
Capítulo 89
O Genro de uma Família Prestigiosa quer o Divórcio
Em pouco tempo, uma multidão agitada se reuniu do lado de fora da mansão.
Mesmo sendo bem depois da meia-noite, seus olhos brilhavam em vermelho incandescente. Estivessem drogados, embriagados pela loucura ou simplesmente procurando um lugar para extravasar sua fúria, a situação havia escalado a um ponto além da razão.
“Tragam o Barão Bolten!”
“Devolvam o Barão Bolten!”
“Seu desgraçado! Se você sequer tocou no Barão Bolten, eu vou te matar!”
“Não invadam nosso paraíso! Por que vieram atrás de nós se estávamos cuidando da nossa vida?!”
Todos esses gritos eram pouco mais que chiliques, beirando exigências absurdas.
“……”
Quando já não era mais possível suportar em silêncio, a Grã-Mestra retornou pela porta dos fundos da mansão. Em suas mãos, havia três lâminas.
Uma era sua própria espada grande, e as outras duas pertenciam a Isaac.
“Obrigado.”
“Meus serviços não são baratos.”
Ela pareceu querer disfarçar com um sorriso um tanto brincalhão, mas os lábios de Isaac sequer se moveram. Era um sinal da gravidade e da responsabilidade que ele sentia pelo que estava prestes a fazer.
“Eu posso ajudar.”
Não importava quão excepcional espadachim Isaac tivesse se tornado, enfrentar uma multidão daquele tamanho sozinho era imprudente.
Se a Grã-Mestra interviesse, ela provavelmente poderia varrê-los sem muitos problemas. Com um único golpe de sua espada grande, ela poderia facilmente abater três ou quatro homens robustos de uma vez.
“Não”, disse Isaac, balançando a cabeça.
“Eu vou assumir a responsabilidade.”
Afinal, executar o Barão Bolten também havia sido sua decisão.
“Caso precise ser dito…”
“……”
“Em nenhuma circunstância você deve interferir.”
“Você está falando sério?”, perguntou a Grã-Mestra.
Isaac respondeu com um aceno. Não era que ele não quisesse a ajuda dela, nem era egoísmo mantê-la fora desse massacre.
Ele se lembrou do que acabara de ver…
Os olhos da Grã-Mestra enquanto ela subjugava a multidão crescente. Havia um tremor neles, tingido de tristeza, como se ela estivesse mal conseguindo conter as lágrimas.
‘Ela deve ter seus motivos’, pensou Isaac.
Se estava ligado ao passado sobre o qual ela nunca falava em sua vida anterior, ou conectado ao sangue meio-transcendente que corria dentro dela, ele não podia dizer.
“Eu já volto.”
Com a lâmina na cintura, Isaac caminhou em direção à entrada da mansão.
“…Vá em frente, então.”
Ela observou as costas de Isaac, forçando-se a permanecer calma, sabendo que, no final, aquele era o caminho que ele havia escolhido.
Creque.
Isaac saiu. Antes que alguém pudesse reagir, ele arremessou a cabeça decepada em sua mão — ‘Whoosh’ — direto na multidão.
A cabeça do Barão Bolten girou no ar, sangue fresco espirrando em todas as direções, e caiu na multidão.
Alguém inadvertidamente pisou nela, ou a chutou, e a cabeça rolou pelo chão.
“...!”
“B-Barão Bolten?!”
“Não! Nããão!”
Era como assistir a uma pintura macabra se desenrolar.
Nas horas escuras antes do amanhecer, uma multidão avançando com tochas na mão poderia parecer que estava marchando pela liberdade. Mas, na verdade, eles estavam presos pelas correntes da droga que os havia aprisionado.
‘Então é essa a loucura da qual o Barão Bolten falava…’, pensou Isaac ao finalmente encarar a insanidade coletiva da multidão de frente.
E agora, eles voltaram seus olhares para Isaac.
“Aquele desgraçado!”
