
Capítulo 141
O Cão Louco da Propriedade do Duque
Capítulo 141
Eles estavam no escritório do Professor Ulysses, mas, no momento, ele havia sido transformado em uma sala de interrogatório.
— Já faz quatro anos desde que nos encontramos pela última vez — disse Caron.
— Haha. Já faz tudo isso? — Luke, o Vice-Comandante da Guarda Imperial, perguntou com um suspiro enquanto observava o homem sentado à sua frente. — Eu nunca esperava te ver de novo assim.
— Bem, a vida tem uma maneira engraçada de surpreender você. Reuniões inesperadas, atos repentinos de violência e alguma reforma moral que se segue. Não concorda? — Caron sorriu.
Luke suspirou enquanto olhava para Caron e disse: — Primeiro, devo confirmar os fatos. Você admite a alegação de que agrediu unilateralmente Engel Leroy, o terceiro filho do Marquês Leroy, o Ministro das Finanças?
Este não era um incidente comum. Era um ato sem precedentes para um nobre agredir o filho de outro nobre em plena luz do dia. A Guarda Imperial havia sido convocada, como era costume quando surgiam disputas nobres.
Normalmente, Luke teria prendido o suspeito e o arrastado para a sede para investigação. No entanto, o protocolo era complicado quando o suspeito era Caron Leston.
— Não foi uma agressão — disse Caron suavemente. — Foi mais como um veterano ensinando uma lição valiosa. Vamos chamar assim.
— Que eu saiba, você nunca estudou na academia — Luke apontou secamente. — Então, chamar a si mesmo de veterano dele não parece apropriado.
— Sou um veterano na vida e na sociedade nobre — Caron respondeu, sorrindo. — Acredito que é meu dever incutir valores adequados na geração mais jovem. Honestamente, Sir Luke, você não concorda?
— Concordar com o quê, exatamente? — Luke perguntou.
— Aqueles que têm pensamentos ruins precisam de uma boa surra para caírem em si. Não concorda? — Caron respondeu provocativamente com um tom sutilmente zombeteiro.
Aquele tom despertou memórias indesejáveis em Luke. O duelo de quatro anos atrás na sede da Guarda Imperial tinha sido lendário. Por mais que não quisesse admitir, aquele duelo inegavelmente mudou sua vida. Daquele dia em diante, seu caminho tomou um rumo dramático.
— Sua personalidade não mudou nem um pouco — Luke finalmente disse.
— Obrigado pelo elogio — Caron respondeu com um sorriso.
Enquanto trocavam gentilezas, um homem em um terno carmesim expressou seu desagrado.
— O Marquês está furioso. Ele exige punição severa para este incidente — disse o homem. Ele era o Conde Kona, braço direito do Marquês Leroy, que tinha vindo correndo em vez do Marquês Leroy.
Virando-se para Caron, ele acrescentou com desdém: — Não sei quem é esse jovem, mas este incidente não deve ser levado levianamente. Trata-se do colapso da disciplina e do declínio dos padrões na academia. Deve ser tratado com severidade para demonstrar que as leis do império permanecem intactas.
Luke perguntou calmamente: — Conde Kona, você sabe quem é esse jovem?
— Preciso saber o nome de família de um encrenqueiro que agride uma criança em plena luz do dia? É obviamente— — O Conde Kona começou, mas foi interrompido.
— Ei, Bigode — Caron interrompeu, sorrindo. — Você ganha um bônus por puxar o saco do Marquês? Você está tagarelando sem parar. Sua boca não dói?
— S-Seu insolente! Quem te ensinou tanta falta de respeito? Sua família deve carecer de qualquer senso de etiqueta! — Conde Kona gritou com raiva.
— Eu disse ao meu tio que ele era um velho gagá ainda hoje de manhã — disse Caron alegremente. — Você é esperto. A política deve ter aprimorado seus instintos. Isso é impressionante.
— Chega! Eu vou arruinar você e toda a sua casa vergonhosa— — Conde Kona continuou.
Sentindo que o ar estava carregado de tensão, Luke suspirou e levantou a mão para interromper a discussão crescente. Com um tom calmo e deliberado, ele se dirigiu ao Conde. — Se eu fosse você, não insultaria a casa de um grande herói.
O Conde Kona franziu a testa ao ouvir as palavras de Luke, então perguntou: — Do que você está falando?
— Você acabou de insultar a Família Ducal de Leston — disse Luke.
