O Príncipe Problemático

Volume 1 - Capítulo 14

O Príncipe Problemático

O rosto de Erna ficou vermelho-vivo quando finalmente viu as iniciais de seu nome bordadas em um dos cantos do lenço.

“Obrigada…” Depois de um tempo, ela estendeu uma mão trêmula e recebeu o lenço. Ele achou inacreditável que ela, sem saber, tivesse armado a clássica jogada de deixar algo para trás de propósito.

Bjorn, por outro lado, observava sua reação com grande interesse.

Uma dama audaciosa que tentava usar o corpo para aumentar seu valor, e ao mesmo tempo era alguém que caminhava pela Avenida Tara com um vestido simples. No momento, ele estava tendo dificuldades para descobrir qual dessas facetas era a verdadeira Erna Hardy. Em certo ponto, parecia que aqueles idiotas que foram enganados por essa mulher esperta podiam entender sua situação atual, já que, pelo menos superficialmente, ela realmente parecia uma dama inocente e pura como nenhuma outra neste mundo.

“A senhorita me daria a honra de apreciarmos essas pinturas juntos, Senhorita?”

Ao perceber que a atenção dos convidados agora estava exclusivamente voltada para os dois, ele estendeu a mão com respeito. Erna, que há pouco procurava uma chance de escapar, se assustou a ponto de seu rosto ficar pálido de choque. Seus lábios pareciam excepcionalmente vermelhos e se destacavam ainda mais contra sua pele branca.

“Eu?” Erna fez a pergunta com os lábios, pois não conseguia encontrar a voz para responder, enquanto ele continuava a olhá-la com um sorriso calmo.

“Vamos.” Ele pegou a mão imóvel da dama e a colocou em seu braço.

‘Já que você quer tanto se aproveitar de mim, pode me usar agora o quanto quiser. Você não encontraria uma transação tão limpa e justa.’

Bjorn acompanhou Erna carinhosamente e prosseguiu o tour pela galeria. Entre os espectadores barulhentos, Gladys ficou tão chocada que ficou branca como um lençol. Ela pensou que devia ter ficado tão bonita quanto Bjorn e sua acompanhante quando ainda passava seus dias como a amada Princesa Herdeira do Reino de Lechen.

Ele descobriu mais tarde que a história de seu caso amoroso havia se espalhado pela cidade antes mesmo que a noite chegasse.

Dizia-se que o Príncipe Bjorn estava se divertindo com outra mulher na frente da Princesa Gladys, que havia vindo a Lechen para perdoar seu ex-marido e se reunir com ele. Além disso, a outra mulher era na verdade Erna Hardy, a própria mulher que estava prestes a ser dada em casamento por dinheiro. Claro, não importava quais especulações e acusações fossem lançadas contra ele, ele não se importava e ignorou completamente esses boatos. Nenhum boato era suficientemente perturbador para abalá-lo, exceto a conversa sobre uma possível reconciliação com Gladys.

Bjorn apertou a mão que segurava o braço de Erna, que resistia fracamente. De repente, ela levantou a cabeça e o olhou com seus olhos azuis redondos, cercados por cílios longos e densos; seus olhos o lembravam de uma boneca. Depois de olhá-lo com seus belos olhos, ela, no entanto, abaixou a cabeça novamente depois de um tempo; como se tivesse chegado à conclusão de que não haveria mais nenhum mal que lhe seria feito.

Com seu acordo silencioso, ele guiou a dama rígida pela multidão em um ritmo lento para proporcionar um espetáculo suficiente para os convidados fofocarem.

“V-O-CÊ! Seu canalha!”

Virando a cabeça para o olhar insistente que os seguia há bastante tempo, Bjorn viu Peter, que estava articulando palavras de baixo calão em sua direção.

“Ei! Você também vai fazer isso? Sério?” Peter perguntou surpreso com seu olhar.

Sem hesitar, Bjorn ergueu o queixo e olhou para a dama nervosa ao seu lado. Erna caminhava olhando apenas para frente, ignorando completamente sua existência. Suas bochechas, assim como seus lóbulos das orelhas e o canto dos olhos, estavam vermelhos, como uma maçã recém-colhida, pronta para ser comida.

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“Quem diabos é aquela mulher?” O rosto de Philip Dniester endureceu de constrangimento enquanto ele perguntava à esposa. No final, ele evitou as piores consequências do relacionamento entre Bjorn e Gladys, mas considerando os boatos que agora se espalhavam pela boca dos convidados, era difícil dizer que a situação atual era muito otimista.

“É Erna Hardy, pai.” Louise respondeu com o rosto muito furioso em nome da Rainha.

“É a jovem filha do Visconde Hardy, que usou o Irmão Mais Velho Bjorn para chamar a atenção dos outros no Baile Real.” A explicação que Louise acrescentou deixou o semblante do Rei ainda mais escuro. A Rainha, que havia escutado silenciosamente a história entre eles, desviou o olhar para a entrada do salão onde os dois haviam desaparecido.

