
Capítulo 12
Rainbow City
"Ele não vai lembrar de nada dessa conversa depois, mas espero que pelo menos isso fique na subconciência dele." Kwak Soohwan sussurrou como quem compartilha um segredo de amor, suas palavras carregadas de uma intimidade que ninguém mais deveria ouvir. Sua mão deslizou pelo peito de Seokhwa em um gesto semelhante ao preliminar, e Seokhwa, sentindo o toque de Kwak Soohwan, não conseguiu afastá-lo. Uma mão fria suavemente segurou sua nuca, subindo ao longo da clavícula, como se inalasse seu aroma. Kwak Soohwan então sussurrou novamente bem perto de seu ouvido.
“Não aprofunde mais na investigação sobre o assassinato do Dr. Oh Yangseok. Isso não vai te ajudar em nada.”
“Por quê?”
Kwak Soohwan beijou a testa de Seokhwa com um beijo audível, pressionando firme.
“Se você continuar desconfiando e fuçando por aí, vai acabar se envolvendo comigo, mesmo que não queira se aproximar.”
Ele sentiu os lábios de Kwak Soohwan se moverem íntimos contra seu ouvido novamente.
Mamãe está sempre vigiando.
Ele sussurrou.***
Seokhwa se esticou para relaxar o corpo tenso. Dormira por mais da metade do dia após os efeitos da droga desaparecerem, e estava extremamente faminto. Pegou um cardigã no armário e saiu do quarto. Era de madrugada, então não encontrou ninguém enquanto caminhava pelo corredor.
Quando chegou à lanchonete 24 horas, olhou ao redor. Alguns soldados estavam espalhados, comendo petiscos tarde da noite. Seokhwa pegou um sanduíche no balcão. Era um sanduíche de almôndega de feijão, que Kwak Soohwan tinha reclamado que era horrível. Enquanto desenrolava o papel e ia se sentar em qualquer lugar,
“Doutor!” Lee Chaeyoon acenou animadamente, segurando uma cenoura. Quando Seokhwa assentiu e se sentou, ela rapidamente correu até ele.
“O major disse que a polícia militar cometeu um grande erro com você, doutor! Foi aquele desgraçado do Yoo Jeongkyung?”
“Você conhece ele?”
“Claro. Aquele filho da puta é pervertido. Gosta de torturar as pessoas, mas morre de medo de atuar de campo. Se eu encontrar com ele no campo, juro que mato na hora.”
Lee Chaeyoon deu uma mordida na metade da cenoura. “Espere aqui um instante, doutor.” Ela pulou a mesa e saiu correndo. Antes que percebessem, ela voltou com duas bebidas da máquina de venda automática. Entregou uma a Seokhwa e começou a beber a outra.
“Eu não trouxe dinheiro.”
“Relaxa, é por minha conta, doutor. Nosso salário cai em alguns dias mesmo.”
“Obrigada.”
Os funcionários do abrigo recebiam seu salário trimestralmente, quatro vezes por ano. Os cidadãos das zonas Verde, Azul e Índigo também recebiam salários pelos seus deveres, produzindo bens essenciais e suprimentos militares. Apesar do mundo estar mudando, a moeda ainda tinha valor. A Cidade Arco-Íris requer dinheiro para viver, e de vez em quando, algum falsificador era pego. Embora houvessem algumas prisões, elas frequentemente transbordavam; quando lotavam, os criminosos eram expulsos ou executados, principalmente aqueles presos com dinheiro falso.
“Doutor.” Lee Chaeyoon, depois de terminar sua bebida, de repente se inclinou perto dele. Apesar de menor, ela transbordava energia e vitalidade, sua presença revigorando os demais.
“É verdade que você e Kwak Soohwan, sabe, estão envolvidos?”
As palavras dele esvaziaram a energia dele.
Seokhwa piscou, mastigando seu sanduíche. Nunca tinha dado atenção ao sabor ao comer para sobreviver, mas desde que Kwak Soohwan comentou que estava sem gosto, realmente parecia insosso. Ele também se lembrou do sabor de pedra pela primeira vez — a saliva era doce, a pedra sem sabor.
“O que você quer dizer com envolvido?”
“Sabe, tipo isso.” Lee Chaeyoon fez o sinal de OK com uma mão e mexeu o dedo de dentro pra fora com a outra. Seokhwa imitou a ação dela.
“Pois é, isso! Rumores dizem por toda a fenda que vocês se encontram secretamente à noite, que até visitou o quarto dele! Ugh, pode até ser bonito, mas você é demais para ele, doutor.”
“Quer dizer que tem boato de que estou namorando o Major Kwak Soohwan?”
“Não sei se é namoro, mas dizem que vocês são íntimos...”
