Volume 3 - Capítulo 153

Capítulo 153: Espada Sagrada (2)

Uma voz peculiar, difícil de discernir se era masculina ou feminina, jovem ou velha.

Meu coração batia forte. Uma sensação estranha, indescritível.

*A Espada Sagrada?*

A única existência neste mundo que poderia ser chamada de deus.

Certamente, a presença diante dos meus olhos não era um ser comum.

Nunca me senti assim, nem mesmo ao encontrar o Herói ou o Soberano Supremo pela primeira vez.

Mas, o que significava querer conversar por um instante?

E onde estava este lugar? Não era a realidade, mas algum tipo de espaço mental?

O ser que se referia a si mesmo como a Espada Sagrada parecia estar esperando que eu superasse minha confusão.

Recuperei a compostura e perguntei imediatamente.

“Onde estou?”

[Este é meu mundo mental. Você está inconsciente na realidade.]

“Por que me convocou aqui?”

[Como eu disse, eu queria ter uma breve conversa com você.]

“Que tipo de conversa…?”

[Você deve ter muitas perguntas para mim.]

Perguntas… Bem, de fato havia muitas.

Se eu perguntar agora, eles me contarão tudo? Assim, simplesmente?

[Não há muito tempo para conversa.]

Ao ouvir essas palavras, me recompus rapidamente e virei a cabeça.

Seja como for, a oportunidade está aqui, e preciso obter o máximo de respostas possível agora.

E a primeira pergunta, é claro, foi:

“Quanto você sabe sobre mim?”

Eu estava pensando nisso há algum tempo.

A Espada Sagrada, se de fato fosse um deus, poderia ser a única existência que sabia o motivo pelo qual eu reencarnei neste mundo.

A Espada Sagrada respondeu.

[Eu sei a maior parte. Que você é uma existência de um mundo diferente, as habilidades que possui e até mesmo sua verdadeira natureza.]

“…….!”

Era real…?

Pela primeira vez desde que possuo este corpo, encontrei alguém que conhecia minhas circunstâncias.

Acalmei minha mente e continuei com as perguntas.

“No mundo onde eu originalmente vivia, neste mundo, quero dizer…”

Você sabia que este mundo não era realidade, mas um jogo?

Hesitei por um momento antes de perguntar.

Se eu disser que é um jogo, eles entenderão? Como devo explicar isso?

[Eu já ouvi falar do conceito de um jogo. Não o vi em primeira mão, mas tenho uma compreensão superficial do que ele é.]

Mas parecia que a Espada Sagrada já sabia o que eu estava tentando dizer, pois respondeu primeiro.

Eles entenderam o conceito de jogo?

Foi uma resposta estranha, mas deixei passar por enquanto. Pelo menos significava que eles sabiam o que eu estava tentando dizer.

“Então, este mundo não é um jogo, mas uma realidade existente. Isso está correto?”

Sem querer, fiquei ansioso.

“Se esse for o caso, por que era um jogo no meu mundo, e por que reencarnei no corpo de um personagem do jogo?”

Desta vez, a Espada Sagrada fez uma pausa antes de responder.

[Essa é uma pergunta para a qual não há resposta, e é sem sentido responder.]

“O que você quer dizer? Você me disse para perguntar se eu tinha alguma dúvida…”

[Eu responderei, excluindo qualquer coisa relacionada ao seu mundo natal.]

Se eles não vão me dizer a parte mais importante, qual o sentido?

Naquele instante, um sentimento de absurdo e irritação surgiu em mim, mas me lembrei da declaração da Espada Sagrada de que não havia muito tempo para conversa.

“…Então, exatamente quando o Rei Demônio será revivido?” perguntei.

[Pode ser já amanhã, como Aindel mencionou, ou pode ser daqui a anos.]

“Estou perguntando a hora precisa.”

[Isso não pode ser determinado com certeza. No entanto, é um fato definido que será em um futuro muito próximo.]

Que utilidade teve essa conversa se eles nem sequer conseguiram responder isso?

