
Capítulo 2
Minha irmãzinha vampira
"Jin~ Viemos fazer uma visitinha!"
Ao ouvir uma batida na porta, desvie a atenção do livro nas minhas mãos e observei duas silhuetas se revelando do outro lado da porta. Sem hesitar, ela foi aberta com toda a naturalidade, uma mulher de meia-idade liderou a comitiva e se aninhou na cadeira bem ao lado da minha cama.
Ela vestia uma jaqueta grossa, provavelmente para se proteger das correntes de neve rápidas do nosso inverno. Porém, assim que pisou no meu quarto, a mulher tirou a jaqueta, revelando um corpo bem definido, que não era nem gordo nem magro demais. Ela ajeitou o cabelo preto e brilhoso e me lançou um sorriso acolhedor.
Alguns instantes depois, um homem enorme seguiu os passos da mulher, mal conseguindo passar a cabeça pelo batente da porta do meu leito. Em suas mãos, carregava uma cesta de guloseimas, essencial para todos os pacientes do hospital, e nas costas, havia uma mochila pesada, que parecia ter o mesmo peso que eu.
Como um verdadeiro fisiculturista, o homem parecia definido, com músculos puros. Na verdade, não seria estranho presumir que fosse moldado em mármore duro. Com sua altura e porte imponente, parecia capaz de quebrar qualquer coisa que desejasse, pois nós, meros mortais, não conseguiríamos competir com sua força.
"Mãe... Pai... Vocês têm aqui."
Sorrindo feliz com a chegada dos meus pais, coloquei o livro de lado e continuei: "Vocês estão adiantados."
"Hehe, como poderia deixar meu filhote precioso esperando?"
Os olhos da minha mãe, de um lindo tom de safira, brilharam de alegria enquanto ela se aproximava e começava a fazer carinho na minha cabeça.
"Mãe… Eu tenho vinte e cinco anos."
"E daí?! Não importa o que aconteça, você ainda é meu filho! Está rebelando contra sua mãe?!"
"Acho que você está atrasada uns dez anos nisso..."
"O quê?! Isso é puberdade tardia?! É puberdade tardia, não é?!"
"... Pai, faz alguma coisa com ela."
"Haha, você conhece sua mãe. É só deixá-la soltar o rolo que ela acaba enjoando."
Meu pai sorriu de leve, ignorando meu apelo. Ele abriu a mochila que trouxe e começou a arrumar meu quarto. Uma troca de roupas e roupas íntimas novas… Uma variedade de lanches e doces… E, mais importante, uma série de livros recém-impressos.
Para ser honesto, eu me sentia culpado por pedir tanto a ele, mas não tinha muito o que fazer. Estava preso a essa cama de hospital há cerca de três semanas, e meu contato com o mundo exterior era bastante limitado. Além dos meus pais, apenas alguns poucos visitantes vinham me ver. Falando nisso…
"Ah, alguém aqui?"
Pegando a xícara meio cheia que estava na mesa de centro a um metro da minha cama, meu pai me olhou com curiosidade e perguntou.
"Sim, o professor Cain está aqui. Ele está encontrando um amigo neste momento, deve voltar em um instante."
"Professor Cain? Por que ele está aqui?"
"Bem, isso..."
Era constrangedor dizer isso... Ainda mais na presença da minha mãe, que certamente iria reagir como uma corda de catapulta cortada. Felizmente, tinha alguém que viria em meu socorro.
"Elna? Jael? Vocês estão aqui."
Um homem idoso, de rosto enrugado e expressão sábia, entrou na sala poucos minutos após meus pais chegarem. Bem, eu digo idoso, mas ele ainda tinha por volta de sessenta anos. O olhar profundo escondido por trás de um par de óculos grossos dava a impressão de que tinha mais anos do que realmente tinha. As muitas rugas que tinha também não ajudavam.
Ele vestia um sobretudo grosso e usava um chapéu ao estilo vitoriano. Um pouco estranho nos tempos atuais, mas que combinava com sua aparência de acadêmico. (1) Após remover a neve do chapéu, pendurou seus trajes e virou-se para nossa família.
"Professor? Não esperávamos por você hoje."
Minha mãe foi quem quebrou o silêncio. Ela foi até a estufa e preparou uma nova xícara de café, cedendo o assento central ao velho sábio.
"Haha, não precisa ser tão formal. Terminei meus assuntos com Jin hoje."
"Que assuntos?"
"Ah? O menino não te contou?" O professor Cain olhou para mim por um momento breve. Uma fagulha de entendimento passou por sua mente, antes que um sorriso brincalhão tomasse seu rosto, bem diferente do seu modo mais intelectual.
