quarto, intensificando-se a cada barulho alto ou luz forte. Quando finalmente tropeçou no quarto, sentiu como se estivesse com enxaqueca há pelo menos um mês.

Amaldiçoando em voz baixa, Noah cambaleou até sua cama e enterrou a cabeça sob o travesseiro, abafando os tênues chilreios dos pássaros e a conversa distante vinda de baixo de sua janela. Apertou os olhos com força e se concentrou no ritmo de seu batimento cardíaco, usando-o como uma tábua de salvação para tentar se livrar da dor.

Não funcionou muito bem, mas ele não conseguia pensar em nada melhor para fazer. Noah permaneceu ali por várias horas até que a dor finalmente começou a diminuir e ele foi capaz de recuperar o controle de suas faculdades.

Noah saiu da cama e fez um desvio até o banheiro para jogar água fria no rosto. Passou as mãos pelo cabelo e suspirou, apoiando-se na pia e encostando a cabeça no espelho.

“Idiota. Você se deixou ficar confiante demais.” Ele apertou os lábios e se endireitou. Não adiantava prometer a si mesmo que evitaria isso no futuro. Tinha sido um lembrete doloroso, mas sua vantagem havia sido martelada de volta em sua cabeça.

Os monstros eram mortais, mas ele tinha chances infinitas de lutar contra eles. Ninguém mais tinha, o que poderia ser o motivo pelo qual os alunos não percebiam como era simples derrotar os Carniceiros. Se isso valesse para tudo…

Um pequeno sorriso puxou os lábios de Noah, mas não foi o suficiente para tirá-lo de seu aborrecimento. Ele balançou a cabeça e fechou os olhos, alcançando sua mente para verificar o progresso de suas Runas.

Elas o saudaram como um velho amigo, os sete padrões brilhantes piscando para a vida na escuridão ao seu redor. A pressão da Runa de Destruição [1] acima de Noah pesava sobre ele, mas ele evitou deliberadamente olhar para cima.

Havia muita coisa para lidar, e ele não ousava mexer mais naquela Runa enorme até que pelo menos tivesse um conhecimento rudimentar de suas Runas normais. Os olhos de Noah foram atraídos pela borda da escuridão em seu espaço mental.

Manchas brilhantes de vazio branco estavam aparecendo enquanto uma pequena seção de energia escura se desfazia. Noah se aproximou com uma carranca nervosa, observando enquanto um minúsculo fragmento de preto desaparecia no nada branco.

Não estava no mesmo ponto onde o dano anterior havia ocorrido, mas estava perto. Além disso, uma porção do dano anterior havia se curado novamente, mas ainda não havia se recuperado completamente.

“Então é isso. Eu sofro alguma forma de dano mental ou na alma sempre que morro”, Noah percebeu. “Não é permanente, pelo que parece.”

Ele soltou um suspiro de alívio.

“Graças a Deus. Existe um limite. Isso significa que não está completamente fora do meu controle. Qualquer coisa sem um limite real é limitada por algo que você não entende, e o preço por isso não parece tão ruim. Ainda assim… Eu quero saber por que volto à vida e por que é na cabaça. Aquele demônio me amaldiçoou? Ele também tinha uma cabaça que simplesmente carregava por aí? Droga. Perguntas demais.”

Noah observou os pequenos pedaços de vazio branco, mas eles não estavam ficando maiores. Ele tinha quase certeza de que eram eles que estavam causando sua dor de cabeça também. A fragmentação de sua mente ou alma – seja qual for a que ele estivesse atualmente – não poderia ter sido indolor.

A julgar pela taxa de cura no dano anterior, Noah tinha quase certeza de que levava alguns dias para consertar uma única morte. Contanto que ele evitasse chutar o balde mais do que isso, ele tinha certeza de que tudo ficaria bem. Não deveria ser saudável morrer mais de uma vez a cada poucos dias de qualquer maneira.

Noah retornou ao centro de seu espaço mental e se aproximou da Runa de Vibração. Ela soltou um zumbido suave quando ele se aproximou. A Runa estava mais brilhante do que antes, e Noah podia sentir a energia dentro dela.

Havia mais, sem dúvida, embora ele ainda não pudesse dizer exatamente quanto. As outras Runas de Noah também ganharam alguma energia, sem contar as Runas de Vento completas. Ele sorriu com satisfação.

Fazer progresso parecia bom. Muito melhor do que a corrida de ratos terrível de ser um professor na Terra.

Um leve aperto de saudade ecoou pelo peito de Noah. Ele não sentia falta da administração ou do salário terrível, mas seus alunos tinham sido uma das poucas lembranças que realmente lhe fizeram companhia durante sua longa espera na fila.

Ele tinha certeza de que provavelmente todos o tinham esquecido e já estavam mortos há muito tempo, mas isso não mudava as coisas nem um pouco. As mãos de Noah se fecharam. Não importava se ele estava na Terra ou em qualquer planeta que fosse.

