O Ponto de Vista do Vilão

Capítulo 351

O Ponto de Vista do Vilão

—A Festa do Chá—

No magnífico jardim da bruxa…

Simon Manus sentou-se, observando com curiosidade a senhora à sua frente.

O homúnculo de Beatrice permaneceu silencioso, com a cabeça abaixada e a expressão completamente vazia de vida.

A curiosidade de Simon se transformou em sorriso no momento em que a boneca voltou a se mover. Beatrice respondeu — soltando um suspiro longo e cansado.

"Bem-vinda de volta, minha senhora feiticeira... ou devo dizer, demoníaca de alto escalão?"

Simon sorriu, exibindo os dentes, enquanto Beatrice acenava casualmente com a mão, dispensando as formalidades.

"Apenas diga o que veio fazer."

"Nada de mais, minha senhora demoníaca. Preciso admitir—não esperava que seu corpo verdadeiro fosse um demônio. Imaginei que fosse, no máximo, um híbrido. Mas você superou até minhas expectativas mais selvagens!"

Beatrice fixou o olhar em Simon Manus, que riu com um brilho de curiosidade.

"Sabe, você é a primeira criatura nesta Terra que não é afetada pela verdade do que eu realmente sou."

"Afetada? Por quê eu seria?"

"Você não é um Hollow? Não deveria ser nossa escrava como os outros, não é?"

"Naaaaah."

Simon Manus fez uma cara de nojo e imediatamente negou com a cabeça.

"Quando foi que eu disse que sigo criaturas imundas e grotescas como demônios?"

"…"

"Minha paixão é por uma espécie completamente diferente! Mais bela... mais perfeita!!"

O Puppeteer, Simon Manus, revelou abertamente seus desejos artísticos distorcidos perante Beatrice, que ficava cada vez mais intrigada com o louco sentado diante dela.

"Falar tão livremente da sua lealdade perante um demônio de alto escalão… Não me enganei ao convidá-lo para esta festa do chá, Simon. Kihihihi."

"Não interprete mal… Rank 17. Estou interessado apenas na sua boneca — não no seu corpo amaldiçoado de verdade."

Embora suas palavras fossem insultantes, Beatrice parecia nem um pouco ofendida.

"Eu também odeio meu corpo real. Sempre que sou forçada a usá-lo, perco o controle de todos os meus homúnculos... eles congelam completamente, como este pobre aqui."

Controlar tantos corpos ao mesmo tempo não era apenas difícil — era considerado impossível.

Porém, Beatrice conseguiu. Ainda assim, se ela entrasse em batalha usando sua forma verdadeira, inevitavelmente perderia o controle de todos eles.

"Você não mexeu de maneira estranha no meu corpo precioso enquanto eu estava fora… aconteceu alguma coisa?"

Beatrice perguntou desconfiada, e Simon evitou o olhar, sem dizer uma palavra.

"…"

"…"

"Seu bastardo imundo."

"Esqueça essa besteira, Beato. Me diga — você ainda deseja continuar esse joguinho de bruxa?"

"Claro."

Beatrice respondeu instantaneamente, como se a pergunta nem precisasse de reflexão — apenas aumentando a curiosidade de Simon.

"Mas, Beato… você tem força suficiente para esmagar todos os intrusos que estão neste continente. E encontrá-los nem seria difícil pra você."

"Então, eu não entendo… por que não enfrentá-los de verdade e matá-los com seu corpo verdadeiro, ao invés de brincar com eles nesse joguinho infantil?"

Simon estava curioso há algum tempo sobre as motivações de Beatrice.

Por que uma criatura de classe SS+ despertada iria a tais extremos… por um grupo de crianças frágeis?

No começo, Simon achou que algo estivesse impedindo o corpo verdadeiro de Beatrice de agir — mas ela quebrou essa expectativa no momento em que se revelou em todo seu poder como um demônio de alto escalão.

E mesmo assim, ele não conseguiu deixar de questionar o porquê.

A resposta veio diretamente dela.

"Ah, sobre isso…"

Com um sorriso doce, a bruxa respondeu,

"É um segredo."

"Acho que você ia dizer isso," disse Simon, suspirando, balançando a cabeça, arrependido de ter até mesmo considerado a ideia de obter uma resposta direta da bruxa travessa ao seu lado.

"Não fique assim. Tenho um objetivo que preciso alcançar — caso contrário, não teria vindo até este lugar remoto chamado Terra."

"Acho que você tem razão."

Beatrice assentiu.

"Além disso, se eu fosse lá com meu corpo verdadeiro… minha intuição diz que algo terrível iria acontecer."

Manus ergueu uma sobrancelha ao ouvir suas palavras.

"E como exatamente isso aconteceria?"

