Capítulo 118

© 2020 Maxime Julien Durand / Void Herald

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Qualquer ofensa percebida a pessoas ou organizações específicas é involuntária.

Este ciclo terminaria como o anterior, em Sorrentos.

Pelo menos uma horda de mutantes ensanguentados não perseguiu Ryan desta vez, mas a realização o deixou amargo. Ele sabia que a causalidade tinha a tendência de se reafirmar, e embora o mensageiro rompesse essa cadeia de destruição, ele havia passado semanas, senão meses, em Nova Roma. Ele havia feito amizade com dezenas de locais, heróis e vilões. Ver a cidade em chamas novamente o enchia de raiva.

O mensageiro não se sentia tão determinado a salvar essas pessoas desde sua primeira Corrida Perfeita em Mônaco.

Apenas Shroud, Felix e Sunshine foram autorizados a segui-lo até o ponto de encontro: o mesmo prédio onde Ryan recarregou após o desastroso fim do último ciclo. O grupo contornou um perímetro defensivo de centenas de torres feitas pela Vulcan sem problemas.

Apenas Atom Kitten e See-Through estavam com o traje completo; Leo Hargraves ofegava enquanto caminhava em forma humana, enquanto Ryan vinha com um terno elegante concedido pelo Sr. Wave.

“Você esqueceu como andar?” Ryan perguntou a Sunshine, que parecia sem fôlego. “Desculpe, mas eu só carrego donzelas em perigo nos braços, ou gatinhos perdidos.”

“E quanto a Atomic Hound?” Felix perguntou. “Que tal esse nome, como uma nova opção?”

“Me soa como Atom Puppy,” Ryan respondeu. Felix soltou um suspiro, percebendo que não haveria escape da zombaria.

Hargraves sorriu, embora houvesse pouca alegria nisso. “Quanto mais uso meu poder, menos quero me tornar um homem novamente,” confessou. “Às vezes passo semanas sem voltar ao normal e frequentemente esqueço que posso.”

“Seu poder impacta sua saúde mental?” Felix perguntou, enquanto chegavam a portas cinzas e reforçadas. Uma câmera os observava.

“De certa forma,” Sunshine admitiu. “Uma parte de mim quer abandonar minha humanidade e se tornar um sol radiante em tempo integral. Eu não entendia por que, mas conhecer o Alquimista acalmou minhas dúvidas.”

“Não é um bug,” Ryan disse. “É um recurso.”

Sunshine compartilhou uma conexão extremamente forte com seu Elixir, talvez tanto quanto o mensageiro. Ambos estavam mais próximos dessa ‘ascensão’ do que a maioria. Ryan ainda não entendia completamente o que o processo implicaria, mas se transformar em um habitante dos reinos coloridos fazia parte do pacote.

Hargraves poderia acabar se tornando um verdadeiro sol um dia, deixando a Terra para iluminar algum canto escuro do universo. Ryan considerava isso uma alternativa melhor do que ele queimar a atmosfera do planeta deles, ou pior.

“Sim. É por isso que tento permanecer humano quando meu poder não é necessário. Se você passar todo o seu tempo no ar, você para de se relacionar com as pessoas no chão.” Sunshine franziu a testa, enquanto um pensamento cruzava sua mente. “Me pergunto se Augustus está na mesma situação. Ao contrário de mim, ele não pode voltar ao seu estado humano.”

“Se metade das histórias que aprendemos sobre ele forem verdadeiras, ele sempre foi um sujeito desagradável,” Shroud respondeu.

“Eu sei,” Hargraves disse com um suspiro. “Mas uma parte de mim esperava que a natureza humana não fosse capaz de tal crueldade sem fatores externos.”

Ryan se lembrou de seu primeiro encontro com Livia e de como encontrou o Discount Zeus posando como uma estátua em sua própria cozinha. O mensageiro havia culpado a senilidade na época, mas, em retrospecto, Lightning Butt provavelmente sofria de um síndrome semelhante ao seu inimigo. O poder adormecido dentro dele queria se tornar uma estátua de metal indestrutível e inviolável, e estava cada vez mais difícil resistir ao impulso com o passar dos anos.

As portas do prédio abriram rapidamente, e um golden retriever em forma humana imediatamente agarrou Felix. O pobre gatinho soltou um suspiro enquanto a criatura vil o apertava como se fosse uma fruta, enquanto o olhar julgador de Ryan avaliava seu traje branco. Seis de dez, talvez sete.