Seria algo que Yoo Jeongkyung disse? Se o boato se espalhou porque ele falou que Seokhwa disse que beijou Kwak Soohwan, não tinha como evitar.
“Doutor, sabe que tipo de cara é o Kwak Soohwan? No campo, ele fica pirado, às vezes desaparece por horas em missões solo. Coberto de sangue, caçando Adams como um louco. Uma vez, ficamos horas esperando porque ele saiu para caçar um Adam sozinho.”
Bang! Uma mão grande, segurando uma bebida, fez um barulho e bateu no meio de Seokhwa e Lee Chaeyoon.
“Chega de fofocar às escondidas das pessoas.”
Kwak Soohwan, sem roupa militar, parecia mais um civil, de camiseta casual e calças. Sentou-se sem permissão e colocou um braço ao redor dos ombros de Seokhwa.
“Você não imagina o quão nervoso fiquei quando ele veio ao meu quarto, dizendo que queria dormir comigo.”
Ele aproximou o nariz do cabelo de Seokhwa, como se estivesse cheirando, e a expressão dele se torceu discretamente. Lee Chaeyoon abriu a boca, chocada, enquanto alguns soldados que assistiam também ficaram shockeados.
“Você não se enfiou uma sujeira no doutor, né?”
“Sujeira? De jeito nenhum. O doutor Seok deve não se lembrar, mas disse ao Yoo Jeongkyung que veio ao meu quarto para sexo. Pode acreditar que ele revelou nosso segredo assim?”
Seokhwa limpou o cabelo onde os lábios de Kwak Soohwan tinham tocado.
Por que ele está mentindo assim? Seokhwa empurrou a mão de Kwak Soohwan do seu ombro.
“Nunca disse que vim por sexo.”
“Não negue.”
Kwak Soohwan sorriu de maneira astuta. Seokhwa não conseguia entender suas intenções. Por que agir assim na frente de todos?
“Disse que era por um beijo.”
O sorriso de Kwak Soohwan vacilou brevemente, antes de sorrir de novo.
“O que há de errado com você?”
Ele tocou levemente a testa de Seokhwa com o dedo. Seokhwa limpou a testa com a palma da mão, mas nada saiu.
“Que isso! A testa do doutor está amarelada! O Yoo Jungkyung também fez isso, não fez?!”
Ao pressionar, sentiu uma dorzinha pulsante. Embora a polícia militar tivesse puxado seus cabelos, não tinha batido na testa.
“O Yoo Jeongkyung realmente te bateu?”
Kwak Soohwan se perguntou se aquele filho da puta tinha agredido Seokhwa antes de chegar. Talvez pensasse que Seokhwa não se lembraria de nada, já que tinha sido sedado, e por isso tinha sido rouco com ele. Até então, considerava Yoo Jeongkyung só uma chateação, mas sua cada vez maior audácia estava começando a incomodá-lo.
“Não.”
A resposta calma de Seokhwa fez com que ele achasse que Seokhwa não se lembrava, e isso deixou seu humor azedo.
“Ele nem se lembraria se aquele filho da puta tivesse feito isso.”
“Não foi você, Major Kwak Soohwan, quem fez isso?”
“O quê? Kwak Soohwan, você!”
Lee Chaeyoon se levantou chocada, enquanto Kwak Soohwan assumiu que a memória de Seokhwa estava confusa.
“Quem você acha que te trouxe de volta são e salvo? Não me culpe por isso.”
“Major Kwak Soohwan, você beijou minha testa com tanta força que deu até machado. Provavelmente por isso está roxa. Mas por quê fez isso?”
Kwak Soohwan soltou uma risada curta.
“É… Ele falou como se lembrasse de tudo.”
“Dr. Seok, podemos conversar?”
“Pode falar.”
“Não aqui.”
Kwak Soohwan puxou o braço de Seokhwa e o levantou, fazendo o sanduíche que segurava cair no chão. Quando tentou pegá-lo, Kwak Soohwan apertou seu pulso, arrastando-o para fora da lanchonete.
“Major Lee, pode ficar com isso.”
“Vai se embora! Eu não como coisa do chão! Ei! Onde está levando o doutor?”
“Não nos siga.”
Seokhwa se irritou profundamente ao ser puxado à força, querendo terminar seu sanduíche.
Kwak Soohwan, que até então tinha uma expressão suave, agora exibia uma expressão séria. Olhou ao redor do corredor, abriu a porta de saída de emergência e empurrou Seokhwa para dentro. Seokhwa cambaleou, mas foi segurado firme contra a parede por Kwak Soohwan.
“Eu só queria terminar meu sanduíche.”
“Depois vou te comprar cem deles. Primeiro, explica o que acabou de dizer.”
“Como assim?”
“Você recebeu um sedativo de verdade?”
“Sim.”
“Então, como se lembra do que aconteceu com os policiais militares e do que eu falei?”
