Terramar: O Mar Encoberto

Capítulo 1019

Terramar: O Mar Encoberto

"Ptoeeey!" O jovem magricela cuspia uma quantidade de escarro amarelo no chão. "Droga! Eu avisei que tinha um mendigo morando aqui, cara. Olha só o tanto de lixo que tem aqui! Somos muito azarados!"

Gao Zhiming nem sequer olhou para os dois. Correu rapidamente até a pilha de lixo com o café da manhã nos braços. Ao ver que ninguém tinha perturbado a montanha de lixo, respirou aliviado. Ainda não tinham descoberto sua irmã mais nova.

"Ei, gafozinho, vem cá. Quero te fazer uma pergunta."

Ao ouvir aquela voz arrogante, Gao Zhiming não se atreveu a baixar a guarda. Colocou a comida no chão e foi correndo até o jovem magricelo.

"Deixa eu te perguntar uma coisa. Além de você, mais alguém vem aqui, né?" perguntou o jovem de aspecto malandro enquanto dava uma tragada no cigarro.

"Não, ninguém mais vem aqui além de mim," respondeu Gao Zhiming com sinceridade. Ele só queria satisfazer suas exigências para que fossem embora logo.

Ao ouvir suas palavras, os dois jovens olharam um para o outro e assentiram satisfeitos. "Então, pega suas besteiras e sai daqui. Nós hermanos precisamos usar esse lugar."

Gao Zhiming ficou instantaneamente nervoso. Sua irmã mais velha estava aqui, então ele não podia fazer isso. "Hum, pra que vocês querem esse lugar? Aqui não tem nada."

Bate!

O jovem magricelo deu um tapa na face de Gao Zhiming, fazendo um lado da bochecha inchar imediatamente.

"Seu ingrato, por que isso importa pra você? Quer levar uma surra? Cai fora daqui logo!"

Gao Zhiming segurou a bochecha, com ar de dor e segurando as lágrimas. Olhou para a pilha de lixo ao longe e perguntou: "Você pode voltar amanhã, então? Vou sair daqui hoje mesmo."

"O que você acabou de dizer, seu imbecil?" O jovem gordinho, que estava agachado, levantou-se e começou a rolar as mangas. "Se atreva a repetir o que acabou de falar."

O jovem mais rechonchudo ao lado esticou a mão para pará-lo. "Vamos lá, cara, quantos anos você tem pra ficar assim nervoso com um moleque? O pequeno mendigo só não quer se separar das suas coisas. Facilita pra gente fazê-lo ir embora."

O jovem rechonchudo pegou uma isqueiro na bolsa, com uma mulher nua estampada na superfície, e começou a caminhar em direção à pilha de lixo.

O espetáculo fez todo o sangue de Gao Zhiming subir à cabeça. Ele hesitou por um instante, correndo na frente da pilha de lixo com toda velocidade. Então, levantou os braços, bloqueando o caminho.

O jovem rechonchudo olhou para Gao Zhiming surpreso. Não esperava que o menino se importasse tanto com uma pilha de lixo, quando claramente eram coisas que não valiam dinheiro.

"Tudo bem, tudo bem, eu não vou queimar nada. Vamos sair, tudo bem? Não se empolgue," disse o jovem rechonchudo guardando o isqueiro e dando as costas para ir embora.

"Mas eu realmente quero saber o que vocês estão escondendo da gente," falou o jovem rechonchudo, correndo até a pilha de lixo e chutando duro.

Gao Zhiming tinha acabado de baixar a guarda, quando a pilha de lixo que cobria Anna foi chutada para longe.

O jovem rechonchudo ficou imediatamente boquiaberto ao ver Anna.

"Droga, tem alguma coisa escondida na sujeira mesmo?" perguntou o jovem magro, que se aproximou com um cigarro nos dentes, ao ver Gao Zhiming nervoso, apoiando Anna com dificuldade.

Os dois jovens avaliaram Anna e depois se entreolharam.

"Por que essa gata linda não se mexe? Ela tá viva, não tá?"

"O peito dela mexe. Ela deve estar viva."

"Então, por que ela está aí dormindo? Ela é uma dessas pessoas em estado vegetativo? Igual às que mostram na TV? Hehe, isso quer dizer que a gente pode fazer o que quiser com ela?"

"Não só isso. Depois, a gente até pode vender ela. Olha só o rosto dela, tão bonito. Tenho certeza que esses carecas vão vir todo dia, mesmo que a gente peça cinquenta a cada rodada."