— O-O quê? Quando foi que eu— — O Conde Kona estava confuso, mas a compreensão o atingiu como um golpe.
Ele se virou para Caron, que agora estava recostado preguiçosamente, com um sorriso presunçoso no rosto. Aquela aura de tranquilidade, aquela confiança calma— tinha sido irritante desde o início. E agora, o Conde Kona finalmente entendeu o porquê.
— E-Espere... Esse bruto— não, esse jovem— é...? — Conde Kona gaguejou.
— Sim — Luke confirmou com um aceno de cabeça. — Ele é Lorde Caron Leston.
O Conde Kona ficou chocado em silêncio, soltando um soluço agudo. Seus olhos se arregalaram quando a realização amanheceu, e ele lutou para manter a compostura.
Caron riu suavemente e comentou: — Tentou me esmagar com autoridade, não foi? Sentindo-se um pouco perturbado agora que não funcionou?
— Caron Leston — Kona disse —, devo insistir que meus comentários anteriores foram por um mal-entendido—
— Vá dizer ao Marquês Leroy isso por mim — Caron interrompeu, seu tom se tornando mais agudo. — Se ele tem algo a dizer, ele pode vir pessoalmente em vez de enviar lacaios. E diga a ele que seu filho teve exatamente o que merecia. Entendido?
Apesar do insulto flagrante, o Conde Kona não se atreveu a levantar outra objeção. O jovem à sua frente não era apenas qualquer um— ele era um membro da Família Ducal de Leston, um nome que estava ganhando destaque graças a recentes atos heroicos. O Conde Kona se lembrou de um boato de quatro anos atrás que circulava entre as famílias nobres.
'O mais jovem do Castelo Azureocean só ataca nobres quando luta.'
Essa memória enviou um arrepio pela espinha dele.
Mesmo assim, recuar não era uma opção. Fugir agora garantiria a desgraça, e a ira do Marquês Leroy seria muito pior. Reunindo sua coragem, o Conde Kona declarou: — Mesmo que você seja Caron Leston, os boatos não vão parar. Este escândalo vai manchar sua reputação.
Para os nobres, salvar a face era geralmente de extrema importância. Assim, o Conde Kona pensou que Caron não tinha escolha a não ser propor um acordo de alguma forma.
No entanto, suas expectativas foram completamente traídas.
O sorriso de Caron cresceu enquanto ele respondia: — Perfeito. É exatamente o que eu quero.
— O que você quer dizer? — Conde Kona perguntou, confuso.
— Espalhe a notícia assim que você sair. Diga que Caron Leston deu um tapa na cara de um filho de nobre. Diga a todos que eu sou o pior, um encrenqueiro indomável — Caron respondeu.
Ele levantou sua xícara de chá, engoliu o resto do chá em um gole rápido, então exibiu um sorriso brilhante e divertido. Ele terminou: — Agora, se você entendeu, suma daqui. Não quero começar minha manhã de mau humor.
O Conde Kona cerrou os punhos, mas se viu incapaz de responder. Tudo o que ele podia fazer era encarar.
— Você vai se arrepender disso — ele finalmente cuspiu após um longo e tenso silêncio, antes de virar nos calcanhares e sair furiosamente como se estivesse fugindo de um campo de batalha.
Caron o observou ir embora com um olhar de puro divertimento. — Todo pai nobre na capital deveria estar me agradecendo. Estou dando aos seus pirralhos mimados a educação que eles nunca tiveram. Não deveria haver um prêmio para Educador do Ano?
— Você cometeu um crime e o usa como um distintivo — disse Luke.
— Crime? Vamos lá, Sir Luke. Você sabe mais do que isso — Caron respondeu.
Luke já sabia a história completa. O menino plebeu havia lhe contado tudo— ele havia sofrido dois anos de tormento implacável. Os pirralhos nobres não pararam no bullying; eles haviam ameaçado os pais do menino, gabando-se de que acabar com uma família plebeia seria fácil.
Caron se sentiu um pouco mal por deixar o menino inconsciente. Não porque ele estava arrependido pelo ato— se alguma coisa, ele desejou ter batido mais forte depois de ouvir toda a extensão do abuso. Para ele, a justiça tinha sido meramente servida.
— Foi um senso de justiça, então? — Luke perguntou, observando Caron curiosamente.