“Você é um idiota, um imbecil!” Fortuna disse tantos insultos floridos em tão pouco tempo, que a mente de Ryan automaticamente censurou metade deles. “Você sem coração…”

“Oi, irmã—” Felix não conseguiu terminar a frase, pois Fortuna o estapeou na bochecha com força suficiente para rachar sua máscara. “Ei!”

“Você merece coisa pior!” ela respondeu, antes de abraçá-lo novamente com lágrimas nos olhos. “Seu idiota… você quase morreu… se você tivesse morrido, eu…”

Atom Cat não disse nada por um momento, antes de abraçar sua irmã chorando de volta. “Desculpe por te preocupar,” ele disse, e ele realmente quis dizer isso.

Duas outras garotas emergiram do prédio, uma adolescente explosiva e uma dama elegante. “Felix!” A pequena Narcinia imediatamente se juntou ao abraço em grupo, radiante por ver seu irmão adotivo novamente. “Graças a Deus você está vivo!”

“Estou aqui, Narci,” Felix sussurrou. “Estou aqui.”

Embora Leo observasse Narcinia com uma expressão triste, Ryan não prestou muita atenção nela. Ele só tinha olhos para sua própria dama.

Livia saiu do limiar das portas, vestindo o casaco preto e o traje escuro que tanto amava. O vestido ressaltava sua pele pálida e cabelo, e o vermelho ao redor de seus olhos.

Ela chorava, Ryan percebeu. Ela chorava por Nova Roma.

Nenhum dos dois disse uma palavra. Não precisavam. O casal simplesmente a abraçou apertado, deixando suas mãos falarem por eles.

Enquanto isso, os irmãos Veran se separaram, e Fortuna finalmente notou a presença de seu namorado. “Mathias.”

“Fortuna,” ele respondeu, removendo seu capacete de vidro com seu poder. “Fico feliz que você esteja—”

Ela o beijou na boca antes que pudesse terminar. Inicialmente surpreso, Shroud colocou os braços ao redor de sua namorada e timidamente a abraçou de volta.

Enquanto Leo, Livia e Ryan sorriam ao ver aquilo, os irmãos de Fortuna reagiram com angústia. “Eca,” Narcinia reclamou, enquanto Felix parecia desconcertado.

“Não ‘eca’ meu futuro marido!” Fortuna disse ao quebrar o beijo.

“Marido?” Mathias perguntou, horrorizado.

“Você vai se casar comigo,” respondeu sua namorada, como se fosse óbvio. “Eu ainda tinha algumas dúvidas sobre nosso relacionamento, mas ver você ajudar a salvar meu irmão dissipou-as. Estamos destinados a ficar juntos, e desta vez, não vou deixar você ir. Nunca.”

“Uau, você está pulando muitas etapas,” Mathias respondeu, embora não protestasse tanto quanto Ryan esperava.

“Mas você já tem o anel!” Fortuna protestou. “Você só precisa fazer seu pedido!”

“Eu não tenho um…” O cara do limpador de vidro congelou no lugar, examinou sua armadura de vidro e notou um anel dourado acidentalmente preso em sua cintura. Ele soltou um longo suspiro. “Então é assim que é.”

“Sem saída, Invisiboy,” Ryan o alertou.

Mathias revirou os olhos, antes de empurrar sua namorada gentilmente para trás. “Vamos fazer isso direito, tudo bem?” ele perguntou a ela. “Devemos ir devagar, ver se conseguimos fazer isso durar alguns anos?”

“Oh, claro,” ela respondeu com confiança. “Eu sei que vai dar certo.”

Ryan riu, antes de olhar para sua própria namorada. “Você está em prisão domiciliar, milady?”

“Eles estão,” Livia disse ao se desvincular do abraço. “Mas eu não estou sem amigos. O tio Silvio mandou os guardas embora por hoje.”

“Netuno?” Shroud perguntou, enquanto sua namorada colocava os braços ao redor de seu braço esquerdo. “Por que ele nos deixaria ter essa reunião?”

“Porque eu disse a ele que esse era o único caminho para a paz que eu conseguia ver,” ela respondeu com um suspiro. “Ele é a única cabeça sensata entre os colaboradores mais próximos do meu pai.”