“Eu achei que Bjorn não aceitaria o cumprimento de Gladys, mas não esperava que terminasse assim. É infantil da parte dele simplesmente virar as costas e ir embora.”

“Será que ele pode ser tão sem vergonha assim? É só um lenço! Quem mais cairia para um truque tão óbvio e de nível tão baixo além do Irmão Mais Velho?”

“Cuide da sua língua, Louise. Há muitas orelhas ao nosso redor no momento.” Isabel Dniester lembrou sua filha agitada com palavras suaves e firmes. Ela queria dizer mais, mas Louise não conseguiu manter sua teimosia e recuou no final.

“Preciso investigar mais sobre aquela garota.” Depois de confirmar que Louise havia retornado ao lado do marido, Isabel Dniester abaixou a voz e sussurrou.

“Isso é óbvio, não é?” Ela olhou para o marido com um sorriso gentil e educado.

O Rei, como esperado, não discordou da decisão de sua esposa.

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“Por favor, volte primeiro, Vossa Alteza.” Erna mal abriu a boca depois de chegar à última sala de exposição. Era uma afirmação bastante ousada, pois era sua primeira frase que ela disse voluntariamente a ele desde que começaram a caminhar juntos. No final, ela ainda proferiu essas palavras mesmo achando difícil falar com seu atual parceiro.

Bjorn olhou para a pequena dama, que havia estado olhando para a pintura em sua frente há pouco tempo. Erna, por outro lado, agora o encarava com o pescoço ereto. Diferentemente daquelas vezes em que ela fugiu com medo, seus olhos eram firmes e cheios de determinação.

“Agora que você viu todas as pinturas, deve voltar para dentro primeiro, Vossa Alteza. Vou ficar aqui um pouco mais.” Como se preocupada que ele não entendesse, ela repetiu sua afirmação lentamente mais uma vez.

“Por quê?” O olhar do Grão-Duque parou em seus olhos azuis que estranhamente estimulavam seus nervos, seus olhos viajaram em direção ao seu peito e depois para a nuca, onde vasos sanguíneos azuis eram refletidos sob sua pele translúcida e pálida. O tempo todo, Erna não desviou o olhar e também manteve seu olhar nele.

“Há alguma pintura que me resta ver sozinha?”

“Não. Não é isso que eu quero dizer.”

“Então?”

“Você pediu para ver as pinturas juntos. Agora que vimos todas as pinturas em exposição, acho que meu papel acabou.” Seu tom era rígido, como se tentando mostrar seu desprazer, mas, infelizmente, ela não parecia ameaçadora para ele.

Depois de olhar rapidamente para os espectadores que os haviam seguido até aqui, Bjorn de repente deu um passo mais perto de sua parceira. Erna, assustada com seu movimento repentino, tentou se afastar rapidamente, mas o braço dele foi um pouco mais rápido que o dela e ele conseguiu pegá-la antes que ela pudesse escapar.

“Fique aqui.” Ele balançou a cabeça e sussurrou para ela.

“Há muitos olhos nos observando.” Ele continuou.

Erna percebeu o que ele quis dizer e seguiu seu olhar, e logo ficou dócil. De longe, sua interação deve ter sido bastante afetuosa e secreta, como um casal de pombinhos.

“Você está brava?” Ele sussurrou suavemente. Se não fosse por sua expressão travessa, ela teria pensado que ele estava preocupado com seus sentimentos.

“Não estou.” Erna também abaixou a voz e respondeu. Ela estava obviamente mentindo, e sua expressão fofa de censura na tentativa de enganá-lo o fez rir.

“Sério? Você parece brava para mim, porém?”

“Eu não estou brava, Vossa Alteza.” Ela negou mais uma vez com os olhos fechados. “Eu também causei muitos problemas a Vossa Alteza no baile real, então acho que o incidente de hoje compensou esse erro.”

“Erro? Compensou?” Com os olhos estreitos, ele olhou para a dama que agia como se estivesse cuidando de seus problemas.

“Eu admito que estou irritado porque tenho sido incomodado esses dias devido às ações da Srta. Hardy. Então, você está me dizendo que finalmente entende as consequências de suas ações passadas?”

“… … .”

“Já que você sentiu que me compensou pelo que aconteceu antes, estamos quites? Que tipo de cálculo é esse?”

“… … .”

“Você é realmente uma dama muito esperta.” Olhando para Erna, que mantinha a boca fechada, Bjorn começou a rir sem perceber. Embora essa dama à sua frente parecesse tímida, ela tinha coragem de dizer o que queria dizer no final.

Afinal, esse tipo de pessoa, elas parecem dóceis, mas são feras se você as conhece bem o suficiente.