"Nosso artigo sobre como partículas subatômicas influenciam o fluxo da magia foi indicado a um prêmio. Depois de anos de revisão por pares e testes de simulação, a teoria se confirmou. Mesmo com a concorrência forte este ano, acho que temos boas chances de ganhar!"
"..."
Meus pais ficaram boquiabertos por um momento, sem compreender a gravidade das palavras do professor. Porém, como ex-potências, logo recuperaram o juízo. Em especial, minha teimosa mãe…
"QUE NOTÍCIA MARAVILHOSA!!!"
Exultante, minha mãe pulou de alegria, como uma gazela, e voltou a fazer carinho na minha cabeça.
"Todo seu esforço finalmente valeu a pena, Jin!!! Ser reconhecido pela Associação de Magia é um grande feito!!!"
"Fique calma, mulher! Você está machucando o Jin!"
A rapidez com que bateu no meu cabelo me deixou zonzo. Física e mentalmente. Foi só com a intervenção divina do meu pai que consegui evitar que minha cabeça se partisse ao meio.
"S-Sinto muito, é que! Como mago que sou, sei qual prêmio o professor está falando! Não é algum prêmio comum que caíria nas mãos de Caçadores normais. Esses prêmios só são entregues a estudiosos que contribuem para o avanço da ciência mágica! Era algo que só poderia sonhar em conquistar!!!"
Minha expressão se transformou em um sorriso.
Como coautor do artigo, eu sabia bem o quão prestigioso era o prêmio. E, embora fosse educado manter a modéstia e não vangloriar-se, ainda assim era empolgante ouvir alguém reconhecer a grandiosidade da minha conquista.
Afinal… Essa era possivelmente a única coisa na minha vida que eu poderia conseguir.
"O professor Cain fez a maior parte da redação e dos testes."
"Ah, não tente ficar acuado! Você tava se gabando do quão bom era por teorizar tudo isso!"
"... Não pode me deixar pelo menos parecer um pouco melhor na frente dos meus pais?"
Uma gargalhada tomou conta logo em seguida. Como ex-professor e aluno, o professor Cain e minha mãe passaram um tempo conversando sobre a vida um do outro enquanto meu pai arrumava as coisas. Como tínhamos um tempo livre, meu pai decidiu me ajudar a tomar banho e trocar de roupa.
Apesar de parecer um pouco constrangedor pedir ao meu pai para lavar-me, mesmo tendo vinte e cinco anos, não tinha muito o que fazer. A alternativa seria pedir às enfermeiras para me ajudarem, mas até mesmo um aleijado como eu tinha orgulho. Não poderia pedir a mulheres com quem não tinha relação para limpar minhas partes íntimas ou algo assim.
Após um banho rápido, fui colocado na cadeira de rodas e saí do banheiro, só para ver o professor Cain e minha mãe esperando na porta, com roupas de inverno.
"Jovem, vou sair primeiro." O professor Cain sorriu com gesto. "Desculpe não poder ficar mais tempo. Tenho algumas reuniões na universidade."
"De jeito nenhum! Obrigado por terem vindo!"
"Haha, agradeço por entender! Até logo!"
O velho se curvou levemente e deu meia-volta, saindo do quarto. Observando o homem partir, minha mãe rapidamente comentou: "Vou levar o professor até a entrada." Ela acrescentou, dirigindo-se a meu pai e a mim: "Querido, fique com o Jin um pouco mais, tá bom?"
"Com prazer!"
Dois figuras caminhavam lentamente pelo corredor do hospital coberto de neve, separando os blocos de atendimento. A figura um pouco mais alta seguia atrás da sombra mais velha, atentamente observando cada movimento do homem. Aos poucos, a figura mais velha parou, e com as mãos atrás das costas, olhou para trás na direção da mulher que o seguia.
"Obrigado por visitar o Jin hoje, professor. Sei que sua agenda está cheia agora. Ele pode não dizer, mas significa muito para o Jin que você veio pessoalmente para trazer a notícia."
"É o mínimo que posso fazer," o professor Cain fez uma pausa e balançou a cabeça. "O garoto é um gênio. Muito mais inteligente do que qualquer um da sua geração. Você criou ele bem, Elna."
"Sim! É meu orgulho e minha alegria!"
"Impressiona-me que uma criança tão inteligente venha de alguém como você."
"Ei! Não ia dizer isso, né?!"
A dupla mentor e aprendiz riu junto, uma sintonia de boas risadas. Eles tinham uma longa história, que começara quando Elna era apenas uma maga iniciante querendo aprofundar seus conhecimentos na magia arcana. Sem dúvida, além de seus pais, o professor Cain era quem a conhecia há mais tempo.
