
Capítulo 1051
Terramar: O Mar Encoberto
Os icebergs se moviam cada vez mais rápido, e o penhasco branco avançava como um trem de alta velocidade. O que mais assustava as pessoas a bordo do navio era que um grande pedaço desse "trem" em velocidade estava se aproximando cada vez mais deles.
Todos sabiam as consequências caso um objeto tão maciço, pesando milhões de toneladas, atingisse o navio em alta velocidade.
"Corra! Vire o leme! Sobrecarga os motores!! Temos que sair daqui!!" O grito ansioso do capitão Klaus ressoou por toda a Nascente da Mulher.
Fumaça negra espessa, misturada com faíscas, jorrava da chaminé enquanto o navio avançava rapidamente. Contudo, o navio não possuía um sistema de reversão, então, para virar, era preciso girar o leme de um lado e fazer o barco rodar em círculo. Infelizmente, não havia tempo para isso.
A Nascente da Mulher tinha tecnologia de ponta de Ilha da Esperança, e a tripulação tinha absorvido relíquias poderosas, mas era inútil. Os humanos eram simplesmente insignificantes diante do continente de gelo em movimento diante deles.
"Vira pra lá! Aponta pro iceberguinho que está se movendo! Todo mundo, segurem-se bem! Vamos usar aquele iceberg como escorregador para escapar!" exclamou Klaus. Mesmo sabendo que provavelmente o navio inteiro se despedaçaria ao colidir, ele tinha que fazer algo.
Ele não podia desistir aqui.
Infelizmente, não havia o que fazer além de assistir o iceberg se aproximando cada vez mais. Quando o iceberg estivesse prestes a colidir com o navio, o rosto de todos ficou pálido.
No momento crítico, Lily agiu. Ela voou até o casco e se aproximou. Então, pressionou as mãos contra ele e empurrou com toda força que pôde.
Lily sentiu a energia dentro de si sendo consumida ao usá-la conforme o método que o Papa lhe ensinara na época.Uma luz deslumbrante irrompeu e envolveu o navio como se fosse tangível. Então, a luz sem massa realmente ganhou massa, e Lily usou essa luz tangível para empurrar o navio para longe.
O navio de exploração tinha dezenas de metros de comprimento, era feito inteiramente de aço, mas para Lily parecia um brinquedo, e ela facilmente o empurrou para fora do perigo.
Os tripulantes ficaram boquiabertos. Sabiam que sua empregadora não era uma pessoa comum, mas não faziam ideia de que ela era tão poderosa.
Quando Lily voltou para o navio, todos, incluindo Klaus, olharam para ela com reverência.
Era um tipo de olhar que sempre deixava Lily desconfortável. Ela beliscou a bainha do vestido e disse: "Não olhem pra mim. Olhem pra frente. Aquele continente de gelo desapareceu."
Todos recobraram a postura e viram que, ao longe, o continente de gelo realmente havia sumido. A costa estava limpa mais uma vez.
"Droga, o que foi isso? Aquilo era um pedaço de gelo tão grande... como conseguiu desaparecer tão rápido?" comentou o Segundo Oficial com as sobrancelhas franzidas.
Porém, ninguém conseguiu responder sua questão. Os demais membros da tripulação se viraram para o capitão, aguardando sua próxima ordem.
Klaus não deu ordem. Em vez disso, olhou para Lily ao lado e disse: "Senhorita Lily, pode me explicar por que você precisa que a gente te proteja, mesmo sendo tão poderosa? Se houver um problema que você não consiga resolver, nós também não conseguiremos."
A jovem, com o cabelo brilhando, balançou a cabeça levemente e respondeu: "Eu não contratei vocês para me proteger. Só preciso de suprimentos. Se eu fosse viajar sozinha, não teria água doce, comida ou um lugar para dormir."
Ao ouvir isso, Klaus imediatamente se sentiu frustrado. Parecia que seu navio era apenas uma pousada para Lily descansar aos olhos dela.
"Envie um telegrama com nossa posição atual para Sottom. Vamos continuar essa exploração," disse Klaus.
