O Cão Louco da Propriedade do Duque

Capítulo 145

O Cão Louco da Propriedade do Duque

Capítulo 145

Bail tremia enquanto encarava Caron. Era como se insetos estivessem rastejando por todo o seu corpo—não, eles realmente estavam. Ele sentia uma dor lancinante, como se estivesse rasgando suas veias, cegando-o e o dominando.

“G-Guk…”

A agonia o engolfou. A dor era tão insuportável que ele considerou morder a própria língua para acabar com aquilo. Ele mal conseguia pensar, incapaz até mesmo de identificar onde as coisas tinham dado tão errado.

Bail se perguntava como Caron Leston sabia sobre o verme da mandíbula e como ele tinha descoberto os infectados. Mas não havia respostas à vista.

A dor lancinante no pé, onde a espada havia atravessado, não era nada comparada ao tormento que o invadia. O sofrimento pairava logo antes de fazê-lo desmaiar—mas, ironicamente, o mantinha consciente.

Em meio àquele tormento implacável, a voz de Caron deslizou em seus ouvidos como aço frio. “Pode desmaiar se quiser. Eu só vou te acordar de novo.”

Havia uma calma letal em suas palavras, e o peso de sua intenção assassina era tão denso que parecia impregnar o ar. Era uma sede de sangue forte o suficiente para fazer até mesmo cavaleiros recuarem. Para um mago—um que já estava subjugado—era impossível suportar.

“Se está pensando em soltar alguma besteira sobre ser uma vítima, nem se preocupe”, Caron continuou. “Eu conheço vermes da mandíbula muito bem. O hospedeiro de um verme da mandíbula fêmea nunca é uma vítima. No máximo, é um gerente intermediário. Não é verdade?”

Bail sentiu um calafrio ao perceber a profundidade do conhecimento de Caron. Aquilo não era apenas uma coincidência. Informações sobre vermes da mandíbula tinham sido meticulosamente expurgadas dos registros. Se fosse alguém que se lembrasse dos eventos de cinquenta anos atrás, então talvez fosse possível que tivessem essa informação. Mas para um mero jovem de dezessete anos saber como os vermes da mandíbula funcionavam, era impensável.

Eu tenho que morrer, pensou Bail.

Havia apenas uma fuga agora: A morte. Seria muito menos doloroso do que suportar o que estava por vir.

Felizmente, Bail tinha se preparado. Um feitiço de autodestruição tinha sido colocado em seu corpo há muito tempo para situações como aquela. Mesmo que a dor o tornasse incapaz de cantar uma invocação completa, tudo o que seria necessário era um movimento de seus dedos. Ele reuniu cada grama de força e forçou sua mão a se mover.

Mas, assim que seus dedos começaram a se contrair—

Slash!

Guillotine brilhou, cortando ambas as mãos de Bail em um único golpe.

“Tentando formar um selo de mão? Que feio. Que vergonha. Você ia se explodir na frente de todos esses alunos? Que canalha desprezível”, disse Caron.

Com um baque surdo, as mãos decepadas de Bail atingiram o chão. No entanto, nenhum sangue jorrou. Caron havia selado as feridas com o poder de Plutão, cortando qualquer chance de o sangue escapar.

Não era um ato de misericórdia, no entanto.

“Não podemos deixar essas larvas escaparem pelos tocos, podemos?”, disse Caron com um sorriso perverso.

Era uma crueldade calculada, um ato nascido de pura maldade para prolongar o sofrimento de Bail.

Mas Caron logo percebeu que tinha sido impensado—suas ações tinham sido ousadas demais. O palco não era o lugar certo, pois havia muitos olhos observando. Vários alunos já tinham desmaiado depois de testemunhar o espetáculo sombrio das mãos decepadas de Bail caindo no chão.

“Eu vou ganhar uma reputação de açougueiro nesse ritmo, não de encrenqueiro”, disse Caron com um estalo de língua. Ele acenou casualmente para Drogol, que estava parado congelado atrás dele, pálido como um fantasma.

“S-Sim, você me chamou?”, Drogol gaguejou enquanto se aproximava.

“A Ordem dos Cavaleiros Oceanwolf e a Guarda Imperial já devem estar do lado de fora do salão principal. Se tantas pessoas tentarem sair de uma vez, alguém vai se machucar. Vá lá fora e traga os cavaleiros para dentro”, instruiu Caron.

“Sim, entendido!”, gritou Drogol antes de correr em direção à saída com toda a sua força.

Caron voltou sua atenção para Bail, seus olhos afiados com malícia. “Eu vou te fazer um acordo”, disse ele. “Me conte tudo o que você sabe, e eu vou tirar toda a dor.”

As palavras vieram com um tom leve, quase brincalhão—elas eram totalmente impossíveis de acreditar. Era um absurdo. Parar os vermes da mandíbula infestando a corrente sanguínea de Bail sem equipamento especializado era impossível.

