Minha irmãzinha vampira

Capítulo 119

Minha irmãzinha vampira

Desde que nasci, soube que era diferente da maioria das meninas. Não fui gerada por uma união tradicional de homem e mulher. Não tinha pai… Nem mãe… Ninguém para chamar de família.

Já tinha consciência do meu entorno quando, pela primeira vez, acordei. Lembro-me claramente dos rostos de quem me deu a vida. Eles sorriam e comemoravam meu nascimento, rindo com uma expressão estranha que eu não conseguia compreender.

Eu não entendia o que estavam fazendo, mesmo após todos esses anos… Não conseguia captar suas emoções.

Com o passar do tempo, cresci de bebê a uma criança pequena. Durante meu crescimento, recebi explicações sobre o que eu era e quem deveria ser.

Um produto aperfeiçoado da Casa Shadowgarden.

A Vampira cuja única existência era ressoar com a Árvore do Mundo. Meu poder era necessário para equilibrar o mundo e impedir que a Árvore do Mundo fosse ameaçada por forças externas. Comigo por perto, a Árvore do Mundo nunca mais cairia, mantendo a harmonia de todos os seres vivos.

Quando alcançasse a maturidade, me sintonizaria com a Árvore do Mundo e, eventualmente, me tornaria sua única protetora e a Vampira que eternamente amarraria seu poder à Casa Shadowgarden e aos Elfos.

Pelo menos… É assim que me disseram.

Ao longo dos anos, participei de um programa de treinamento especial para me preparar para meu futuro. Aprendi as artes mágicas da Casa Shadowgarden para satisfazer o meu sangue Vampírico. Estudei Magia Espiritual — que só os Elfos podem possuir — na esperança de que isso ajudasse na ligação com a Árvore do Mundo.

Tudo que me foi imposto visava aquele momento no futuro.

Eu um dia me tornaria a protetora da Árvore do Mundo e manteria o equilíbrio do planeta através do meu poder.

Eu precisava cumprir meu dever…

Era pelo bem de todos…

E aceitei meu destino. Desde que nasci, conhecia apenas um destino. Eu era apenas uma ferramenta a ser usada. Uma vida para ser sacrificada. Por isso, nasceu sem emoções.

Alegrias… Tristezas… Raiva…

Todos eles eram dispensáveis diante da missão maior.

Mas, quando finalmente tive a oportunidade de encarar a Árvore do Mundo cara a cara, ouvi uma voz diferente. Uma que contradizia minha missão e me oferecia uma resposta diferente sobre minha existência.

"Vá procurar o garoto, e ele te fará feliz…"

Garoto? Que garoto?

Não entendia o que o Espírito da Árvore do Mundo quis dizer. Meu propósito na vida… A única razão de eu ter nascido… Não era justamente servir à Árvore do Mundo? O que esse menino tinha a ver com tudo isso?

Eu não sabia, mas minha existência tinha como propósito servir à Árvore do Mundo. Se ela dizia que eu devia encontrar esse menino, eu faria tudo ao meu alcance para encontrá-lo. Contudo, não tinha mais pistas além daquela frase.

Felizmente, com o tempo, a profecia foi ficando mais clara. E, finalmente, quando completei onze anos, a Árvore do Mundo me deu uma resposta definitiva.

Jin…

Esse era o nome do garoto que me foi prometido.

Ele seria quem nos salvaria e quem a Árvore do Mundo buscava. Eu não sabia o que ela pretendia fazer com aquela criança, nem tinha interesse em descobrir suas intenções. O que eu focava era uma única coisa…

Jin… Ele me faria feliz.

Felicidade… Que emoção seria essa?

Ela mudaria minha vida para melhor? Alteraria alguma coisa de fato? Não podia deixar de ficar curiosa sobre isso.

Inicialmente, só cumpriria o dever que a Árvore do Mundo havia me atribuído. Mas, à medida que a data se aproximava, minha mente começou a divagar. Como seria o rosto de Jin? Que tipo de personalidade ele teria? Sorri bastante? Que emoções ele mostraria para mim?