“O que aconteceu na nossa ausência?” o homem de vidro perguntou.

Livia olhou para o chão, suas mãos alcançando as de Ryan. Seu namorado segurou os dedos dela com os seus, e ela os apertou.

“Depois que você fugiu, meu pai chegou à conclusão de que você e Dynamis estavam aliados, e então…” A princesa Augusti olhou na direção de Nova Roma. Mesmo a quilômetros da metrópole, ainda era possível ver fumaça no céu. “E então ele decidiu lançar uma ofensiva. Eu fiz tudo o que pude para evitar uma escalada ou adiá-la, mas…”

“Augustus já havia decidido há muito tempo,” Shroud adivinhou. A profecia de sua mãe afirmava que Lightning Butt iria surtar em algum momento, e a causalidade não seria negada.

“Sim,” Livia disse tristemente. “Meu pai sempre teve a intenção de atacar Dynamis. Quando a Fábrica da Bliss caiu e Felix tentou levar Narcinia embora, o conflito tornou-se inevitável. Hector convocou Fallout antes de conceder-lhe o comando sobre seu exército corporativo, e agora a guerra consumirá a Europa.”

Ryan quase conseguia sentir a culpa em sua voz. Desde que ela ajudou seu namorado a destruir a Fábrica da Bliss, ela se culpava pela guerra que resultou. “Não é sua culpa, Livia,” o mensageiro a reassurou. “Você fez tudo que pôde.”

“Eu não fiz,” ela respondeu com remorso, enquanto Felix a observava com um olhar estranho. “Eu tive anos, Ryan. Eu tive anos para tomar medidas mais drásticas para prevenir esse desastre. Eu pensei… eu pensei que se as circunstâncias externas mudassem, meu pai não desencadearia tal destruição. Porque ele me tratou com bondade, eu desculpei sua crueldade em relação aos outros. Eu fechei os olhos para isso, e eu estava errada. É ele, Ryan. É tudo ele, e ele nunca mudará.”

Narcinia notou Sunshine olhando para ela, o que a deixou ansiosa. “Eu sou Leo Hargraves,” o paladino brilhante se apresentou, sua voz gentil e calorosa. “Algumas pessoas me chamam de Leo, o Sol Vivo.”

“Eu sei,” Narcinia disse, um pouco intimidada. “Meus pais te odeiam.”

Enquanto Shroud estremecia, Leo balançou a cabeça. “Não, eles não odiavam,” ele disse, sua voz pesada. “Seus pais eram meus amigos.”

Ele procurou em suas roupas e trouxe uma foto antiga, mostrando-a a Narcinia. Ryan olhou para a foto, que representava um casal e seu filho bebê. O homem, forte como um lenhador, tinha cabelo preto e olhos azuis familiares, mas a mulher… o castanho em seu cabelo, as sardas em suas bochechas, o rosto sorridente…

Embora ela tivesse herdado apenas os olhos do pai, a semelhança entre Narcinia e sua mãe era impressionante.

“Este é seu pai Bruno Costa, e sua esposa Julie. Algumas das pessoas mais legais que já conheci. E este bebê…” Leo colocou um dedo sobre a criança. “Este bebê é você, Giulia.”

Narcinia pegou a foto sem dizer uma palavra, enquanto seus irmãos observavam. Felix mal conseguiu reprimir sua raiva, enquanto Fortuna claramente não sabia o que dizer.

“Você nasceu muito antes de eu conhecer seus pais, mas eu te segurei em meus braços quando você tinha apenas alguns anos,” Leo continuou. “Seus pais… seus pais eram heróis. Seu pai era um Yellow que poderia cortar qualquer coisa, e sua mãe era uma Green com o poder de alterar a vida. Juntos, eles tentavam tornar este planeta queimado verde novamente, até que Augustus os matou e te levou embora.”

“Não.” Narcinia se recusou a aceitar. “Não. Não pode ser. Meus pais, meus verdadeiros pais, eram saqueadores. Eles mereciam morrer.”

“Ele fala a verdade, Narcinia,” Livia disse, olhando para a foto com arrependimento e remorso, como se tivesse cometido a terrível ação ela mesma. “Esses são seus verdadeiros pais. Marte e Vênus mentiram sobre tudo.”

“Não pode ser!” Narcinia protestou, olhando para sua irmã mais velha em busca de apoio. “Fortuna, diga algo!”

