
Capítulo 185
Minha irmãzinha vampira
Reino dos Demônios.
Uriel, a Deusa do Destino, observava silenciosamente o Portão que ela mesma havia invocado. Ao contrário de sua postura digna habitual, a compostura da Deusa não era visível. Seu vestido estava em rasgos, e seu corpo inteiro suava intensamente. Suas pernas fraquejavam sob seu peso, e ela mal tinha forças para se mover.
Era o efeito do envio de Thanatos para a Terra. Para alterar o futuro, Uriel havia sacrificado seu poder, sua vida toda, para abrir um Portão grande o suficiente para enviar Thanatos até lá. Facilmente o Demônio mais poderoso que já invadiu a Terra, o custo de abrir aquele Portão foi alto.
Portanto, essa última invasão precisava ser um sucesso.
Ela precisava dar certo.
Senão…
Um minuto se passou. Uriel questionou-se por que Thanatos ainda não havia retornado. A missão parecia simples. O Demônio da Morte apareceria na frente de Jin Valter e cortaria sua foice pela garganta. A névoa da morte que ela desenvolveu ao longo dos anos, aproveitando o poder de Thanatos, deveria ser suficiente para acabar com Jin, que ainda não havia completado seu crescimento.
Dois minutos passaram, e a mente de Uriel entrou em caos. Ela considerou todas as possibilidades de fracasso, e talvez Thanatos tivesse cumprido sua missão, mas estivesse sem ideia de como voltar.
Três minutos, quatro minutos… e, finalmente…
"Thanatos… Seu idiota…"
O Portão que Uriel criou, aquele destinado a trazer Thanatos de volta para casa, havia se fechado completamente. A conexão dela com o espírito do Demônio foi cortada, e o choque resultante fez sua cabeça girar, causando uma leve concussão. E, nesse impacto, algo mais invadiu sua mente. Algo tão imenso que sua alma não resistiu à pressão, e suas cavidades oculares começaram a sangrar.
Por uma última vez, Uriel usou seu poder para 'ver' o destino. A escuridão tomou conta de seu mundo interior enquanto uma Lua de Sangue ascendeu no horizonte. A luz sagrada mesmerizou a Deusa do Destino, e ela permaneceu imóvel, enquanto uma entidade divina descia do céu.
Cabelos longos, negros, que pareciam impossíveis de existir na dimensão mortal. Olhos dourados e carmesim que brilhavam tanto quanto a Lua de Sangue acima dele. E uma aura divina que obrigava todas as criaturas inferiores a se ajoelhar e reverenciar.
Era igual…
Era exatamente igual aos seus sonhos, seus pesadelos…
'Ele' nasceu.
'Ele' estava vindo para cumprir seu destino.
'Ele' governaria toda a humanidade demoníaca.
A ascensão do Hegemon, o Overlord do Universo, agora era inevitável.
"ARGHHHHHH!!!"
Uriel soltou um grito que atravessou a alma enquanto se contorcia no chão. Espasmando descontroladamente, Uriel sofreu um ataque de pânico e um grito de socorro quase mortal. Sentiu sua alma sendo devorada pelo resquício do Hegemon, e, se nada fosse feito, ela teria enlouquecido ali mesmo, naquele instante.
"Uriel, acorda!"
Felizmente, antes que a Deusa cruzasse o ponto de não retorno, uma mão quente e firme segurou seus ombros.
Aquele calor a despertou imediatamente do pesadelo, e o pouco de alma que ainda tinha começou a se recuperar gradualmente. A vida que ela tinha perdido também se reerguia rapidamente, à medida que seu corpo destruído e enfraquecido começava a mostrar sinais de volta ao seu passado sagrado.
Havia apenas uma entidade no Universo que poderia ajudar Uriel dessa maneira.
O Soberano Demoníaco, Igni.
"Soberano… Você saiu do confinamento."
Apesar do suor ainda escorrendo, Uriel tentou se ajoelhar diante de seu líder, mas foi impedida pelas mãos calorosas e compassivas de Igni.
"Não, Uriel. Concentre-se primeiro na sua recuperação."
"Obrigado, Soberano."
Uriel sorriu e não pôde deixar de olhar para seu líder carismático. Com cinco metros de altura, o Soberano Demoníaco era enorme pelos padrões humanos. Bem feito, com músculos definidos que poderiam envergonhar até um fisiculturista sob esteróides; o Soberano demoníaco tinha o físico no auge.
Chamas eternas e ardentes queimavam intensamente ao redor da cabeça e das sobrancelhas de Igni, tornando o Demônio ainda mais aterrorizante do que já era. E, mais importante, a quantidade de magia que se escondia naquele corpo compacto era assustadora.
Facilmente contendo mil vezes mais energia mágica do que Cthulhu ou Bai She, o Soberano Demoníaco era como uma força da natureza. Dado seu poder, ele poderia destruir o Reino Demoníaco sempre que quisesse. Um único espirro daquele monstro era suficiente para nivelar montanhas e rasgar o oceano ao meio.
E, mesmo com todo esse poder, o Soberano Demoníaco não era páreo para o Hegemon.
"Então… Thanatos falhou, hein?"
"Peço desculpas, meu senhor!" Uriel se ajoelhou de cabeça baixa, chorando e lutando para conter suas emoções. "Se ao menos eu o tivesse criado melhor, acompanhado… Talvez pudéssemos ter evitado o nascimento do Hegemon."