Mas antes que Bail pudesse pensar nisso, Caron de repente cravou sua espada no topo do pé do homem mais uma vez.

Whoosh.

Bail sentiu uma energia desconhecida infiltrar-se em seu corpo. Pela primeira vez no que pareceu uma eternidade, uma porção de sua dor excruciante diminuiu. A agonia de suas mãos decepadas e pé perfurado permaneceu, mas algo mais—a contorção dos vermes da mandíbula—pareceu cessar.

“Como você pode ver”, disse Caron calmamente, “eu posso parar a atividade dos vermes.”

“Como… Como isso é possível?”, perguntou Bail.

“Eu sou quem faz as perguntas”, rosnou Caron. Ele agarrou Bail pelo colarinho e o ergueu. “Seu trabalho é responder. Você decidiu cooperar ainda?”

A voz de Bail tremia quando ele respondeu: “Eu… Eu não posso. As respostas que você quer… Eu não posso dá-las. Há uma maldição. No momento em que eu revelar o segredo, eu vou morrer.”

Caron franziu a testa, sua testa se enrugando ligeiramente. Sem uma palavra, ele olhou para Guillotine, ainda cravada no pé de Bail.

“Guillotine”, perguntou ele, “esse canalha está dizendo a verdade?”

“Definitivamente há algum tipo de encantamento perto do coração dele. Parece que está ligado a um feitiço de autodestruição…”

“Você pode quebrá-lo?”, perguntou Caron.

“Claro. O que você acha que eu sou? Dono, observe atentamente.”

Whoosh.

A aura azul da espada brilhou com vida, ondulando-se para fora como ondas em um mar à meia-noite. Ela invadiu Bail em uma onda repentina, banhando-o em uma luz fria e misteriosa. Bail não tinha ideia do que estava acontecendo. Tudo o que ele podia ver era o rosto de Caron, calmo e sereno enquanto o jovem orquestrava algo aterrorizante.

Quando o brilho diminuiu, Caron sorriu e disse: “A maldição se foi. Então, você está se sentindo mais inclinado a falar agora?”

“Como… Como você fez isso?”, perguntou Bail.

“Você espera que um mercador revele seus segredos comerciais?”, Caron riu. “Eu sempre gostei de magos. Quer saber por quê?”

Sssrrrrr.

A escuridão espiralou ao redor dele, subindo como fumaça de chamas invisíveis. A sombra de Plutão se espalhou para fora, formando uma vasta cortina que protegia o palco da vista. Era uma pequena misericórdia para os alunos.

Tendo criado seu próprio domínio sombrio, Caron ajustou sua empunhadura em Guillotine e falou novamente. “Magos quase não têm tolerância para dor física. Isso é o que torna a tortura tão deliciosamente eficaz.”

Bail tinha arruinado seus planos de se tornar um encrenqueiro lendário. Mas um conspirador solitário não ousaria agir assim no meio da academia—tinha que haver mais por trás disso.

“Vamos começar”, disse Caron. “Não precisa contar tudo de uma vez. Ah, faz um tempo desde que eu interroguei alguém, então, mesmo que eu esteja um pouco enferrujado, confio que você vai me perdoar.”

A lâmina de Guillotine brilhava com um fio mortal.

Inclinando-se para perto, Caron murmurou: “Vamos começar com seu braço direito. O que acha?”

E assim, a experiência infernal começou.


Assim como Caron previu, a Ordem dos Cavaleiros Oceanwolf e a Guarda Imperial já haviam chegado do lado de fora do grande auditório. Eles rapidamente começaram a evacuar os alunos. Magos enviados urgentemente da Torre de Magia posicionaram artefatos ao redor das instalações para evitar quaisquer incidentes imprevistos e desenrolaram feitiços para rastrear a presença dos vermes da mandíbula.

Enquanto alunos assustados corriam para fora em uma massa em pânico, os comandantes das duas ordens correram para dentro do auditório. Lá dentro, eles imediatamente se depararam com a cortina sombria e ameaçadora de escuridão drapeada sobre o palco. O vasto auditório estava estranhamente silencioso.

Luke, o Vice-Comandante da Guarda Imperial, moveu-se rapidamente em direção ao sudário de sombras. Atrás dele, alguns alunos inconscientes estavam espalhados no chão.

“Levem esses alunos para fora”, ele ordenou a seus subordinados. “Eles estão em mau estado—não percam um momento.”

Antes que pudessem agir, a cortina de escuridão se levantou, revelando duas figuras lá dentro.

“Não toquem nas crianças, Sir Luke”, veio uma voz calma e juvenil. “Elas estão infectadas com vermes da mandíbula. Precisaremos tratá-las.”

Caron, com seu cabelo loiro e olhos azuis penetrantes, exalou lentamente enquanto se dirigia ao Vice-Comandante. Com um movimento casual, ele deixou um corpo mole cair no chão.

