O Ponto de Vista do Vilão

Capítulo 343

O Ponto de Vista do Vilão

Capítulo 343: O Pacto do Demônio (2)

"Seventeen anos atrás, a Guerra da Luz terminou com a vitória de Abraham Estrela sobre seu oponente — o humano imortal demônio, Dragoth."

"Mas, ao contrário do que todos acreditavam, Dragoth... o único homem que já colocou pé de igual para igual com Abraham... não morreu. Ele ainda está vivo."

Dragoth, o antigo portador da Espada da Luz da Lua, e outrora rei dos Ultras.

"Ninguém no Império — nem mesmo meu pai, Maekar — conseguiu matá-lo uma vez que a verdade foi descoberta. Então, o encarceraram em uma prisão secreta, selada com quatro chaves."

Agora, essas chaves tinham sido reunidas... pela primeira vez.

"Tudo o que resta... é você cumprir sua parte."

O que Aegon acabara de revelar eram segredos conhecidos por poucos selecionados. Nem os lordes encarregados de guardar as chaves tinham ideia de que o monstro que protegiam... era Dragoth em pessoa.

Dragoth era único... diferente do atual líder dos Ultras, o demônio Astaroth, que é o Rank 19. Dragoth era humano...

Um humano dos Ultras — nascido na lama como todos os outros — que subiu por montanhas de corpos e morte até alcançar o topo. Tornou-se o único contratante da história a romper seu pacto demoníaco e libertar-se completamente do controle dos demônios.

Ele era um símbolo no continente dos Ultras. Ninguém realmente aceitava a ideia de que ele havia morrido às mãos de Abraham Estrela.

Por isso os mais velhos — como Gavid Lindman — nunca conseguiram deixar de pensar na possibilidade de que ele ainda estivesse vivo.

"Você realmente é um sujeito estranho, Príncipe Ladrão."

Mergo interrompeu, seus olhos fixos em Aegon e nas chaves em suas mãos.

"Sei que estamos fechando um negócio aqui, e você cumpriu sua parte... mas não entendo. Você não acha que está assumindo um risco enorme?"

"Ah? E exatamente como estou arriscando algo?"

Aegon não hesitou. Encarou a aproximação de Mergo sem um pingo de hesitação.

"Por exemplo, você acha que eu não poderia simplesmente pegar essas chaves de você e cancelar tudo isso?"

Frente a dois Lordes dos Ultras e seus seguidores — o que um príncipe poderia fazer?

Como ele responderia a uma ameaça dessas?

Aegon não mostrou a menor preocupação. Apoiado em uma mão, continuou sorrindo calmamente para eles.

"Vai lá, tente. Você vai descobrir em breve."

Essa resposta fez Mergo explodir de rir, incapaz de conter a gargalhada. Gavid Lindman, por sua vez, apenas observou nas sombras enquanto Aegon — deitado sobre uma pilha de cadáveres — continuava, com arrogância serena, a olhar para eles.

"Fascinante... verdadeiramente fascinante, Príncipe Ladrão."

Mergo, pela primeira vez em anos, sentiu algo que não sentia há muito tempo — ignorância.

O que esse estranho príncipe possuía que lhe permitia manter tanta confiança diante de dois Lordes capazes de matá-lo com um só golpe?

Que plano... que vantagem lhe dava o direito de agir com tamanha altivez?

Foi aí que Mergo percebeu algo.

No escuro daquele lugar, sob o céu iluminado pela lua, ela iluminou diretamente a figura de Aegon sentado sobre os cadáveres.

Seu corpo magro projetava uma sombra gigante — tão vasta que cobria Mergo e Gavid abaixo dela.

O que ele dizia poderia parecer bravata vazia... mas ninguém ousava testá-lo.

"Vamos cumprir nossa parte do acordo."

Desta vez foi Gavid quem falou, num tom frio e firme.

"Fico feliz em ouvir isso."

Aegon assentiu com satisfação, lançando as chaves na direção de Gavid, que as pegou com facilidade.

"Gavid Lindman. Sua lâmina será a que cortará esse fio do destino e abrirá um novo caminho. Agora não há mais volta."

"..."

Gavid não disse nada. Apenas se virou e começou a caminhar para longe, com os outros seguindo-o, incluindo Leonides. Só Mergo permaneceu um pouco mais perto de Aegon.

"E aí? Como está se sentindo, Príncipe, agora que tudo aconteceu exatamente como planejado?"

Aegon deu de ombros, sem parecer preocupado.

"Não sinto nada em particular."

Como se esse resultado tivesse sido inevitável desde o começo.

Fracasso nunca foi uma opção.

Desde o início, Aegon soube que tudo se encaixaria.

Mergo se via cada vez mais intrigado pelo príncipe.

Esse nível de confiança... O que ele está escondendo por baixo da manga?

Por ora, o Lorde da Colmeia Vazia decidiu ficar por perto, só para descobrir o segredo por trás da máscara de Aegon Valerion.

"Mas eu realmente me pergunto... será que você conseguirá cumprir sua parte do pacto?"