"Não é sua culpa," disse o Soberano Demoníaco. "Fizemos tudo que podíamos. Milhares de anos de planejamento e preparação, e mesmo assim, não conseguimos impedir o nascimento do Hegemon. Como você disse, era destino."
"Meu senhor…"
"…"
Os dois permaneciam em silêncio, ninguém ousando falar primeiro. Sabiam que as engrenagens do destino não podiam ser detidas quando Thanatos fracassou na Terra. O Hegemon não só nasceu, como cresceu a ponto de poder destruir Thanatos. Se for assim, o Reino Demoníaco tinha pouca esperança.
"Quanto tempo nos resta?"
"… Não sei," Uriel balançou a cabeça enquanto soluçava. "Agora que ele despertou, não consigo enxergar nenhum futuro em que ele esteja envolvido. Pode chegar daqui a poucos minutos ou a vários anos. Não posso dizer. Mas uma coisa é certa…"
"Ele invadirá o Reino Demoníaco?"
"Sim, ele invadirá. E todos nós nos tornaremos seus escravos."
"Entendo…"
Uma atmosfera sombria pairava sobre os dois semi-deuses da raça demoníaca. Saber que seriam escravizados não era uma sensação agradável, e, sabendo que estavam impotentes para impedir, os dois Senhores Demônio sentiram um nó apertando na garganta.
"Existe a possibilidade de suas previsões estarem incorretas?"
"Você sabe bem o quão precisas são minhas visões," Uriel, de alguma forma, conseguiu se acalmar e reafirmar suas habilidades. "Minhas visões foram o motivo de você ter se tornado o Soberano Demoníaco e unificado o Reino dos Demônios."
"Peço desculpas," o Soberano Demoníaco balançou a cabeça. "Eu só estava tentando encontrar alguma esperança."
"Não, eu entendo…"
Estavam no fundo do poço. As visões de Uriel nunca foram erradas, e seu poder levou Igni a ascender ao topo e dominar o Reino Demoníaco. A única vez em que ela não conseguiu prever o futuro foi quando o Hegemon entrou em cena.
Por isso, a Deusa do Destino tentou interferir no destino. Orando desesperadamente para mudar o futuro da humanidade demoníaca, criou um plano para invadir a Terra. Inicialmente, a ideia era eliminar toda a humanidade, mas, devido às limitações, Uriel só podia focar no momento em que identificou Jin e rezar para que Thanatos o matasse imediatamente.
Infelizmente, com esse plano fracassado, não havia mais como parar o Hegemon.
A pior parte de tudo era que Uriel não podia mais abrir Portões para a Terra. Depois de enviar Thanatos, a Deusa ficou sem poder algum. Nem mesmo conseguia prever seu próprio futuro agora. Basicamente, os Demônios Externos estavam à mercê do capricho do Hegemon.
"Quão poderoso ele é?"
"Desculpe?"
"Quão poderoso é o Hegemon?" O Soberano Demoníaco perguntou com receio. "Você acha que posso derrotá-lo se enfrenta-lo com minha forma ascensionada?"
O Soberano Demoníaco queimou com chamas vermelhas, mudando de cores: primeiro laranja, depois azul, e por fim… preto.
"I-Igni, você…"
"Não estava inativo durante meu confinamento, sabia?" O Soberano Demoníaco sorriu. "Dominei o poder negro que você cultivou de Thanatos. Além disso, minha pele e meu corpo foram alterados para negar a magia dele. Com esse estado, você acha que temos alguma chance?"
O Soberano Demoníaco tentou transmitir esperança a Uriel. Agora que cultivara sua forma final, Igni acreditava que poderia ao menos oferecer uma resistência decente ao recém-nascido Hegemon.
"… Se ele estiver em sua forma perfeita, não duraríamos um nanosegundo com ele."
Porém, a resposta de Uriel imediatamente apago aquela tênue esperança que o Soberano tinha, como uma ducha de água fria.
"O Hegemon é uma entidade além de deuses. No futuro, ele unificará o Universo e conquistará todos os planetas dignos de conquista. Superará as leis do universo e criará uma dinastia que durará milhões de anos. Para ele… Nós somos mais que formigas."
"Que assustador."
Quase sem esperança após a avaliação de Uriel, o Soberano Demoníaco sentiu-se quase derrotado. Afinal, ela era quem conhecia o Hegemon melhor.
"Mas… Isso é algo muito distante no futuro." Sem querer abandonar a esperança para a humanidade demoníaca ainda, a mente de Uriel surgiu com uma pequena faísca de esperança. "No momento, ele ainda não está em sua forma máxima. Se enfrentarmos agora, talvez haja uma pequena chance de matá-lo."
Talvez fosse otimista demais, mas Uriel tentava encontrar uma luz no fim do túnel para ajudar o povo demoníaco a resistir ao Hegemon.
"Mas tudo depende da nossa sorte. Se o Hegemon invadir espontaneamente agora, talvez consigamos lutar. Mas, se ele desenvolver suas habilidades e atacar daqui a um ano, não, daqui a um mês…"
"Perdemos?"
"Sim," Uriel suspirou pesadamente. "Nos tornaremos seus escravos."
"Entendo…"
O Soberano Demoníaco liberou sua forma ascensionada e voltou ao estado normal. Olhando ao longe, murmurou:
"Então, vou rezar para que ele venha mais cedo do que tarde."