Após o incidente com o Dr. Wonho, Seokhwa e Oh Yangseok tinham administrado pequenas doses de amobarbital para criar tolerância aos sedativos de verdade. Seokhwa, que desenvolvia drogas para melhorar habilidades físicas, costumava se testar sozinho. Por isso, não se preocupou quando Yoo Jeongkyung injetou nele o serum.
“Por que é perigoso para mim investigar o caso do Dr. Oh Yangseok?”
Kwak Soohwan passou a mão pelos cabelos.
“Dr. Seok, seja você tolerante ou não ao serum, não deixe a polícia militar saber.”
“Por que você veio me salvar ontem?”
“Não é óbvio? Sou seu segurança.”
“Por que beijou minha testa?”
“Considera uma recompensa por ter se safado.”
“Que segurança espera por uma recompensa?”
Kwak Soohwan recuou, abriu a porta de emergência e cuspiu:
“Eu estava preocupado. Você é tão fraco.”
Seokhwa não seguiu Kwak Soohwan ao sair, permanecendo parado.
Um homem que tinha acesso a informações de alto segredo, que surpreendentemente se preocupava com ele, e ainda assim parecia desconfiado. Seokhwa olhou para a luz da câmera de vigilância piscando.
Mamãe está de olho. Talvez fosse mais um aviso.
***
Seu amigo tolo. Por que não me contou? Por que só agora me fez me arrepender? Kwak Soohwan às vezes bebia com Oh Yangseok, que tinha um péssimo hábito de beber. Quando ficava muito bêbado, costumava chorar ao lembrar dos amigos que tinha perdido. Sentado à margem do rio Han, olhando para a água escura, Oh Yangseok se agarrava a Kwak Soohwan.
“Velho, vamos voltar agora.”
“Mais um pouco.”
“Estou indo embora.”
Quando Kwak Soohwan se levantou com a garrafa, Oh Yangseok agarrou seu braço.
“Como posso ficar aqui sozinho, com medo?”
Apesar do desejo de partir, mesmo na Zona Verde, Adams eram assustadores, então ele tinha levado Kwak Soohwan junto. Suspirando, Kwak Soohwan voltou a se sentar. Era difícil ser frio com Oh Yangseok, que o ajudou a entrar no exército. Quando foi designado ao Abrigo de Ilsan, após a faculdade, Oh Yangseok ocasionalmente o visitava. Muitas vezes, tinha que resistir à vontade de encarar aqueles olhos piedosos.
“Como está a vida no Abrigo de Yeouido?”
“Tudo igual. Seria melhor se o Dr. Oh não me chamasse assim de repente. Para de beber.”
Lágrimas encheram os olhos enrugados de Oh Yangseok. Costumava ser alegre, mas chorava quando bêbado.
“Tenho tantos pecados para pagar. Merito morrer.”
Oh Yangseok cambaleou ao ficar de pé. Depois de ser torturado durante uma interrogatória com Wonho, mancou nos dias frios.
“Major Kwak Soohwan, me sinto tão culpado com você.”
“Graças a você, sou um cidadão bem alimentado da Cidade Arco-Íris.”
Depois que seus pais e irmão morreram, outro intermediário de Rainbow City se aproximou dele, que ele posteriormente descobriu ter sido pago pelo Dr. Oh Yangseok.
“Se você não tivesse se alistado, como estaria vivendo agora?”
Se isso tivesse acontecido, talvez teria se juntado aos rebeldes. Não importava o quão capaz fosse de sobreviver saqueando as lojas sozinho, naquele tempo desolado, precisava de algum lugar ao qual confiar.
“Velho, quer ouvir um obrigado?”
“De jeito nenhum. Eu….”
“Então não me chame de modo separado assim. Hoje em dia, muita gente de alto escalão está de olho em você.”
Oh Yangseok engoliu seu whiskey amargo de uma só vez.
“Quem não sabe disso? Deixei até uma vontade para o futuro, porque não sei o que me espera.”
“Na sua idade, devia ter uma.”
Apesar das lágrimas anteriores, ele riu com força.
“Você não parece nada com seus pais. Eles eram tão carinhosos.”
Oh Yangseok procurou Kwak Soohwan por causa da conexão dele com os pais de Kwak Soohwan. Os pais de Kwak Soohwan eram pesquisadores do abrigo, que trabalhavam na mesma ala de pesquisa que o Dr. Oh Yangseok.
“Não mencione meus pais na minha frente.”
Kwak Soohwan pegou o whiskey do Dr. Oh Yangseok e bebeu o resto.
“Vamos entrar. Sua barba está congelada de mucos.”
Kwak Soohwan pegou com força o cambaleante Oh Yangseok e o arrastou de volta ao abrigo. Cerca de um mês depois, Oh Yangseok foi encontrado assassinado na ala de pesquisa.
