O Ponto de Vista do Vilão

Capítulo 354

O Ponto de Vista do Vilão

Capítulo 354: Um tipo de humano diferente.

Territórios superiores de Sangue – Caelid.

Aqui, no coração do continente, em seu próprio centro...

Sob um céu tingido de vermelho pelo pôr do sol que lentamente desaparecia...

Uma cena bizarra e inexplicável se revelava — uma cidade construída como a capital desta terra amaldiçoada.

Desertos e terras áridas a cercavam por todos os lados, fechando-a completamente. No entanto, no instante em que alguém se aproximava de Caelid, a desolação inexplicavelmente se transformava em um terreno verdejante e vibrante, tão vivo que até o ar parecia diferente.

Entre a vida e a morte, existia uma barreira fina e invisível... uma linha não vista que separava os Territórios superiores de Sangue da imundície além dela.

Não havia comparação entre as cidades caóticas por onde os elites vagueavam e esta capital florescente conhecida como Caelid.

A cidade erguia-se imponente, com arranha-céus e construções avançadas, transbordando vitalidade e elegância.

Seu povo parecia nobres da era vitoriana, passeando com graça pelas ruas limpas feitas especialmente para eles.

Isto era Caelid—lar do Sangue Superior. Aqueles humanos raros que conseguiram assimilar sangue demoníaco e foram escolhidos para deixar o inferno abandonado em que nasceram.

Era assustador... como uma minoria passou a possuir tudo o que milhões lá fora só podiam sonhar.

Em um canto isolado de Caelid, ficava uma grande fortaleza sombria, que ninguém ousava se aproximar. Parecia uma relíquia da era medieval.

Era a residência do mais antigo entre os atuais Senhores dos Ultras — Gavid Lindman.

Ele agora estava atrás de uma janela de vidro frágil, observando o fenômeno estranho que ocorria do outro lado.

O cômodo em que se encontrava era a sala mais protegida de toda a fortaleza, feita de um metal cinza incrivelmente resistente...

E, mesmo assim, esse metal estivesse derretendo—se dissolvendo a uma velocidade assustadora sob o efeito das chamas negras que engoliam o espaço.

Aquelas chamas surgiam do corpo de um jovem solitário, com pouco mais de dezoito anos...

Um jovem que já não conseguia mais nem mesmo gritar. Ele simplesmente estava sentado, desabado, sendo lentamente consumido pelo fogo negro que o devorava por dentro.

Sua Espada de Luz da Lua jazia ao seu lado, caída quando seu portador não conseguiu mais resistir.

Naquele instante, a figura mascarada conhecida como V parecia totalmente vazia, rendida a tudo enquanto o fogo rastejava sobre sua pele.

Ele nem percebeu Gavid, que quebrou o vidro e atravessou a parede, avançando na direção do fogo.

V levantou a cabeça, encarando o lord se aproximando. Seus olhos vermelhos estavam sem vida. As chamas negras avançaram imediatamente em direção a Gavid—

Mas ele não parou.

Ele passou por elas, ignorando seu corpo em chamas. Pois aquelas chamas não eram fogo comum.

Gavid não hesitou. Assim que chegou perto de V, desferiu um soco thunderoso no rosto do rapaz, fazendo-o tropeçar mais fundo na mar de fogo que seu próprio corpo tinha criado.

— O que você acha que está fazendo, Vinny?

Segurando firmemente sua empírea, suportando o calor ardente, Gavid gritou com uma voz carregada de aura:

— É só isso? É tudo que você tem pra oferecer?

Devolveu lentamente a Espada de Luz da Lua para V.

— Nós somos humanos rejeitados por este mundo. Carregamos os pecados de nossos pais... e de seus antecessores. Nascidos neste continente sombrio, vivemos a cada segundo entre a vida e a morte.

— Com sangue sujo nas veias, não pertencemos nem aos humanos que construíram seu império e nos abandonaram, nem aos demônios que nos tratam como experimentos e nos escravizam.

Ele segurou o rosto de V—mesmo com a mão que já começava a queimar até a pele, recusando-se a largar.

— Então, o que somos nós, afinal? Apenas escravos, vivendo e morrendo de acordo com as vontades de seres que desprezam nossa própria existência?

Enquanto depositava suas crenças nele, o corpo de Gavid irrompeu com uma aura poderosa que repeliu as chamas, fazendo-as recuar, enquanto ele apertava ainda mais sua grip on V.

— Astaroth não é nosso rei. Nem nosso governante.

— Um demônio imundo não decidirá nosso destino. Nós decidiremos.

— O Império não é melhor do que nós. Eles não são mais humanos do que nós.

— Não nos governarão. Não decidirão por nós. Nós decidiremos!

As palavras de Gavid chegaram a V… algo voltou a se acender em seus olhos carmeses.

Com dificuldades, o jovem torturado murmurou discretamente:

— ...Meu Senhor... Senhor Lindman.

— Resista! Torne isso seu!

Gavid gritou mais forte.

Mas V tremeu.

— Não consigo... Não consigo! Ele é forte demais!

Ele chorou. Não conseguia mais segurar o fogo.

— Não posso fazer o que você e Lord Dragoth fizeram...

— Olhe pra mim... Vinny de Sparda...

Obediente, V olhou novamente para Gavid, cujos olhos ficaram totalmente pretos enquanto ele levava seu poder ao limite absoluto.

— Você é o primeiro. O primeiro a receber um contrato assim… um pacto de rank SSS.

— O poder de Marvas, o Demônio de Quinto Maior!

Um ser dito possuir chamas quentes o suficiente para queimar o próprio sol.

— Nós servimos há muito tempo, esperamos mais ainda. O que você verá e suportará vai te fazer querer abandonar sua vida. Mas lembre-se disso...

Você é o mestre do seu próprio destino.

— Este poder que está te matando, o fogo que consome sua alma, devora você de dentro para fora... ele será seu.

— Incline sua cabeça se precisar, esconda sua força se for preciso—

suporte tudo. Mas nunca deixe alguém decidir seu destino.

— Não perca a sua essência... V...

Colocando a Espada de Luz da Lua em suas mãos, Gavid Lindman deu um passo lentamente para trás, incapaz de resistir às chamas ardentes por mais tempo.

Quanto a V, com uma respiração profunda, conjurou a aura da Espada de Luz da Lua—uma aura que devora todas as outras—e começou a conter o inferno que seu corpo tinha produzido.

O personagem mascarado conseguiu reunir sua vontade de lutar mais uma vez... mesmo dentro do inferno negro que o consumia.

— Nascemos aqui, no continente dos Ultras, fadados a carregar os pecados de nossos antepassados e viver em um mundo que nos encurralou de todos os lados.

Somente os Ultras compreendem os Ultras... Ninguém mais jamais entenderá.

No coração daquele desespero, cada um deles viveu sua vida do jeito que pôde.