
Capítulo 142
O Cão Louco da Propriedade do Duque
Capítulo 142
A notícia de que Caron daria uma palestra especial na academia se espalhou como rastilho de pólvora – juntamente com a fofoca de que ele havia esbofeteado Engel Leroy logo após sua chegada.
O problema era que os rumores tinham tomado um rumo inesperado, completamente contrário a tudo que Caron havia previsto.
'Caron Leston?' 'Está falando sério? O Caron Leston está aqui?' 'Uau, o diretor deve estar desesperado para ser reconduzido ao cargo. Como diabos ele conseguiu trazer Caron Leston?' 'O Professor Ulysses do departamento de história costumava ser tutor de Caron Leston.' 'Ah, isso explica tudo! E dizem que Caron Leston colocou aquele Engel presunçoso no lugar dele assim que apareceu?' 'Corre a boca pequena que ele não suportou ver a injustiça. Sabe aquele plebeu que anda sendo intimidado pela gangue do Engel? Aparentemente, Caron ficou tão comovido ao ouvir a história do garoto que chegou a chorar antes de intervir pessoalmente.' 'Incrível.' 'Ele é um verdadeiro herói.'A fama era realmente algo à parte. Você podia defecar no chão, e as pessoas ainda aplaudiriam. No momento, essa era precisamente a situação de Caron.
"A academia está em polvorosa, elogiando você, Jovem Mestre. Previu esse tipo de reação?", Ulysses perguntou, com o rosto mais vivo do que em anos.
A inesperada popularidade de Caron parecia ter ressuscitado o professor de seu estado quase morto, e até o diretor, Octavio, tinha corrido até ele em um frenesi de excitação.
"Uma atitude tão ousada em favor de um plebeu! Me lembra as próprias façanhas juvenis do Duque Halo. Seu senso de justiça é verdadeiramente inspirador, Sr. Caron", Octavio exclamou, praticamente se curvando.
Caron deu um passo à frente e suspirou baixinho. Ele se perguntava por que a vida era tão implacavelmente imprevisível. Lamentava que nada no mundo saísse do seu jeito.
"Eu esbofeteio um garoto muito mais novo que eu, e é assim que eles reagem? Batem palmas para mim? Sério?", Caron reclamou.
Com isso, Octavio olhou em volta cautelosamente. Quando teve certeza de que não havia mais ninguém por perto, ele se inclinou e sussurrou: "Bem... Engel Leroy tem uma reputação, e é das piores. Se soubesse metade das coisas que ele já fez..."
"Então você deveria tê-lo expulsado há muito tempo", Caron interrompeu bruscamente.
"Como você bem sabe, existem... fatores complicados. Em nome da academia, peço sinceras desculpas pelo transtorno", disse Octavio.
Caron sabia exatamente quais eram esses "fatores complicados". Era uma questão de política.
O pai de Engel, o Marquês Leroy, era um nobre poderoso que Caron também conhecia bem. Eles eram alinhados com a facção do Marquês Kieran, um dos três grandes poderes políticos do império. O Marquês Leroy também era o Ministro das Finanças, uma figura de influência significativa.
"Agora que seu filho foi humilhado... Ele não vai deixar isso barato", avisou Octavio.
Caron sorriu e disse: "Que tente".
"Bem, ninguém em sã consciência desafiaria a Família Ducal de Leston...", Octavio começou, mas foi interrompido.
"Exatamente. Além disso, partirei assim que a palestra terminar. Que me persigam, se ousarem", Caron interrompeu com uma risada.
Era realmente impossível raciocinar com ele.
Caron se virou para acenar para os alunos que o cumprimentavam com entusiasmo, oferecendo-lhes um sorriso mecânico que não chegava aos olhos. Ele pensou consigo mesmo: "Será que é assim que se sente um ator famoso?".
"Comparando-se a um ator, Sr. Caron? Não, não! Você é um ídolo para inúmeras pessoas – muito além de qualquer mero ator", disse Octavio.
Caron não tinha dúvidas de como Octavio havia garantido seu cargo de diretor. Seu talento para a bajulação devia ser incomparável.
Com um gesto displicente, Caron conduziu a conversa para outro lugar. "Antes, Sir Luke mencionou uma série de assassinatos acontecendo na capital. Pode me dar mais detalhes sobre isso?"
Ele havia pensado nisso depois que Luke foi embora. Não havia nenhuma razão real para este último mencionar os assassinatos, o que fazia parecer mais um sinal sutil – um que insinuava algo sinistro por trás dos crimes.
Octavio franziu ligeiramente a testa, mas disse com um aceno de cabeça: "É verdade. Desde cerca de um mês atrás, assassinatos têm surgido nos arredores da capital. De acordo com um amigo meu na força de segurança, eles classificaram isso como assassinatos em série".