"Hm, boa ideia. Coincidentemente, aqui ninguém aparece, acho que ninguém vai descobrir. Haha, quero testar ela primeiro."

Gao Zhiming não fazia ideia do que estavam falando, mas sentia a maldade naqueles olhos. Então, ficou na frente de Anna e levantou os braços para protegê-la.

Depois de conversarem, o jovem rechonchudo tirou a carteira, pegou algumas notas de dinheiro e falou calmamente: "Olha, garoto, pegue esse dinheiro e vá comprar alguma coisa pra comer. A gente vai cuidar daquela mulher aqui."

"Não quero o seu dinheiro! Sai fora! Não ouse tocar na minha irmã!"

Bate!

O jovem magricelo deu um tapa em Gao Zhiming, fazendo-o cambalear.

"Por que você fica nesse papo furado?" disse o jovem magrechudo ao jovem rechonchudo. "A gente pode simplesmente bater nele até ele fugir."

O jovem magricelo se aproximou de Gao Zhiming, olhando para ele de cima enquanto lentamente levantava a mão.

"Vai sair ou não?"

"Não vou sair!"

Bate!

"Vai sair ou não?"

"Não vou sair!"

Bate!

"Vai sair ou não?"

"Não vou sair!"

Bate!

As bofetadas fortes fizeram a cabeça de Gao Zhiming inchar. Ele ficou tonto, com a cabeça leve. Não conseguia ficar de pé direito, mas permaneceu firme.

O jovem magricelo não aguentou e começou a socar e pontapear Gao Zhiming. Em pouco tempo, o corpo de Gao Zhiming ficou inchado como sua cabeça.

Como o jovem magricelo estava ocupado com Gao Zhiming, o jovem rechonchudo se agachou ao lado de Anna e a avaliou. Depois de um tempo, levantou a mão, prestes a colocar por baixo das roupas dela.

"O que você está fazendo?! Fica longe da minha irmã!" gritou Gao Zhiming, interrompendo o rapaz. Estava prestes a correr para cima, mas o jovem magricelo bloqueou seu caminho.

O jovem magricelo levantou a perna para chutar Gao Zhiming, mas sentiu uma dor aguda na panturrilha, ao invés de um retorno macio do chute.

Surpreendentemente, Gao Zhiming segurava uma faca de malabarista com as duas mãos, e furou de forma brutal a perna do rapaz.

O jovem magricelo gritou enquanto sangue vermelho jorrava da ferida. O jovem rechonchudo, ao ouvir aquilo, correu até ele.

Gao Zhiming driblou os dois e ficou na frente de Anna.

"Porra, porra, porra! Mata aquele pedaço de idiota pra mim, Grande Dragão! Mata ele!" gritou o jovem magricelo, pressionando a ferida.

O jovem rechonchudo olhou para Gao Zhiming e viu o menino encarando-os com olhos determinados, segurando uma faca de malabarista com as duas mãos. Após alguns segundos de hesitação, pegou o garoto magricelo e entrou no corredor de escadas.

Assim que os dois se foram, Gao Zhiming, exausto e machucado, não conseguiu mais se segurar. Desabou sobre Anna e desmaiou. Quando acordou de novo, já era noite. Estava com fome novamente, e seu corpo inteiro gritava de dor.

Na verdade, ele estava tão inchado que parecia ter ganhado peso.

Suportando a dor, Gao Zhiming se arrastou até o saco plástico e enfiou um pão cozido frio na boca. Mastigou com desesperou e engoliu grandes bocados.

Ele olhou para Anna imóvel enquanto comia.

Este lugar já não era seguro. Precisava tirar sua irmã daqui. Depois de comer três pães cozidos, Gao Zhiming recuperou um pouco de força. Colocou Anna dentro de um saco e arrastou-a em direção às escadas.

Estava tão fraco que não conseguia puxar Anna do último andar até o primeiro, mas não podia parar. Aqueles caras queriam fazer mal à sua irmã mais velha, e ele tinha que protegê-la!

A cada vez que ficava muito cansado, parava para descansar; quando sentia que podia continuar, puxava Anna até o térreo.

Assim, Gao Zhiming foi descendo degrau por degrau. Quando chegou ao quarto andar, já era madrugada.

De repente, o barulho de motos vindo de fora ecoou, cada vez mais perto do prédio. O coração de Gao Zhiming deu uma acelerada ao ouvir aquilo. Correu até a janela sem vidro e olhou para baixo.

Várias motos com faróis altos ligados haviam acabado de parar no terreno vazio em frente ao prédio inacabado, e Gao Zhiming viu os motociclistas descendo de suas motos.