Minha irmãzinha vampira

Capítulo 115

Minha irmãzinha vampira

O relacionamento de Jin e Irina começou com uma interação inocente, aquela que proporcionou à jovem Irina seu primeiro sentimento de amor e pertencimento. A atenção e a companhia que Jin lhe oferecia eram algo que ela buscava desesperadamente e, eventualmente, se tornou viciada nisso.

Repetidas vezes, Irina saía do seu posto na vila para escapar e encontrar o jovem que conhecera há pouco tempo. Em apenas uma semana de ter conhecido Jin, Irina já tinha completamente ignorado as outras meninas com quem deveria socializar, o que gerou algum desentendimento entre elas.

Ysabelle, em particular, que ainda estava focada em cumprir seu dever como filha de Blackburn, era a que mais se preocupava com as constantes ausências de Irina.

"A Irina foi embora de novo?" Ysabelle olhou para as outras duas meninas na sala de estar e perguntou com cautela.

Na última semana, as três meninas começaram a socializar na ausência de Irina. Apesar de ainda não serem amigas íntimas, conseguiram trocar algumas palavras. Especialmente Ysabelle e Lilith.

Lilith era uma criança bastante orgulhosa e preferia estudar seus livros do que socializar com as outras três. Mas ela entendia a importância de manter um bom relacionamento com as demais Casas Guardianas. Ainda mais por ser a herdeira escolhida, que provavelmente precisaria da ajuda delas no futuro distante.

Enquanto isso, Ysabelle ficava feliz em conversar com alguém do grupo, já que tudo começara de forma meio rude.

"Ela tem saído bastante de casa," respondeu Lilith com uma expressão entediada. "Deixa ela em paz; não dá pra forçar alguém a gostar da gente. Se a Irina quer ser uma solitária, que seja."

Lilith era uma pragmática. Se Irina não gostava delas, não havia nada que pudessem fazer para mudar isso. Melhor deixar as coisas seguirem seu curso; quem sabe, aos poucos, Irina se abriria. Mas, naturalmente, Lilith não era daquele tipo que se esforçava para que isso acontecesse.

"Mas mesmo assim! É perigoso sair sozinha assim! Ela só tem oito anos!"

"Você também não tem nove?"

"Por isso que estou preocupada com ela!"

Lilith virou os olhos, a sua atenção rapidamente se esvaziando do assunto.

"Se está tão preocupada, por que não pergunta pra Rosalyn? Ela sai toda manhã; tenho certeza de que viu a Irina saindo de casa."

"E-Isso…"

Ysabelle travou por um instante, e seus olhos vaguearam até a garota de cabelo verde sentada na varanda. Encostada na grade, a jovem Rosalyn permanecia olhando para o vazio, com o rosto sem nenhuma expressão.

Apesar de Ysabelle e Lilith terem começado a conversar, nenhuma delas tinha ficado mais próxima de Rosalyn. Elas conseguiam se comunicar bem, trocando algumas palavras, mas… a falta de emoções de Rosalyn realmente as deixava desconfortáveis.

Parecia que estavam conversando com uma inteligência artificial programada para responder sempre com as mesmas palavras. Além disso, Rosalyn adorava passar horas olhando para o verde ao redor e nunca participava das sessões de socialização coletiva.

Até mesmo Ysabelle, mais extrovertida, não conseguiu deixar de se sentir estranha com o comportamento da nova conhecida.

Porém, como Rosalyn era a única que sabia onde Irina tinha ido, não restava outra opção…

"R-Rosalyn… Você se importa se eu sentar aqui?"

Ysabelle gaguejou enquanto lentamente se aproximava da varanda. Como uma máquina, Rosalyn torceu a cabeça devagar para observá-la, e após alguns segundos delicados, ela respondeu:

"... Localização da Irina?"

"A-Ah, então ouviu o que falei, né?" Ysabelle bateu as mãos, tentando controlar a tremedeira nos olhos. "Sabe onde ela foi?"

"... Voltando."

"Voltando?"

"... Sim."

"O-Ok…"

Na última semana, Ysabelle percebeu que Rosalyn tinha uma particularidade: suas frases não passavam de algumas palavras ou três a quatro frases no máximo, mas, surpreendentemente, sempre transmitiam a informação necessária com perfeição, facilitando a comunicação.

"Obrigado, vou avisar a Lilith."

Ysabelle rapidamente deixou a garota sozinha, que logo esqueceu de sua presença e voltou a focar na sua atividade preferida: observar árvores. Sem saber exatamente o que dizer, ela correu de volta ao seu amiga entediada, que estava imersa na leitura de um artigo de pesquisa que trouxera de casa.