E ouvir o homem que ela admirava mais elogiar seu próprio filho... Isso encheu Elna de uma felicidade pura. Como um anjo que ascendeu ao céu, suas feições deslumbrantes reluziam à luz do céu de inverno. Ao falar do filho, ela inflou o peito de orgulho, e seu rosto refletia a felicidade mais pura.
"Hah… Que pena… Se ele estivesse saudável, Jin poderia ter potencial para superar qualquer mago vivo! Até mesmo os Caçadores poderosos não veriam comparação com seu brilho!"
"Como ex-Caçador, prefiro não comentar."
Elna bufou desafiadoramente, embora com toques de alegria em suas palavras sarcásticas. Como ex-Caçadora, ela sabia bem o quão poderosos eram esses guerreiros. Caçadores eram super-humanos treinados ao limite máximo das capacidades humanas.
Magos capazes de conjurar um tornado com um único feitiço... Guerreiros que podem partir uma montanha com um golpe... Arqueiros que acertam alvos a um continente de distância…
Existiam várias categorias de Caçadores, cada vez mais fortes que a anterior.
No entanto, mesmo entre todos os Caçadores de elite que Elna viu na sua vida, poucos poderiam rivalizar com Jin em potencial puro. Herdando tanto a magia da mãe quanto a força do pai, Jin, como ela lembrava da infância, era um verdadeiro monstro apenas esperando para ser criado.
Infelizmente, o céu nem sempre iria assistir passivamente.
Quando Jin tinha dez anos, sofreu um grave acidente quando um Demônio Externo o atacou. Pouco se sabe sobre o ataque, pois nem Elna nem Jael estavam lá para protegê-lo, e o garoto sofreu uma perda de memória severa logo após o ocorrido.
O tipo de Demônio Externo que o atacou… O que ele fazia antes do ataque… Como conseguiu sobreviver… Tudo isso se perdeu na história.
Mas algo era certo…
O futuro de Jin foi roubado ali mesmo, naquele instante.
O ex-prodígio virou um doente frágil, que não podia conjurar feitiços sem sofrer retaliações. Uma doença misteriosa o fazia desmaiar periodicamente, e, por consequência, seu corpo enfraquecia. Dos doze meses no ano, Jin passava regularmente três deles entrando e saindo de hospital.
Vários médicos, estudiosos e curandeiros examinavam o menino, mas ninguém conseguiu determinar com precisão a causa de sua doença misteriosa. Tudo o que sabiam era que sua alma tinha sido danificada pelo ataque. Como isso aconteceu? Como curá-lo? Ninguém tinha uma resposta.
E até hoje, ninguém conseguiu descobrir.
"Elna, acabei de conversar com o diretor do hospital, e chegamos à mesma conclusão. Agora que esgotamos todas as opções disponíveis, é hora de buscar alternativas."
"Alternativas como?"
"... Outras raças."
"..."
Elna permaneceu em silêncio. Seu corpo tremia, não por raiva… Mas por uma silenciosa demonstração de resistência.
"Será que eles vão se importar de ajudar o Jin?"
"Difícil dizer," o professor Cain balançou a cabeça. "Os lobisomens são um bando teimoso. Os vampiros são muito difíceis de rastrear, e os sereios preferem vagar pelos oceanos do que vir à terra. E você sabe como os Elfos enxergam os humanos."
"..."
"Diante das nossas opções, diria que os lobisomens são o melhor palpite. Eles podem ser obstinados, mas são ferozmente leais a um de seus. Se pudermos transformar Jin em um lobisomem, talvez ele recupere a saúde sob seus cuidados."
"... Será que realmente precisamos chegar a tanto?"
"Você o conhece melhor do que eu, Elna. A vida do Jin pode não estar em risco agora, mas quem sabe o que o futuro reserva? Cada visita ao hospital o deixa mais fraco, e ninguém sabe se a próxima será a última. Além disso, você realmente quer que ele passe um quarto da vida na cama, à mercê dos outros?"
"..."
Elna fez uma pausa e olhou para o céu de inverno. Mil pensamentos passavam por sua cabeça. O que era a coisa certa a fazer? Essa decisão era dela? Como ela lidaria com um filho que não era humano?
Esses eram temas que talvez ela pudesse escrever ensaios. Mas, no final, Elna não ia passar o dia inteiro ponderando sobre isso.
"... Eu vou conversar com o Jael a respeito."
Ninguém percebeu, mas no instante em que Elna pronunciou essas palavras… Os ventos de inverno do hospital ficaram um pouco mais frios.