Minha irmãzinha vampira

Capítulo 30

Minha irmãzinha vampira

Após uma breve pausa, Irina e eu caminhamos até o Kouthus para verificar sua derrota. Como tinha usado meu ataque mais poderoso até então, ele tinha sofrido um dano enorme, com a maior parte de seus tentáculos dilacerados. Seu único olho estava cheio de sangue e parecia que toda a vida restante estava se esvaindo do corpo dele.

— Não morreu com isso? Que soldado teimoso.

Os Demônios Externos realmente eram algo impressionante. Se fosse qualquer humano comum, teria sido destruído pelo impacto de um meteorito improvisado que eu criei. No entanto, o Kouthus sobreviveu a um golpe direto do meu ataque mais forte.

— Irina, que tal você terminar o serviço? Conta para sua lista, né?

— Huh? Mas você foi quem derrubou ele, irmão? Não parece justo ficar com a sua presa…

— Sua boba. Não é como se fosse conseguir alguma coisa ao pegar essa morte.

Por mais que eu estivesse nessa Caçada de Inverno, eu era praticamente o apoio de Irina. Todas as minhas conquistas só aumentariam a lista dela, então não fazia sentido eu dar o golpe final. Além disso, ao descobrir a verdadeira natureza da minha telecinese, perdi totalmente o interesse pelo Demônio Externo. Na verdade, agora eu estava mais animado em testar os limites do meu poder, pois finalmente entendia do que se tratava.

— Ainda assim… Não me parece justo ficar com seus méritos.

— Hah… Se você realmente quiser me compensar, pode me responder a uma pergunta que fiz antes?}} Olhei com sinceridade para minha irmã mais nova e repeti: — Você vai viajar comigo para conhecer os outros três, né?

— T-Isso!!!

Para garantir que Irina não tivesse se esquecido da minha proposta, eu fiz questão de ela lembrar bem. Sei que ela não se sente confortável ao falar sobre os outros três, mas tenho plena consciência de que eles existem. E mais, meu espírito anseia por eles a cada dia que passa.

Costumo ver imagens deles na minha memória turva, e enquanto minha alma se recupera, também voltam as emoções que mantenho seladas. Sei que, assim como o vínculo que compartilho com Irina, os outros três também são pessoas importantes para mim. Ainda não entendo o motivo, devido à minha amnésia irritante.

Porém, eu não podia simplesmente deixar Irina sozinha na Casa do Inverno Eterno, principalmente porque sei o quanto ela sacrificou para estar comigo. Não ia abandonar minha adorável irmãzinha assim. Por isso, ela precisaria acompanhar minha aventura.

Mas antes que pudesse ouvir a resposta dela…

— ... Não estamos sozinhos.

Quase que ao mesmo tempo, Irina e eu viramos nossas cabeças para uma fresta na floresta. Como Vampiros Verdadeiros, nossos sentidos estavam muito além dos humanos comuns, e perceber mudanças no ambiente era tão natural quanto respirar, mesmo a quilômetros de distância. E, de fato, cerca de uma dúzia de Vampiros emergiram do nosso campo de visão.

— Senhoria Irina, pedimos desculpas pela nossa intromissão.

O primeiro a chegar até nós foi um jovem encantador, que possuía traços semelhantes aos da garota ao meu lado. Com longos cabelos brancos e um rosto delicado, quase como moldado em mármore, quase confundi o Vampiro do Inverno Eterno com uma mulher andrógina.

— Quem são vocês e o que querem?

Obviamente, Irina estava em alerta. Não havia muitas pessoas que ela pudesse chamar de aliadas na Casa do Inverno Eterno, e aquelas que juraram lealdade a ela estavam todas ao seu lado. Os demais vampiros tinham seus próprios planos e desejos. E, para eles, se aproximar sem cerimônia…

— Meu nome humilde não merece menção. No entanto, faço parte da corporação juvenil do Lorde Damien. Estamos participando desta Caçada de Inverno em nome dele.

— Damien de novo…

É um nome que continuo ouvindo. Talvez seja pelo fato de ser a facção mais fraca, desesperada para melhorar sua posição na família, desde atraí-lo para o lado do irmão sanguíneo de Irina até mexer com a gente de forma tão descarada. Parece que essa não será a última vez que vou ter um confronto com esse typically babaca e sua facção.

— Sinto muito, mas estávamos atrás desse Kouthus há algum tempo. Aparentemente, o assustamos na direção de vocês. Para provar, deixamos uma cicatriz nas costas dele.

Para sustentar sua afirmação, o Vampiro Verdadeiro fez seus subordinados virar o Kouthus de costas e mostrou uma cicatriz profunda que eu não tinha percebido antes. Não, dadas as circunstâncias, parecia bem provável que esse Demônio Externo estivesse fugindo do grupo deles antes de cruzar com o nosso.

— Humm, e aí? Quer dizer que vocês deveriam levar o crédito pela morte?

