
Capítulo 400
Reformation of the Deadbeat Noble
História Paralela – 3 O Cepo
— É aqui? O bar que o Kubharu montou?
— Parece que sim. É menor do que eu esperava.
— Pode não ser grande, mas tem tudo que você precisa.
— E o que seria isso… bebida?
— Naturalmente. Vinho, uísque, gim, rum… você escolhe, eles têm. Eu o financiei generosamente, sabe, pra fazer desse o melhor bar da região central.
— Muito bem, seus bêbados…
As pessoas continuavam saindo do misterioso portão dimensional. E cada uma delas era um indivíduo extraordinário. A aura de autoridade que emanava deles era tão palpável que até os mercenários mais turbulentos ficaram completamente subjugados, incapazes de reunir qualquer ânimo.
Até Karus, o Lobo Cinzento e dono do ‘Cartão de Guerreiro Ranque Ouro’, um símbolo de um Especialista em Espada, sentia isso. Na verdade, saber quem eram algumas daquelas pessoas o tornava ainda mais cauteloso e reservado.
Ele viu Brett Lloyd, o senhor do território Lloyd; Judith Lloyd, famosa por sua Espada de Fogo!; Ian, o maior mentor que já dominou o continente, mesmo estando passado de seu auge!; Illia Lindsay, a integrante mais forte da família Lindsay, que atualmente desfrutava do auge de seu poder entre as cinco grandes famílias de esgrima! E por fim…
“Airen Farreira! Com certeza é o Airen Farreira!”
Não havia como se enganar. Sete anos atrás, Karus visitou a Academia de Esgrima Krono em busca de instrução e, com sorte, conseguiu ver um vislumbre dele de longe. Ele não havia envelhecido um dia sequer desde então, e aquele mesmo comportamento gentil, mas firme, ainda estava ali. Mas…
— Hã? Você chegou cedo, pai.
— Já está bebendo antes mesmo do sol se pôr. Deveria pensar mais na sua saúde.
— Mas se privar de coisas deliciosas faz mal. Isso não seria pior pra minha saúde?
— Rusell, tenta repetir isso na frente da sua mãe.
— Peço desculpas. Peço sinceras desculpas.
“Existe alguém que chama esses grandes heróis de ‘mãe’ e ‘pai’?”
E aquele jovem era exatamente a pessoa a quem ele queria dar uma lição?
— Capitão.
— O que a gente faz?
— Gah… Droga, ele tá olhando pra gente!
— Capitão! Não era melhor a gente dar no pé?
— Fica quieto e não se mexe.
— Eek!
Ao comando baixo, mas firme de Karus, os mercenários pareceram surpresos. As expressões deles mudaram para uma de antecipação. Por mais poderosos que fossem aqueles recém-chegados, seu capitão também era um homem que havia alcançado o supremo reino de um Especialista. Ele não recuaria tão facilmente.
Como esperado, o capitão recompôs-se e caminhou firmemente em direção a eles, ou melhor dizendo, ao jovem loiro chamado Rusell.
— Hmm?
— O que está acontecendo?
— Quem é aquele?
Todos voltaram sua atenção para ele. Cada uma daquelas pessoas era um Mestre Espadachim, alguém com poder e prestígio comparáveis. Ver seu capitão dando passos confiantes em direção a eles, mesmo sendo o centro das atenções de um grupo tão imponente, comoveu profundamente os mercenários, quase às lágrimas.
Ele rapidamente se ajoelhou e tirou uma bolsa de moedas do cinto.
— Sou Karus, o líder do grupo de mercenários Lobo Cinzento, o grupo ao qual Simba pertence. — Todos o encararam em silêncio. — Embora seja uma oferenda humilde… por favor, aceite isso como um pedido de desculpas…
Apesar da leve humilhação, o grupo de mercenários de Karus conseguiu recuperar seu camarada em segurança e deixou o território Lloyd sem mais incidentes.
— Aqui está, uma Piña Colada, um Gim Tônica e um Gim Rickey…
— Rusell? Isso é mesmo um Gim Tônica? Está com um gosto meio estranho…
— É sim um Gim Tônica. O sabor peculiar é prova da minha habilidade.
— Não… Você já trabalha aqui há mais de dois anos, e ainda não consegue fazer um Gim Tônica direito?
