
Capítulo 407
Reformation of the Deadbeat Noble
História Paralela – 4 O Caminho da Independência
Pouco depois da chegada de Ignet Crecensia, ela cuidou da gangue de Pendal. Foi como se ela nunca tivesse existido. Não importava o quanto a força e o carisma de Pendal fossem esmagadores, o quão fora de lugar ele pudesse parecer num beco qualquer, ele não era páreo para uma Mestra entre Mestres. Afinal, Ignet havia despedaçado o Grande Diabo Bufão.
“O problema é que não parece que isso vai terminar com só esse bandido…”
Desde o início, já era estranho. Ignet disse que havia visitado aquele lugar no ano passado e já tinha varrido a organização uma vez. Claro, por mais que se limpasse o submundo do crime, sempre haveria novos marginais para ocupar o lugar dos que caíram. No entanto, uma gangue daquele porte era anormal.
Ainda assim, isso não era problema de Elena. Era algo para os adultos resolverem. Ela era só uma criança e não tinha capacidade suficiente para se meter nesses assuntos.
“É isso mesmo. Eu sou… um ser fraco, que só sabe receber ajuda e nada mais.”
Em uma pequena montanha com vista para Eratria, a garota se sentava sobre uma pedra qualquer, com uma expressão abatida. Logo teria que voltar para Krono, a Academia de Espadachim. Isso significava que seu tempo com os laços que criou no Orfanato do Amor era limitado. Mas agora, ela não conseguia nem encarar os rostos deles.
Eles eram adultos. E ela era só uma criança.
A idade não importava. Jenny não havia dito isso? Que uma pessoa não precisava se manter de pé sozinha, mas sim ajudar e ser ajudada uns pelos outros. Isso é o que significava ser adulto. Nesse sentido, as crianças do orfanato, que viviam cada dia com vigor e supriam as falhas umas das outras, eram mais adultas do que ela.
Elena foi até aquela montanha deserta justamente por estar imersa nesses pensamentos. Sentindo pena de si mesma, com o orgulho completamente despedaçado, ela ouviu passos atrás de si. Não eram de Ignet. Ela disse que só voltaria à noite, e o som era diferente. Eram passos de uma criança menor do que ela.
Curiosa, Elena se virou, e viu Kron. Ele havia se recuperado graças à magia sagrada, e agora estava de pé, olhando para ela com uma expressão séria.
— Kron? Já está bem o suficiente pra andar? — Elena perguntou, preocupada.
Kron, o garotinho ousado, sempre mostrara seu lado irritante desde o primeiro encontro, mas mesmo assim suportou até tortura por ela, apesar de não se conhecerem há tanto tempo. A magia sagrada de Ignet curou a maioria dos ferimentos externos, mas considerando o choque mental de tudo o que ocorreu, ele deveria ter descansado por pelo menos uma semana.
Como esperado, Kron não parecia normal aos olhos de Elena. Seu jeito travesso de sempre havia sumido. No lugar, havia um olhar completamente desanimado. O mesmo que ela tinha.
“Ele… está igual a mim? Por quê?” Elena se surpreendeu.
O estado atual de Kron era idêntico ao dela. Um pirralho que falava grosso sobre conseguir fazer tudo sozinho, mas que acabou sendo ajudado, e nem sequer pôde retribuir. Ela sentia a mesma autodepreciação frustrada.
Como era de se esperar, as palavras que saíram da boca de Kron também eram de reprovação consigo mesmo.
— Como eu posso ficar forte assim?
— Hã?
— Como eu posso me tornar um espadachim forte? Como o Kai, e como você. Como vocês são tão fortes com tão pouca idade? Eu… eu… Mesmo tendo empunhado minha espada todos os dias por um ano depois que o Kai foi embora, ainda sou tão fraco…
Elena permaneceu em silêncio. Tinha muita coisa pra dizer. Queria perguntar se o tal Kai era o mesmo Kai que entrou tarde na Academia de Espadachim Krono. Queria dizer que um ano não era pouco tempo, mas também não era muito. Ela própria treinava desde os cinco anos, e ainda assim se sentia insuficiente em muitos aspectos.
