
Capítulo 139
O Cão Louco da Propriedade do Duque
Capítulo 139
— Foi um prazer fazer negócios — disse Caron com um sorriso, apertando a mão de Foina.
— Tem certeza de que não precisa de mais nenhum artefato? — perguntou Foina. — Viajar sozinho deve ter seus inconvenientes.
— Já trouxe uma companhia extraordinária da Grande Floresta — respondeu Caron.
Miau.
Pluto, empoleirado no ombro de Caron, soltou um miado agudo e estridente.
Foina exclamou suavemente, surpresa, e disse: — Pluto...! Pensar que alguém faria um contrato com um Espírito da Escuridão!
— Meu amiguinho é muito talentoso — disse Caron, acariciando Pluto com carinho.
— Adoraria estudá-lo se pudesse. Consideraria me emprestá-lo algum dia? — perguntou Foina, sua curiosidade evidente.
— Talvez quando eu não estiver em missão — respondeu Caron.
— Cobraria uma taxa, não é? — perguntou Foina.
— É claro que sim — disse Caron com um sorriso.
— Então esperarei por outra oportunidade — Foina estalou a língua levemente, claramente desapontada. Ela se virou para a elfa que estava parada em silêncio atrás dela e fez um gesto para que ela se aproximasse. Ela disse: — Neria tem algo que gostaria de lhe dizer.
Neria, a elfa que Caron havia resgatado de Reben, deu um passo hesitante para frente. Parecia que Foina havia cuidado de sua recuperação com muito carinho. As cicatrizes em seus pulsos e tornozelos, antes tão proeminentes, haviam desaparecido completamente.
Caron acenou para ela com um sorriso, então perguntou: — Como você tem estado?
Neria deu um leve sorriso e assentiu, então disse: — Tenho estado bem, graças a você.
— Sinto que nunca te agradeci adequadamente — acrescentou ela depois de um momento. Ela ajustou suas roupas e então se curvou profundamente, sua voz suave, mas sincera. — Passarei toda a minha vida retribuindo a dívida que tenho por você ter me salvado.
— Não precisa de tudo isso — disse Caron, seu tom leve, mas atencioso. — Eu só aceitei a tarefa porque Lady Foina me pediu. Então não deixe que isso pese sobre você. Apenas volte e viva uma vida feliz.
Suas palavras casuais, mas atenciosas trouxeram um sorriso mais brilhante ao rosto de Neria. Ela disse: — Visitarei você ocasionalmente.
— A Grande Floresta e o Castelo Azureocean são muito distantes — respondeu Caron.
— O regente me confiou novas responsabilidades, então não será um problema — disse Neria com confiança silenciosa.
— Novas responsabilidades? — Caron inclinou a cabeça ligeiramente.
— Neria estará servindo como intérprete, viajando entre o Castelo Azureocean e a Grande Floresta. Ela pediu pelo cargo e o regente aprovou seu pedido — explicou Orion.
Neria, uma elfa fluente na língua humana, era uma raridade. Pelo que Caron tinha visto na Grande Floresta, elfos que falavam línguas humanas eram raros.
Caron assentiu, um sorriso surgindo em seus lábios, então disse: — Você provavelmente não tem os melhores sentimentos em relação aos humanos. Essa deve ter sido uma grande decisão.
Neria hesitou, então murmurou: — Não é... tão ruim assim.
— Hum?
— Se eu visitar o Castelo Azureocean algum dia — disse Neria, sua voz tingida de timidez —, você reservaria um tempo para se encontrar comigo?
Caron abriu um largo sorriso, então respondeu: — Não posso prometer que estarei no Castelo Azureocean, mas se estiver, é claro que reservarei um tempo para você. Apenas apareça quando quiser.
Neria espelhou seu sorriso brilhante e disse: — Obrigada.
— Não precisa me agradecer — respondeu Caron levemente. — Não é nada difícil.
Depois de dar a ela um pequeno aceno de cabeça, ele olhou ao redor para seus companheiros. — Então, é aqui que nos separamos?
Era hora de se despedir de Utula e Orion também. Quando Caron abriu a boca para se despedir—
Crack!
— Argh—!
Sem aviso, Utula agarrou Caron em um abraço de urso e o levantou no ar sem esforço. Sua voz ecoou com sinceridade sincera enquanto ele exclamava: — Caron! O tempo que passei com você me tornou mais forte! Embora nos separemos agora, Tuhoran certamente protegerá nossa amizade!
