Reformation of the Deadbeat Noble

Capítulo 402

Reformation of the Deadbeat Noble

História Paralela – 4 O Caminho da Independência

— Aaahhh!

Elena soltou um longo, prolongado grito enquanto era arremessada pelo ar depois que Ignet a lançou através do portal.

“É assim que normalmente se viaja por um portal?”

Mesmo que seu grito tenha ecoado por bastante tempo, ela não sentiu a força da gravidade. Foi como um momento desagradável sendo esticado ou como um elástico do tempo sendo puxado ao máximo. Claro, nada dura para sempre. Assim como um elástico esticado volta à forma original, o impacto a atingiu de uma vez só.

— Gah!

Elena caiu com força de traseiro no chão, perdeu o equilíbrio e soltou um grito estranho. Rapidamente examinou os arredores. Felizmente, ninguém pareceu testemunhar sua chegada indigna. O beco mal iluminado, claramente momentos antes do anoitecer, estava assustadoramente silencioso. O silêncio parecia pesado como a própria morte.

Era uma sensação estranha. Elena nunca esteve verdadeiramente sozinha antes. Quando criança, estava sempre nos braços de sua mãe e de seu pai. Mesmo quando cresceu e começou seu treinamento com a espada, sempre havia alguém ao seu lado.

E isso continuou sendo verdade até instantes atrás. Embora fosse verdade que ela entrou para Krono para se afastar dos pais, mais de uma centena de colegas estavam lá para lhe fazer companhia. E se fosse honesta consigo mesma…

“Estou com medo.”

— Droga! O que está acontecendo? — uma série de palavrões escapou da boca de Elena. Foi uma tentativa de esconder o medo, mas o sentimento por trás das palavras era genuíno.

Sério, que tipo de desastre inesperado era esse? Uma coisa era perder a chance de conhecer o dragão-gata, Lulu, mas ser submetida a algo tão absurdamente ridículo? O status de Ignet como comandante dos cavaleiros de Arvilius lhe dava carta branca para fazer o que quisesse? Como ela pôde fazer algo assim sem nem sequer pedir o consentimento de Elena?

— Ridículo! Ela realmente acha que vai sair impune disso? Que pessoa rude! — exclamou Elena. — Tola! Idiota!

Uma torrente de insultos invadiu sua mente e sua boca, cada um mais colorido que o anterior. Claro, desabafar sua frustração não resolvia magicamente sua raiva. No entanto, naquele momento, Elena se sentia completamente impotente.

Além disso, ela era uma garota que normalmente escolhia bem as palavras e mantinha uma postura adequada. Mas agora se via estranhamente viciada na enxurrada de palavras ásperas saindo sem controle, como se uma represa tivesse estourado dentro dela. E assim, a garota de doze anos continuou despejando uma torrente de xingamentos ferozes por um tempo, cada um mais inapropriado para sua idade.

— Nossa, quanta criatividade. Pensar que você não repetiu nenhum xingamento. Parabéns — disse uma voz repentinamente ao lado dela.

Assustada com a súbita aparição de Ignet bem ao seu lado, Elena soltou apenas um soluço surpreso.

— Hic!

“Há quanto tempo ela está aqui?”

— Você está se perguntando ‘Há quanto tempo ela está aqui?’ Estou aqui desde sua encantadora declaração de ‘Que pessoa rude!’ — explicou Ignet. — Que cena corajosa. Como ousa me insultar, uma nobre de alto escalão do Reino Sagrado?

— Mas você que começou…

— Ah, eu que comecei?

Uma onda sufocante de intenção assassina emitiu do corpo de Ignet. Embora ela sem dúvida estivesse se contendo, Elena não tinha como saber disso. Para ela, foi uma força avassaladora. Parecia que a lâmina gélida da Morte pressionava seu coração antes de recuar.

Para uma jovem totalmente alheia à reputação aterrorizante da Capitã dos Cavaleiros Negros, aquilo foi muito mais chocante do que jamais poderia imaginar.

— Você disse que não queria depender da influência dos seus pais, não foi? — perguntou Ignet. — Que risível. Pensar que alguém que nunca teve que se preocupar com onde viria a próxima refeição se atreveria a dizer palavras tão arrogantes.

Elena tentou parar de tremer enquanto Ignet a encarava.

— Vou deixar bem claro: esta é a região sul onde eu cresci. Só a escória da sociedade vive aqui, então considere isso o campo de treinamento perfeito já que você está tão ansiosa para se sustentar sozinha — disse Ignet. — A escolha é sua. Prove a sinceridade das suas palavras sobrevivendo por um mês ou chore como uma criança, chamando por mim ou pelos seus pais.

Com esse ultimato final, Ignet se virou e entrou de volta no portal ainda aberto. O portal cintilante pulsou com luz por um momento antes de se fechar com um zunido, mergulhando o beco de volta na escuridão. Mesmo com as sombras se aprofundando, Elena continuou parada, incapaz de se mover.

