Sobrevivendo no Jogo como um Bárbaro

Capítulo 760

Sobrevivendo no Jogo como um Bárbaro

Olho Demoníaco, Roland Banozant.

Na Orcules, onde a força era a lei suprema, ele conquistou o cargo de vice-líder, matando seu predecessor com um único golpe. Ele era um dos mais poderosos usuários de habilidades dentro da organização.

Sua longa e infame carreira incluía muitos feitos que eram alvos de rumores e lendas, mas o mais recente se destacava em minha mente: derrotar a Lança Divina, Ainar Fenelin.

Embora fosse estranho admitir, Ainar tinha sido uma das minhas aliadas mais promissoras, ao lado de Erwen. Mesmo nos tempos em que era conhecida como a Espada Selvagem, ela já fazia parte dos Sete Poderosos. Ainar era, sem sombra de dúvida, poderosa.

E ainda assim, Roland Banozant a derrotou sem sofrer muitos ferimentos. Mais importante, ele conseguiu capturá-la viva.

Realizar apenas um desses feitos já seria um indicativo incontestável da diferença de poder entre eles, mas ele conseguiu ambos simultaneamente.

Não havia como negar. Ele era forte. Incrivelmente, absurdamente forte.

Talvez a maioria esperasse isso do vice-líder da Orcules, mas eu me vi pego de surpresa. Afinal, minha última memória ainda estava fresca em minha mente. Esse era o mesmo cara que quase morreu atordoado após eu esmagar sua cabeça com um martelo. Claro, foi um ataque furtivo da minha parte, mas ainda assim. Era difícil aceitar que alguém assim havia superado Ainar, de todas as pessoas.

— Yandel… Tome cuidado. Ele usa algumas habilidades estranhas… — Ainar avisou.

Não pude deixar de rir.

“Então até ela consegue se intimidar”, pensei comigo mesmo.

Por outro lado, ela provavelmente não sabia quais essências Banozant possuía e as habilidades que elas lhe concediam. Claro que pareceriam muito ‘estranhas’ para ela.

“Digamos que eu lide com o Olho Demoníaco sozinho… Amelia e Ainar podem cuidar do resto por conta própria? E ainda proteger duas pessoas ao mesmo tempo?”

Eu refleti, era uma tarefa difícil.

Enquanto minhas dúvidas começavam a se aprofundar, Óculos, o mesmo que abalou a determinação do nosso símbolo de paz, deu um passo à frente e pigarreou. Embora ‘à frente’ fosse um exagero.

— Ouça bem, Barão Yandel!

“Huh? Ele está se direcionando a mim desta vez?”

— Você já está cercado. Se está contando com reforços do exército imperial, sugiro que abandone essa falsa esperança. As forças da capital estão recuando enquanto falamos.

Eu o encarei, esperando que ele chegasse ao ponto. — E daí?

— O futuro já está decidido, então vou fazer uma oferta. Largue sua arma e se renda. Não posso revelar os detalhes no momento, mas o castelão deseja vê-lo.

Então ele estava tentando me convencer. Virei-me para Amelia, perguntando silenciosamente quem era esse cara.

— Ele é alguém próximo ao castelão — explicou ela. — Não tem uma função fixa, mas é chamado sempre que precisam resolver um problema.

Era uma descrição vaga, mas entendi a implicação. Amelia já tinha desempenhado exatamente esse papel no passado. Simplificando, Óculos desempenhava o mesmo papel que Amelia uma vez desempenhara.

“Eu me perguntava por que nunca tinha encontrado esse cara se ele era tão importante.”

Ainda assim, era engraçado. Os que estavam no meu caminho eram a unidade central de Orcules, mas quem tentava me ganhar era o castelão.

— Então, o que me diz? Não podemos esperar para sempre, então decida aqui e agora.

Óculos parecia convencido de que eu não rejeitaria sua oferta, mas sua sugestão provocou apenas um pensamento em mim.

“Parece que não há camaradagem no grupo deles.”

Minha resposta já estava decidida desde o início.

— Eu recuso.

Ele ficou surpreso. — Huh?

— Tem algum problema nos ouvidos? Eu disse que recuso.

O marquês estava quase ao meu alcance. Minha missão acabaria no momento em que eu o matasse.

Essa era a única missão que recebi do rei, afinal. Assim que eu matasse o marquês, meus aliados e eu escaparíamos da ira do palácio.

E ainda assim ele esperava que eu me rendesse?