— Tu... horan ou quem quer que seja, eu estou prestes a—ugh, não consigo respirar...! — O protesto de Caron foi interrompido por um suspiro tenso.
— Até nos encontrarmos novamente, cuide-se! Quando chegar a hora, eu o encontrarei! — declarou Utula, seus músculos inchando como aço vivo enquanto ele esmagava Caron em um abraço sufocante.
O mundo ficou embaçado para Caron, que cambaleou à beira de desmaiar. O aperto de torno de Utula parecia vivo, apertando impiedosamente ao redor dele.
Whoosh!
Reagindo por instinto, Caron liberou um pulso de mana, impulsionando-se para fora do aperto esmagador de Utula. Ele ofegou em busca de ar, percebendo o quão perto ele havia chegado de ser esmagado até a morte. Ele se perguntou se Utula sequer percebeu que quase o havia matado momentos atrás.
— Ahahaha! Adeus, Caron Leston, poderoso guerreiro! Conhecê-lo foi uma alegria! — Utula rugiu de tanto rir, sua voz ecoando como um trovão—uma despedida que só Utula poderia dar.
Em seguida foi Orion, que disse com um sorriso composto: — Aguardarei ansiosamente pela próxima vez.
— ...Por favor, cuidem bem de Kerra e Aqua — respondeu Caron.
— Ifrit deseja oferecer-lhe seus cumprimentos também — acrescentou Orion com um sorriso malicioso. — Ele achou a despedida de Utula bastante inspiradora. Talvez você se importe de receber os cumprimentos dele também?
— Se o Rei Espírito me abraçar, eu realmente morrerei — disse Caron.
— Tem certeza? Você parece ter um certo espírito para experimentação — provocou Orion, seu humor élfico seco em plena exibição. Ele então estendeu a mão e disse: — Estarei esperando por você na floresta.
— Certo — disse Caron.
Com a despedida de Orion, os negócios de Caron em Thebe foram oficialmente concluídos. Ele brevemente considerou permanecer para desfrutar das ofertas da cidade, mas o pensamento passou. Haveria tempo para lazer outro dia.
— Lady Foina e Prefeito Grine, vamos compartilhar uma reunião adequada na próxima vez — disse Caron.
— Com certeza — concordou Foina calorosamente.
— Viaje em segurança — acrescentou o Prefeito Grine.
Caron ofereceu a ambos um sorriso de despedida antes de se virar e voltar para a estação de trem.
"Agora você está realmente sozinho. Seja honesto, você não está se sentindo um pouco sentimental ainda?" A voz de Guillotine ecoou na mente de Caron, gotejando diversão.
— Às vezes é melhor estar sozinho — disse Caron em voz alta. — Não precisa andar na ponta dos pés perto de ninguém.
"Como se você alguma vez se importasse com eles."
— Guillotine.
"Sim?"
— Cale a boca.
Caron entrou na estação. O trem em que ele havia chegado ainda esperava na plataforma, pronto para levá-lo de volta à capital. Quando eles chegassem à cidade, já seria tarde da noite. Ele brevemente considerou ficar na casa de seu avô materno, mas descartou o pensamento. Hoje à noite, ele queria descansar em um lugar diferente.
— Ei, Guillotine, você sabe de uma coisa? — Caron perguntou a Guillotine.
"Você não acabou de me dizer para calar a boca?"
— Se o dinheiro não pode te comprar felicidade, você deveria considerar se você tem o suficiente dele.
Uma vez que ele chegasse à capital, sua primeira prioridade seria encontrar a melhor taverna da cidade. No Castelo Azureocean, ele estava sempre sob o olhar atento de alguém; aqui, ele teria a liberdade de se divertir como quisesse.
Ele mexeu distraidamente com o Certificado de Procuração de Pagamento do Banco Imperial preto enfiado em seu bolso. Sua superfície polida era um lembrete de sua riqueza arduamente conquistada.
— É exatamente por isso que tenho trabalhado tanto — disse Caron.
Parar na agência principal do Banco Imperial para sacar uma quantia generosa de barras de ouro estava em sua agenda. Com elas guardadas em sua bolsa de espaço dimensional, ele poderia vagar pelo continente sem se preocupar.
— Se você se comportar, eu vou te comprar uma garrafa de bebida — disse Caron para Guillotine.