"E aí? O que ela disse?"

"Que a Irina está voltando para casa, aparentemente."

"Tão cedo? Ela normalmente fica até o anoitecer."

"Foi o que a Rosalyn explicou…"

"Humm, ela te disse como descobriu isso?"

"H-Huh? Não seria a Irina que contou isso pra ela?"

"Você acha que aquela garota antipática nos diria alguma coisa sobre ela?"

Lilith bufou ao lembrar como a bratinha de Everwinter tinha tratado elas no dia em que se encontraram pela primeira vez. Pela reação dela, Lilith duvidava muito que Irina fosse contar pra alguém onde ia, mesmo que isso colocasse a própria vida em risco.

"Mas a Rosalyn descobriu… Que interessante…" Os olhos de Lilith brilharam com curiosidade científica enquanto observava a garota de cabelo verde. "Você se lembra se ela já apresentou seu Aspecto de Vampira?"

"Não… Acho que ela não falou sobre isso."

"Sim, a Irina saiu da vila antes de conseguir dizer alguma coisa."

Lilith continuou a observar a jovem, enquanto as engrenagens na cabeça dela giravam rapidamente.

"A Casa Shadowgarden é envolta em segredo, e seus Aspectos de Vampiro nem sempre são de conhecimento comum. O fato de Rosalyn ficar dispersa e dormir pouco… E de parecer saber de tudo… Quais poderão ser seus poderes?"

"Você está tão interessada assim?"

"Sim, é misterioso, não acha? Além disso, por algum motivo, ela não parece uma Vampira."

"H-Huh? Como assim?"

"Vampiros têm pele clara e características bonitas. Mas as de Rosalyn são mais vivas, expressivas. Seus olhos grandes e o rosto perfeitamente simétrico… E quase impecável, sem uma deformidade sequer… Parece completamente irreal, feito em fábrica mesmo."

" Você não pode estar falando sério! Você acha que a Casa Shadowgarden a modificou geneticamente?! T-Isso…!"

Ysabelle ficou surpresa. Mesmo jovem, ela já tinha ouvido histórias assustadoras sobre modificações genéticas em Vampiros, desde cientistas tentando cruzar Vampiro com Lobo-Catador, até espécies híbridas que poderiam transcender a própria raça vampírica.

E quase sempre… O resultado final era horrível. Por isso, mexer com o DNA era extremamente repudiado e até proibido pelas Dez Casas Guardianas.

"Não fique tão nervosa; estou apenas especulando. Para o que sei, Rosalyn pode mesmo ter nascido assim, tão linda."

"O-Ok…"

Embora Lilith tentasse dispensar a dúvida, ela já estava plantada na mente de ambas as meninas. Se Rosalyn fosse mesmo modificada geneticamente, seus comportamentos estranhos começariam a fazer mais sentido. E, de repente, Rosalyn levantou-se da cadeira e, assim que as duas garotas viraram a cabeça para olhar, ela rapidamente saiu caminhando e se dirigiu à porta principal.

O movimento inesperado deixou Ysabelle e Lilith sem reação. Desde que conheciam Rosalyn, ela não demonstrava emoções, mas, pela primeira vez… parecia que uma ponta de empolgação surgia nos movimentos da jovem.

Era como ver uma pintura imóvel mover os olhos pela primeira vez. As duas garotas, inocentes e espantadas, foram tomadas por uma curiosidade profunda.

Sem surpresa, elas seguiram a garota de cabelo verde até a entrada da vila, querendo entender o que tinha causado aquela mudança repentina.

E, para a surpresa delas…

"Irmão… Por que precisamos vir aqui?"

"Irina, você disse que queria fazer amigos? Aqui é a oportunidade perfeita! Não desperdice porque está um pouco tímida."

"N-Não sou tímida! É que eu não sei como me comportar perto deles!"

"Haha, deixa que eu te ensino então!"

Ao entrarem no hall principal, Ysabelle e Lilith viram Irina, claramente nervosa, segurando o braço de um garoto desconhecido. Rosalyn já descia as escadas, observando o menino como se fosse uma obra de arte.

Enquanto isso, as outras duas meninas ficaram boquiabertas com a atitude audaciosa de Irina. Sem conseguir segurar sua frustração, Lilith avançou rapidamente, puxando o braço de Irina e afastando-a do garoto estranho.