"Assassinatos em série?", Caron repetiu.
"Sim. Cada vítima foi encontrada com o pescoço terrivelmente rasgado, como se tivesse sido feito por um animal. Infelizmente, é tudo o que sei até agora", disse Octavio.
Esse detalhe só tornava a situação mais estranha.
Não é como se um leão ou um tigre estivessem vagando pela capital, pensou Caron. Sua curiosidade despertou, e ele decidiu que teria que perguntar a Sir Zerath sobre isso mais tarde. O envolvimento da Guarda Imperial sugeria camadas de intriga escondidas sob a superfície.Ele assentiu lentamente antes de dar ao diretor um olhar significativo e perguntou: "Então, teve a chance de revisar meu esboço da palestra?".
Octavio esfregou as mãos ansiosamente e balançou a cabeça. "Foi um trabalho excelente! Uma palestra sobre educação de caráter – foi uma revelação! Estarei sentado na primeira fila para absorver cada palavra".
"...Você leva uma vida tão diligente", disse Caron.
"Haha! Que escolha eu tenho? Já que caí nas desgraças do Marquês Leroy, só me resta um refúgio, não é?", respondeu Octavio.
Caron ficou surpreso que Octavio tivesse calculado isso. O diretor era praticamente uma exposição ambulante sobre como subir nas fileiras da academia.
"Sr. Caron – não, Jovem Mestre – garanto que farei o possível para ajudá-lo", disse Octavio.
Essa cooperação era precisamente o que Caron queria. Afinal, seus olhos estavam fixos muito além da palestra de hoje.
"Dei uma pequena volta pela academia", ponderou Caron, "e notei que há alguns... rivais formidáveis".
Em particular, ele estava pensando nos alunos nobres, que exalavam privilégios e direitos. Mesmo à distância, eles irradiavam a energia inconfundível de pirralhos destinados a se tornarem encrenqueiros de classe mundial.
"Ainda bem que vim. Veja, as ervas daninhas precisam ser pisoteadas antes que possam criar raízes", explicou Caron. Já que ele tinha feito a viagem até a academia, fazia sentido deixar uma marca memorável para trás.
Caron sorriu para o diretor com uma satisfação pouco disfarçada antes de acrescentar: "Em breve, a verdadeira igualdade reinará na academia. A propósito, Diretor Octavio, existem alguns clubes de estudantes aqui, certo?".
"Sim, incentivamos as atividades do clube para promover diversos interesses dos alunos", respondeu Octavio.
"Perfeito", disse Caron.
Ele olhou para o grupo de alunos ainda olhando para ele e acenou para eles. Então, com uma voz suave e aveludada, ele acrescentou: "Em homenagem à minha palestra, estou pensando em fundar um clube".
"Ah, bem... Perdoe-me, mas apenas alunos podem estabelecer clubes sob os regulamentos da academia", explicou Octavio.
Caron o encarou com um olhar despreocupado, sua expressão ousada e desculpável. Ele disse: "Então me faça um graduado honorário".
"Sim, sim. Existem maneiras, afinal. Certamente, sempre há um jeito... Posso perguntar que tipo de clube você planeja criar?", perguntou Octavio.
"Reforma", respondeu Caron.
"...Como?", perguntou Octavio.
"Um clube para reformar alunos. Para o bem da academia – e, em última análise, do império – devemos nutrir indivíduos de caráter sólido. Não se preocupe, terei meus membros fundadores prontos até esta noite", explicou Caron.
Naquele momento, Octavio viu a loucura cintilar nos olhos de Caron.
Assim, o que seria o maior clube da história da academia – Reforma – foi estabelecido.
Os bairros pobres nos arredores da capital se estendiam por toda parte, um lugar encharcado no cheiro amargo de sangue.
Em um porão úmido e escondido, um homem mascarado ajoelhou-se, sua voz baixa enquanto se dirigia ao seu mestre. "Comandante, ouviu as notícias?"
"Que notícias?", perguntou o homem referido como Comandante.
"Caron Leston dará uma palestra especial amanhã de manhã no auditório da academia", respondeu o homem mascarado.
"É mesmo?", respondeu o Comandante.
Ele sorriu enquanto voltava o olhar para seu subordinado, comentando: "Uma oportunidade bastante pitoresca, não diria? Quão longe a investigação da Guarda Imperial progrediu?".
"Eles só descobriram vestígios da existência de nossos cobaias. Até agora, não houve nenhuma ação significativa por parte deles", respondeu o subordinado.
O Comandante zombou e disse em um tom cheio de cinismo: "Algumas mortes nos bairros pobres não vão comover esses cães. O propósito deles é limpar depois dos nobres, nada mais".
O subordinado assentiu silenciosamente em concordância.
"A paz", continuou o Comandante, "cega as pessoas. Nesse sentido, este império tem se banhado em seu conforto por muito tempo".