"...Uma cara?"
— É claro.
"Dono, você tem minha lealdade eterna."
Caron trocou palavras com Guillotine enquanto embarcava no trem.
A capital do império estava esperando por eles.
A Academia Imperial era uma pedra angular do império, dedicada a cultivar os líderes do futuro e conduzir pesquisas em uma miríade de campos. Entre seus acadêmicos estava Ulysses, um professor de história que se orgulhava imensamente de sua posição na Academia.
Ele soltou um suspiro cansado, tirou os óculos e passou as mãos pelo rosto. Ele murmurou para si mesmo: — Isso não é... fácil.
A razão pela qual ele ainda estava em seu escritório até tão tarde era simples: ele havia recebido uma reprimenda do diretor da academia apenas uma semana atrás.
"Os resultados recentes da pesquisa do Departamento de História têm sido decepcionantes, Professor Ulysses. Você entende que, se isso continuar, não teremos escolha a não ser cortar drasticamente seu financiamento, não é?"
O diretor havia entregue o aviso em um tom medido, mas incisivo.
Ao contrário de outros departamentos, o Departamento de História raramente produzia resultados inovadores. A especialidade de Ulysses em história moderna era particularmente fraca aos olhos da administração da academia.
— O que há de tão errado em estudar Sir Cain Latorre...? — Ulysses murmurou, uma leve nota de amargura em sua voz.
Cain Latorre era uma figura controversa—um ponto sensível tanto para a Família Imperial quanto para a Guarda Imperial. Como a Academia Imperial era, em última análise, uma instituição do governo real, não era surpresa que o diretor olhasse desfavoravelmente para a pesquisa de Ulysses.
Ainda assim, Ulysses sabia que havia mais no aviso do diretor do que mero desaprovação de seu tópico. O homem astuto tinha segundas intenções além dos resultados da pesquisa.
Toc, toc, toc.
— Entre — disse Ulysses.
Um momento depois, a porta se abriu para revelar um homem com olhos fundos e uma tez pálida. Era Brant, o assistente mais confiável de Ulysses.
— Professor — começou Brant.
— O que foi, Brant? Pensei ter dito para você ir para casa e descansar hoje à noite — disse Ulysses com uma carranca preocupada.
— Uma carta acabou de chegar para você—uma urgente. Achei importante o suficiente para chamar sua atenção... — respondeu Brant.
Ele colocou um envelope branco impecável na mesa de Ulysses. O selo trazia o brasão de lobo da Família Ducal de Leston.
— Ah, uma carta do Castelo Azureocean — comentou Ulysses, examinando o envelope.
— Isso não seria um assunto urgente? — perguntou Brant.
— Haha, dificilmente urgente o suficiente para você perder o sono, mas obrigado por trazê-lo. — Ulysses ofereceu um sorriso irônico antes de olhar para Brant e continuar: — Provavelmente é uma resposta à carta que enviei recentemente.
— Ah, aquela que você mencionou antes? — perguntou Brant.
— Sim, o convite que enviei ao Castelo Azureocean em nome do diretor — explicou Ulysses, soltando um pequeno suspiro antes de tomar um gole de água. Ele perguntou: — Você está ciente de que a revisão de mandato do diretor está chegando em breve, certo?
— Sim, o mandato do Diretor Desilio termina este ano — respondeu Brant, assentindo.
— Parece que a revisão que se aproxima o tem mais preocupado do que o normal — disse Ulysses com um olhar conhecedor.
— Mas o que a revisão tem a ver com um convite para o Castelo Azureocean? — perguntou Brant, sua testa franzindo em curiosidade.
— Convidar figuras proeminentes é uma forma de demonstrar as conexões do diretor, o que reflete suas qualificações como líder. Simplificando... É sobre networking. Uma ampla rede de indivíduos influentes adiciona peso significativo ao seu caso — explicou Ulysses.
A verdadeira razão pela qual o diretor havia pressionado Ulysses ficou clara. Era porque Ulysses tinha laços com uma das figuras mais renomadas do império.
— Se o Jovem Mestre Caron desse uma palestra especial na Academia, sem dúvida elevaria a reputação do diretor — disse Ulysses, balançando a cabeça. — Também faria parecer que ele tinha conexões com a Família Ducal de Leston, não é?
— Ah, então é por isso que o diretor está tão investido... — respondeu Brant, sua expressão mudando para uma de compreensão.