“Será que ele tem algum problema na cabeça?”

Mesmo que o marquês não fosse meu objetivo, minha resposta não mudaria. A única razão para um bárbaro se ajoelhar era para impulsionar um salto. E meus instintos me diziam que essa oferta dele nunca me permitiria me erguer novamente.

Olho Demoníaco estalou a língua enquanto olhava para Óculos, que parecia confuso com minha resposta. — Eu te disse. Uma oferta dessas não funciona com ele.

Parecia que ele já sabia que uma oferta assim não funcionaria comigo. Suponho que isso era de se esperar de alguém que sobreviveu a ter sua cabeça esmagada pelo meu martelo.

— Só perdemos tempo precioso. — Olho Demoníaco não escondeu seu desdém enquanto avançava, passando por Óculos. Este último parecia entender suas intenções e recuou, desapontado. — Enquanto nos recusarmos a nos reconciliar e nos encontrarmos no meio do caminho, não há motivo para continuar falando.

— Reconciliar? Não use palavras difíceis.

Inclinei a cabeça em falsa ignorância, observando enquanto a cor das pupilas de Olho Demoníaco mudava.

A tensão de uma batalha iminente se instalou no ar ao nosso redor. Meu aperto na arma, ‘agora símbolo de paz’, se intensificou.

Então, de repente, um assobio agudo cortou a tensão. Mais uma vez, fui lembrado de quão imprevisível este mundo podia ser.

— Ei, senhor vice-líder!

Olho Demoníaco foi o primeiro a desviar o olhar, direcionando sua atenção para a fonte do assobio, e eu fiz o mesmo para ver quem era.

E então, eu o vi.

Cabelos loiros platinados, penteados para trás com óleo. Pele tão pálida que parecia nunca ter visto a luz do dia, combinada com uma estrutura facial gélida e imponente. Tudo isso coroado com um sorriso vil que não combinava em nada com o resto.

— Ah! Eu entrei em cena!

A variável humana ambulante e falante: Baekho Lee.

Baekho fez sua entrada triunfal no topo de uma hospedaria de três andares, e ele não estava sozinho. Lá estava ele, sentado, com as pernas balançando na borda do telhado, flanqueado por rostos familiares: Lek Aures, Jaina, a sacerdotisa de Karui, o Vovô Caído, e…

“Quem são aqueles caras?”

Dezenas de figuras encapuzadas que eu não reconhecia estavam ali, emanando uma aura completamente anormal, da cabeça aos pés.

Desde quando Baekho tinha um exército como aquele?

Era, sem dúvida, uma demonstração espetacular de força, mas Olho Demoníaco não deu atenção às pessoas atrás de Baekho, mantendo o olhar fixo nele. — O que você quer aqui?

A pergunta despertou em mim um estranho senso de afinidade. Então o vice-líder sabia tão bem quanto eu o quão imprevisível esse moleque podia ser.

— Oh, só estou aqui para assistir — respondeu o foco de nossa atenção, com um tom zombeteiro.

Olho Demoníaco não respondeu. Em vez disso, simplesmente encarou Baekho, como se tentasse discernir se ele estava dizendo a verdade.

Por minha parte, eu nem sabia para onde olhar.

“Estou ferrado.”

Eu me sentia mais encurralado do que nunca.

Minha última interação com Baekho havia sido um desastre absoluto. Foi bom explorar o mundo além das muralhas da cidade, mas as coisas deram errado na reta final, e eu acabei sendo atacado por seus aliados. Meus próprios aliados tiveram que me procurar além das muralhas, apenas para testemunhar as consequências da batalha.

No final, consegui fazê-lo ajoelhar-se primeiro.

— Eu… peço ‘desculpas’ por ameaçá-lo, Barão…###TAG###1###TAG###

Eu nem conseguia imaginar a humilhação que ele deve ter sentido. Ele provavelmente guardava um rancor intenso contra mim.

Assim, Baekho podia ser colocado com segurança na categoria de variável ‘negativa’ a ser subtraída das minhas circunstâncias.

— Mentira.

A voz de Olho Demoníaco me trouxe de volta ao presente, e Baekho abriu um sorriso, gritando: — Correto!

— Diga-me. Por que você está aqui?

— Ficar de bobeira e assistindo vocês dois lutarem parecia que ia ser bem entediante.

— Bobeira…?

