Minha irmãzinha vampira

Capítulo 111

Minha irmãzinha vampira

Mansão Bloodborne. Salão do Trono de Bloodborne.

A derrota de Eyghon havia acendido uma centelha em todos os habitantes do planeta. Décadas de paz haviam embotado seus sentidos, e muitos haviam esquecido a ameaça que os Senhores dos Demônios representavam. Seu tamanho colossal e seu poder mágico imbatível eram algo com que nenhum mero mortal poderia competir.

Os danos que um Senhor dos Demônios podia causar eram completamente incalculáveis, e se eles invadissem em hordas, o planeta poderia estar condenado antes que alguém piscasse.

Porém, ao mesmo tempo, havia um raio de esperança brilhando.

Um garoto, não, um Vampiro, era capaz de trazer a morte àquele Senhor dos Demônios imponente. Aos vinte e cinco anos, ele virou herói e tornou-se uma lenda. As pessoas cantavam seu nome em cânticos, e muitos analisavam cada trecho de todas as filmagens existentes.

Mas, acima de tudo… Suas ações inspiraram milhões.

Se uma pessoa podia matar um Senhor dos Demônios, por que o resto não poderia fazer o mesmo?

O mito invencível dos Senhores dos Demônios Externos havia sido quebrado, e todas as organizações do mundo foram mobilizadas. Não importava se eram Humanos, Lobisomens, Vampiros, Homens-Peixe ou Elfos. Todos se inspiraram no jovem garoto para mudarem seus caminhos benignos.

No entanto, algumas organizações foram inspiradas de forma incorreta…

"Grande Elder, os preparativos foram concluídos."

"Entendido."

Uma figura alta, envolta em uma capa carmesim, sentava-se no trono de Bloodborne com um semblante apático. Parecia que o homem trabalhara por centenas de dias sem dormir, e, pelo traje gasto, tudo indicava que era mesmo assim. Acenando os braços, o Grande Elder levantou-se e fez uma inspeção cuidadosa no Salão do Trono pela última vez.

No passado, a Casa Bloodborne usava esse salão para receber seus convidados e, em alguns casos, realizar banquetes para todos os fiéis à sua linhagem. Em sua época de auge, o Salão do Trono era decorado com as mais finas joias e os maiores luxos que o homem podia oferecer. Corantes tão caros quanto ouro. Mármore tão raro quanto asteroides. Seda tão valiosa quanto carne humana.

A Mansão Bloodborne já foi considerada um palácio de luxo que nenhuma entidade poderia igualar.

No entanto, com o enfraquecimento de seu poder, a Mansão Bloodborne perdeu grande parte de seus valores. Por meio de empréstimos inadimplidos ou reparações por seus erros passados, a casa agora era apenas uma casca do que fora antes.

Porém, isso não importava nada para o Sumo Sacerdote.

A dívida que o mundo tinha com a Casa Bloodborne… seria completamente paga. Assim que o Progenitor fosse ressuscitado, todo o planeta se ajoelharia diante deles. Os Vampiros que antes os rejeitavam logo pedir-lhes-iam perdão. As Dez Casas Guardiãs deixariam de existir, unindo-se em uma única Casa. A verdadeira Casa Vampiro.

A Casa Bloodborne.

"Que beleza…"

Ao caminhar pelo corredor reluzente, o Grande Elder admirou a cena que o recebia. As colunas de ouro do Salão do Trono haviam sido substituídas por montanhas de cadáveres. O chão dourado, que refletia toda a luz, agora estava mergulhado em um rio de sangue. Sacrifícios vivos estavam sendo torturados e mutilados, tudo pelo precioso sangue mágico deles.

Os gritos humanos tinham se tornado música aos ouvidos do Grande Elder enquanto ele marchava em direção ao seu destino final. Pedidos de ajuda, gemidos de dor… Nada disso importava para o líder de fato dos Bloodborne.

Tudo o que importava para ele… era a estrutura que se apresentava diante de seus olhos.

Um caixão puro de ébano negro.