***
Clique, clique. Kwak Soohwan girou o cubo, combinando as cores.
À sua frente havia um soldado com uma fita de epaulet verde e uma braçadeira com uma águia. O comandante da Polícia Militar Cha estava em posição de sentido, visivelmente nervoso.
“Fale.”
Kwak Soohwan perguntou enquanto girava o cubo.
“Nada a reportar.”
“Como assim nada a dizer? Um major da polícia militar levou o principal pesquisador e aplicou uma droga de confissão? Quem ordenou a investigação do pesquisador chefe?”
“O tenente-general Lee Yeontae instruiu uma investigação leve, mas o major Yoo, por excesso de lealdade, ugh!”
Thud! O cubo jogado por Kwak Soohwan bateu na testa do comandante Cha. Sangue escorreu, mas o comandante permaneceu atento, sem conseguir limpar a ferida.
“Desculpe. Vou rebaixar o major Yoo para a filial de Gwacheon.”
O comandante Cha levantou o cubo caído e se aproximou da mesa de Kwak Soohwan.
“Quem categorificou o nível do Dr. Seok?”
“Isso também é algo que desconhecemos.”
“Restabeleça no estado original. Isso está causando suspeitas desnecessárias.”
“Sim, senhor.”
Sem olhar para o comandante Cha ali, Kwak Soohwan continuou girando o cubo.
“Por que está esperando? Saia daqui.”
“Sim, vou ficar de prontidão.”
O comandante Cha saudou e saiu da sala.[Zona 21 Violeta]Uma zona militar a uma hora de Yeouido, sem acesso a civis. Apesar de rotulada como zona militar, era um lugar que só Kwak Soohwan e alguns soldados por ele designados podiam acessar. A área estava inabitável há muito tempo, então usá-la assim não apresentava problemas.
Kwak Soohwan terminou de montar o cubo rapidamente e saiu de sua cadeira rangente. O prédio tinha sido uma escola secundária, mas não havia uma única janela intacta, e, com raras chuvas, as manchas de sangue nas paredes permaneciam lá, sem serem lavadas. Ao sair da sala que antigamente era a do diretor, o comandante Cha o seguiu.
O lema da escola pendia torto acima da porta principal, coberto de teias de aranha. As letras estavam obscurecidas pelas teias, que pareciam obra de várias aranhas, não de uma só. Apesar da teia enorme, a presa capturada nem era suficiente para uma aranha se alimentar.
De fato, o comandante Cha percebeu uma aranha tentando envolver e comer outra aranha. Colocou uma escaravelha morta, provavelmente incapaz de sobreviver ao inverno, na teia.
“...A vida começa na faculdade.”
“O quê?”
“O lema, senhor.”
De alguma forma, o comandante Cha conseguiu ler as letras através das teias.
“Faculdade, minha ass. A vida começa comendo.”
“Cada época e lugar provavelmente têm suas prioridades.”
“E agora?”
Kwak Soohwan puxou a pistola do coldre. Quando o cano apontou para ele, o comandante Cha se arrependeu de ter falado e fechou a boca. Quando puxou o gatilho, um som de estouro indicou que a bala acertou alguma coisa. Sobressaltado, virou-se para ver um gato de rua quase à beira da fome espalhado pelo chão.
“Sobrevive, eu acho.”
Kwak Soohwan guardou a pistola novamente.
“Perfeito, senhor.”
O comandante Cha forçou um sorriso, escondendo o medo. Antes de entrar na jeep estacionada na grade, falou primeiro.
“Vai direto para o abrigo de Yeouido?”
Sem responder, Kwak Soohwan entrou na viatura e ligou o motor. Todos os soldados sabiam que ele tinha se formado na turma mais top da Academia Militar da Cidade Arco-Íris. Contudo, seu título havia sido esquecido por causa de seu comportamento imprevisível. Mesmo até a morte, Oh Yangseok não sabia que Kwak Soohwan originalmente pertencia à polícia militar antes de ser designado para o Pelotão Invencível.
Kwak Soohwan baixou a janela pela metade.
“Não rebaixe aquele filho da puta para Gwacheon.”
“Como?”
“Não fico satisfeito enquanto não o atormentar eu mesmo.”
“Entendido.”
“Espere, afaste-se.”
O comandante Cha pensou que Kwak Soohwan estava dando a volta na jeep e se afastou, mas, na verdade, viu Kwak sair do veículo. Ele se abaixou, pegou algo do chão com um sorriso satisfeito e voltou para dentro do carro.
“Vamos embora.”
Enquanto Kwak Soohwan se afastava, o comandante Cha esperou até o jeep sumir de vista e então abriu a porta. Suspirou profundamente, se questionando por que Kwak tinha pego algo daquela forma.