“Eu aceito. Acho que foi um acordo justo.” Ele assentiu e finalmente decidiu deixá-la ir. Ele já tinha o que queria, então, nesse ponto, ele não se importaria de deixá-la escapar por enquanto. Isso foi até ele ver a expressão de Erna que mostrava abertamente seu alívio por finalmente escapar de suas garras.

Bjorn, com irritação fervendo em seu peito do nada, de repente agarrou sua pequena mão adornada com luvas de renda. Foi só depois que seus lábios tocaram o dorso da mão dela que Erna percebeu o que havia acontecido.

A sala de exposições silenciosa ecoou com as exclamações dos convidados, que fingiam apreciar as pinturas enquanto secretamente os observavam ao mesmo tempo. O Grão-Duque não prestou atenção à comoção e, educadamente, abaixou-se mais uma vez e beijou o dorso da mão de Erna como se ela fosse uma princesa.

“Então, espero vê-la novamente, Srta. Hardy.” Ele finalmente foi embora depois de deixar um doce adeus como se ela fosse sua amante. Vendo o rosto vermelho-vivo de Erna enquanto o encarava em choque, seu peito finalmente se sentiu muito mais leve. Bjorn deixou a sala de exposições sem arrependimentos e, como esperado, Peter e seus companheiros estavam esperando por ele no corredor.

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“O que você disse a ela? Vocês estão planejando se encontrar de novo?” “Eu não estou interessado, que nada! E mesmo assim você está levando a melhor.” Peter disse ironicamente enquanto seguia Bjorn, que continuava andando pelo corredor lentamente sem dizer uma só palavra em resposta.

“Você realmente vai se juntar a nós? Você já roubou tanto dinheiro da gente, é muita perda deixar a gente ganhar? Você acha que qualquer recompensa seria desperdiçada se não acabasse em suas mãos?” Leonard decidiu também se juntar ao interrogatório do Grão-Duque.

“Metade dessa aposta deveria ter sido minha no final, certo? É o prêmio que eu teria ganhado se você não tivesse feito essa aposta de idiota.”

A resposta de Bjorn surpreendeu Leonard, porque, no final das contas, esse teria sido o cenário mais provável se sua aposta idiota não tivesse sido feita.

“Olha esse canalha. Quem tem mais na vida é o mais assustador no final, que canalha com pura sede de dinheiro.” Peter exclamou e mostrou a língua de espanto.

“Seducir outra mulher na frente de todo mundo porque a aposta é tão preciosa, acho que se você quer ser rico, tem que viver essa vida. A propósito, o que você vai fazer agora? Todo mundo deve estar te amaldiçoando até a morte, eu imagino.” Leonard perguntou.

“Por que isso importa?”

“E a Srta. Hardy?”

“Você fez essa aposta porque estava tão preocupado com a Erna Hardy?”

Bjorn interrompeu a pequena compaixão de seu colega com uma observação repleta de ridículo. A multidão de nobres, sem palavras, desviou os olhares. No final, o silêncio entre eles não durou muito tempo, graças ao diretor da Academia Real de Artes que chegou na hora certa. Tendo encontrado o Príncipe, o diretor apressadamente se aproximou dele e ofereceu suas saudações junto com um jovem ao seu lado.

“Este é Pavel Lore, meu aluno que ganhou o primeiro prêmio nesta exposição de arte. Ele é o talento mais promissor da academia de arte, então eu queria apresentá-lo a Sua Alteza, o Grão-Duque.”

O chefe do centro de arte apresentou seu aluno com um sorriso cheio de orgulho. Quando os olhos do jovem encontraram os do Grão-Duque, ele abaixou a cabeça mais uma vez, mostrando humildade. O homem ruivo teve a impressão de que era mais próximo de um soldado do que de um artista.

Bjorn respondeu às saudações com cortesia adequada. Afinal, arte está além de seu interesse, mas ele ainda precisa mostrar seu respeito. Não era seu forte reconhecer quem poderia ser um pintor talentoso que pudesse levar a cultura do Reino para a nova era. No entanto, se o preço de suas obras disparasse, então isso seria um assunto diferente para ele.

Ele continuou seu caminho, deixando as duas pessoas para trás cercadas por um breve silêncio. Foi quando ele chegou ao final do corredor que ele finalmente se lembrou de que não era a primeira vez que ouvia o nome daquele jovem artista.

“Pavel…”

Bjorn, que parou de repente, chamou o nome familiar novamente. Era o nome que certa dama familiar chamava ansiosamente enquanto vagava pelo jardim. Peter e sua turma, que o haviam seguido trocando piadas sem sentido, pararam de andar ao mesmo tempo.

“O que foi? Tem algo errado?”

Leonard perguntou curioso, mas Bjorn o ignorou e não respondeu. Em vez disso, ele virou a cabeça e olhou para o caminho que eles acabaram de percorrer. O Diretor de Arte e Pavel Lore acabaram de entrar na sala de exposições no final do corredor, a mesma sala de exposições onde ele a deixou para trás.