"Não sei ao certo. Mas suspeito que tenha algo a ver com aquele garoto estranho que mencionei na última vez."

"Ah… o tal Snow—Frey Starlight?"

"Sim. Ele é… único."

Com poderes que desafiam a lógica — coisas que ela só tinha visto entre os dez demônios superiores mais poderosos, ou talvez alguns dos mais altos — Frey demonstrava habilidades que nenhum humano deveria possuir.

Usando sua inteligência aguçada, Beatrice chegou a uma conclusão preocupante: nada do que ela tinha visto poderia ser explicado logicamente.

Só havia uma conclusão que faria tudo fazer sentido.

"Há uma força oculta por trás dele."

Alguém — ou talvez mais de uma pessoa.

Frey Starlight escondia inúmeros segredos.

E Beatrice, sempre ambiciosa, queria descobrir todos eles.

"Estou realmente ansiosa… pelo próximo Jogo da Bruxa."

N naquele momento, naquele lugar, tudo já tinha sido decidido — Frey e seus companheiros estavam destinados a continuar tropeçando no jogo infernal que a bruxa preparara para eles.

—Distrito Stormveil—

Uma região semelhante a uma fortaleza construída no meio do deserto, Stormveil era constantemente atingida por tempestades e tornados de areia.

Apesar disso, permanecia imponente — inabalável — contra tudo que colidia contra suas enormes muralhas.

Stormveil diferia de qualquer Outra Terra Sangrenta Inferior.

Seu tamanho rivalizava com as grandes cidades do Império, e sua população era igualmente vasta — as ruas nunca ficavam vazias.

Claro, por maior que fosse uma cidade, a essência das Terras Sangrentas nunca mudava.

Mesmo com condições relativamente melhores, Stormveil era atormentada pelas mesmas horrores:

Cannibalismo. Depravação. Assassinato. Sangue. Sexo público nas ruas.

Se você se aventurasse mais fundo na cidade, encontraria vielas cheias de pessoas mais desesperadas e insanas — dormindo nas calçadas, lutando entre si diariamente, sem parar.

Entre eles, sentava-se um jovem encapuzado, vestido totalmente de preto, com apenas um fio de cabelo branco aparecendo debaixo de seu capuz.

Embora estivesse sozinho, nenhum dos Ultras ousava chegar perto — depois de ter espancado uma dúzia deles nos dias anteriores. Alguns até morreram com as próprias mãos dele.

A figura encapuzada permaneceu imóvel por grande parte do tempo, olhando para o nada e murmurando palavras incompreensíveis em voz baixa.

Então, após uma longa pausa, ele finalmente se moveu.

"Então… Maekar perdeu desta vez."

Depois de usar a visão em terceira pessoa para monitorar sua irmã por um bom tempo…

Frey se levantou de onde estava, sabendo o resultado da batalha entre o Império e os Ultras na Baía de Shezclar.

Após aquela derrota, muitos nomes tinham desaparecido — além de Frey e seus companheiros dispersos.

Frey percebeu que não podia mais esperar por reforços. Mas o que mais o intrigava eram os desdobramentos da batalha — especialmente seu final, e a aparição repentina de outro demônio de alto escalão.

"Rank 17... Beatrice."

Frey falou alto, questionando.

"Foi coincidência?"

Ela, a mesma bruxa que ele tinha matado pessoalmente… e agora, essa demônio que se chamava Bruxa Beatrice.

"Claro que não. Não existem coincidências nesse mundo."

Ele não sabia exatamente como… mas tinha certeza de que havia uma ligação entre elas. E isso só aumentava seu medo.

"Uma bruxa malvada capaz de manipular um império inteiro… e agora ela está nos observando."

O arrependimento o consumiu ao perceber que tinha revelado todas as suas cartas a ela.

Ele tinha cometido um erro terrível.

"Se ela voltar… as mesmas estratégias não funcionarão novamente."

Frey amaldiçoou baixinho enquanto se afastava.

'Quem... é a bruxa chamada Beatrice?'

A única demônia de alto escalão que deveria existir na Terra nesta linha do tempo era a de Rank 19 — Astaroth.

E ainda assim… lá estava ela.

Beatrice, destruindo tudo.

Desde o começo, ele nem sabia que ela existia.

Mesmo tendo escrito a história — incluindo os 72 demônios de alto escalão —, havia apenas planejado usar alguns poucos na trama real.

Rank 17 não era um deles.

O que significava… que ele sequer conhecia seu nome — porque nunca o criou originalmente.

"Preciso encontrar os outros… rapidamente."

Escondido à vista de todos…

Frey Starlight se moveu novamente, procurando por seus amigos, usando a visão em terceira pessoa como única orientação… já fazia uma semana desde que se separaram.

O verdadeiro jogo estava prestes a começar.