Sentindo-me levemente desapontado, continuei com a próxima pergunta.

Tudo bem, se eu tivesse que perguntar algo além de questões relacionadas à Terra, a que eu mais estava curioso era…

“Minha habilidade de morte instantânea também pode matar o Rei Demônio?”

Uma pergunta que me intrigava desde o início, quando estabeleci a meta de deter o Rei Demônio.

Como não tinha certeza disso, estava desesperado para procurar o Herói e a Espada Sagrada.

[Sim.]

A resposta veio imediatamente.

[O poder que você possui pode alcançar o Rei Demônio. Isso eu posso dizer com certeza.]

“…”

Entendo.

Então, mesmo que Kaen falhasse em herdar a Espada Sagrada, não era como se eu não tivesse nenhuma opção.

Senti uma estranha sensação de alívio e um peso enorme no meu coração ao mesmo tempo.

*O que mais devo perguntar…?*

Baixei a cabeça, perdido em pensamentos, e então me voltei para a Espada Sagrada e perguntei novamente.

“Quero saber claramente qual é o seu propósito.”

[O extermínio dos demônios, a estabilidade e a paz deste mundo. A vontade de Aindel é minha vontade.]

“Então por que você não detém o Rei Demônio você mesmo? Você é um ser tão incrível, digno de ser aclamado como um deus…”

Talvez fosse uma pergunta que nem precisava ser feita.

[Porque este é o melhor curso de ação. Não sou tão onipotente quanto você pensa.]

“Pode explicar com mais detalhes?”

[Se eu tivesse o tempo, o faria, mas o tempo está acabando. Esta conversa termina aqui.]

Já? Parecia que apenas alguns minutos haviam se passado.

“Só um instante, então a voz que ouvi quando cheguei pela primeira vez neste mundo…”

Tentei fazer pelo menos mais uma pergunta às pressas, mas a forma da Espada Sagrada gradualmente ficou borrada.

[As dúvidas que você nutre, a breve troca que tivemos, não têm significado. No entanto, a razão pela qual eu o chamei aqui é que senti que seu destino está passando por uma mudança pela primeira vez.]

Lentamente, minha consciência desapareceu.

Como um eco, ouvi as últimas palavras da Espada Sagrada.

[Não há necessidade de duvidar se você está seguindo o caminho certo. Você não errou. Continue em frente.]

***

Quando voltei a mim, o espaço havia voltado ao quarto original da estalagem.

Pisquei atordoado e me assustei com a visão diante de mim.

“…O que vocês dois estão fazendo?”

Asher estava exalando aura enquanto desenhava sua espada e a apontava para a heroína, que parecia estar confusa.

“Senhor Ron!”

Asher se virou para mim e finalmente controlou sua energia, gritando.

A heroína também olhou para mim, com uma expressão aliviada por algum motivo.

“O que está acontecendo, Asher?”

“Você está bem? Você subitamente perdeu a consciência! E então a heroína invocou a Espada Sagrada…”

A heroína suspirou e perguntou: “Você está bem, Sétimo Lorde?”

“Estou bem. Quanto tempo fiquei inconsciente?”

“Menos de um minuto. O que aconteceu? Será que… está relacionado à Espada Sagrada?”

Balancei a cabeça.

Finalmente, entendendo a situação geral, gesticulei para Asher.

“Guarde sua espada, Asher. Eu não perdi a consciência por causa da heroína. Estou bem.”

Asher olhou brevemente para a heroína e, obedientemente, enfundou a espada.

Inspirando profundamente, massageei minha testa e organizei meus pensamentos.

A heroína parecia estar esperando que eu falasse. Eu a abordei.

“…Eu tive uma conversa com a Espada Sagrada. É só isso. Eu nem sei por que a Espada Sagrada me chamou.”

“Você pode me dizer sobre o que vocês conversaram?”

“Desculpe, mas foi algo pessoal. É difícil explicar em detalhes.”