O túmulo tinha tamanho suficiente para caber dois adultos completamente crescidos, com mais de três metros de altura. Era decorado com joias mágicas e flores de ouro, tornando-se tão luxuoso quanto um sarcófago de um faraó. Mas não era apenas um caixão comum.

Na cabeça do caixão, repousava uma árvore artificial feita com o sangue de um milhão de vítimas. Folhas escarlate caíam suavemente sobre o ataúde, desaparecendo no exato instante em que tocavam a madeira firme. No topo da árvore, crescia uma fruta de sangue, condensando toda a magia que absorvia em um único ponto.

A Casa Bloodborne havia cuidadoso ao semear essa árvore, tentando imitar a Árvore do Mundo de onde o Progenitor nasceu. E, na maior parte, eles conseguiram.

Usando a Árvore de Sangue, eles conseguiram recriar a composição química do corpo do Progenitor de forma natural, sacrificando um Elfo que fazia parte da árvore genealógica do ancestral Bloodborne. Com a essência de sangue de um milhão de vítimas e o coração original do Progenitor, a Casa Bloodborne estava quase pronta para ressuscitar seu Patriarca Eterno.

Faltava apenas um ingrediente final…

"Já prepararam o Portal de Ruptura?"

"Sim," respondeu o servo de joelhos. "Estamos prontos para transferir para a Floresta dos Elfos a qualquer momento."

"Ótimo… Agora, só precisamos invocar a alma do pai… E, mesmo que eu odeie admitir, precisamos do poder da Árvore do Mundo."

O Grande Elder não conseguiu conter seu nojo e franziu a testa.

O Progenitor era originalmente um Elfo que abandonou o modo de vida dos Elfos em prol de sua própria vida eterna. Enquanto os Elfos buscavam proteger a Árvore do Mundo e até se transformavam em árvores quando seu ciclo de vida cessava, o ancestral Bloodborne rejeitou essa ideia.

Ele acreditava que podia criar uma raça perfeita, uma que fosse eternamente livre e capaz de usar magias além da imaginação de qualquer um. E, através de seus anos de experimentação, o Progenitor conseguiu.

Drácula Bloodborne, também conhecido como o Primeiro Vampiro, era um Elfo que trilhara seu próprio caminho. E, embora suas motivações fossem louváveis e tenham criado uma raça totalmente nova, ele não podia negar suas raízes.

A alma do Progenitor dissipada ao morrer, e a única forma de revivê-la era com a ajuda da Árvore do Mundo. Ou, se fosse reencarnada…

"Horatio, você está aí?"

"Claro," uma jovem elegante aproximou-se de sua posição e fez uma reverência firme ao Grande Elder. "Por que me chamou? Ainda estou ocupada gerenciando o exército."

"Conseguiu localizar Jin Valter?" O Grande Elder ignorou a resposta de Horatio e respondeu com sua própria pergunta.

"Hoho? Você não ouviu?"

"Ouvi o quê?"

"Jin Valter… Ele… Já está na Floresta dos Elfos."

"O quê?"

A sobrancelha do Grande Elder se moveu involuntariamente. Desta vez, ele ficou realmente surpreso. Sempre pensou que o garoto ficaria na segurança da Casa Blackburn ou, pelo menos, buscaria refúgio em uma das muitas Casas Guardian que agora apoiavam sua causa. E, no entanto… Seu alvo estava justamente no lugar para onde ele se dirigia.

"Sim," Horatio fez o possível para esconder sua alegria. "Aparentemente, sua última amante está treinando na Floresta dos Elfos. Então, ele foi se reunir com ela."

"Por que… Não, não importa. Haha, o destino realmente está ao nosso lado. Se ele está na Floresta dos Elfos, isso simplifica nossa operação."

Os lábios do Grande Elder se curvaram num sorriso. Como não poderiam? O plano que ele vinha preparando há mais de mil anos finalmente tomava forma. Tudo ocorria como esperado. A força de combate estava formada, o caixão com seu pai havia sido concluído, e as últimas peças necessárias estavam todas reunidas.

Parecia que a ressurreição do Progenitor era destino inevitável, talvez uma questão de tempo.