Dia após dia, minha cabeça se enchia de pensamentos sobre Jin, e, pela primeira vez na vida, senti uma emoção nova. Algo que nunca imaginei ser possível no meu coração vazio.

Expectativa.

Como Jin seria meu prometido salvador? O que a profecia da Árvore do Mundo dizia a seu respeito? Como minha vida mudaria quando ele chegasse? E, mais importante… Como seria sentir felicidade?

Só de pensar nisso, meus lábios se curvaram involuntariamente em um sorriso. Sorriso? Essa era minha primeira vez sorrindo? Com o tempo, percebi que, mesmo antes de encontrar o menino, meu estado mental também começara a mudar.

E assim, quando chegou o dia prometido…

"Oi, meu nome é Jin Valter. Recentemente, passei a ser o irmão mais velho da Irina. Prazer em conhecê-la!"

A voz jovem de Jin ecoava pelos corredores da vila. Desde que recebi a profecia, já tinha visto como ele era apenas olhando através dos olhos das plantas próximas. Porém, essa foi a primeira vez que ouvi sua voz de verdade. Ele soava bem jovial, e seu tom ainda não tinha mudado. Mas, escondido em sua voz, havia um quê de confiança.

Foi também a primeira vez que o vi de perto, e a primeira coisa que me chamou atenção foi… Ele é muito mais bonito do que imaginei. Quando o via pelos olhos das plantas, parecia apenas uma mancha verde, sem muita cor na pele. Mas agora, vendo-o claramente, percebi que sua pele tinha uma tonalidade bege saudável.

Seu cabelo negro e brilhante era lisíssimo, e seus olhos azuis refletiam a mesma cor do céu matinal.

Quando entrou na vila pela primeira vez, foi como assistir ao nascer do sol logo de manhã.

E sua personalidade não ficava atrás em brilhantismo.

Gentil e afável, Jin logo conquistou o coração das outras meninas ao meu redor. Irina, Lilith e Ysabelle ficaram completamente encantadas, sorrindo com brilho cada vez que ele entrava na sala.

Como conseguem demonstrar suas emoções tão abertamente?

Meu coração doeu um pouco ao ver Jin, mas isso era tudo. Meu rosto não sorriu tão amplamente quanto o delas. Meus olhos não brilharam como os delas, e minha pele nunca ficou vermelha.

E, mesmo assim, as três meninas podiam expressar seu carinho por Jin com tanta facilidade.

Como elas conseguem fazer isso?

Sem perceber, observei as três e como elas interagiam com Jin, tentando descobrir alguma ideia de como deveria me comportar perto dele. Quando brincavam juntas, estudavam, treinavam… Meu olhar nunca se afastava de Jin.

Pensei que, se olhasse com atenção suficiente, talvez pudesse obter alguma pista sobre como alcançar a 'felicidade' prometida pela Árvore do Mundo.

Para minha surpresa, funcionou. Mas não do jeito que eu esperava.

Um dia, Jin se aproximou e começou a perguntar sobre meu passado. Embora tenha ficado um pouco surpresa com seu interesse, não hesitei em contar tudo o que sabia. Afinal, ele era o menino da profecia. Não havia nada de errado em ele descobrir a verdade.

No entanto, ao invés de aceitar nossos destinos… Jin disse algo surpreendente.

Ele queria me libertar.

Ele queria me salvar.

Ele queria… Me dar uma alma.

Não entendi bem o que ele quis dizer. Como poderia entender? Eu era alguém que nasceu sem emoções, e não sabia que sentimentos passavam por sua cabeça. Mas, com a paixão e a empolgação no tom que usou… Não pude evitar assentir sem perceber.

E, bem… Jin cumpriu sua promessa.

Os dias seguintes foram os melhores da minha vida.