“Narci, Livy nunca está errada, e nossos pais… nossos pais tentaram matar Felix, porque o padrinho Janus pediu.” A Garota Sortuda apertou o braço de seu namorado, enquanto seu irmão desviava o olhar em raiva silenciosa. “Se eles podem fazer isso, são capazes de qualquer coisa.”

“Augustus assassinou seus pais,” Leo continuou, a dor crua em seu tom. “Ele… ele os matou enquanto eu estava longe, e te levou com ele. Depois, fez Bacchus despedaçar sua mente, para que você esquecesse sua família, e te entregou a Marte e Vênus quando eles lutavam para conceber um terceiro filho.”

“Augustus também matou as cinquenta pessoas que viviam na fazenda da sua mãe,” Shroud acrescentou com desgosto. “Ele queimou as colheitas que ela havia feito com seu poder, plantas que poderiam ter ajudado a erradicar a fome e limpar áreas radioativas do globo.”

“Por quê?” Livia perguntou, enquanto Narcinia cobria a boca com uma mão em horror.

“Porque seu pai não é um imperador, mas um senhor da guerra insano. Ele não oferece futuro algum, acredita apenas na força. Isto.” Shroud apontou para as nuvens de fumaça no céu. “Este é o mundo ideal dele. Fogo e cinzas.”

“Eu sei,” Livia respondeu, seu tom gelado. “Eu sei.”

Leo Hargraves trancou os olhos com a princesa Augusti, e o sol empático compreendeu o que a deixava tão desconfortável.

“O que aconteceu com Juno foi um erro,” Leo Hargraves disse. “Não vou pedir desculpas por isso, porque nada jamais justificará a morte de um inocente. Os fins nunca justificam os meios empregados. Nesse aspecto, você está certa em me desprezar.”

“Eu não tenho força para te perdoar por ter matado minha mãe, Sr. Hargraves, mesmo que acidentalmente,” Livia disse com um longo e pesado suspiro. “Mas meu pai precisa ser parado. O que ele fez hoje é monstruoso e não pode ser justificado… no entanto, uma parte de mim quer. Não vou fazer desculpas por ele. Não mais. Você está certo, nada pode justificar o assassinato de inocentes, e meu pai matou incontáveis mais do que você jamais fará.”

“Então você nos ajudará a derrubá-lo?” Shroud perguntou, fazendo Livia acenar firmemente.

“Você tem minha palavra de que, uma vez que seu pai tenha sido parado e sua organização desmontada, eu me submeteria a qualquer julgamento que você considerar adequado pela morte da sua mãe,” Hargraves prometeu à princesa Augusti.

“Se conseguirmos pará-lo,” Shroud respondeu, antes de olhar para Ryan.

“Deixe isso comigo,” o mensageiro respondeu. “Júpiter ganhou a primeira rodada, mas Saturno voltou ao jogo.”

Livia não respondeu, fazendo Narcinia olhar para Hargraves. “Me conte mais. Sobre meus…” A jovem garota tossiu. “Sobre meus pais.”

“Eu vou,” Sunshine prometeu. Ele esperou anos por isso.

Leo Hargraves começou a narrar a Narcinia histórias sobre como conheceu seus verdadeiros pais, enquanto Mathias levava Fortuna para um canto, segurando suas mãos. Ryan supôs que seu amigo translúcido precisava esclarecer como via o relacionamento deles.

O que deixou apenas Felix, que trocou um olhar awkward com sua ex. “Livia?”

“Felix,” Livia respondeu, meio gélida, meio envergonhada.

“Desculpe por ter terminado com você,” ele declarou de forma direta, antes de pensar melhor. “Bem, não, não exatamente. Deixe-me reformular isso.”

Droga, ele fez Len parecer um galanteador.

“Ainda acho que deixar os Augusti foi a decisão certa, e eu mantenho isso,” Atom Cat continuou. “Mas eu poderia ter feito isso de uma forma menos dura. Eu sabia que você estava sob muita pressão para acertar as coisas com a organização, e quando vi Nova Roma queimando… percebi que você estava tentando evitar esse desastre.”

“Não, Felix.” Livia balançou a cabeça, sua voz quebrando. “Você estava certo em deixar esse império podre. Eu sei como você se sentia sobre mim. É… eu entendo por que nunca funcionaria entre nós. Nossos pais nos empurraram para algo que não estávamos prontos.”