Era uma história que não podia ser contada para os outros, e mesmo que eu o fizesse, seria incompreensível.

Fiquei desconfortável com a possibilidade da heroína insistir em uma resposta, mas, felizmente, ela não indagou mais.

“Se a Espada Sagrada chamou apenas você, deve haver uma razão. Eu entendo.”

Eu estava prestes a dizer mais alguma coisa, mas desisti.

Originalmente, quando conheci a heroína hoje, eu pretendia discutir novos planos também. No entanto…

*Eu não deveria ter que questionar se estou no caminho certo…*

O que isso poderia significar?

A ressurreição do Rei Demônio era iminente. Isso significava que o que estamos fazendo agora não é perda de tempo?

*Ah, eu não sei…*

De qualquer forma, a conversa terminou vagamente assim depois.

Temos estado em contato todo esse tempo, mas a heroína nunca me perguntou sobre a herdeira.

Eu podia sentir seus pensamentos. Ela ainda estava relutante em falar sobre a sucessão da Espada Sagrada?

Levantei-me e perguntei à heroína ao meu lado: “Você vai encontrar a herdeira agora?”

“Sim.”

A heroína voltou seu olhar para Asher, que estava ao meu lado.

Ela ofereceu mais uma vez desculpas a Asher, que ainda demonstrava uma leve hostilidade, e tirou algo.

“Vou dar este objeto a ela, Sétimo Lorde.”

Era uma ferramenta mágica que tínhamos usado para nos comunicar durante todo este tempo.

“É algo de que não preciso mais depois de entrar na Cidade Sagrada.” (**N.T.:** Esta é a ‘Fortaleza Oriental’ do último capítulo. Acho mais adequado usar ‘Cidade Sagrada’ com base no contexto da história. (⌒_⌒;))

“Por quê? Não deveríamos pelo menos manter contato mínimo?”

“A barreira da Cidade Sagrada bloqueia todas as energias externas, então esta ferramenta mágica também não funcionará.”

Entendo.

O clima já estava tenso, pois estávamos nos separando, e agora o contato com a heroína foi completamente rompido. Isso me deixou inquieto.

“Bem, então, eu vou. Não sei quando, mas vou me recuperar o mais rápido possível e te encontrar primeiro.”

“Tudo bem…”

Quando a heroína partiu, apenas Asher e eu permanecemos no quarto.

Olhei distraidamente para a mesa, e Asher falou.

“Eu também voltarei imediatamente para o castelo do Lorde. Por favor, não se sobrecarregue, Senhor Ron.”

Olhei para ela. Eu podia sentir sua preocupação e aflição em seus olhos.

Sentindo um conforto momentâneo em meio à complexidade das minhas emoções, sorri levemente.

“Antes de você ir, vamos fazer uma refeição juntos depois de muito tempo. Conheço um bom restaurante na cidade.”

“Sim? Ah, sim. Entendido.”

***

Depois de se separar do Sétimo Lorde, Aindel imediatamente foi procurar Kaen.

“Del! Eu fiquei muito triste, sabe. Você disse que viria me ver assim que eu me matriculasse, mas por que você não me visitou nem uma vez?”

“Desculpe. Estive ocupada durante esse tempo.”

“Bem, se esse for o caso, não tem jeito. Mas por que o pai ainda não está aqui? Estou morrendo de fome.”

Ben foi às compras para poder alimentar seu convidado em sua nova casa nesta cidade.

Aindel sorriu ao observar Kaen, que estava batendo na mesa com uma expressão animada após seu tão esperado reencontro.

“Como está a vida na academia? Você fez muitos amigos?”

“Haha, eu já tenho quatro amigos. Comemos e treinamos juntos todos os dias.”

Aindel já sabia como Kaen estava, graças às informações que recebeu do Sétimo Lorde, mas ela ouviu calmamente sua história.

“Muito obrigada por me trazer para fora. Esses dias são muito mais agradáveis do que quando eu morava nas montanhas com meu pai.”