— Ele está desesperado, é isso que significa. Sejamos honestos—o Diretor Desilio pode ser um homem gentil, mas ele não alcançou nada notável durante seu mandato — disse Ulysses com uma risada irônica.
Brant rapidamente entendeu a situação. A direção da academia era uma nomeação por prazo determinado e lutar pela recondução não era incomum.
— Se ele conseguir estender seu mandato, ele certamente cuidará do Departamento de História também, não é? — perguntou ele, uma nota esperançosa em sua voz.
Ulysses caiu na gargalhada, balançando a cabeça enquanto dizia: — Seria bom se fosse esse o caso, mas isso realisticamente não acontecerá.
— Por que não? — perguntou Brant.
— Porque não há como o Jovem Mestre Caron aceitar o convite em primeiro lugar — explicou Ulysses.
Suas memórias de Caron eram vívidas. Mesmo quando criança, Caron havia demonstrado um talento notável—tanto que muitas vezes deixava Ulysses, que já havia servido como tutor de Caron, completamente espantado.
Caron havia entendido sem esforço trabalhos acadêmicos muito complexos para a maioria dos adultos e até mesmo mostrado uma intuição estranha que era tudo menos infantil. Se Caron tivesse nascido em uma família plebeia em vez da Família Ducal de Leston, ele sem dúvida teria sido recrutado para educação para superdotados em uma idade jovem. Seu brilho era inegável.
Claro, o brilho vinha com seus próprios desafios.
— Desde jovem, ele desprezou qualquer coisa que parecesse um incômodo — disse Ulysses. — Nunca ouviu uma palavra do que eu disse, também. Houve inúmeras vezes em que eu quis dar um tapa na cabeça dele.
A personalidade de Caron sempre foi difícil. Mesmo agora, das cartas ocasionais que Ulysses trocava com o pai de Caron, Marquês Fayle, ele podia ter uma ideia aproximada do tipo de pessoa que Caron havia se tornado.
— Duvido que ele venha. E... Se ele aceitar o convite, isso será outro problema — disse Ulysses.
— Por que isso? — perguntou Brant, inclinando a cabeça.
— Você entenderá no momento em que o conhecer — respondeu Ulysses.
Se Caron, que sonhava em ser um encrenqueiro, visitasse a academia, ele provocaria uma catástrofe. O nome Caron Leston deixaria sua marca como uma tempestade devastando uma aldeia tranquila.
— Eu enviei o convite apenas para dizer que fiz um esforço. Isso é tudo — disse Ulysses.
— Mas... E se, por acaso, o Jovem Mestre Caron aceitar? — perguntou Brant hesitantemente.
O mero pensamento fez Ulysses estremecer. Ele disse: — Eu nem quero pensar sobre isso. Mas não se preocupe—não vai acontecer.
Com isso, Ulysses rasgou o envelope e puxou a carta de dentro.
— Não há como alguém tão ocupado quanto o Jovem Mestre Caron vir até a academia... — ele murmurou, mas quando começou a ler, seu rosto se contorceu em uma careta.
Após alguns momentos, ele não conseguiu manter a boca fechada.
A mensagem dizia:
"Prezado Professor Ulysses, lamento informá-lo sobre algumas notícias bastante infelizes. Para ir direto ao ponto, Caron aceitou seu convite. Quando esta carta chegar até você, ele já pode ter chegado à capital. No entanto, deixe-me ser claro—este desastre é inteiramente de sua própria autoria. O Castelo Azureocean não assumirá a responsabilidade pelo caos que está por vir. Quaisquer consequências recaem exclusivamente sobre a academia—"
Depois de ler a carta, Ulysses colocou os papéis para baixo com uma expressão exausta. Então, enquanto olhava pela janela, ele soltou um suspiro.
A lua estava excepcionalmente brilhante naquela noite, felizmente alheia à turbulência que iluminava.
— Brant — chamou Ulysses.
— Sim, Professor?
— Vá dizer ao diretor para começar a se preparar para sua aposentadoria — disse Ulysses.
— ...Perdão? — perguntou Brant.
— E certifique-se de acrescentar que sua única chance de se aposentar com dignidade é agora — continuou Ulysses. Ele passou a mão pelo rosto mais uma vez e murmurou em voz baixa: — ...Estamos condenados.
Algo que nunca deveria ter acontecido havia ocorrido.
O pior desastre da história da academia estava a caminho.