“Mas não foi certo te condenar por estar em uma situação impossível. Se você tivesse saído, Augustus teria perdido todas as amarras. Eu posso culpar Jamie e Ki-jung por fecharem os olhos, mas vejo que você estava tentando parar seu pai por dentro.” Felix coçou awkwardmente a parte de trás da cabeça. “Tudo isso para dizer que… espero que possamos continuar amigos, mesmo depois de tudo isso.”

“Podemos,” Livia respondeu com um pequeno sorriso. “Mas agora não é hora de discutir a reconstrução de pontes queimadas.”

“Não, não, claro que não.” Felix olhou para Ryan com embaraço. “Desculpe, Quicksave, percebo que essa discussão deve parecer estranha, considerando que vocês dois estão namorando agora…”

“Heh, ciúmes são para aqueles que não confiam em seus parceiros,” Ryan respondeu, fazendo Livia corar brevemente. “Está tudo bem, gatinho.”

Felix desviou o olhar timidamente, antes de se endireitar. “Boa sorte.”

Atom Kitten apressadamente deixou o casal a sós para se juntar a Leo e Narcinia, enquanto Matt e Fortuna tinham uma conversa íntima a alguns pés de distância. Ryan ficou feliz que Felix fizesse um esforço para se reconectar com as pessoas que deixou para trás; o mensageiro ainda achava que o gatinho tinha o direito de deixar um ambiente familiar tóxico, mas ele havia jogado o bom fora junto com o ruim.

“Você sabe,” Ryan sussurrou para sua namorada, “quando nos conhecemos, nunca pensei que você e Sunshine acabariam do mesmo lado.”

“Eu não gosto dele,” ela respondeu enquanto o conduzia para dentro do prédio. “Mas confio em você.”

Ele a seguiu pelos corredores e entrou em um quarto privado com paredes amarelas dolorosas e uma pintura voltada para a cama. Embora inacabada, Ryan reconheceu seu próprio torso, segurando Livia em seus braços como se fosse uma noiva. Sua namorada deve ter começado a pintura alguns dias antes do mensageiro retornar da Antártica.

“Eu senti sua falta, Ryan,” Livia disse ao fechar a porta atrás deles. “Foi difícil sem você.”

“Eu te disse,” ele respondeu calorosamente. “Sempre voltarei.”

“Como foram suas férias de inverno?”

“Você não recebeu minhas mensagens, princesa?”

“Recebi, mas quero ouvir da sua doce, doce boca.”

“A viagem foi bem legal,” ele respondeu enquanto acariciava o cabelo dela. “Destruí os Illuminati, os Reptilianos, e saqueei a Área 51.”

“Você destruiu os mestres secretos do nosso governo sem me levar com você?” Ela fez bico. “Embora eu imagine que você nos deixou a CIA.”

“O complexo militar-industrial da Dynamis contaria?” Ele encostou sua testa na dela, até sentir seu hálito quente. “Você queria me dizer algo quando voltei.”

Ela corou, antes de desviar o olhar. “Vai parecer clichê.”

“Você não pode subverter minhas expectativas?” Ryan perguntou, fazendo Livia rir. “Nah, estou brincando. Não existe um clichê ruim, apenas uma má execução. Tudo se resume a dizer com o coração.”

Livia se posicionou na frente dele, colocou os braços ao redor do pescoço dele e fixou os olhos no namorado. Ryan a segurou pela cintura e estudou sua expressão. Suas bochechas ficaram brilhantemente rosas e ela mordeu o lábio inferior, tentando reunir coragem para falar. Eventualmente, a princesa Augusti respirou fundo e disse quatro palavras.

“Eu te amo, Ryan.”

E seu namorado não soube como responder.

“Oh meu Deus, você está realmente sem palavras,” Livia disse com um sorriso tímido. “Você não esperava isso?”

“Não, eu não esperava,” Ryan admitiu, seu coração tendo pulado uma batida. Ele… não ouvia aquelas palavras há muito tempo. “Eu esperava o pior, como ‘não gosto do seu carro’, ou ‘estou grávida’. Não tomamos precauções nesse aspecto.”

“Ryan, estou tomando pílula desde nosso primeiro encontro.”