Quaisquer alunos seus teriam a melhor chance de vida que pudessem.

Noah abriu os olhos para o banheiro e se virou da pia, voltando para o quarto principal. Ele precisava –

O rosto feio de um Carniceiro espiou para ele de além da janela. Noah se lançou para o lado e invocou uma lâmina de vento em suas mãos, puxando-a para trás para atirá-la –

Não havia nada na janela. O coração de Noah disparou em seu peito, batendo violentamente enquanto ele ficava parado por vários segundos. Ele se aproximou lentamente da janela, a lâmina de vento ainda preparada acima de sua palma. Não havia nada.

Noah soltou uma respiração lenta e tentou acalmar seus nervos à flor da pele. Ele deixou vários minutos passarem e diminuiu sua respiração, concentrando-se em liberar a tensão em seu corpo.

Estou lutando demais se estou começando a ver coisas. Quem diria que a mente humana não está exatamente psicologicamente preparada para lutas e mortes constantes.

Noah permaneceu ali por mais alguns minutos antes de ter certeza de que tinha controle total sobre si mesmo novamente. Não havia nada que ele pudesse pensar em fazer sobre a visão, então ele voltou sua atenção para tarefas mais produtivas. Noah se sentou em sua mesa, pegou seu grimório e o colocou na frente dele.

Um pensamento atingiu Noah. Ele piscou, então começou a sorrir.

Por que eu não pensei nisso antes? Eles terão uma grande surpresa depois que sua semana de treinamento terminar.

Noah fechou o grimório e o guardou de volta em seu coldre. Ele pigarreou e balançou as pernas, girando os polegares. Ele examinou seu quarto, encontrando-se com tempo livre pela primeira vez desde que havia chegado a este mundo.

Não foi bom.

Os olhos de Noah pousaram na pilha de papéis no canto. Ele ainda não os havia reorganizado depois de jogá-los por todo o lugar por engano com sua magia de vento. Noah se levantou e caminhou até a pilha.

No topo estava o papel de aviso para os Transmorfos.

Grupo de Transmorfos avistado na área. Tenha cuidado com colegas ou alunos que você reconhece que falam ou se movem de maneira estranha, especialmente aqueles que estão desaparecidos há mais de três semanas. Leva tempo para os Transmorfos se fundirem completamente com um corpo e absorverem as memórias residuais dentro dele. Eles são especialmente atraídos por pessoas com Runas poderosas e podem ocasionalmente ser bem articulados.

Tome extremo cuidado ao encontrar alguém que o faça se sentir desconfortável ou que simplesmente pareça 'estranho'. Os Transmorfos não são especialmente perigosos depois de descobertos, mas são assassinos insidiosos que geralmente têm mais mortes do que monstros muito mais mortais.

Se você suspeitar que alguém que você conhece seja um Transmorfo, procure outro professor ou confronte-o imediatamente.

“Me faz pensar quem está no topo da cadeia alimentar aqui”, Noah ponderou, colocando o papel de lado. “São magos poderosos? Ou existem monstros que são ainda mais fortes do que eles? Aqueles Grandes Monstros, talvez?”

Ele não estava prestes a obter as respostas para essas perguntas em seu quarto. Noah suspirou e reuniu uma pilha de papéis. Era uma boa hora como qualquer outra para vasculhar as coisas de Vermil com um olhar mais cuidadoso e ver se havia algo importante que ele havia perdido.

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Vasculhar a pilha demorou consideravelmente mais do que Noah esperava. Ele havia imaginado que levaria o resto do dia no máximo, mas acabou levando o dia todo e depois uma boa parte da manhã seguinte.

Para seu grande aborrecimento, a grande maioria das informações dentro do papel poderia ter sido resumida a aproximadamente uma frase.

Vermil era um pirralho preguiçoso e mimado de uma família rica que tinha atingido o auge no ensino médio e não tinha absolutamente nenhum plano de fazer nada sobre isso.

Ele tinha dezenas de cartas de garotas que Noah suspeitava serem suas ex-alunas, trocando uma variedade de favores em troca de notas aprovadas. Entre elas estavam várias reclamações de outros professores e professoras dirigidas a Arbitage, todas rejeitadas.

Os Linwicks simplesmente doavam muito dinheiro para a escola, e Vermil sabia disso. O bastardo presunçoso tinha literalmente recebido as reclamações, que ele havia guardado como alguma forma de lembrança estúpida.

“Você definitivamente mereceu isso”, Noah informou ao corpo de Vermil. “Não se preocupe. Eu vou dar ao seu corpo um uso muito melhor do que você jamais poderia ter dado.”

Eu só espero que sua família sinta o mesmo. Moxie implicou que eles claramente se importavam com a reputação, no entanto. Algo simplesmente não faz sentido. Por que Vermil teria permissão para ser um canalha se ele estivesse representando essa família rica?

