O Ponto de Vista do Vilão

Capítulo 353

O Ponto de Vista do Vilão

Silenciosamente, Ghost e Daemon saíram do prédio.

A noite tinha caído. As ruas estavam completamente desertas—assustadoramente—mas o silêncio assustador não incomodou a dupla em nada.

Ghost ergueu o olhar em direção à lua que iluminava o céu, a mesma lua vista de todos os cantos deste mundo.

Ele se perguntou sobre os outros.

“Você disse que assassinos trabalham sozinhos, Daemon Valerion.”

A voz de Ghost quebrou o silêncio, e Daemon parou, olhando para ele com uma expressão vazia.

“E daí?”

“Você está errado. Assassinos nunca lutam verdadeiramente sozinhos.”

Ghost continuou caminhando, compartilhando pensamentos que raramente dizia em voz alta.

“Um assassino sempre avalia a situação e escolhe o caminho mais lógico... aquele que oferece a maior chance de sobrevivência. A verdade simples é que eu não vi vantagem em ficar sozinho com você, Daemon Valerion.”

“...”

Daemon não disse nada. Ele sabia que Ghost tinha razão.

“Mas não é preciso se preocupar. A purga que você quer pode acontecer por conta própria.”

Por um momento, Daemon ficou surpreso com a precisão com que Ghost o havia leitura.

O que Daemon realmente desejava era uma equipe composta apenas pelos fortes—sem peso morto, sem fardos.

E parecia que essa equipe se formaria naturalmente, exatamente como Ghost insinuou.

O Continente dos Ultras garantiria isso... de uma forma ou de outra.

Com um sorriso torto, Daemon expressou sua admiração.

“Gostaria de saber como você consegue falar tanto assim... Ghost Umbra.”

Mas Ghost realmente não se importava.

O número de pessoas que ele queria salvar neste mundo era pequeno—dolorosamente pouco.

Especialmente para alguém como ele, que já tinha se acostumado a enterrar seus camaradas.

Nada realmente movia mais o assassino.

...

...

...

Bem longe da dupla rebelde, Ghost e Daemon...

Uma garota solitária perambulava pelas vielas dos Ultras, escondendo-se o melhor que podia.

De tempos em tempos, seu corpo brilhava suavemente com uma aura verde calmante, curando seu corpo fatigado pouco a pouco.

Assim foi como a Candidata a Santa, Emilia Atarax, sobreviveu nos últimos dias.

Sem comida nem água restantes, ela não teve escolha senão recorrer a esse método para manter-se viva.

Principalmente aqui, nas terras desoladas dos Ultras—sem animais para caçar, sem plantações para colher, sem nem água para beber.

A única carne que sustentava essas pessoas era carne humana, e seu único vinho era sangue demoníaco imundo.

Emilia já estava chegando ao limite. Sozinha, com medo até de procurar seus camaradas, ela se escondeu.

“Senhor... fortaleça-me para superar essa provação...”

Ela rezou com toda a esperança, esperando que seu deus mostrasse um caminho—ou que algum de seus companheiros a encontrasse.

Qualquer um serviria.

Qualquer coisa, menos essa solidão esmagadora e enlouquecedora que a deixava até sem dormir. A jovem sofria em silêncio.

Até mesmo seu poder sagrado quase tinha acabado.

Mas justo quando terminou sua oração, ela ouviu...

Um choro de criança ao longe.

O som de um menino pequeno chorando.

Emilia hesitou por um momento, com medo de deixar seu esconderijo, mas reuniu sua coragem quando o choro não parou.

“Isso deve ser um sinal do Senhor...”

Acreditando que era uma resposta à sua oração, ela seguiu o som imediatamente.

Ela atravessou viela após viela até chegar a um canto escuro.

Lá, uma criança—não mais que cinco anos—estava chorando sem controle.

Emilia cobriu a boca de horror ao ver que os braços do menino tinham sido amputados, seu corpo amarrado a uma cadeira e deixado sangrar até perder a vida.

Ela correu até ele, despejando o pouco de poder sagrado que tinha no corpo do garoto, desesperada tentando salvá-lo.

“Fica firme!”