Naturalmente, o vice-líder não entendeu a gíria, e, em vez de explicar, Baekho simplesmente seguiu direto para seu ponto principal.

— Mas os números não estão muito desequilibrados para uma luta justa?

— O que você está tentando dizer?

— Vocês dois deveriam resolver isso mano a mano.

Seu método não seguia nenhuma linha lógica discernível entre causa e efeito. Por mais primitivo que fosse, a intenção de suas palavras era clara.

— E nós vamos nos juntar ao lado do Barão Yandel se você recusar.

— Está dizendo que vai quebrar o acordo?

— Yep! — A resposta alegre deixou o vice-líder sem palavras, e Baekho aproveitou a oportunidade. — O que é isso? Vice-líder, você foi ingênuo o suficiente para realmente confiar em um pedaço de papel inútil?

Os insultos infantis acertaram em cheio, fazendo o Olho Demoníaco ranger os dentes. — É por isso que eu disse que não devíamos confiar em um cachorro vadio que morde qualquer mão que vê pela frente…

— Nossa, que rude. Eu sei exatamente quem morder!

Olho Demoníaco rapidamente recuperou a compostura, apesar das provocações contínuas de Baekho.

— Então… O que exatamente significa ‘mano a mano’?

— Oh! Acho que devo explicar isso primeiro! Simplificando, um ‘um vê…’ Não, não assim. Então…

Baekho pensou por um momento, depois abaixou a voz, como se indicasse que a piada tinha acabado.

— Apenas duelem um contra o outro.

Em outras palavras, um ultimato.

Olho Demoníaco confirmou algo com calma.

— E o motivo?

— A luta não é divertida se um lado tem toda a vantagem numérica, certo?

A conversa parou por um momento. Olho Demoníaco ficou em silêncio, aparentemente pesando os prós e contras da proposta, e me vi na mesma situação, com a cabeça latejando enquanto tentava pensar.

Baekho Lee era uma variável positiva ou negativa?

A resposta não veio facilmente. Tanto Olho Demoníaco quanto eu sabíamos que a história de Baekho sobre estar entediado era apenas uma mentira. Ele, sem dúvida, tinha algum motivo oculto.

Ainda assim, os números estavam fazendo sentido.

“Isso pode apenas inclinar as probabilidades a meu favor por enquanto…”

Se Baekho tivesse interferido com a intenção de me sufocar, eu não teria como reagir. O fato de ele não ter assumido uma postura abertamente hostil contra mim era um ponto positivo, mesmo que o resultado final ainda fosse incerto.

— Certo! Agora que penso nisso, não perguntei a opinião do Barão Yandel! Barão, o que acha? Está disposto a duelá-lo?

— Não vejo problema — respondi.

— Haha! Como esperado de um bárbaro, que legal! — exclamou Baekho antes de se virar para Olho Demoníaco, pressionando-o ainda mais. — E quanto ao nosso vice-líder aqui? Por que você não responde? O que foi, está com medo? Uau, você está mesmo com medo!

As provocações incessantes finalmente fizeram Olho Demoníaco quebrar o silêncio.

— Se eu resolver isso ‘mano a mano’ com ele, você promete não interferir?

— Eh… Prometer? — Baekho inclinou a cabeça. Ele provavelmente não esperava que a palavra ‘promessa’ fosse mencionada, especialmente depois de já ter provado o quão sem valor essa palavra era para ele. — Claro que vou! Prometo! Cem vezes!

— Certo. Eu também aceito.

— Uau, sério?

Embora eu não soubesse como ele chegou a essa decisão, o vice-líder também concordou em resolver isso ‘mano a mano’ comigo. Claramente, não era porque ele acreditava em promessas.

“O que ele está pensando?”

Quando ele falou novamente, obtive minha resposta.

— Mantenham-se alerta contra eles — instruiu Olho Demoníaco. — E não tentem me ajudar sob nenhuma circunstância. Apenas se certifiquem de que ninguém possa interferir em nossa luta. Entendido?

— Sim, senhor vice-líder. Entendido.

A realização me atingiu como um raio, e deixei escapar um suspiro involuntário.

Esse cara. Ele realmente acreditava que podia me derrotar.

Senti uma pontada de insulto em meu ego ferido, mas um sorriso logo se formou no meu rosto.

— Que divertido.

Colocar a cabeça de alguém no lugar era sempre algo divertido, especialmente quando tinha algo errado com sua cabeça.

  1. cap 701.[###TAG###]###TAG###