Aindel ficou em silêncio por um momento e perguntou suavemente a Kaen.

“Kaen, o que você quer fazer depois de terminar seus estudos na academia?”

“Bem, eu realmente não tenho nada que eu particularmente queira fazer. Eu tenho muitos amigos, e estou satisfeita com o presente.”

Kaen estalou os dedos.

“Ah, Del, você quer me passar sua espada, não é? É isso?”

“…”

“Não se preocupe. Graças a você, estou me divertindo muito. Qualquer coisa que Del desejar, eu concederei.”

Aindel abriu a boca.

“Kaen, há algo que eu não te contei.”

“Sim?”

“O ato de herdar minha espada não é um mero gesto simples. Significa que você carregará todas as responsabilidades e obrigações que possuo, incluindo proteger e salvaguardar os outros.”

“Responsabilidades e obrigações? O que são essas?”

“Isso significa… proteger e guardar outras pessoas.”

Kaen inclinou a cabeça confusa.

“Isso não parece tão difícil, não é? Ajudar os outros é algo natural.”

“Não é tão simples. Se necessário, você deve cumprir suas responsabilidades, mesmo que isso signifique sacrificar tudo o que você tem. Kaen, não se trata apenas das pessoas que são preciosas para você, mas também daquelas que você desgosta ou ressente. É pelo bem de todos. Você consegue fazer isso?”

“Hmm? Bem…”

Presa na atmosfera repentinamente séria, Kaen hesitou e então abaixou a cabeça.

“Eu realmente não sei. Como Del lida com tarefas tão difíceis?”

Um sorriso leve apareceu nos lábios de Aindel.

“Isso não é algo que eu possa te ensinar. É uma pergunta que você deve encontrar a resposta sozinha.”

*Creak.*

Os olhares das duas pessoas sentadas à mesa se voltaram simultaneamente para a entrada.

Quando a porta da frente se abriu, Ben entrou. A cesta em suas mãos estava cheia de ingredientes.

“Estou bastante atrasado. Desculpe por fazer o convidado esperar.”

“Não está apenas um pouco atrasado, pai. Está incrivelmente atrasado.”

“Chega. Vou mostrar minhas habilidades rapidamente e servir a refeição, então por favor, mantenha nosso convidado entretido um pouco mais.”

Rindo, Ben desapareceu na cozinha.

Kaen mostrou a língua para sua figura em retirada.

“Ah, então, Del, sobre a conversa que acabamos de ter…”

Aindel riu e balançou a cabeça.

“Não, esqueça isso. Vamos comer quando a refeição estiver pronta.”

***

Em um quarto escuro e frio, um velho estava em silêncio, visivelmente preocupado com algo.

Grandios, Imperador do Império Santea.

Ele estava relembrando uma conversa do passado, não muito tempo atrás.

‘*O movimento dos demônios é inquietante. Não seria surpreendente se o mundo logo fosse envolvido pelo caos.*’

‘*Sua Majestade não está alheio à minha condição física. Eu fiquei fraco, e o Rei Demônio ressuscitado será ainda mais forte do que antes. No entanto, você não parece saber o que deve ser priorizado.*’

‘*Não teste mais minha paciência. Eu não tenho mais tempo nem paz de espírito.*’

O aviso da heroína que emergiu do reclusão seis meses atrás.

Durante esse tempo, o imperador conseguiu escapar dos olhos vigilantes e da atenção da heroína para realizar muitos atos.

Mas agora, havia chegado ao limite.

Se a heroína tinha dito isso, então a calamidade não devia estar longe.

Ironicamente, o imperador confiava e acreditava em um ser que o desprezava e menosprezava mais do que qualquer outra pessoa.

“O que deve ser priorizado…”

Embora os preparativos não estivessem completos, era hora de testemunhar o ápice de décadas de trabalho antes que fosse tarde demais.

“Eu sempre tive meus olhos em um só lugar, Herói. Apenas para nós, humanos…”

Os murmúrios do imperador se dissiparam na escuridão.