Minha irmãzinha vampira

Capítulo 118

Minha irmãzinha vampira

Os próximos dias de Jin foram passados em um estado de transe.

Durante todo o tempo que passou na mansão dos Vampiros, Jin pensava obstinadamente em cuidar de sua recém-descoberta irmã mais nova, além das outras meninas que tinham entrado em sua vida. Não havia segundas intenções por trás de suas ações. Jin só queria passar tempo com essas quatro garotas bonitas, pois se sentia solitário por estar sozinho.

Com Irina, Jin encontrou uma irmã mais nova adorável. Com Lilith, encontrou uma companheira de conversas à sua altura. Com Ysabelle, descobriu alguém com quem podia treinar e orientar.

As três meninas davam a Jin uma realização única em sua rotina monótona, algo que ele valorizava e amava.

E ainda assim… Rosalyn era a única coisa em seus pensamentos.

Desde aquele dia na margem do rio, a mente de Jin ficava obsessivamente presa às palavras da garota de cabelo verde. O fato de tudo ter sido predestinado por ela, o fato de ela o chamar de seu salvador e, principalmente… aquela expressão sombria enquanto implorava para que ele a salvasse.

As palavras de Rosalyn ecoavam na cabeça do jovem menino, e ele não conseguia parar de pensar nelas.

Desde então, toda vez que se encontravam, os olhos de Jin se voltavam para o lado de Rosalyn. Sempre que ela ficava olhando as árvores distraída, Jin a observava. Sempre que ela descansava os pés na margem do rio, Jin a acompanhava. Sempre que ela brincava com a grama, Jin a assistia.

As outras três meninas ficavam irritadas ao perceberem que toda a atenção de Jin se concentrava na jovem Rosalyn, sem entender por que ele tinha se encantado tanto por ela.

Mas elas não conseguiam entender.

Como poderiam?

Quando Rosalyn observava as árvores, ela comunicava-se com suas almas. Ela sintonizava sua essência à natureza, o que lhe trazia uma sensação de paz que escapava de sua vida já tão agitada. Só imaginar conversando com cada planta ao redor já sobrecarregava a mente de Jin, e ainda assim Rosalyn fazia isso o tempo todo, durante suas horas de vigília.

Na verdade, Jin nem tinha visto Rosalyn dormir de verdade desde que se conheceram.

Talvez fosse um efeito colateral de tal poder avassalador. Rosalyn nunca conseguia descansar de fato. Todas as almas ao seu redor eram suas amigas. Desde o nascimento, sua mente devia estar sendo bombardeada com vozes, gritos e murmúrios. Só de pensar no estresse que ela suportava, Jin ficava à beira de enlouquecer — imagine então a angústia constante de Rosalyn.

E, ainda assim…

A menina de cabelo verde nunca soltou uma palavra de reclamação.

Parecia que ela havia aceitado seu destino. Sabia o que devia fazer e se entregava ao seu destino. Ser o produto final da Casa Shadowgarden. Ser a salvadora da Árvore do Mundo e a protetora dos Elfos. E… estar eternamente acorrentada.

Jin observava o sorriso sincero e ingênuo daquela jovem, somente para sentir uma fúria ardente subir por suas veias.

Uma menina tão pura e inocente sendo forçada a suportar uma carga tão pesada desde tão jovem…

“Rosalyn, o que você está fazendo?”

Impulsionado por não conseguir mais controlar seus sentimentos, Jin se aproximou da jovem garota de cabelo verde, que parecia estar olhando para o nada. Se fosse qualquer outra pessoa, pensaria que Rosalyn estivesse sonhando acordada e não teria coragem de conversar com ela. Mas Jin conhecia sua verdade.

“Conversando… Árvores…”

“Sério? Quantas delas?”

“… Dez mil?”

“E-e entendi...”

Mais uma vez, a garota murmurou palavras incompreensíveis. Mas Jin não se deixou abalar. Aproximando-se mais dela, continuou a questionar sobre a vida de Rosalyn.

“O que elas estão dizendo?”

“Nada de mais… Talvez mais chuva?”

“Entendi. Se só estão falando nisso, você não precisa ficar se comunicando com elas o tempo todo, né?”

“É… meu dever…”

O rosto impassível de Rosalyn respondia a Jin, fazendo seu coração afundar no peito. A menina falava como uma máquina, e não como a brilhante garota de onze anos que deveria ser. Quando Irina, Lilith e Ysabelle estavam ocupadas com suas próprias tarefas, Rosalyn era forçada a cumprir sua missão.

Ela precisava dialogar com cada planta ao seu redor para garantir que o ecossistema permanecesse equilibrado e em harmonia.

Era uma obrigação imposta a ela, e Jin sentia-se triste por isso.