"Irina! Você trouxe alguém aqui?! Um humano, ainda por cima!"

"N-Não é alguém aleatório! É o meu irmão!"

"Irmão?! Você quer dizer que ele é seu irmão de sangue?!"

Considerando como Vampiros se reproduzem, era quase impossível uma relação sanguínea entre um humano e um Vampiro. Lilith até começou a pensar se a Casa Everwinter tinha criado algum método milagroso para transformar Vampiros de novo em humanos.

"N-Não, quero dizer… Ele virou meu irmão só na semana passada."

"Você! Você trouxe um humano que não é parente?! Está tentando nos matar?! E se ele descobrir que somos Vampiros e enviar membros da Igreja para nos caçar?!"

"O irmão não vai fazer isso!!!" Irina ameaçou com a voz mais alta, bastante decidida. "Eu confio nele! Além do mais, ele já sabe que sou Vampira!"

"O-Que?!"

De tanto gritar, as quatro garotas fizeram tanto barulho que toda a vila deve ter ouvido. Jin, que estava sozinho na porta, apenas sorriu de leve enquanto todas as quatro o encaravam. Mas aqueles olhares penetrantes não o afetaram: ele acenou com a mão e se apresentou:

"Oi, meu nome é Jin Valter. Recentemente me tornei o irmão mais velho da Irina. Prazer em conhecê-los!"

"..."

"..."

"..."

"..."

O silêncio tomou conta do ambiente. Nenhuma delas soltou uma palavra enquanto observavam o sorriso radiante de Jin, feliz, sem perceber o clima de animosidade na grande sala. Parecia que nada no mundo poderia perturbá-lo; mesmo se o céu desabasse, ele manteria seu sorriso.

"Você não tem medo de nós? Sabemos que somos Vampiros, sabia."

"O que há para temer? Só vejo quatro meninas fofas!!!" Jin coçou a cabeça e riu alto. "Sempre ouvi dizer que Vampiros são mais bonitos que humanos, e acho que isso é verdade! Nunca vi meninas tão lindas na minha vida!"

"V-Você…"

Lilith não sabia se ria ou se chorava da resposta animada de Jin. Ysabelle balançou a cabeça, observando pela primeira vez um garoto humano de perto, enquanto Rosalyn permanecia impassível.

Somente Irina tinha o discernimento de responder a Jin.

"P-Pai! Por que você chama outras meninas de fofas?!"

"Humm? Só estou dizendo a verdade, na real. Você não chamaria um cachorro de gato, né? Vocês todas são tão fofas, igual às bonecas de porcelana que passam na TV!"

"V-Você…"

Nessa altura, nem mesmo Irina conseguiu uma resposta adequada.

Jin e as quatro meninas ficaram se encarando por dois minutos antes que Lilith tomasse a iniciativa.

"Com licença, mas Lilith here fez uma besteira. Você não pode ficar aqui, por favor, saia."

"Humm? Ah, esse é o 'Maximum Teórico' do Professor James Dudley?"

Antes que Jin pudesse responder à declaração de Lilith, seus olhos se fixaram no livro que ela carregava. Apontando para a capa com brilho nos olhos, a surpresa foi evidente na garota.

"H-What? Você conhece esse livro?"

"Sim! Acabei de ler! Que coincidência!" Jin sorriu entusiasmado ao finalmente encontrar uma alma semelhante em pesquisa de magia. "Apesar de o ponto de vista do Professor Dudley sobre os limites da magia ser interessante, acho que ele falta imaginação para as possibilidades infinitas que a magia pode alcançar."

"O que quer dizer?"

"Todas as teorias dele limitam-se ao alcance humano e às capacidades do mago. Mas, na verdade, nossa magia é só um grão de areia na vastidão do universo! No livro, ele teoriza que o limite máximo da magia é um evento destrutivo de proporções planetárias. Mas eu acredito que a magia é uma das razões de o universo ter existido em primeiro lugar!"

"Interessante…"

Lilith coçou a mandíbula enquanto começava a rever o conhecimento recém-adquirido. Na verdade, ela nem tinha considerado essa hipótese ao ler o artigo. E, ainda assim, Jin tinha lhe dado uma alternativa muito além do que ela esperava.

"Haha, é raro ver alguém da minha idade interessado em pesquisa mágica. Qual é o seu nome?"

"... Lilith Moonreaver."

"Haha, prazer! Eu sou Jin Valter, muito prazer!"

Mal sabia Lilith que aquela frase proferida por Jin… Mudaria sua vida para sempre.