Ele se levantou lentamente, seus movimentos deliberados, e caminhou até uma jaula de metal pressionada contra a parede. Lá dentro, um grupo de pessoas se encolhia, seus olhos vazios de terror.
"Se não fosse por aquele hipócrita, Halo Leston, o império estaria melhor hoje", disse o Comandante. Ele então enfiou a mão no casaco, puxando uma placa de carne embrulhada em papel e jogando-a na jaula.
Os cativos gritaram, seu medo se transformando em frenesi enquanto lutavam pela carne. A cena era mais selvagem do que qualquer luta comum entre animais, uma pura disputa pela sobrevivência.
Os lábios do Comandante se curvaram em um sorriso satisfeito enquanto ele os observava. Depois de um momento, ele voltou para seu assento e disse: "Precisaremos mudar nossos planos".
"Apenas diga a palavra", respondeu o subordinado.
"Ouvi dizer que a fama de Caron Leston está abalando o império. Dizem que ele é o herdeiro do legado de seu avô, um herói em construção", continuou o Comandante.
"Isso é verdade. Até a Rainha do Sul acredita que ele será o próximo depois de Halo Leston", concordou o subordinado.
"Envie os cobaias para a academia", ordenou o Comandante.
Os olhos do subordinado se arregalaram ao encontrar o olhar de seu comandante. Ele baixou a voz cautelosamente e perguntou: "Isso vai ficar bem?".
A academia não era uma instituição comum. Suas defesas incluíam poderosos feitiços de detecção da Torre Imperial de Magia e vários meios para identificar todos os tipos de perigos com antecedência. Alguns até afirmavam que era a segunda em segurança, perdendo apenas para o Palácio Imperial.
Mas o Comandante apenas riu sombriamente e assentiu, então disse: "A magia não consegue identificar os cobaias. Já provamos isso".
"Mas Comandante, se isso der errado, toda a capital pode virar de cabeça para baixo. Por favor, reconsidere prejudicar os alunos da academia...", o subordinado começou, mas foi interrompido.
Whoosh.Uma aura escura fluiu da mão do Comandante, enrolando-se como uma serpente ao redor do pescoço do subordinado.
"G-Ghhk..."
O subordinado agarrou sua garganta enquanto a voz gélida do Comandante ecoava. "Um mero cão de caça ousa questionar a decisão de seu mestre?"
"E-Eu sinto muito, eu estava errado...", respondeu o subordinado.
"Se vocês idiotas tivessem feito bem o seu trabalho há quatro anos, Caron Leston já estaria morto. Quanto perdemos por causa de sua incompetência?", continuou o Comandante. Seus olhos ardiam de desprezo enquanto ele olhava para seu subordinado como se estivesse olhando para um inseto.
"Tudo o que faço é pelo império. Os tolos cegados pela paz devem ser despertados. Não há outro caminho", explicou o Comandante.
"P-Por favor... M-Me perdoe...", gaguejou o subordinado.
"Tsk, tsk", respondeu o Comandante.
A aura escura afrouxou o aperto, e o subordinado desabou com um baque, ofegando por ar.
"Vá infectar alguns alunos plebeus na academia, então traga-os aqui", instruiu o Comandante.
"...E os pais deles?", perguntou o subordinado.
"O mesmo de sempre", respondeu o Comandante.
"Sim, Comandante", respondeu o subordinado, então, com uma reverência, ele saiu apressado do porão.
O Comandante se levantou novamente, sua expressão escura de determinação. Ele murmurou: "Caron Leston..."
Quatro anos atrás, quando atacaram o trem daquele garoto, eles nunca imaginaram que ele sobreviveria, muito menos que se tornaria o jovem que se tornou. Um único fator imprevisível descarrilou seu grande esquema. Tanto foi perdido por causa de um garoto.
Mas desta vez, as coisas seriam diferentes. Desta vez, Caron Leston perceberia o quão impotente ele realmente era.
"Pela glória do Império Orias", disse o Comandante para si mesmo.
O império estava doente. Os nobres brigavam como abutres, e os plebeus se tornaram egoístas, despedaçando-se por migalhas.
A paz tinha feito isso com eles. Era hora de tirar essa paz e preencher o vazio com medo. Só então a unidade poderia ser forjada novamente – assim como o grande governante que ele já havia servido havia previsto há cerca de cinquenta anos.
"...Pela glória do falecido Imperador", disse o Comandante, então curvou-se respeitosamente em direção a um retrato pendurado na parede. Em voz baixa, ele murmurou: "Continuarei a grande vontade de Vossa Majestade. Então, por favor, olhe por mim".
Sssrrrrr.Mana negra e contorcida fluiu dele. O fantasma de uma era passada ainda estava vivo e respirando.