Capítulo 233

Meu palácio mental.

A floresta cresceu exponencialmente. Ela ainda se expande a cada segundo que passa, à medida que mais do poder que subsumi permeia minha essência. Assim como antes, parece menos que estou sendo esticado aos limites da minha alma e mais uma sensação de completude. O poder de Nirari preenche uma lacuna que a essência bruta não conseguia. Memórias novas e estranhas me assaltam. Deixo-as de lado por enquanto.

Acima e ao meu redor, a floresta se eleva para formar uma esfera invertida com um céu noturno vazio e o olhar do Observador lá no alto. Mais estátuas aparecem em praças desertas e vazias. Mais flores brancas desabrocham. A mudança também é qualitativa. Uma nova compreensão da natureza do mundo me deixa atordoado. Eu vislumbrei isso quando lutei contra o dragão Lich, depois desafiei Nirari. Abrange a ontologia da minha esfera e os destinos interligados que estamos almejando atualmente. Leva-me... algum tempo para entender o suficiente e perceber que algo está fora do lugar.

Meus passos me levam à praça das formas ajoelhadas. Novas fileiras se formaram com minhas últimas oferendas, tantas que um avião poderia decolar de qualquer lado com espaço de sobra. O único que me preocupa, é claro, é o único de pé.

Eu deveria ter imaginado que as coisas não seriam tão fáceis. Raízes se movem para responder ao meu chamado e apontam para o intruso. Infelizmente, elas não detectam sua presença.

Nirari estende os braços em rendição. Um sorriso presunçoso o faz parecer um pouco menos perigoso do que o normal, especialmente com sua qualidade frágil.

'Saudações. Se você está vendo isso, você é minha cria e você me matou, espero que em um combate glorioso. E se você é minha cria, você deve estar me atacando agora.'

'Eu estava prestes a fazer isso.'

'Isto é meramente uma memória, uma última mensagem, se você quiser. Você venceu. Parabéns. Agora, você aprenderá a verdadeira e final natureza da primeira linhagem. Você entenderá o que significa ser um conquistador. Talvez você tenha tentado trazer vida a crias antes, apesar de… receios. Bem, tenho o prazer de informar que, como o novo Progenitor da nossa linhagem, você agora pode fazê-lo com o coração tranquilo.'

'O que você disse?'

'Sim, você me ouviu direito. Devoradores comem para cima. Você destronou o rei e agora você é o rei por sua vez. Seus instintos inexoravelmente o impulsionarão a trazer mais crias à tona e um deles, um dia, por sua vez, poderá devorá-lo. Complete o ciclo. Ninguém pode ficar no topo para sempre, afinal. Em qualquer caso, parabéns. Meus poderes, meus feitiços, meus instintos, minhas habilidades físicas, meus impulsos, eu dou tudo a você como meu legado. Onde eu falhei, você deverá ter sucesso até ser derrotado por alguém maior. E agora, adeus… que seja tudo o que você sempre esperou.'

A estátua se ajoelha, juntando-se ao resto da coorte.

Eu não me sinto diferente. O poder ainda corre através de mim na mesma velocidade. Ainda é muito cedo para avaliar o quanto, exatamente, eu obtive… mas uma de suas palavras me aterroriza.

Eu não quero seus impulsos.

Eu não quero o desejo de dominar que ele experimentou durante toda a sua vida.

Ao meu redor, a floresta se estende cada vez mais. Preciso de tempo para digerir tudo isso. Preciso ter certeza de que permaneço são.

Suspirando, abro meus olhos.

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Um casulo de espinhos se desfaz, revelando um chão vazio por… quilômetros. Posso sentir uma multidão de soldados em acampamento. Percebo dirigíveis bem no alto do céu. Eles estão todos dentro do meu domínio, todos aqueles pensamentos, todas aquelas mentes. Toda essa essência. E ainda assim, não chega nem perto da plena realização do que estou experimentando agora.

Lentamente desabotoo a armadura de espelho, depois a manopla Aurora por baixo. Flexiono meus dedos e vejo minha pele permanecer intocada no brilho suave e dourado da luz do sol. Não dói. Pássaros cantam. O vento roça as lâminas de grama que sobreviveram ao confronto cataclísmico. Insetos zumbem, despreocupados.

É dia.

É dia, e eu estou bem.