“Pelo menos vocês não estão muito atrasados”, acrescentou com um sorriso malicioso.

“A evacuação está prosseguindo sem problemas”, respondeu Luke.

“Não precisa se apressar. Não há perigo imediato mais”, disse Caron.

Ele limpou o sangue da lâmina de Guillotine, esfregando-a nas roupas do homem que acabara de descartar—Professor Bail. Uma vez que estava limpa, ele deslizou a espada de volta em sua bainha e olhou para Luke.

“Você mencionou uma série de assassinatos em série na capital recentemente, não foi?”, perguntou Caron.

“Sim, eu mencionei”, confirmou Luke.

“Bem, eles são responsáveis por isso”, disse Caron, sacudindo o queixo em direção a Bail. “Ele confessou.”

Luke não precisou perguntar como Caron havia obtido a informação. Um olhar para o corpo arruinado de Bail disse-lhe tudo o que ele precisava saber. O homem agarrava-se à vida por um fio.

“Bail Freedman”, murmurou Luke, reconhecendo-o. “O professor de estudos mágicos da academia… Ele é o principal culpado?”

“Não exatamente. Mais como um dos braços do principal culpado”, respondeu Caron.

“Então você descobriu algo substancial”, disse Luke.

A expressão de Caron escureceu quando ele continuou: “Todos os assassinatos na capital foram causados por vermes da mandíbula. Eles não estavam apenas os usando—eles estavam os modificando. Criando uma versão mais desagradável e mortal.”

Ele aprendeu as características dessa nova cepa de vermes da mandíbula com Bail.

“Eles aumentam a agressão nos infectados e se espalham pela saliva. Perigoso pra caramba, mesmo à primeira vista”, explicou Caron.

Ao contrário dos vermes da mandíbula originais usados para controlar escravos, esta variante tinha sido claramente refinada em uma arma biológica.

“O hospedeiro do verme fêmea parece emitir um sinal que desencadeia a agressão, mas precisaremos de mais pesquisas para confirmar os detalhes”, acrescentou Caron.

A expressão de Luke ficou grave. Vermes da mandíbula tinham desaparecido na obscuridade décadas atrás. Seu mero reaparecimento era alarmante. Aprender que eles tinham sido transformados em armas era uma ameaça que o império não podia se dar ao luxo de ignorar.

“Mas você não disse ‘eles’, há alguns momentos?”, Luke apontou.

O fato de que Caron havia se referido ao culpado como ‘eles’ implicava que poderia haver uma organização por trás deles.

Caron assentiu lentamente e respondeu: “Sim.”

“…Então devemos atacar imediatamente”, disse Luke.

“Eu já estava pensando em fazer isso. Então, já que estamos nisso, você poderia me designar apenas algumas pessoas?”, perguntou Caron.

“Não seria melhor lançar uma operação em larga escala?”, perguntou Luke.

“Há uma grande chance de que a informação vaze dessa forma. De acordo com as palavras deste professor, parece que suas conexões alcançam oficiais de alto escalão”, explicou Caron enquanto cutucava a forma inconsciente de Bail com o pé. Ele acrescentou: “Por enquanto, precisaremos controlar o fluxo de informações daqui.”

Luke não precisava de mais explicações. Se Caron estivesse certo, e se figuras influentes estivessem envolvidas, qualquer movimento ostensivo faria com que os culpados fugissem.

“Manter a ordem na capital é nossa responsabilidade. Não há necessidade de você se envolver”, protestou Luke.

“Sir Luke, você deixaria alguém arruinar um banquete perfeito e simplesmente ir embora?”, perguntou Caron, sua voz baixa e mortal. A intenção de matar que irradiava dele era sufocante. “Porque eu não suporto isso.”

Arruinar seus planos? Isso sozinho já era motivo suficiente para aniquilar essas pessoas. Mas Caron tinha motivações muito mais convincentes. Ele se lembrou de cada palavra que Bail tinha proferido sobre a facção que ele servia.

Os Revanchistas, pensou Caron.

Eles eram lunáticos que alegavam lealdade ao Imperador Malevolente—um fantasma que deveria ter sido enterrado há cinquenta anos. Aprender que eles estavam por trás disso tornou impossível para Caron deixar o incidente para lá.

“Se eu fosse embora agora, eu não dormiria uma noite. Então, eu vou atacar o esconderijo deles com uma pequena equipe”, disse Caron.

Na verdade, ele se sentia bem em vê-los novamente.

Bem-vindos de volta, pensou Caron.

Ele estava incrivelmente feliz e alegre que o espírito do Imperador Malevolente ainda permanecesse e permanecesse no império. Era um canal através do qual seu rancor não resolvido há muito tempo poderia ser liberado. Com um coração feliz, ele resolveu matar aqueles tolos.

“Devemos começar a caçada?”, perguntou Caron.

Um jogo mortal de gato e rato tinha começado.