Ele sabia que este jovem na frente dele não era um nobre comum. Caron Leston, o jovem herói que havia libertado Reben, já estava no auge de 7-Estrelas— um nível de poder inédito em sua idade. Não seria surpreendente se ele carregasse algum idealismo justo.
Mas a resposta de Caron destruiu essa ilusão.
— Eu bati nele porque eu queria. O que a justiça tem a ver com isso? — Caron respondeu com um encolher de ombros.
— Eu estava meramente sugerindo que você poderia alegar legítima defesa — Luke respondeu.
— Deixe-me ser perfeitamente claro, Sir Luke — Caron disse, inclinando-se para frente com um sorriso malicioso. — Eu bati nele porque eu estava com vontade. Essa bobagem sobre a academia ser um lugar de igualdade? É uma completa mentira. Você quer saber o que é igualdade de verdade?
Os olhos de Luke se estreitaram e perguntaram: — ...O que é?
Caron levantou o punho, seu sorriso se alargando enquanto ele respondia: — É meu punho. Não importa seu status, se você fez algo ruim, você vai encontrar meu punho. Essa é a verdadeira igualdade.
Luke suspirou então disse: — Vejo que nada mudou em quatro anos.
— Então — Caron perguntou astutamente —, qual é o veredito do nosso estimado vice-comandante?
Luke exalou profundamente antes de responder: — Por enquanto, é muito cedo para fazer um julgamento definitivo. Estou suspendendo o caso até uma investigação mais aprofundada.
Reunindo os documentos que havia colocado na mesa, ele os colocou em sua bolsa e se levantou antes de dizer: — Entraremos em contato com você assim que a investigação for agendada. — Seu olhar permaneceu em Caron enquanto ele acrescentava: — Antes de deixar a capital, certifique-se de visitar nossa sede.
— Oh, uma visita? — Caron riu. — Se isso for sobre uma restrição, isso vai ser um pouco problemático.
— Eu tenho algo para te mostrar. Além disso... — Luke fez uma pausa para enfatizar. — Uma série de assassinatos misteriosos tem ocorrido dentro da capital. Aconselho cautela.
Caron pensou que esta era uma informação valiosa. Ele deu um pequeno aceno de reconhecimento.
Luke continuou, sua voz firme: — E Dame Amy está ansiosa para vê-lo novamente.
— Claro — Caron murmurou com um sorriso. — É por isso que ser popular—
— Ela mencionou que está determinada a te espancar até a inconsciência na próxima vez que te encontrar. Bem então, eu vou indo. — Com isso, Luke saiu do escritório de pesquisa, deixando Caron olhando para a porta enquanto coçava a cabeça.
— Talvez eu tenha acumulado muito carma ruim — Caron murmurou para si mesmo.
A voz familiar de Guillotine ecoou em sua mente, afiada e sarcástica.
"Só agora você percebe? Aposto que todos estão te amaldiçoando pelas suas costas."
Caron sorriu amplamente, assentindo como se concordasse, então disse: — Bem, pelo menos isso significa que eu vou viver uma vida longa desta vez.
"...Espere, o quê? É assim que funciona?"
— Eu queria viver uma vida longa. Acho que está dando certo afinal — Caron disse, radiante de contentamento.
"Sério, é assim que você está encarando isso?"
Caron sorriu com satisfação.
Assim que Luke saiu do escritório, um homem de meia-idade entrou na sala de pesquisa. Sua postura acadêmica e óculos de aro fino lhe davam um ar calmo e equilibrado. Era Ulysses, o próprio homem responsável por convidar Caron para a academia.
Caron abriu os braços em um gesto exuberante. Ele exclamou: — Professor Ulysses! Já faz tanto tempo— o quê, quase sete anos? Você não mudou nem um pouco!
Sorrindo, ele puxou Ulysses para um abraço caloroso, dando-lhe tapinhas nas costas com entusiasmo exagerado.
Ulysses riu sem jeito e deu um tapinha educado nas costas de Caron em troca. — Você, por outro lado, cresceu tremendamente, Jovem Mestre.
— Como está a pesquisa sobre as teorias de Cain Latorre hoje em dia? — Caron perguntou.
— Graças ao apoio constante da família Leston, conseguimos continuar sem grandes contratempos. Sou sempre grato pela sua generosidade — Ulysses respondeu.
Caron sorriu e acrescentou: — Ah, o financiamento que você tem recebido nos últimos dois anos? É do meu bolso.
— ...Perdão? — Ulysses perguntou.