“Espera, você sabia que acabaríamos jogando Bill e Mônica no escritório oval?”

“Eu…” Sua princesa parecia tão fofa quando estava envergonhada. “Eu não sabia, mas eu… eu meio que esperei que fôssemos desde o começo.”

“E você nunca disse ‘eu te amo’ para mais ninguém?”

“Eu disse ‘eu te amo, pai’, ‘eu te amo, mãe’, ‘eu te amo, Felix’… mas nunca ‘eu te amo, Ryan.’” As bochechas de Livia de alguma forma ficaram ainda mais vermelhas, e sua expressão se transformou em um sorriso tímido. “Sinto muito, soou muito melhor na minha cabeça—”

Seu namorado a beijou na boca antes que ela pudesse terminar. Ryan a abraçou ferozmente, compensando as semanas que passaram separados, e ela acompanhou seu próprio desejo. Quando finalmente seus lábios se separaram, o mensageiro sussurrou suas próprias palavras em seu ouvido.

“Eu também te amo, princesa.”

Ryan se perdeu nos olhos azuis dela. Ele amava a visão de seu cabelo, tão loiro-platinado que poderia muito bem ser prateado; ele amava o gosto de seus lábios, sua doce voz, sua bondade e os rostinhos adoráveis que ela fazia; ele amava que ela ria de suas piadas, fazendo-o sentir-se menos como uma ilha solitária de cultura em um mar de ignorância.

“Entrega perfeita,” Livia disse, seus dedos se movendo para seu cabelo. “Talvez devêssemos fazer uma reprise?”

Fizeram, e então fizeram uma terceira reprise só para ter certeza. Então ele a levantou na cama, para filmar a versão do diretor sem censura.

“Eu sei que não faz muito tempo que nos conhecemos, mas…” As mãos de Livia deslizavam contra seus ombros. “Eu não sentia isso por um garoto há muito tempo.”

“Eu também amei,” Ryan respondeu, segurando-a gentilmente. “Mas esta é a primeira vez que sinto que isso vai durar.”

“Eu quero que dure,” ela disse, enquanto beijava seu pescoço. “Eu quero que passemos pelo próximo ciclo e evitemos essa tragédia horrível. Eu quero que compartilhemos um apartamento e façamos café da manhã juntos. Eu quero esquiar com você e também ir à praia. Eu quero estar com você.”

“Eu senti sua falta,” ele respondeu. Por um momento abençoado, Ryan se esqueceu completamente do Carnaval, Bloodstream, Dynamis, Augustus e tudo o mais.

Ele só conseguia pensar nela.

Como todas as coisas boas, acabou cedo demais.

“Precisamos ir,” Livia disse, enquanto terminava de colocar seu casaco preto. “Eles vão se perguntar o que estamos fazendo.”

“Vamos dizer que foi uma projeção privada,” Ryan disse com um encolher de ombros, antes de ajudá-la de forma charmosa a arrumar o cabelo. “Acho que estamos prontos para a grande abertura.”

“Você disse que agora pode trazer seis pessoas com você?” Livia riu. “Uma para cada cor? Devemos nos chamar de Guerreiros Arco-Íris?”

“Os Coloridos Oito?” Ryan respondeu.

“Você é bem ruim em matemática, não é?”

“É uma estratégia astuta. Dessa forma, nossos inimigos sempre se perguntarão quem é o membro que falta. Isso inspirará medo. Pelo que eles sabem, nosso oitavo Genoma poderia ser Mechron.”

Quando ela terminou de se vestir, Livia sentou-se em seu colo enquanto ele descansava na cama. “E aí?” Sua namorada perguntou. “Quem estará no time vencedor?”

“Estou aberto a sugestões. Talvez Narcinia? Estamos precisando de uma criança para acompanhar.”

“Meu plano era fazer um mapa mental dela agora, mas não transferir sua mente,” Livia disse. “Se Felix e eu pedirmos, ela se submeterá ao upload de memória no próximo ciclo voluntariamente.”

“Livia, não podemos deixar um padre, drogas e uma pré-adolescente em uma ilha sem supervisão,” Ryan brincou. “É uma receita para uma invasão do FBI e um vídeo de True Crime. E isso sem mencionar as pessoas no porão…”

“Para salvar os sujeitos da Bliss, teremos que atacar a fábrica cedo, com Narcinia e Bacchus dentro. Posso informar a Narcinia sobre aquela sala secreta, e ela dará assistência médica às vítimas, mas Bacchus a prenderá em resposta. Teremos que extrair ela da ilha à força.”

