Capítulo 759

Rotmiller estava morto.

Disseram-me que ele puxou uma carroça em direção à capital imperial para me salvar e que saltou dela para protegê-la. Astarota ainda teve a gentileza de me informar que os noarkianos levaram a cabeça de Rotmiller com eles. Contudo…

“Ela ainda não sabe.”

Imediatamente percebi que Ainar, Amelia e Auyen não sabiam do destino de Rotmiller. Já esse tal de Eltora era outra história.

Quando congelei ao ouvir o nome de Rotmiller, os outros apenas me olharam em silêncio.

“O que eu faço?”

Por um momento, me perguntei se deveria contar o que aconteceu a Rotmiller ou não. Ainar poderia facilmente perder o controle com o choque e provocar algum desdobramento desastroso.

“Mas acho que isso não depende do fato de ela perder o controle ou não.”

Com esse pensamento, tomei uma decisão.

“É, melhor contar de uma vez.”

— Rotmiller está morto.

Fui direto ao ponto, como um bárbaro. Não fazia sentido contar como ele saltou da carroça, foi decapitado e teve a cabeça levada como troféu. O processo não mudava o resultado.

Rotmiller estava morto. Ele morreu deixando um breve testamento para mim.

Era a única coisa que eu precisava lembrar.

Ainar estremeceu. — Hã?

Parecia que ela esperava que Rotmiller tivesse chegado à capital imperial e estivesse bem, mas, infelizmente, sua história não teve um final feliz.

— Entendo… Ele está morto…

No entanto, ao contrário do que eu temia, Ainar reagiu de forma inesperadamente calma ao ouvir a notícia.

Bom, isso não era tão inesperado assim. Certamente os dois eram próximos enquanto estavam juntos na terra sagrada.

“Mas, pensando bem, era só isso.”

Ainar rapidamente fazia amizades com outros bárbaros e pessoas em geral. Formava laços fortes com eles e tinha inúmeros amigos próximos além de Rotmiller.

— Que sua alma seja chamada ao lugar que ele desejava estar — Ainar disse em uma breve oração.

A morte não era um conceito estranho para ela. Bárbaros eram uma raça brutal, imersa em um mundo de vida ou morte assim que atingiam a maioridade.

“Não, nem se trata apenas dos bárbaros…”

Embora esta fosse uma cidade amaldiçoada com incontáveis desigualdades, havia uma coisa igual para todos: todos eram iguais sob a sombra da morte, que constantemente pairava por perto.

— Ele era um ser humano muito bom, o que é raro de se ver hoje em dia… Que pena.

E assim terminava o luto dela. Auyen, que não era tão próximo de Rotmiller, não teve grande reação. Já Amelia não conseguiu conter totalmente seus sentimentos.

— Brown Rotmiller morreu…? Tentando salvar você? — ela murmurou como se não pudesse acreditar. Seus olhos se arregalaram, e seus ombros tremeram, algo raro de se ver.

A razão era simples.

— Você… está bem?

Ela me olhou como se eu fosse um homem à beira de um colapso extremo, e eu apenas dei de ombros como se isso não me afetasse. — Estou bem. Não se preocupe.

Embora tenha me lançado um olhar incrédulo, ela não fez mais perguntas.

E eu não estava mentindo. Eu realmente estava bem. Pelo menos agora. Havia muitas coisas nas quais eu precisava me concentrar, e resolver cada uma delas era minha maior prioridade. Ele também não gostaria que eu tropeçasse enquanto olhava para o passado.

Embora meus punhos se cerrassem ao pensar nisso, decidi enfrentar a morte de Rotmiller depois que tudo estivesse terminado.

Somente após informar as pessoas próximas a ele, realizar o funeral e contemplar como honrar seu pesado legado, eu realmente sentiria o que perdi.

Depois disso, teria algumas noites insones. Como sempre acontecia.

— Não se esforce demais, Yandel.

Ignorei parcialmente as palavras preocupadas de Amelia. Embora eu agradecesse o gesto, precisava seguir em frente.

— Hmm…

Olhei para Eltora de cima a baixo como se estivesse analisando mercadorias em uma vitrine. Como eu poderia usar o filho do marquês para extrair o máximo de valor dele?

Eltora até começou a se vender para mim.

— Atualmente, o exército noarkiano está dividido em três: Noark, Orcules e a facção do marquês. No entanto, após o colapso do meu pai, o comando da marcha foi temporariamente passado para mim.

— E daí?

— Apenas me dê a ordem. Antes que meu pai desperte, eu tenho o poder de fazer qualquer coisa que você desejar — Eltora sussurrou para mim como um demônio falando a um herói em ruína.

Eu declarei meu desejo em voz alta, como se estivesse possuído. — Então, posso ter uma conversa com o marquês? Com meu martelo?

— Ah, isso é um pouco…

Estalei a língua. Sabia que a resposta seria não. Ainda assim, com o quão confiante ele parecia, eu tinha esperança, mas era de se esperar que não pudesse matar o marquês tão facilmente.

Quando lancei um olhar de reprovação para Eltora por me dar aquela falsa esperança, ele ficou aflito. — A-Ainda assim, não há garantia de que não haja uma maneira!

Ou há uma maneira, ou não há. — Como assim, ‘não há garantia’?

Eltora começou a me explicar o método, garantindo-se ao dizer que não sabia se funcionaria. Ouvi seu plano sem muitas expectativas, mas, ao chegar ao final…

— …Acho que pode funcionar?

Assim que decidi, fui colocar o plano em prática.

Boom! Boom!

Subi as escadas em direção à superfície com confiança, corri pelo saguão e me dirigi ao portão principal, apenas para encontrá-lo completamente destruído. Enquanto eu estava em frente a ele, a luz do sol brilhava sobre mim, e pude ver a rua lotada de soldados noarkianos.

“Por algum motivo, isso me lembra os velhos tempos.”

Naquela época, eu só tinha as essências do Golem Cadáver e do Vampiro.

Boom!

Anunciei minha presença e senti os olhares penetrantes dos soldados pousarem em mim. Como um veterano experiente, eu não precisava dizer nada extravagante. Levantei Eltora no ar, imaginando se era assim que Moisés se sentiu ao abrir o Mar Vermelho.

— O jovem lorde Tercerion foi tomado como refém!