— Minha especialidade é beber. Se o gosto está ruim, devia reclamar com o Mestre que me treinou tão inadequadamente…
— Rusell, para de enrolar e vem limpar esses copos.
— Jack, ouviu isso? Vai lá e começa a limpar esses copos…
— Não manda nos outros, faz você mesmo.
— Ah, a vida era tão melhor quando o Mestre estava fora…
— Airen, Illia.
— Hm?
— Sim?
— Seu filho é bem diferente de vocês dois. — Essas foram as primeiras palavras de Lulu ao conhecer Rusell Farreira, primogênito de Airen e Illia.
Ao ouvir isso, Illia tomou um gole de sua bebida, com uma expressão levemente envergonhada no rosto. Airen tinha uma expressão parecida.
Após uma breve pausa, Airen disse:
— Ele era adorável quando era pequeno.
Illia assentiu.
— É verdade. Quando era pequeno… ele não era assim, de jeito nenhum.
Airen estava certo. Quando era jovem, ou melhor, antes de perder a perna naquele acidente, cinco anos atrás, o filho deles era educado, atencioso e composto. Claro, não era que deixaram de amá-lo como ele era agora, mas às vezes sentiam falta do menino que ele costumava ser.
— Eu também fico curiosa quanto a isso — comentou Lulu, enquanto tomava o coquetel exclusivo para gatos que Kubharu preparou para ela.
Como dragão, ela se tornara mais sensível à passagem do tempo e às mudanças que ela trazia. Para Lulu, comparar o eu infantil de alguém com o seu eu atual era um passatempo particularmente querido. Também ficou bastante entristecida pelo fato de ter perdido vinte e cinco anos com Airen, Illia, Judith, Brett… e os outros.
Ela ansiava por capturar cada momento da vida de seus amigos, recordá-los e guardar essas lembranças com carinho. Claro, não adiantava se prender ao que poderia ter sido.
Lulu balançou a cabeça com força, afastando-se de sua mentalidade dracônica e voltando à de uma gata, mais leve e despreocupada. Aprendeu a focar no presente em vez do passado.
Ela sorriu com brilho.
— Ainda assim, ele não é completamente diferente. Ele tem traços parecidos com vocês dois, sabiam?
— Sério?
— Tipo o quê?
— Bem… Como ele encara as dificuldades sem se deixar abater. Como se esforça pra superá-las e seguir em frente, não importa o quê — disse Lulu. — Não posso afirmar com certeza, mas parece que trabalhar aqui… é a forma que ele encontrou de superar o trauma de ter perdido a perna, não é?
— Viu? No fim das contas, você escolheu uma boa professor de feitiçaria.
— É, acho que você está certo — comentou Airen com um sorriso.
As pessoas até poderiam zombar de Rusell Farreira, filho de dois heróis e gênio da nova geração, dizendo que ele decaiu após perder a perna. Outros poderiam dizer que desperdiçava seu talento se afundando em álcool, assim como o pai desperdiçava tempo dormindo. Mas, do ponto de vista dos pais, não era bem assim. Além disso, Kubharu jamais permitiria que isso acontecesse.
O filho deles se esforçava, se empenhava. Sabendo disso melhor do que ninguém, eles se abstinham de interferir em seus métodos.
— Embora às vezes eu sinta vontade de dar uma boa surra nele.
— Uh… Illia, se bater nele, seu filho pode realmente morrer.
— Por isso vou descontar no Brett e no Kubharu. Foram eles que o apresentaram ao álcool.
— Bem… não sei sobre o Brett, mas acho que até o Kubharu não sobreviveria à sua fúria.
A conversa leve logo virou um bate-papo sobre os anos que passaram separados. Falaram sobre o Rei Demônio e o Demônio Bufão, e sobre o irmão de Illia, Karl Lindsay. Rememoraram o casamento de Judith e Brett, e também o próprio casamento de Airen e Illia.
Falaram de Fantasia, do Reino Demoníaco, do reino humano, e da árvore de feitiçaria. Conversaram sobre como Airen se tornou o diretor da Academia de Esgrima Krono e sobre os muitos alunos que ele conheceu ao longo dos anos.
Enquanto conversavam sobre isso e aquilo, o tempo passou despercebido. Mesmo só abordando os grandes acontecimentos e deixando de lado muitos detalhes, a noite se aprofundou bastante. E isso ainda não era o fim.