“Matem ele, droga! Matem ele!”
“Como ele ousa fazer isso com o Barão Bolten!”
“Queimem ele! Coloquem ele na fogueira!”
“Vão saquear o armazém do Barão! Precisamos de mais drogas!”
Gritos vinham de homens e mulheres de todas as idades, a multidão se estendendo mais do que a vista podia alcançar.
Eles correram para a entrada da mansão, escalando as paredes, abrindo caminho por qualquer rota que pudessem encontrar.
Isaac observou a cena, fortalecendo-se para o fardo que agora carregava.
Regressão.
Um segredo, evento milagroso — será que realmente não exigia preço algum?
Isaac sempre fora cético em relação à palavra destino. Aceitar o destino significaria que havia algo predestinado sobre a perda de sua perna, o que parecia cruel. No entanto, naquele momento, ele não pôde deixar de falar de destino.
‘O preço da minha regressão…’
Se o destino realmente existisse…
Então este momento era certamente o destino que ele tinha que suportar.
Isaac desembainhou sua lâmina. Em um movimento fluido de iaido, ele decepou o pescoço do homem que corria em sua direção sem hesitação.
“Ele está brandindo sua espada!”
“Matem ele! Destrocem ele em pedacinhos!”
“Arrancem seus membros e pendurem ele na cidade!”
Espumando pela boca como se estivessem abastecidos por uma dose ainda mais potente, eles avançaram. A lâmina de Isaac cortou através deles como água corrente, avançando silenciosamente.
‘Me desculpe, Milli.’
Ele não tinha escolha a não ser destruir sua cidade natal.
Espero que você possa me perdoar.
[Humanos são vis.]
[Humanos são inferiores.]
[Humanos são gananciosos.]
[Humanos tomaram nosso mundo de nós.]
Dentro do escritório do barão.
Mesmo enquanto estava na escuridão, a voz ecoando nos ouvidos da Grã-Mestra não cessava.
Era uma memória do passado…
Uma forma de lavagem cerebral que ela ouvira enquanto se ajoelhava ao lado de seus companheiros discípulos.
“……”
Embora o espectro do passado tivesse levantado sua cabeça, a Grã-Mestra fingiu não ouvir, permanecendo em silêncio com os braços cruzados.
[Olhem para o mundo deles.]
[Eles sequer reconhecem as bênçãos da luz do sol e da terra fértil concedidas a eles; em vez disso, eles lutam incessantemente entre si.]
[Guerra após guerra. E mais uma guerra.]
[Eles realmente merecem possuir uma terra tão abençoada?]
A voz continuou, obscurecendo a mente da Grã-Mestra. O tumulto se desenrolando diante dela apenas fazia aquela voz soar mais alto, como se um estudioso fanático estivesse gritando que suas velhas teorias estavam certas o tempo todo.
[Não tenham pena dos humanos.]
“…Chega”, ela sussurrou.
[Não parem de odiar os humanos.]
“Eu decidirei por mim mesma.”
[Abram seus olhos — simplesmente observem.]
“……”
Uma dor de cabeça latejante surgiu. Os remanescentes de seu passado eram tão amargos quanto veneno em sua língua.
A Grã-Mestra soltou um suspiro, lutando para conter a onda de emoções que surgia dentro dela.
[Por que você se aliaria aos humanos?!]
“Porque eu não suporto gente como vocês.”
Ela sabia que não havia sentido em responder.
Aquelas palavras eram todos ecos de muito tempo atrás.
[Você acha que os humanos serão diferentes?]
E, no entanto, naquele momento, ela não podia negar o quão diretamente isso atingia o âmago da questão.
[Você terá esperanças—]
“……”
[Então rejeite-as—]
“……”
[Fique desapontada—]
“……”
[E, por fim, caia no desespero.]
Creque.
[Aprendiz Nº 10, a ‘possibilidade’ da qual você fala não existe.]
O olhar da Grã-Mestra começou a se abaixar. Ela não suportava mais observar a multidão, distorcida como estava pelo frenesi.