“Rosalyn… Você se sente presa na sua vida?”

“… Presa?”

“Sim, presa.”

Jin se inclinou e segurou a pequena e delicada mão da menina. Era uma mão tão pequena, mas que carregava tanto… Jin não conseguia entender a lógica de dar tamanha responsabilidade a uma criança tão jovem como Rosalyn, a ponto de destruir sua inocência de infância.

Contrariando seu Aspecto de Vampira, Rosalyn não conseguia sonhar.

A Floresta Sonhadora era um poder que permitia ao usuário conversar com todas as árvores. Entretanto, ironicamente, quem possuía esse poder não podia sonhar. Ela era obrigata a cumprir seu dever, mesmo que isso destruísse sua infância. Era obrigada a interpretar profecias da Árvore do Mundo e jurou proteger esse ser antigo com tudo que tinha.

Nada na vida de Rosalyn era decidido por ela. Ela era uma marionete, uma boneca controlada por aqueles que a criaram.

Nunca teve uma escolha verdadeira na vida. Nunca fez algo por si mesma. Nunca… teve permissão para sonhar.

Irina sonhava com uma família. Lilith sonhava em aprofundar sua pesquisa de magia. Ysabelle sonhava com um cavaleiro que a salvasse e a tornasse forte o suficiente para se sustentar.

Mas do que Rosalyn sonhava?

“Eu… não estou… presa… É meu destino…”

“QUE SE FERRRRA!!”

O grito visceral de Jin assustou a jovem, fazendo suas ombros recuarem. Ela olhou diretamente para o garoto, cujo olhar azul brilhava com uma chama de desejo ardente.

“Rosalyn… Não, Rosa… Você não é uma marionete. Você é uma pessoa de verdade, viva e respirante.”

“P-pessoa?”

Rosalyn ficou confusa com a afirmação do menino. Durante toda a sua vida, ela foi vista como uma ferramenta, uma arma para proteger os Elfos e avançar os interesses do Shadowgarden. Na verdade, a única razão de ela estar na mansão foi porque a Árvore do Mundo disse que esse era seu destino.

Foi a primeira vez que alguém a chamou de… pessoa.

E Rosalyn não sabia como processar essa informação.

“ Acho que sei por que a Árvore do Mundo disse que sou seu salvador predestinado agora…”

“Q-que… quer dizer…?”

“Quer dizer… Eu serei quem te dará uma alma, Rosa.” Jin sorriu confiante e radiante, colocando a mão da garota no seu peito. “Agora, você é uma menina quebrada. Eu vou consertar isso! Vou te dar a felicidade que você merece!”

“O-okay?”

Rosalyn ainda estava confusa, mas assentiu a cabeça para acompanhar o fervor de Jin.

Revigorado por um novo propósito, Jin voltou ao seu estado habitual. Agora, ele tinha uma missão: fazer todas as quatro meninas felizes. E, com Rosalyn incluída, ele percebeu que precisava dar o primeiro passo vital.

“Tudo bem, vamos de volta à mansão! Tenho certeza de que já estão acordadas!”

“...”

Rosalyn assentiu, sentindo o aperto mais firme de Jin na sua mão, em vez de soltá-la. Observando o garoto segurar sua mão com delicadeza, como se fosse seu maior tesouro…

Uma sensação misteriosa de calor invadiu a alma da jovem. Era um sentimento que ela não reconhecia, mas que acolheu de braços abertos. Era algo muito mais agradável do que a solidão constante, e trouxe uma nova cor à sua vida monótona.

E mal sabia Rosalyn… que sua vida seria constantemente colorida com novas tintas a cada dia.

A insistência de Jin em fazer as quatro garotas felizes teve uma consequência interessante: todas começaram a se dar bem entre si. Bem, elas só discutiam, mas era muito melhor do que o clima frio do primeiro dia.

Elas brincavam umas com as outras, aprendiam os hábitos de cada uma, chamavam umas às outras pelos apelidos…

Chegaram até a treinar juntas, trocando segredos de suas respectivas Casas.

De forma surpreendente, as quatro Casas Guardiãs conseguiram seu desejo. As quatro meninas, que eram consideradas futuras representantes da raça Vampiro, estavam se tornando tão próximas quanto irmãs, quase todas unidas a cada dia.

Até Rosalyn, que desde o primeiro dia foi excluída por seu comportamento estranho, começou a se integrar lentamente ao grupo.

Pela primeira vez em sua vida, ela foi mostrada riso e sorrisos. Pela primeira vez, ela teve uma família. E pela primeira vez… ela sentiu uma emoção quente, que jamais achou que seria possível em seu coração frio.

Era uma história perfeita para a jovem Rosalyn…

Até que…

Aquele dia fatídico chegou.