E, falando nisso… Havia alguns que mal podiam esperar nem por um segundo a mais.

"Ahhhh, meu amado esposo… Aguarde por nós! Logo estaremos te trazendo de volta!"

Uma mulher de cabelo vermelho ajoelhou-se diante do caixão, lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto seu semblante se desfazia de êxtase. Ao lado dela, duas mulheres com aparência semelhante também choravam, estendendo as mãos e olhando para o caixão com expressões de anseio.

"Segunda Consorte! Oitava Consorte! Por favor, tenham calma! Se tocarem o caixão, podem ser absorvidas pelo ritual!"

"Vai tomar no… Você está dizendo que não podemos tocar em nosso marido?! Ele está na nossa frente! Bem na nossa frente!"

A mulher de cabelo azul gritou de volta, quase rasgando o pescoço do servo. Por sorte, antes que suas garras afiadas pudessem se aprofundar, uma mão segurou seu pulso, impedindo qualquer sangue derramado.

"Oitava Consorte, por favor, controle-se." O Grande Elder falou com respeito, mas havia uma frieza na sua voz. "Estamos tão perto de trazer seu pai de volta… Vai arruinar tudo por causa de sua emoção egoísta?"

"Tsk, tudo bem!"

A mulher libertou-se do aperto do Grande Elder e voltou seu olhar ao triste caixão. Ela queria apenas abrir o capuz e abraçar o marido que tanto sentia falta, mas… Estava tão próxima, e ao mesmo tempo, tão longe.

"Quinta Consorte, preciso que você também se mantenha sóbria. Você é a ponta de lança dessa operação; não posso permitir que continue chorando enquanto enfrentamos os Elfos."

"… Não se preocupe, farei qualquer coisa para trazer meu marido de volta! Mesmo que Sirius volte para me impedir, irei garantir que ele seja enterrado ao lado de quem ousar nos deter." A expressão de lágrimas da mulher de cabelo vermelho logo se transformou em uma determinação pura.

Evidentemente, a derrota na Dimensão do Devora-Luas ainda a corroía. Como alguém da mesma geração da Matriarca Inocência, a Quinta Consorte ainda não conseguia entender como um simples filho da Casa Devora-Luas podia igualar-se a ela em força.

Para ela, trazer seu marido de volta era de máxima importância. Portanto, mesmo que custasse sua vida, a Quinta Consorte faria tudo ao seu alcance para garantir que o ritual fosse bem-sucedido.

"Julien, enquanto ressuscitar seu pai é importante, você precisa cuidar de si mesmo. Quando foi a última vez que você dormiu?"

" Mãe…"

Diferente das outras duas, a mulher de cabelo amarelo franziu preocupação ao olhar para o Grande Elder.

"Estou bem," respondeu o Grande Elder balançando a cabeça. "E você? Não queria te incluir, mas… Como Segunda Consorte, você será a peça mais importante da nossa operação. Está pronta?"

"Filho…" A chama acendeu nos olhos da mulher ao ouvir as palavras do Elder. Fumando pelas narinas, ela respondeu com uma determinação pura. "Estou pronta desde o dia em que Dragão morreu!"

"Muito bem…"

O Grande Elder deu um passo atrás e ficou observando tudo o que havia construído ao longo de séculos. Todo o exército Bloodborne, formado por elite de Shadowfiends que treinavam desde o nascimento. Eles guardaram em segredo inúmeros Vampiros antigos, incluindo a Segunda, a Quinta e a Oitava Consortes, que eram lendas no mundo Vampírico. E, por fim, o caixão que guardava a esperança da Casa Bloodborne…

Todos eles estavam reunidos.

O que significava que faltava apenas uma peça para completar o quebra-cabeça.

"Horatio Bloodborne!"

"Aqui!"

O Príncipe Bloodborne ajoelhou-se solenemente, aguardando a ordem do Grande Elder. Tremendo de emoção, sabia que a Casa Bloodborne ressurgiria se ele concluísse essa tarefa, e, por isso… Sorriu com pura felicidade enquanto as palavras do Elder ecoavam pelo vasto Salão do Trono.

"Traga-me Jin Valter."