— ... Não somos tão insolentes a ponto de pedir isso, — continuou sorrindo o homem, disfarçando habilmente suas intenções. — É que… estamos perseguindo esse Kouthus há uma hora, e tivemos algumas baixas por causa dele. Permitir que caia nas mãos de outro… não seria bem visto pelos meus irmãos feridos. Se for possível, pedimos que nos deixem ficar com esta morte.

— Prometemos recompensar vocês generosamente ao final da Caçada de Inverno.

Hoh? Então era questão de vingança? Bem, não pode ser tão simples assim…

— Por que eu deveria ceder a vocês? Esse Kouthus veio na nossa direção, e nós o matamos. Mesmo que vocês estivessem caçando, quem o matou fomos nós.

— Como já mencionei, ficaríamos muito gratos se nos concedesse esta vitória. Recompensaremos generosamente vocês por isso.

— Mesmo que vocês… —

Antes que Irina pudesse negar as palavras deles, puxei-a de lado e sussurrei: — Irina, entrega pra eles.

— B-Brother?! Mas essa é sua presa! Eles não podem…

— Irina, — minha voz ficou suave o suficiente pra que nenhum deles ouvisse, — acho melhor a gente sair daqui antes que eles façam alguma jogada. Ainda mais agora que estão querendo nos roubar a presa.

— Você quer dizer… Que eles vão começar uma luta?

— Não sei exatamente qual é a intenção deles, mas…

Mais uma vez, analisei os indivíduos que nos encaravam. Quinze Vampiros saíram do bosque. Todos eram Vampiros Verdadeiros, não Servos de Sangue, e a densidade do poder mágico deles era bem acima da média. Para comparação, se a energia mágica do Trent equivale a um javali, esses Vampiros Verdadeiros tinham toda umauras que ultrapassavam a de um urso.

Além disso, exceto pelo que conversou com a gente, os outros não tinham feições amigáveis sequer por um instante.

Mas o que mais me incomodava mesmo era…

— Disseram que estão perseguindo o Kouthus há uma hora, mas as roupas deles estão limpas como se tivessem saiu intatos. Não seriam tão ilesos se realmente tivessem tido uma batalha difícil?

— ... Você tem razão.

Todo o aspecto deles era suspeito. Desde a precisão em saber onde estávamos até às roupas impecáveis. Se eu fosse apostar, apostaria que eles vieram com um propósito oculto.

— Se eles tentarem te ferir, tudo bem. Mas, se for apenas um Demônio Externo aleatório, não precisamos arriscar nossas vidas só pra enfrentá-los. Além disso, matar um Kouthus não significa nada pra gente. Melhor recuar.

— Você tem um bom ponto…

A segurança vem em primeiro lugar. Não ia arriscar a vida da Irina e dos meus pais só por vaidade. Felizmente, Irina concordou com minha análise e gritou para os convidados indesejados.

— Se querem tanto o Kouthus, podem ficar com ele.

— ... Obrigada, senhoria Irina. — Como imaginei, o líder dos Vampiros vacilou por um instante. É evidente que ele não esperava que a gente entregasse o Demônio Externo tão rapidamente. Ainda assim, como profissional, controlou sua frustração e continuou:

— Gostaria que eu redigisse um acordo?

— Não, não há necessidade disso.

Irina franziu as sobrancelhas com irritação e segurou meu braço. Viramos abruptamente e voltamos rapidamente em direção a Luminita, Variel e meus pais. Mesmo com as costas viradas, a maior parte dos nossos sentidos continuava fixada nos quinze Vampiros Verdadeiros.

Um… Dois… Três passos.

Continuamos andando, sem nos importar muito por termos entregado um Demônio Externo de graça. Mas os Vampiros Verdadeiros atrás de nós nem se mexeram. Normalmente, quando um grupo de caça consegue a presa após uma hora de perseguição, matam na hora para ficar com a recompensa. Mas nenhum dos quinze Vampiros fez isso.

Na verdade, todos eles simplesmente ficavam olhando para Irina e eu. Como se…

Fôssemos a presa deles o tempo todo.

BOOM!!!

— Eu sabia!

Assim que o segundo Vampiro Verdadeiro fez movimento, rapidamente me virei enquanto convocava minha Arma da Alma. Como em uma sincronia, todos os quinze Vampiros Verdadeiros pularam no ar, cada um exalando uma quantidade tremenda de poder mágico de suas Auras.

Quase instantaneamente, armas surgiram em suas mãos, e alguns tinham convocado companheiros animais para ajudar na luta. No entanto, o objetivo deles era claro: queriam lutar, e queriam sangue.

— Jin!!!

Meus pais foram os primeiros a gritar o ataque. Minha mãe puxou sua varinha e criou instantaneamente uma parede de fogo, separando-nos dos atacantes. Meu pai também bateu as mãos e avançou em nossa direção. Já Variel e Luminita, ao invés de se apressar para me defender, voaram até a Irina, garantindo que ela estivesse protegida de qualquer ameaça.

— Seus babacas! O que vocês pensam que estão fazendo?!