Mais do que tudo, queria dizer: “Você não é fraco. Você não é patético. Embora ainda seja jovem e um pouco imaturo… não vai ser assim pra sempre, certo? Crianças se tornam adultos.”
Elena se lembrou de quando viu Kron empunhando a espada, não era um movimento ruim. Comparado aos gênios da Krono, ele tinha falhas, mas se continuasse se esforçando, era certo que teria bons resultados. No mínimo, seria capaz de proteger o Orfanato do Amor da maioria dos bandidos.
Se ele perguntasse por que não conseguia fazer isso agora, ela teria que dizer que era pedir demais. Só precisava manter aquela frustração e treinar ainda mais.
Sem perceber, Elena soltou um suspiro surpreso.
— Ah.
O conselho que estava prestes a dar ao garoto servia perfeitamente para ela mesma. Não havia por que ficar impaciente ou com raiva só porque não conseguia fazer algo agora. Nada mudaria com isso. Continuaria sendo apenas uma criança birrenta. Então, o que ela deveria fazer? Precisava aceitar o fato de que ainda era jovem e estava em crescimento.
E isso não era nenhum defeito. De fato, ela era uma criança. E de fato, precisava do cuidado dos adultos. Em vez de negar isso e forçar maturidade, precisava aceitar humildemente suas limitações e se esforçar para superá-las. Essa sim seria uma atitude mais madura. Dito isso, não seria fácil.
Elena pensou nas muitas pessoas que conheceu em Eratria. Entre elas, algumas eram adultas apesar da pouca idade, como as crianças do Orfanato do Amor. Mas muitos outros eram como os marginais da gangue de Pendal, pessoas que só sabiam receber, sem dar nada em troca. Como crianças mimadas que só envelheceram no corpo, mas não cresceram em maturidade.
— Ei? — Kron franziu a testa.
Ele não entendeu a expressão distante de Elena, justo quando parecia que ela ia dizer alguma coisa. E isso o irritava um pouco. Ele engoliu todo o orgulho pra se abrir com ela, e ela nem conseguia responder?
Felizmente, Elena pareceu recobrar os sentidos. Respirou fundo de novo e olhou para Kron.
Então, com um sorriso gentil que nunca tinha usado antes, disse:
— É claro. Como você poderia estar à minha altura?
— O quê? V-você! O que você acabou de dizer…
— Mas quem sabe o que vai acontecer depois? Depois de uns três ou quatro anos comendo bem, crescendo e continuando a treinar firme em esgrima… quem sabe?
— Sério? É só isso que precisa?
— Bem… quem sabe?
Kron estava tão irritado que as veias em sua testa saltaram. Ele odiava a atitude de Elena. Ela falava sobre sua maior preocupação como se não fosse nada. Mas logo percebeu que tinha entendido errado.
A garota olhava para o céu, não, não era exatamente o céu. Por alguma razão, parecia que ela encarava alguém muito maior e mais elevado, em algum lugar distante, muito além. Sem perceber, Kron a acompanhou e ficou olhando o céu em silêncio, até virar o rosto quando ela voltou a falar.
— Eu vou tentar primeiro e te aviso — disse ela. — Mas acho que vai funcionar. Mesmo que agora eu só receba, acho que um dia, quando for adulta, vou conseguir retribuir na mesma medida… acho que sim.
— Tch, que papo doido é esse agora…
Kron voltou o olhar para o céu. Não fazia ideia do que ela queria dizer. Era igual à Jenny. Jenny também dizia coisas enigmáticas às vezes. Quando ele perguntava o que significava, ela apenas respondia: ‘Você vai entender quando crescer.’
Era a mesma coisa agora.
“Crescer? Virar adulto?” pensou. “Tudo bem. Eu vou virar adulto.”
Ali mesmo, o garoto tomou sua decisão.
“Assim como ela disse, vou comer bem, treinar firme em esgrima… e vou entrar na Academia de Esgrima Krono como o Kai. Vou me tornar um grande espadachim como Airen Farreira, Illia Lindsay, Judith Lloyd e Brett Lloyd.”