Não era medo. Era vergonha o que a paralisava, a humilhação completa de não conseguir rebater uma única palavra que Ignet havia lançado contra ela.

“Ela não está errada.”

Uma determinação de aço endureceu a expressão da jovem. Ignet estava certa. Até agora, ela não passava de uma criança. Agia como uma, pensava como uma. Se realmente queria sair da sombra dos pais, não deveria nem ter entrado para a escola de esgrima Krono.

Como os heróis das velhas histórias, ela deveria ter partido sozinha. Deveria ter deixado a família para trás para vagar, para viver aventuras, para conhecer o mundo com os próprios olhos e crescer com isso. Quando pensava assim, essa situação absurda era, na verdade, uma oportunidade disfarçada.

— Tudo bem. Eu vou superar isso. Um mês? Não me faça rir! Não voltarei para casa até conseguir me sustentar com os meus próprios pés!

Ela se tornaria forte. Chegaria a tais alturas que ninguém se atreveria a negar sua força. Provaria que poderia se tornar uma grande espadachim mesmo sem o renome de Illia Lindsay ou Airen Farreira. Ficaria orgulhosamente diante daquela bruxa, Ignet Crecensia.

Os olhos de Elena ardiam com determinação feroz enquanto firmava sua resolução. E então, um momento depois, um som suave e adorável, completamente em desacordo com sua determinação, ecoou de seu estômago.

— V-Você tá com fome.

Mais embaraçoso ainda foi perceber que ela não era a única que tinha ouvido esse ronco. Quem eram essas pessoas? E há quanto tempo estavam ali?

Enquanto estava perdida em seus pensamentos, três meninos apareceram no beco agora escurecido, os olhos fixos nela. Pareciam ter oito ou nove anos no máximo. Os garotos, bem menores que ela, usavam roupas esfarrapadas e gastas, mas nada disso registrou na mente de Elena. Tudo que ela sentia era o desejo ardente de fugir daquela situação humilhante.

“Espera, posso simplesmente sair daqui, certo?”

Certo, não havia absolutamente nenhuma razão para ela continuar ali perto daqueles pirralhos. Ela estava prestes a embarcar numa jornada de autossuperação, como as dos protagonistas das histórias clássicas. Concordando consigo mesma, tentou passar pelas crianças e sair do beco. No entanto, um dos garotos a impediu no caminho.

— Parece que alguém foi abandonada — disse ele com uma voz irritante.

— Kron!

— O quê? É a verdade, não é?

— Não, mas você não pode simplesmente dizer algo assim!

— Exato! Olha pra ela! Tá completamente chocada!

— Não, não é isso, tá? — rebateu Elena.

— Como assim ‘não é isso’? Eu ouvi o que você disse antes! Tá bem óbvio. Disseram pra você esperar nesse bairro por um mês, né? Isso é a definição perfeita de abandono. Seus pais não vão voltar — disse Kron.

— Bem, os meus disseram que voltariam por mim, mas nunca apareceram — disse outro garoto.

— Eu nem lembro como é o rosto da minha mãe — acrescentou o terceiro.

Hah… — Elena soltou um longo e cansado suspiro.

“O que eu faço?”

Como ela poderia explicar sua situação para essas crianças de forma que não parecesse tola e ainda as fizesse entender? Era uma tarefa difícil. Mesmo que conseguisse explicar, ela tinha a sensação de que aqueles pirralhos não acreditariam em uma só palavra.

— Tudo bem, vocês venceram. Fui abandonada. Agora que isso está resolvido, me deixem em paz — disse Elena. — Tenho que começar uma vida dura e independente a partir de agora.

Resignada, Elena fez um aceno breve para os três garotos. Em seguida, tentou novamente deixar o beco. Ela não tinha um destino específico em mente; só queria colocar o máximo de distância possível entre ela e aquelas crianças irritantes.

Mas mais uma vez, Kron gritou para ela:

— Essa foi boa. Você não consegue fazer nada sozinha.

As palavras dele a forçaram a reagir.

— O quê, eu tô errada? É óbvio que você vem de uma família rica. Uma família rica que te abandonou. Você nunca teve que dormir na rua e nunca ganhou uma moeda sequer na vida, não é?

— Nós já! Já dormimos na rua várias vezes. Mas não mais.

— É! E já ganhamos dinheiro também. Mendigando.

Elena não conseguiu conter a onda de raiva que cresceu dentro dela. Aquilo era ridículo.

Claro, os pestinhas não estavam totalmente errados. Ela nunca havia passado uma noite ao relento, nem ganhado dinheiro por conta própria. Mas isso era simplesmente porque nunca precisou, não porque fosse incapaz. Ela suportou treinamentos muito mais árduos do que aquilo.

“E o que faz esses moleques acharem que eu sou rica?”

Ela não entendia. Não vestia nada além do uniforme de aprendiz há meses. O que em sua aparência poderia levar a uma conclusão tão insultante?