— Não nos culpem, Princesa. Estamos apenas seguindo ordens!

Cinco dos Vampiros Verdadeiros correram em direção à Irina, cada um parecendo querer mirar na cabeça dela. Variel acenou a mão e convocou milhares de agulhas de gelo com um gesto calmo. Em um segundo, as agulhas circularam ao redor dele em alta velocidade, formando uma camada protetora que só poderia ser penetrada se alguém quisesse ser despedaçado.

Mas, infelizmente, parecia que o alvo dos Vampiros Verdadeiros não era a Irina.

Os outros dez voavam mais rápido do que a maioria das aves e já tinham me cercado. Meus pais não eram considerados uma ameaça por eles, então, apenas dois deles permaneciam ao lado deles, enquanto a maior parte do grupo concentrava esforços em eliminar a mim.

— IRMÃO!!!

O grito de Irina ressoou fortemente na minha mente. Ah, entendi... Eles queriam me tirar do lado da Irina. Não sei o que motivava isso, mas me vi como uma praga que precisava ser retirada a qualquer custo.

Hahaha… Isso é frustrante.

Mesmo treinando tanto tempo, depois de despertar minha Aura, ainda sou subestimado. Mesmo tendo provado que sou capaz, ainda pensam que sou uma jogo de criança que a Irina trouxe aqui.

Assim funciona o mundo dos Vampiros. Uma sociedade onde só os mais poderosos têm voz, e quem não consegue lutar é tratado como segundo escalão.

Mas eu não sou um de segunda categoria, estou entendendo?

Sou um homem que lutou contra a própria morte. Sou alguém destinado a subir ao topo e, mais importante…

Sou o irmão mais velho da Irina.

Não posso morrer para esses seguidores de segunda…

— Pare!

Levantei minha mão e concentrei todo o poder que tinha na aliança do meu dedo médio. O espaço se contorceu, e a tessitura da nossa dimensão tremeu. Em um piscar de olhos, prendi todos os atacantes numa espécie de gargalo espacial.

— O-Que é isso?!

— F-Foda-se, cuidado! A telecinese dele é forte demais!

Os Vampiros Verdadeiros amaldiçoaram e tentaram se libertar do meu hold espacial. Surpreendentemente, muitos conseguiram, indicando que há diferenças entre Vampiros Verdadeiros bem treinados. Não eram Servos de Sangue, que não resistem a mim por natureza, nem Vampiros fracos como Trent, que falham ao tentar resistir.

Eram elites treinadas e que lutaram para serem as melhores.

Se estivéssemos em qualquer outra situação, eu talvez até pudesse fazer amizade, pedir que fossem meus parceiros de treino. Mas…

— Fiquem atentos à telecinese dele! Assim que eliminarmos essa, ele vira um mero brinquedinho!!!

— Mira na cabeça dele!!!

— Não, vocês não!

Meu pai conseguiu se libertar do empate e tentou correr para o meu lado. Minha mãe também se esforçava nesse sentido, liberando feitiços aleatórios com a varinha, mesmo correndo risco de ser atingida. Se nada fosse feito, eles poderiam se machucar com os ataques dos Vampiros, que claramente estavam concentrados neles.

E eu não vou deixar que isso aconteça.

— Mãe! Pai! Pararem onde estiverem!

Saltei dezenas de metros e desviei facilmente dos ataques. Levitando no ar, garanti que todos pudessem me ver. Seja Irina, meus pais ou os oponentes que tentavam tirar minha vida.

Deixei claro que todos percebessem: eu não sou alguém fácil de derrubar. Não sou uma criança que precisa de proteção. Não sou uma presa fácil. Sou…

Jin Valter.

CRACKKKK!!!

— N-Negócio…

— O-Que é isso?! O Cascata de Gelo?! Está se desmontando?!

Usando toda minha energia mágica restante, foquei na coisa mais valiosa que a Casa do Inverno Eterno tinha: sua muralha de gelo, símbolo de sua invencibilidade. Não por acreditar que pudesse destruí-la, pois nem eu era ingênuo a esse ponto.

Minha intenção era apenas tirar alguns pedaços do icônico Cascata de Gelo, a Necrópole do Inverno que eles tanto se orgulhavam, para atacar os idiotas que achavam que eu era um frouxo.

E, de fato, nenhum dos meus adversários se mexeu. Eles assistiram horrorizados enquanto eu abria um buraco no símbolo de orgulho deles, na parede de gelo supostamente invulnerável que protegía a Casa do Inverno Eterno, usando minhas habilidades espaciais.

Select shards—quinze pedaços enormes—caíram na minha direção, pairando como lâminas levitantes. Usando meu controle do espaço, garanti que as fragmentos agissem como mísseis teleguiados, nunca perdendo o alvo. E, enquanto os Vampiros Verdadeiros ficavam pasmos, levantei o dedo médio e direcionei minha aliança brilhante para os indivíduos que tentavam acabar comigo.

Só que, desta vez… eu não seria quem veria a Morte com foice na mão.

— Morram, seus idiotas.