Claang!
Lá, utilizando o terreno estreito e brandindo duas espadas em uma profusão sozinho, estava Isaac.
“…Possibilidade.”
Sangue escorrendo por sua bochecha parecia quase como lágrimas. Sua expressão, brandindo espadas implacavelmente na entrada da mansão, estava cheia de culpa e arrependimento…
No entanto, não havia hesitação em suas ações.
Era como se ele se apegasse ao último fragmento de orgulho humano, lutando com unhas e dentes contra o destino.
Aquele com menos culpa agora carregava o pecado mais pesado.
“Ele é diferente de vocês.”
[…]
“Ele é a ‘possibilidade’ que eu estive esperando.”
[É inútil.]
Em um instante, a voz recuou para o passado…
Uma memória enterrada profundamente, uma que poderia esperar seu momento e tentar ressurgir novamente.
Mas não agora. Não desta vez.
Enquanto a Grã-Mestra descansava uma mão na janela e olhava para Isaac…
Whoosh!
Ela notou uma mudança no ar se dividindo ao redor dele.
O ritmo de abater inimigos havia mudado.
Estava mais leve, mas de alguma forma mais pesado do que antes.
“…!”
No momento em que ela viu o brilho azul percorrendo sua espada, os olhos da Grã-Mestra se arregalaram, um lampejo de alarme cruzando seu rosto.
“Aquela Demoníaca?...”
A mansão Blackthorn…
Aquele clã primitivo de transcendentes já ceifou inúmeras vidas e almas.
E agora, a lâmina de Isaac estava começando a se assemelhar à própria fonte desse poder.
Ele não tinha certeza exatamente quando começou.
Em algum momento, sua visão — turva pelo sangue — ficou clara.
Seus movimentos ficaram mais leves, e os arcos de suas espadas mais afiados.
Uma tênue imagem residual azul brilhava no ar.
Por um momento, ele pensou que poderia ser aura,
Mas era opressivamente pesado demais para ser chamado de aura, e agitava-se como se estivesse vivo.
“Seu monstro desgraç—!”
Pu-u-uk!
‘Ah.’
Sua espada bebeu o sangue.
Não — mais precisamente:
Isaac percebeu que através de suas mortes, ele próprio estava de alguma forma mudando.
Pensando bem…
Seres transcendentes não podiam empunhar aura.
Em outras palavras, eles não tinham nenhum conceito de mana.
“Porraaaaa!”
“Por que — por que você viria destruir nosso paraíso—?!”
Os olhos de Isaac brilharam ferozmente, frios como aço.
Ambas as espadas traçaram caminhos idênticos pelo ar enquanto ele as brandia simultaneamente.
Swish!
Aquele golpe poderoso cortou duas pessoas de uma vez — e então abateu todos ao redor em um único golpe.
De uma vez, em algum momento não reconhecido—
Ele percebeu que estava empunhando algo parecido com aquele demônio-espada que ele testemunhou em Blackthorn.
‘Estou fazendo a coisa certa?’
Ele sentiu que se avançasse ainda mais, algo além de tudo o que ele havia construído com sua espada desabaria sobre ele.
Mas—
“Nosso pai—!”
“Seu pedaço de lixo! Lacaio do reino!”
“Nós já machucamos alguém?! Hein?!”
Enlouquecidos pelas drogas, eles investiram contra ele, sem se importar com a pilha crescente de cadáveres.
Sua lâmina, encharcada em uma aura sinistra, movia-se como por puro instinto, faminta por mais presas.
A essa altura, seus sapatos estavam encharcados em vermelho vivo em poças de sangue.
Como um par amaldiçoado de sapatos de dança que não o deixariam parar até que ele morresse, Isaac brandia suas espadas incessantemente em meio à multidão.
Era como uma cena de um conto de fadas distorcido.
Ele tinha que abatê-los — só então essa dança horripilante poderia chegar ao fim.