Esse tipo de pensamento vinha da ingenuidade de Elena. Ela não tinha ideia de que, embora seu uniforme de aprendiz fosse de qualidade inferior comparado às roupas da propriedade de sua família, ainda era vastamente superior a qualquer coisa que aqueles órfãos tivessem. Se dissesse isso em voz alta, os garotos com certeza zombariam de sua ignorância mais uma vez.

A parte realmente frustrante era que suportar esse tipo de comentário seria muito menos danoso ao seu orgulho do que o que ela ouviria a seguir. O garoto de olhar afiado, Kron, riu junto com as outras crianças. Em seguida, ele fez uma proposta presunçosa para Elena.

— Tá bom, tanto faz. Vou cuidar de você.

— Cuidar de mim? Do que você tá falando?

— De você, obviamente.

— Eu?

— É. Vou falar com a Jenny, e ela vai deixar você ficar no nosso orfanato também.

— Ah, Kron! Essa ideia é genial! Assim a gente não se mete mais em encrenca por ficar fora até tarde!

— Verdade! Isso é perfeito!

— Dá pra vocês calarem a boca? Ahem, você pode só ignorar eles.

Elena os encarou.

— Pensa bem. Uma criança mimada que sempre teve comida e teto vai tentar viver sozinha? Isso é receita pra desastre! Você ao menos tem ideia de como o mundo pode ser cruel? Provavelmente não!

A partir daí, Kron começou um longo sermão, tão prolixo e moralista quanto qualquer um que o pai de Elena já tivesse feito. Ele falou sobre como os adultos nas ruas podiam ser frios e indiferentes, e além disso, sobre como eram realmente cruéis e perigosos. Descreveu o quanto era exaustivo ganhar sequer uma única moeda dessas pessoas.

Kron contou o quão insignificantes eram as coisas que se podia comprar com aquele dinheiro suado. E continuou, entrando em incontáveis outros detalhes triviais, cada um uma dura realidade que Elena nunca tinha sequer considerado.

E assim, ela ouviu. Apesar do golpe no orgulho, continuou ouvindo com atenção. Afinal, aquele pirralho arrogante era, de certa forma, seu veterano nas realidades duras do mundo. Era inegável que ele havia vivido nesse mundo implacável mais tempo do que ela. Mas mesmo assim, ela chegou à mesma conclusão após ouvir o discurso:

— Não, obrigada.

— Foi aí que peguei minha espada de madeira e dei uma na cabeça daquele bandido que era três anos mais velho que eu, bem no… Hã? O que você disse? — perguntou Kron.

— Eu disse, obrigada, mas vou recusar sua oferta. Sou mais do que capaz de me virar sozinha por aqui.

— Ha! Que piada! O que uma criança mimada e protegida como você poderia fazer com sua… Ugh! — Kron interrompeu as próprias palavras, silenciado pelo olhar de Elena.

Era verdade que ele tinha mais experiência com as durezas da vida, e seu discurso de fato deu a Elena uma ideia um pouco melhor de como navegar naquela nova realidade. Mas isso não mudava o fato de que o garoto era incrivelmente irritante.

Impulsionada por uma onda de irritação, Elena permitiu que um traço do seu olhar intenso de espadachim surgisse em seus olhos.

— Muito bem então, vou nessa. E lembre-se de mostrar um pouco de respeito da próxima vez que me vir na rua.

Elena deu um tapinha condescendente na cabeça de Kron antes de sair do beco com graça. Ouviu ele gritar algo em protesto atrás dela, mas o ignorou. Percebeu que o garoto tinha um pouco de coragem, mas só isso. No momento, seu foco estava em adquirir o elemento mais crucial para sobreviver sozinha nesse mundo.

“Dinheiro!”

Dinheiro era a chave para tudo. Com dinheiro, ela poderia garantir um lugar decente para dormir e refeições adequadas. Claro, por mais essencial que fosse, consegui-lo não seria fácil. Mas Elena já tinha um plano fervilhando na mente, a agência de mercenários.

“Vou me tornar uma mercenária. Vou aceitar missões, treinar e aprimorar minhas habilidades no processo!”

Claro, não seria um caminho fácil. Dependendo da natureza das missões, sua vida poderia estar em risco. Ela tinha lido sobre essas coisas em livros, mas não se importava. Na verdade, dava boas-vindas ao desafio.

“As habilidades forjadas nas chamas das dificuldades, o domínio da espada lapidado por testes reais, não seriam as mais genuínas e valiosas de todas?”

Esse pensamento trouxe um sorriso ao seu rosto. Elena rapidamente baixou a cabeça, segurou o sorriso, e examinou as ruas envoltas pela noite com uma expressão determinada. Seu olhar se fixou em um homem de rosto relativamente gentil. Ela se aproximou dele.

— Com licença — disse ela.

— Hã? O que foi? Uma criança?

— Não sou uma criança, sou uma mercenária em formação. Poderia me dizer onde fica a agência de mercenários por aqui?

— Agência de mercenários? Por que diabos existiria algo assim aqui?

O rosto de Elena era o retrato da perplexidade.

— O quê?!