Com isso, os hélices do navio giraram novamente, impulsionando a Nascente da Mulher em direção à silhueta distante. O continente de gelo havia desaparecido, mas ainda existiam alguns icebergs.
Ao alcançarem a posição anterior, experienciaram a mesma coisa de antes—as ondas e os ventos uivantes desapareceram, dando lugar a um silêncio assustador.
Todos estavam em alerta máximo enquanto o navio avançava lentamente pelas águas desconhecidas. Contudo, não encontraram mais nada estranho. Não havia nada além de tranquilidade.
O mar à frente estava calmo, aparentemente congelado sob o clima extremamente frio. Tudo parecia normal; não havia nenhuma irregularidade.
Com o passar dos dias, Klaus decidiu liberar o consumo de álcool, para aliviar os nervos tensos da tripulação. Antes, eram permitidos até cinquenta mililitros por pessoa por dia, mas agora o limite subiu para quinhentos mililitros por dia. Claro que não podiam beber durante o serviço.
A tripulação ficou radiante com a mudança. O álcool também ajudou a aliviar o frio que parecia penetrar até os ossos, deixando-os mais à vontade.
Lily não se escondia mais na cabine, patrulhando frequentemente o convés. Sua relação com a tripulação também se tornou cada vez mais harmoniosa.
No final, quem não gostaria de interagir com uma jovem graciosa e bonita, especialmente porque ela era sua benfeitora?
Em apenas sete dias, chegariam ao destino. Sabendo que seu trabalho estava quase no fim, o humor de todos melhorou drasticamente. Estavam tão bem que os sussurros amaldiçoados em seus ouvidos praticamente silenciaram.
Hoje, Lily foi ao convés e viu os marinheiros sentados juntos, bebendo e falando das suas aventuras. Entre eles, o sério carpinteiro careca tinha a maior mania de se exibir.
"Vou te dizer, esse lugar maldito pra mim não é nada. Já vi coisas mais estranhas lá na superfície, com o governador Charles, procurando a escuridão.
"Se não fosse eu na época, o governador Charles não teria conseguido encontrar a escuridão. Depois, na Mansão do Governador na Ilha da Esperança, ele implorou pra que eu fosse o governador de lá.
"Ainda queria me prometer a filha dele."
"Sabe como eu sou, né? Não consigo ficar parado. Prefiro morrer do que lidar com a montanha de papéis que um governador tem que enfrentar todo dia, por isso recusei a oferta dele."
Lily não se surpreendeu ao ouvir aquilo. Tinha ouvido muitas dessas bravatas recentemente, e as do carpinteiro careca nem eram as mais exageradas que ela tinha escutado até agora.
Lily observou os icebergs ao redor e meditou sobre os problemas que provavelmente enfrentaria ao chegar ao destino.
Será que o Sr. Charles iria reagir se eu realmente me tornar a Deusa da Luz...
Eventualmente, os marinheiros começaram a desafiar uns aos outros novamente.
Nesse momento, um iceberg passou perto do navio.
Um marinheiro que vinha sendo zombado e ridicularizado pelos colegas se levantou cambaleando até a borda do navio. Então, vomitou pesadamente no iceberg e pressionou a mão no próprio vômito.
"Você tem coragem?" perguntou, virando-se para os companheiros com um sorriso convicto.
"...!" O rosto do marinheiro de repente ficou rígido, e ele ficou imóvel como uma estátua.
Os colegas perceberam que algo estava errado e se aproximaram rapidamente. Olharam para o marinheiro congelado, com expressões de confusão nos olhos.
Antes que pudessem fazer algo, o marinheiro se "mexeu" e caiu de lado no chão.
Todos ficaram surpresos a princípio, mas logo explodiram em risadas.
"Pfft! Boa essa! Você nos assustou mesmo."
"Sim, foi uma atuação de primeira! Por enquanto, não conte para os caras da sala de máquinas. Quero assustá-los também mais tarde."
Todos riam, mas Lily, atenta, notou que o marinheiro chamado Wrench parecia um pouco fora do comum.