Essa troca foi perfeitamente equilibrada. Aegon lhes deu a chave para liberar um monstro à altura de Dragoth.

Em troca, o que ele queria era algo de valor equivalente — e Mergo não se preocupava com isso.

"Não há com que se preocupar. Lindman e eu vamos cuidar disso."

Enquanto falava, Mergo pegou sua garrafa e tentou dar um gole — só para descobrir que estava vazia.

"Acabou. Eu disse que cuidaríamos disso? Queria dizer que Lindman vai cuidar."

Como sempre, Mergo não perdeu tempo em passar a responsabilidade assim que teve a chance.

"Você tem certeza? Ele vai morrer se for sozinho."

"Hmmm... talvez você tenha razão. Mas quem sabe? Lindman está realmente levando a sério desta vez."

"Então estou ansioso para ver sua performance."

Aegon pulou do monte de cadáveres, pronto para partir assim que seu trabalho estivesse feito.

Suas últimas palavras pareciam um adeus — mas Mergo o deteve mais uma vez.

"Você é bastante ganancioso, Príncipe Ladrão. Sua ambição chegou ao céu. Não era o suficiente o Império para você?"

Mergo nunca esperou uma resposta a essa pergunta final. Perguntou só por travessura...

Mas o príncipe virou-se para ele, com o sorriso desaparecendo como se tivesse acabado de ouvir uma das perguntas mais bobas que alguém já fez.

"O que há de especial na ambição que me faz desejar algo tão trivial quanto a Terra? Isso não é ambição. É simplesmente... inevitável. É só isso."

Deixando Mergo perplexo com a resposta inesperada, Aegon finalmente partiu, em busca dos restantes estudantes de elite.

"Este lugar é mais amaldiçoado do que eu imaginava..."

Mergo murmurou antes de desaparecer nas sombras também.

Naquele dia, nas terras desoladas do Pesadelo —

Foi fechado um dos pactos mais diabólicos da história do Império.

Uma aliança cuja sombra se estenderia profundamente no futuro...

...

...

...

Desde a teletransportação aleatória, dias se passaram — um atrás do outro — cada um trazendo novas mudanças e incógnitas.

Os estudantes de elite dispersaram-se em várias direções, alguns procurando pelos colegas, outros optando por seguir sozinhos, desesperados por sobreviver de sua própria maneira.

Entre eles, numa noite de chuva, Frey finalmente chegou a uma das cidades encravadas nas planícies abandonadas.

Ele já sabia como viviam os Ultras — divididos em duas castas.

Os Sangue-Real, a elite da segunda geração que havia conseguido incorporar sangue demoníaco, representavam menos de 10%. Viviam em grandes cidades, mais avançadas e prósperas que até o próprio Império.

O restante... os Baixo-Sangue — aqueles que não conseguiram assimilar o sangue demoníaco — estavam condenados a apodrecer, quer como criaturas mutantes, quer como humanos expulsos de sua dignidade e direitos básicos.

Agora, parado diante dos portões de uma dessas cidades abandonadas, Frey passara os últimos dias procurando seus colegas desaparecidos.

E agora, congelado na entrada, incapaz de tirar os olhos da visão diante de si, ele simplesmente abaixou a cabeça sob o capuz de sua capa... e entrou.

"Você conseguiu sobreviver até aqui..."

Calmamente, avançou para o interior da cidade — feita de pedra e tijolos, nada mais.

Frey saltou de telhado em telhado, seus movimentos chamando a atenção dos moradores abaixo enquanto passava silenciosamente por cima.

Por fim, chegou ao centro da cidade.

De uma construção um pouco mais elevada, olhou para baixo com indiferença gelada. Então, ao ver o suficiente — convocou suas espadas.

Frey não sentiu nada enquanto encarava, mas por alguma razão... a imagem se gravou em sua memória.

Cabeças decapitadas... montadas em estacas acima do portão, como grotescas obras de arte.

Seus corpos provavelmente haviam sido devorados desde o pescoço para baixo.

As cabeças, sozinhas, expostas na entrada — um troféu de orgulho para essa cidade selvagem.

"Jan Dover e Kyle Walker."

Esses eram seus nomes.

Brutos sicários de Feyreth, uns dos quais Frey nem havia percebido que ainda estavam vivos.

Agora, tinha certeza... eles não estavam mais.

Ele bufou enquanto a pele começava a rachar, uma aura violeta surgindo violentamente de dentro dele.

"Comidos vivos..."

Eram apenas peões descartáveis de um vilão de segunda classe — mas, no fim, ainda eram crianças. Crianças azaradas presas no caos do caminho destrutivo de um protagonista.

"Eu não posso mudar nada... mas, ao menos, posso mandar esses bastardos pro inferno."

Sem misericórdia alguma...

A aura violeta explodiu, consumindo a cidade em um único ataque — apagando-a da face da Terra.

A colossal coluna de aura rasgou o céu, destruindo tudo abaixo — inclusive as cabeças de Jan e Kyle, mortos.

"Ignition."

Essa foi a última palavra que os habitantes da cidade ouviram...

Antes de o mundo ser engolido pela escuridão.

Estudantes de elite restantes: 18