— Agora que demos um tempo pra vocês, vai tomar uma com a gente também, né?
— Airen, não fique monopolizando a Lulu.
— É isso aí. Quero conversar com a Lulu também.
— Hm, ahm… Grande Dragão, também tenho uma história que gostaria de compartilhar…
Judith, Brett, Anya, Gia Runetell e muitos outros com quem Lulu compartilhava um vínculo começaram a disputar sua atenção. Foi o momento em que ela realmente percebeu que estava cercada por incontáveis conexões preciosas. Algo que jamais teria imaginado quando se separou de Brody, o filho do lenhador, há tanto tempo.
Uma única lágrima escorreu pela bochecha de Lulu.
— Obrigada, a todos vocês.
— Você, aí.
— Eu?
— Sim, você. Ia estar falando com quem mais?
Jack, ex-integrante do grupo Crepúsculo, parou de fingir que limpava o chão com empenho num canto. Hesitante, aproximou-se do orc após ser chamado. Era, de fato, uma situação desconfortável. Na verdade, ele preferia continuar fazendo tarefas braçais sob as ordens de Rusell.
Mesmo assim, não conseguia afastar a sensação de que havia uma razão específica para o dono do bar, Kubharu, tê-lo chamado. Talvez estivesse prestes a iniciar sua ‘reabilitação’ de verdade, o que poderia envolver punições beirando a tortura.
— Esse lugar não é o melhor ambiente pra uma conversa séria, né? — perguntou Kubharu.
— Hã? Ah… — murmurou Jack.
— Que bom que concordamos. Tem um cômodo mais reservado no segundo andar. Me acompanhe.
“Estou ferrado!”
Parecia que suas suspeitas estavam corretas. As presas ameaçadoras que Kubharu exibia toda vez que sorria, os músculos salientes apesar da idade avançada e as tatuagens sinistras gravadas na pele, tudo aquilo causava calafrios na espinha de Jack.
“Por que ele escolheu este lugar em vez do Reino Sagrado? Fico me perguntando qual é o verdadeiro motivo…”
Sua imaginação disparou, imaginando todo tipo de cenário terrível. Nenhum pensamento era positivo.
Jack seguia lentamente Kubharu escada acima, sentindo-se como um cordeiro sendo levado ao abatedouro, quando ouviram alguém falar:
— Repete isso mais uma vez — disse alguém.
Em seguida: — O que foi que você disse pra mim?
Então um silêncio tão profundo que se podia ouvir um alfinete cair tomou conta do Cepo.
Illia Lindsay sempre teve essa aura gentil ao seu redor, criando um ambiente caloroso e acolhedor por onde passava. E mesmo assim, ali estava ela, lançando um olhar feroz para ninguém menos que seu próprio marido, Airen Farreira.
O que diabos tinha acontecido? A resposta logo ficou evidente.
— E-Ela… A Elena, veja bem, está… passando pela… puberdade, sabe? Ela tem tentado se afastar um pouco da gente, esse tipo de coisa.
Illia permaneceu em silêncio, concordando tacitamente. Ultimamente, Elena vinha se afastando deles, seus pais. Era compreensível, provavelmente ela se sentia frustrada com a fama dos pais, dois dos quatro grandes espadachins, que ofuscava sua própria existência.
“Ela entrou em Krono em segredo e não apareceu por aqui justamente por isso.”
Ela sequer aceitava carregar o nome Farreira ou Lindsay. Rejeitava tudo que não tivesse conquistado por mérito próprio, insistindo em se firmar no mundo com base em seus próprios esforços. O problema foi que Ignet Crecensia, ao ouvir falar das ações rebeldes da filha, tomou uma atitude impulsiva e drástica.
— Que fofa. Mas também, que ridícula… Eu dou um jeito nela. E já que estamos nesse assunto, vou agora mesmo colocá-la nos eixos. Anya, abra um portal até onde estão os aprendizes.
— Sim, Capitã!
— Uh, hã, Ignet?
Whoosh… Swoosh!
— Ignet?
Assim, Ignet Crecensia partiu com Anya e Georg antes que alguém pudesse reagir.
Mais tarde, quando um suado Airen contou a novidade para Illia, uma palavra bastante pesada escapou de seus lábios:
— PORRA!