Ryan considerou isso um ponto positivo. Ele jurou enterrar Bacchus sob sua instalação, e pretendia cumprir isso.

“Então, aqui está a linha do tempo até agora.” O mensageiro tentou colocar tudo em ordem. “Eu chamo Braindead assim que recarrego, para que ele chegue em Nova Roma o mais rápido possível. Dou a Ghoul o tratamento de ladrão de tumbas, termino minha entrega—”

“Essa parte é necessária?” Livia perguntou com uma sobrancelha levantada.

“Quicksave sempre entrega, não importa quantas tentativas!” Ryan estava orgulhoso de reformar o serviço postal, uma explosão de cada vez.

“Você tem uma oferta de entrega em vinte e quatro horas?” Livia perguntou com um sorriso travesso. “Eu poderia aproveitar isso.”

“Eu tenho uma,” ele disse, colocando a mão no queixo dela, “mas apenas para a pessoa certa.”

Ela explodiu em risadas, o som mais maravilhoso que Ryan ouvira até agora em sua longa, longa vida. “Tudo bem, Ryan,” sua princesa disse com diversão. “Então, depois nos encontramos no bunker com qualquer um que você puder mandar de volta, e damos uma surra em Adam, o Ogro.”

“Eu adoro quando você fala a minha língua.”

“Como atacamos a Meta-Gang dentro de poucas horas após sua recarga, devemos conseguir salvar todos os cidadãos de Rust Town que eles capturaram,” Livia acrescentou.

“Estou hesitando sobre o planejamento depois,” Ryan admitiu. “Devemos atacar a Fábrica da Bliss e depois a Dynamis?”

“Sugiro atacar uma organização por vez,” Livia disse. “Se nem a Meta-Gang nem Felix fizerem ondas, minha família ficará mais ou menos dormente até a reunião dos Olímpicos. Então proponho que tomemos o bunker, construamos aquela armadura elegante sua, curemos os Psicopatas—”

“E quebremos o monopólio da Dynamis?”

Livia acenou. “Se a verdadeira natureza dos Knockoffs for exposta e o suprimento destruído, a organização entrará em colapso. Podemos garantir que tanto Hector Manada quanto Fallout sejam removidos do poder, e deixar Enrique encarregado de reformar o que restar. Alphonse Manada lutará até o amargo fim, e há a questão do seu pai adotivo.”

“No final, Len escolherá o que faremos com Bloodstream,” Ryan respondeu. “Quero que o pai dela morra para o bem de todos, mas devo a ela isso. Uma escolha.”

Livia acenou. “Há também outra razão para atacar a Dynamis primeiro. Sua Gravity Gun.”

“A arma anti-Zeus deles?” Ryan suspeitava que usasse a mesma tecnologia que a versão de Mechron. “Você disse que não funcionaria em suas visões.”

“Não funcionará com a Dynamis, mas você tem uma maneira de fazer minhas visões mentirem,” Livia respondeu. “Com a Dynamis fora de cena… podemos nos concentrar na minha família. Precisamos agir rapidamente, pois o colapso da Dynamis encorajará meu pai. Precisamos atacar antes que ele possa mobilizar sua organização para tomar a cidade, e para isso, precisamos decapitar sua liderança.”

Teriam que derrubar os Olímpicos e, em seguida, finalizar a destruição trazendo Mob Zeus para baixo.

“Você tem certeza de que quer se envolver na demolição?” Ryan perguntou. “Você pode deixar essa bagunça comigo.”

Livia olhou para ele em silêncio, seus olhos pesados de preocupação.

“O que te incomoda?” o mensageiro perguntou.

“E se ele te matar?” Sua namorada perguntou preocupada. “E se meu pai te matar? Ou a tia Plutão, ou o Cancel? Ou Adam e Fallout?”

“Eles não vão.” Embora, lá no fundo, Ryan se lembrasse de que todos os seus encontros com Augustus haviam terminado com uma surra até agora. O mensageiro ainda não havia derrotado Fallout em uma luta também.

“Eles podem,” ela respondeu, não convencida. “E se você perecer sem enviar minha mente de volta, eu posso não confiar em minhas anotações e me submeter à transferência de memória.”