Vivi emoções novas, que eu nunca imaginei sentir. Sempre que Jin brincava comigo, sentia uma leveza no coração. Sempre que ele se aproximava para conversar, meu coração acelerava um pouco mais.

O tempo passou rápido, e, sempre que achava que não podia sentir mais nada, Jin me surpreendia com outra experiência nova. Pouco a pouco, comecei a experimentar emoções que julgava impossíveis, e, por fim… Percebi o quanto a profecia era verdadeira.

Até o dia fatídico…

"AJUDA!!!"

Encharcada de chuva e sujeira, Ysabelle correu para dentro da vila, chorando. As lágrimas dela acordaram Irina e Lilith, enquanto eu esfregava os olhos, confusa.

Não era para Ysabelle estar treinando com Jin? Por que ela estava voltando chorando?

"Ysabelle? O que aconteceu?!"

"J-Jin! Nós fomos atacadas por um Demônio Externo!"

"Demônio Externo?! Aqui?!" Lilith gritou, chocada. "Como pode haver um Demônio Externo? Estamos longe de qualquer Portão!"

"N-Não sei!" Ysabelle chorava, tremendo como uma folha de outono caindo. "Estávamos treinando normalmente e… Aí ele apareceu e me atacou! J-Jin se colocou na minha frente para me proteger, mas…"

"Irmão! Onde ele está?!"

"Segu-guem-me!"

Sem saber para onde estavam indo, Irina e Lilith agarraram Ysabelle e correram na direção de Jin. Mas eu não precisava correr junto. Como podia falar com todas as árvores próximas, poderia salvar Jin mesmo sem mover um pouquinho. Fechei os olhos e espalhei minha consciência por todo prado, localizando Jin.

Felizmente, Jin ainda estava seguro. Ele e o Demônio Externo ainda lutavam, e parecia que nenhum deles tinha causado dano significativo.

Se for assim, posso salvá-lo! Enquanto usar minha magia, posso eliminar o Demônio Externo e protegê-lo de qualquer perigo! Eu posso…

"Pare."

O-Que?

"Rosalyn… Pare… É o destino dele."

Árvore do Mundo?

"Pare… É o destino dele… E seu dever…"

Meu dever?

Seria essa a profecia? Jin nos salvaria? Era assim que ele ia nos salvar? Lutando contra o Demônio Externo?

Não, isso não faz sentido… Ele deveria me fazer feliz. Ele deveria ser prometido a mim. Ele deveria… me dar uma alma.

Por que esse seria seu destino? Por que devo segurar minha mão? Eu poderia protegê-lo agora mesmo, e ainda assim… Por que você está me impedindo?

"Não faça nada… É seu destino…"

Não fazer nada? Eu via Jin sendo derrotado. O Demônio Externo o atacava sem descanso, e não demoraria para que ele não aguentasse mais. Por quê? Por que devo ficar de mãos atadas?

Esse é meu destino? Assistir impotente enquanto Jin perece?

De repente, minha habilidade de controlar as árvores foi bloqueada, e toda visão que tinha de Jin desapareceu. Sem saber o que tinha acontecido, corri freneticamente na direção dele. Não me lembro da última vez que corri assim com tanta força. Meu fôlego estava pesado, meu rosto completamente corado. Meu corpo doía, e meus olhos se encheram de lágrimas.

O que é isso?

Outra emoção que nunca tinha sentido antes.

Estava rogando… Rogando para que nada acontecesse ao Jin. Eu não queria ver nada com ele. Não queria que seu sorriso radiante parasse de iluminar minha vida.

Se o destino dele for morrer por nós… Eu rejeito esse destino.

E mesmo assim… Quando cheguei ao local…

"Jin… Jin… Jin…!!!"

Lágrimas escorriam do rosto das três garotas. Ysabelle segurava o garoto ferido e ensanguentado em seus braços, enquanto Irina ajoelhava ao lado dele. Lilith chorava, desenhando símbolos estranhos no chão, e quanto a mim…

Pela primeira vez na minha vida…

Gritei.