Olhando para o céu, fechou o punho com força. Pensou naqueles seres que pareciam estar ainda mais altos do que o céu, em algum lugar muito acima.
A garota fez o mesmo, fitando o céu amplo com olhos brilhantes. Talvez ela tivesse acabado de dar seu primeiro passo de criança para adulta.
Observando os dois em segredo, Ignet Crecensia sorriu com satisfação.
— Como eu esperava, ninguém supera os meus ensinamentos.
— É isso mesmo, Capitã. Você é a melhor na espada e a melhor ensinando! — disse Anya, radiante.
— Claro. Eu sou a melhor, afinal de contas.
— É o que eu estou dizendo! Até o Airen Farreira teria que recuar diante da Capitã. Ah, que pena! Se não fosse por aquele espaço em fenda, nossa Capitã teria virado a diretora da Krono…
— É verdade.
“Como é que a comandante dos cavaleiros do Reino Sagrado poderia virar diretora da Academia de Esgrima Krono?” Georg balançou a cabeça enquanto ouvia a conversa entre Ignet e Anya.
Claro, ele não disse nada em voz alta. Era uma sabedoria de vida que havia aprendido ao passar tanto tempo com as duas.
Quatro dias após ter sido mais ou menos sequestrada por Ignet Crecensia, Elena retornou em segurança para a Academia de Espadachim Krono. Todos os candidatos a recruta demonstraram interesse com sua volta, especialmente Kai. Era compreensível, já que sua primeira mestra havia levado Elena.
Ele respeitava Ignet mais do que qualquer pessoa; no entanto, também a temia, e às vezes a achava tão exasperante que chegava a ficar enjoado. Estava muito curioso sobre o que Elena fez com alguém assim durante quatro dias.
“E tem algo que eu quero dizer pra ela.”
Kai ainda guardava certo ressentimento em relação a Elena. Ela havia vivido uma vida muito mais confortável que a dele, desfrutava do luxo de focar só em si mesma num ambiente onde nada lhe faltava, e ainda teve a audácia de vir falar com ele sobre tratamento especial.
Claro, depois de ver a dança da espada de Airen Farreira, a maioria desses sentimentos se dissolveu. Agora ele sabia que aquela garota imatura também carregava um peso enorme em sua vida… Mas mesmo assim, desconforto era desconforto.
— Me desculpa — disse Elena de repente.
— O quê? — perguntou Kai.
— Peço desculpas de verdade por ter bancado a sábia, como se fosse melhor que os outros, quando na verdade fui quem mais recebeu tratamento especial. Eu fui imatura. Falo sério. — Então Elena se virou para outra pessoa. — Darian, o mesmo vale pra você. Sinto muito por tudo o que fiz até agora.
— Você é outra pessoa agora e só tá com a cara da Elena? — murmurou Darian Cox, com uma expressão atônita.
Como alto nobre do Reino de Gaveirra, ele fazia parte da classe mais privilegiada do continente e, por isso mesmo, era o alvo perfeito para as provocações de Elena. Sendo assim, o relacionamento entre eles nunca foi bom. Mas Elena queria deixar o passado para trás, então foi até cada um dos candidatos a recruta e se desculpou sinceramente.
Disse que havia sido imatura. Que ainda era jovem, mas que tentaria agir com mais maturidade. As crianças aceitaram o pedido de desculpas com expressões confusas. Logo, começaram a cochichar entre si pelas costas dela.
Elena não se importou. Pediu desculpas com sinceridade. A reação dos outros quanto a isso já não estava mais em suas mãos.
Com um sorriso leve, ela se aproximou de Kai novamente.
— Ah, eu fui no seu orfanato.
— O quê?
— A Jenny pediu pra eu mandar um oi.
— Então era verdade. Mas por que você foi lá?
— Ah, isso…
Elena contou a Kai sobre o tempo que passou no orfanato, algo que agora eles tinham em comum. Enquanto isso, Darian os observava sem chamar muita atenção, com uma expressão desconfortável marcando o cenho.