Mas não importava o quanto tentasse, seu poder era fraco demais. As feridas dele não se fechavam. O choro do menino só ficava mais alto.

“Senhor... o que eu faço?!”

Emilia estava perdida, procurando desesperadamente por qualquer coisa—qualquer coisa—que pudesse ajudar o garoto.

Então, ao se virar, ela congelou.

Bem na frente dela, a poucos centímetros de distância, um homem—com as pálpebras secas e encardidas, a pele descolando até o osso—olhava para ela com uma curiosidade grotesca.

Um sorriso distorcido se abriu em seu rosto no instante em que viu Emilia.

“Sabia que você viria!”

Ele gritou, enlouquecido de alegria, ao puxar de volta seu manto preto, revelando seu cabelo verde e o rosto que ela tinha se esforçado tanto para esconder.

“Sabia que você viria!!”

O homem louco gritou, estendendo a mão trêmula.

Mas Emilia, congelada de medo, liberou uma rajada de energia sagrada, jogando-o para trás.

E, mesmo assim...

Ela não o machucou de verdade.

“Fique longe!!”

Das mãos frágeis dela, Emilia lançou outro feixe de energia sagrada, destruindo o corpo do homem assustador com força brutal.

Mas não o suficiente para matá-lo...

“Maldito!! Eu cortei as mãos do meu filho por sua causa! Por que você está agindo assim?!”

O homem gritou enlouquecido, e o medo de Emilia só aumentava—junto com a certeza de que ela não tinha escolha senão matá-lo.

Mas ela nunca foi uma guerreira de verdade. Sua força já havia se esgotado, consumida por dias de fome e exaustão.

Então, do nada...

Apareceu um segundo homem. Depois um terceiro. Um quarto. Rastejando pelas bordas da viela estreita...

Entre o menino que chorou até suas lágrimas e sangue se esgotarem,

e os homens cuja pele estava queimada e grudada aos ossos...

Emilia resistiu, convocando uma barreira para mantê-los afastados.

Aqueles homens—mais demoníacos que humanos—atacaram com ferocidade insana, babando enquanto a encaravam.

Bateram contra ela até que seus braços e pernas sangrassem.

Bocas abertas. Olhos vermelhos brilhando.

Emilia viu sua barreira começar a trincar.

“Meu Deus...”

As fissuras se espalharam, uma após a outra...

“Meu Deus!!”

Lágrimas correram pelo rosto dela enquanto seu corpo tremia involuntariamente ao ver aquelas criaturas destruindo sua última linha de defesa.

Agora... eram dezenas deles.

Então—sem aviso—

Emilia caiu ao chão, atingida por uma alma que ela não tinha visto como inimiga.

O menino, o rapaz com as mãos cortadas, pulou em cima dela e mordeu seu ombro esquerdo com força animalesca, afundando os dentes fundo na carne dela.

Emilia, que sempre lutara à distância—longe da dor, longe do sofrimento—não estava acostumada a sentir algo assim.

Então, tudo o que ela pôde fazer foi gritar de dor, esquecendo a barreira que até então a protegira.

E, como vidro frágil... o escudo se quebrou.

Os monstros avançaram.

Como feras, invadedaram o corpo de Emilia caída, arrancando suas roupas num piscar de olhos, prendendo-a com força brutal, quebrando os ossos de braços e pernas, impedindo qualquer possibilidade de fuga.

Quando a onda de dor quase insuportável a atingiu—uma dor como ela nunca tinha sentido—Emilia não teve escolha senão gritar até sua voz se esgotar.

De todas as direções, os homens se jogaram sobre ela como animais ferozes, lutando entre si na loucura para chegar até ela.

E finalmente...

A Candidata a Santa sentiu uma dor ardente e insuportável vindo de baixo, incapaz de compreender que já tinha sido violada.

Naquele momento... uma frase única ecoou por sua mente arruinada:

“Se tiverem chance, vão se revezar para estuprar seu corpo, um após o outro...”

Com o corpo destruído e os monstros violentando-a de novo e de novo...

Emilia, que já não podia mais gritar ou chorar, se perguntou:

Após horas intermináveis...

‘Por que isso está acontecendo comigo?’