Com isso, outro pensamento o atingiu e a carranca de Noah se aprofundou ainda mais.

Espere. Vermil estava nos Acres Queimados, mas ele estava planejando deixar Isabel e Todd trapacearem no exame. Como isso faz sentido? Estou perdendo alguma coisa. Estou perdendo muitas coisas.

Infelizmente, o que quer que ele estivesse perdendo não parecia estar nas pilhas de papéis agora organizadas diante dele. Noah franziu os lábios. Havia muitas coisas que ele não conseguia entender, e isso nem mencionava quem tinha tentado matá-lo.

Noah se levantou da mesa. As perguntas ainda estariam esperando por ele quando ele voltasse, mas havia mais macacos para treinar contra. Se ele quisesse ter certeza de que poderia demonstrar tudo para seus alunos, sua forma teria que ser impecável.

E eu preciso encontrar aquele bastardo que jogou a pedra em mim e mandá-lo esperar em uma fila por alguns séculos. Eu me pergunto quantos tipos diferentes de macacos existem na floresta. Na verdade, por falar nisso, por que não existem outros monstros? Os macacos não podem formar um ecossistema inteiro.

Noah pegou um conjunto de roupas sobressalentes de seus suprimentos cada vez menores e saiu de seu quarto, trancando a porta firmemente atrás de si antes de caminhar pelo corredor e ir para a torre de Tim. Quanto mais ele pensava nas coisas, mais perguntas ele fazia. Talvez o homem mais velho respondesse algumas coisas enquanto ele preparava o canhão.

Em pouco tempo, Noah chegou à torre. Após uma curta espera na fila, o elevador o levou até a cúpula no topo e Tim o cumprimentou com um sorriso largo.

“Olá. Você tem usado bastante o sistema Viaje para Qualquer Lugar em Nenhum Tempo. É muito útil, não é?”

“É”, Noah concordou. “Eu tenho feito muita preparação para os exames do próximo mês em Acres Queimados.”

“Um cara dedicado, você é. Dando aos macacos o bom e velho um-dois?”

“Fazendo o meu melhor”, disse Noah com uma risada.

“Pelo menos alguém está”, disse Tim, revirando os olhos. “Mesmo lugar, então?”

“Sim, mesmo lugar. O que você quer dizer com isso, no entanto? Os outros professores também não vão muito para lá, especialmente quando o teste se aproxima?”, perguntou Noah.

Tim soltou um bufido. “Certamente não comigo, mas eu já levei alguns alunos para lá. Na maioria das vezes as pessoas realmente não descem lá.”

“Entendo.”

“Não é só por causa dos macacos, sabe”, disse Tim com um aceno de pânico. “Há também aquela grande besta na área. O Raide do Inferno.”

“Elabore isso?”, perguntou Noah hesitantemente.

“Você sabe, o Grande Monstro”, disse Tim, estendendo as mãos para os lados, então franzindo a testa como se estivesse desapontado por sua incapacidade de mostrar adequadamente o quão grande o monstro era. “A coisa do macaco gigante. Ninguém quer topar com isso.”

“E ainda temos o teste na floresta?”

Tim encolheu os ombros. “Ele não vai atrás dos alunos. Não há magia suficiente neles. Além disso, a coisa geralmente está dormindo. Contanto que você não chegue muito perto dele, você está bem.”

Noah abriu a boca, então a fechou. Se esse fosse realmente o caso, não era exatamente uma ideia terrível. Animais poderosos na Terra geralmente eram bastante territoriais também, então se o Raide do Inferno mantivesse outros monstros fortes afastados, poderia ter sido realmente benéfico.

Poderia ter sido. Ele não estava convencido.

“Interessante. Eu nunca pensei nisso dessa forma.”

Houve um baque alto quando o canhão se alinhou. Tim deu a Noah um olhar expectante, e Noah entrou no tubo.

“Diga, você sabe por que a floresta está cheia de macacos e nada mais?”, perguntou Noah antes que Tim pudesse dispará-lo.

“Nós os encurralamos lá alguns anos atrás. Foi assim que a floresta ficou queimada. Nada mais consegue sobreviver, e eles apenas comem uns aos outros”, Tim respondeu com uma risada. “Você é realmente novo, não é? Isso foi uma grande notícia alguns anos atrás.”

“Bom saber”, disse Noah. “Obrigado, Tim. Até amanhã.”

“Amanhã”, Tim concordou, tirando um chapéu imaginário para Noah. A energia girou e formigou na pele de Noah antes de envolver seu corpo. O mundo se transformou em tons de azul e Noah foi lançado no Éter e enviado em direção aos Acres Queimados.

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[1] Runa de Destruição: Uma runa poderosa que parece estar relacionada ao poder de Noah e sua capacidade de retornar após a morte.