Ryan tentou não pensar nessa possibilidade. “Se eu morrer, e se eu recarregar, eu voltarei até você, e encontraremos um jeito.”

“Como?”

“Eu não sei,” admitiu seu namorado, “mas encontrarei uma maneira. Não existe um plano garantido para funcionar, e eu…”

“Você o quê?” Livia perguntou com uma expressão de desaprovação.

“Eu te vi morrer antes,” Ryan respondeu, lembrando-se da vez em que Big Fat Adam explodiu a Fábrica da Bliss junto com Len e Livia. “Eu vi quase todos do lado de fora morrer pelo menos uma vez. Não posso deixar isso acontecer novamente. Mesmo pelo bem das memórias.”

“É por isso que não posso deixar você lutar contra minha família sozinho, Ryan. O risco de perdermos tudo é grande demais.” Livia reuniu seu fôlego, tentando processar seus sentimentos. “Não posso continuar fazendo desculpas também. Não depois de ver esse banho de sangue sem sentido se desenrolar. Eu… amo meu pai e minha tia, mas eles são tão poucos, e eles vão matar muitos. Não posso fechar os olhos para essa verdade, mesmo que doa.”

Em vez de dizer uma palavra, Ryan moveu os braços ao redor dos quadris de sua namorada e a abraçou. Livia descansou a cabeça em seu ombro, com os olhos fechados.

“Obrigada por estar aqui, Ryan,” ela disse suavemente. “Eu… você não pode imaginar como é bom. Ter alguém para te apoiar, não importa quão difíceis sejam as circunstâncias.”

“Eu retribuo o sentimento,” ele respondeu, beijando-a na bochecha. “Obrigado por ajudar a corrigir isso, parceira.”

Ela olhou para ele e sorriu.

Ryan rezou para ver aquele rosto novamente, por muitos anos que estavam por vir.

“Então,” Livia disse. “Sabendo desse plano, quem você levará com você?”

“Você e Len, obviamente,” Ryan respondeu. “Bianca, porque isso tornará a caça ao ogro mais fácil. Atom Kitten, porque ele fará algo estúpido caso contrário, e Shroud, porque preciso de um novo para-brisa.”

“Isso deixa um lugar aberto,” Livia disse. “Posso levar Fortuna como reforços, mesmo que a mente dela não seja enviada de volta no tempo, então precisamos escolher o aliado certo.”

“Wardrobe,” Ryan disse imediatamente.

Livia parecia um pouco ciumenta, para seu divertimento. “Sério, Ryan.”

“O ”

“Você tem certeza?”

“Certo.” Depois de todas as suas conquistas, o Pandawan de Ryan merecia um lugar na equipe. Além disso, ele poderia ajudar a atacar o bunker mais cedo, ao contrário de Leo Hargraves ou até mesmo do Sr. Wave. “Embora…”

“Embora?”

“Geralmente faço ‘corridas de alegria’ antes de finalizar as coisas,” Ryan disse. “Para tentar todas as coisas que não poderei fazer após minha Corrida Perfeita. Tipo, você sabe, pregar uma peça no seu pai, mandar Luigi para o espaço… poderíamos fazer isso juntos.”

Livia balançou a cabeça. “Não, Ryan. É gentil da sua parte propor isso, mas não.”

“Você tem certeza? Teria sido incrível.”

“Eu sei, Ryan, mas você precisa morrer a cada recarga. E mesmo que encontremos um jeito de tornar a transferência de memória indolor, cada novo ciclo aumenta a chance de você perecer cedo e que eu… que tenhamos que começar de novo.” Ela pegou suas mãos nas dela. “Me importo mais com nós do que em nos divertir.”

Ele também.

“Ou…” Livia sorriu. “Ou você poderia salvar logo após enviarmos as memórias de todos de volta no tempo. Assim, todos manterão suas memórias, mesmo que você morra e recarregue forçosamente.”

Ryan franziu a testa e pensou na ideia. “O problema é que, se eu salvar e perder algo—”

“Você salvará dentro de dez segundos após a recarga,” Livia o interrompeu com uma risada. “Que diferença dez segundos faria?”

Boa observação. Não era algo que Ryan costumava fazer, mas bem… estava aberto a novas experiências, e não custava nada tentar.

Era hora de começar sua Corrida Perfeita.