— Só achei que você deveria saber. Haha! — Caron disse, totalmente imperturbável por sua própria ousadia depois de ter se declarado o patrocinador do professor.
Ulysses piscou, lutando para processar o que acabara de ouvir. Caron já dava trabalho quando era menino, mas ao vê-lo agora, ele percebeu que a escala das coisas só havia crescido exponencialmente.
O incidente nos portões da academia mais cedo provou isso— Caron havia atingido o neto de um marquês na frente de uma multidão de estudantes. A academia já era um foco de boatos e tensão por causa disso.
— Jovem Mestre — Ulysses começou hesitantemente.
— Hmm?
— O assunto com o Sr. Engel... Por que exatamente você bateu— hum, o disciplinou?
— Oh, aquilo? — Caron se inclinou perto, seus lábios quase roçando a orelha de Ulysses enquanto ele sussurrava secretamente: — Eu só vou te contar a verdade.
Ele fez uma pausa por um momento antes de continuar: — Você conhece meu sonho, certo?
— Sim, eu conheço... — Ulysses respondeu.
— Só pode haver um encrenqueiro notório. Os holofotes são só meus. Eu não tolero competição. Mas aquele garoto Engel? Ele tinha potencial. O suficiente para me fazer sentir ameaçado — Caron explicou.
— ...Entendo — Ulysses disse. Ele pensou que Caron era tão desequilibrado como sempre, e a carta de Fayle tinha sido dolorosamente precisa.
"Não conseguimos encontrar um método para controlar Caron."
Ulysses sentiu essa verdade até seus ossos. Ainda assim, ele não podia culpar ninguém além de si mesmo— e o diretor— por convocar este turbilhão de caos.
— Quando alguém que me ajudou na minha infância pede um favor, como posso recusar? Além disso, pensei que veria você e daria uma olhada na academia enquanto estou aqui — Caron explicou, radiante.
— S-Seja bem-vindo — Ulysses murmurou fracamente.
Na realidade, as esperanças do diretor de ser reconduzido ao cargo eram agora um sonho distante. Um dos principais funcionários do império teve seu neto esbofeteado em público— um escândalo que Caron havia desencadeado em seus primeiros dez minutos no campus. Até mesmo sua posição atual estava repentinamente em perigo.
Como Fayle afirmou na carta, a responsabilidade recaía inteiramente sobre a academia que estendeu o convite.
Concentre-se, recomponha-se! Ulysses disse a si mesmo, imaginando sua esposa e filhos esperando em casa. Ele deu um leve tapa em sua própria bochecha para voltar à realidade. Ele tinha que evitar ser demitido. A todo custo.
— Jovem Mestre — Ulysses começou com uma nova determinação —, se você se sentir despreparado, você é mais do que bem-vindo para cancelar a palestra de amanhã.
Ulysses precisava tirar este desastre ambulante da academia o mais rápido possível. Foi por isso que ele disse a Caron em um tom sutil: — Eu só quero dizer que falar para um grande grupo de alunos pode ser cansativo. Se for inconveniente, terei prazer em assumir a responsabilidade por isso em seu nome.
Era uma luta desesperada para evitar perder seu emprego.
No entanto, Caron balançou a cabeça firmemente enquanto olhava para Ulysses e dizia: — Eu não poderia possivelmente sobrecarregá-lo assim. Isso danificaria sua reputação e integridade.
— ...Não, você não precisa necessariamente pensar dessa forma... — Ulysses disse.
— Eu já tenho o tópico perfeito para a palestra em mente — Caron interrompeu. — Não precisa se preocupar. A palestra é amanhã, certo?
— ...Esse é o plano, sim — Ulysses respondeu.
— Enquanto caminhava mais cedo, notei uma preocupante falta de caráter em alguns dos alunos. Os futuros líderes do império devem ter bom caráter, não acha? Então, decidi sobre um título para minha palestra.
Caron cerrou o punho dramaticamente e declarou: — Vamos Viver Bondosamente.
— "Vamos... viver bondosamente?" — Ulysses repetiu.
— É a mensagem que quero transmitir aos alunos. Aposto que ficará marcada como uma das palestras mais memoráveis da história da academia — disse Caron.
Ulysses não pôde deixar de concordar que isso ficaria marcado na história da academia. Sem dúvida, deixaria uma marca...
Como a última palestra da academia, Ulysses pensou.
O desastre ambulante que eles haviam convidado estava diante dele, sorrindo brilhantemente.