Minha irmãzinha vampira

Capítulo 1

Minha irmãzinha vampira

A Lua de Sangue.

Um evento que acontece apenas duas vezes por ano.

Em um mundo onde vampiros, lobisomens e criaturas míticas estavam à solta, não era algo que os humanos comuns pudessem ignorar. Duas vezes por ano, a lua cheia que pairava sobre o céu empíreo escuro ficava rubra, quase carmesim.

Deixando de lado os lobisomens e outras criaturas, eram os vampiros os que mais se beneficiavam desse evento semestral.

Nessa noite, aquelas criaturas noturnas, já aprimoradas ao longo de anos de evolução, atingiriam seu potencial máximo. Seus poderes se duplicariam e seus sentidos ficariam aguçados além de qualquer comparação.

Mesmo os maiores humanos do mundo, caçadores de Demônios Externos que dizem ser a esperança e a última linha de defesa da humanidade… ficariam pálidos diante dessas verdadeiras feras.

Felizmente, com a ameaça dos Demônios Externos que invadiram nosso mundo pendurada sobre nossas cabeças, humanos e vampiros firmaram um tratado de paz.

Acabaram os dias da Inquisição. Humanos não caçariam mais vampiros, e o inverso também era esperado.

Vampiros e humanos se uniriam para combater a ameaça dos Demônios Externos, essas criaturas alienígenas que invadiram nosso planeta através de fissuras espaciais.

E com esse acordo veio a paz. A Noite da Lua de Sangue não era mais uma festa de caça onde os vampiros saíam soltos, assassinando humanos à vista de todos. Alguns humanos até transformaram o evento em uma data de celebração. Casais levavam seus parceiros a bons pontos de observação para se aconchegar e trocar beijos sob a enigmática Lua de Sangue.

A Lua de Sangue não passava de uma noite bonita na qual os amantes podiam se encontrar e ter seu pequeno encontro na meia-noite em nossa era moderna.

E, no entanto…

"ARGHHHH!!!"

Deitado dolorosamente na minha cama de hospital, minha boca se abriu involuntariamente, soltando numerosos gemidos de agonia. Rebolava na poça de suor que tinha criado, chutando e xingando de pura dor. Uma sensação de calor insuportável crescia no interior do meu corpo, e sentia como se meus membros estivessem sendo dilacerados tendão por tendão.

Ao mesmo tempo, um frio gélido se libertava pelas minhas costas, fazendo cada movimento parecer que mil agulhas congeladas penetravam profundamente na minha pele. Meu rosto estava vermelho e minha garganta seca, por causa de todos os gritos.

No entanto, por fora, não parecia haver nenhum problema. Não havia sangue nem pele descascando. Tudo o que sentia era fruto do que acontecia por dentro.

A dor persistia por minutos — ou quem sabe horas. Tentei várias vezes chamar por ajuda, mas ninguém respondia. Por mais que apertasse o botão, ninguém entrava no meu quarto.

"N-Nurse… N-Nurse..."

A minha cabeça estava uma bagunça. Não conseguia montar um raciocínio coerente. Sentia minha alma sendo rasgada ao meio, enquanto meus movimentos iam ficando cada vez mais fracos.

Vou morrer?

De forma estranha, a dor desapareceu assim que esse pensamento final veio à minha mente. Não, ela não sumiu exatamente; meu cérebro só ganhou clareza suficiente para ignorar o tormento que me torturava desde a infância.

Acho que… aceitei meu destino.

Se vou morrer… não vou partir na miséria! Eu me recuso a fazer isso!

Vou encarar a morte sorrindo!

Olhei para a janela de vidro e fixei meu olhar na bola vermelha que enchia o céu noturno. Como um vigia, ela cuidou de mim a vida toda. Não importava se eu tinha dez, vinte ou vinte e cinco anos. Não importava se estava no hospital ou relaxando em casa. A Lua de Sangue sempre me vigiaria.

De certa forma, era uma despedida digna de quem me acompanhou sempre.

'Ah… Está sem jeito…'

Fiz o máximo para manter um sorriso, mas era difícil demais. Minhas pálpebras ficavam cada vez mais pesadas. Os sentidos que percebiam a dor e o sofrimento que sentia começaram a se apagar. Devagar, mas seguramente… A vida na minha alma estava sendo drenada.

Quase na hora.

'Mãe… Pai… vou me despedir primeiro…'

Antes que a última fagulha de consciência desaparecesse do meu corpo, apareceu uma silhueta difusa bem diante da magnífica Lua de Sangue. Minha visão começaram a ficar turva, não conseguia distinguir bem o formato daquela criatura misteriosa que emergiu da Lua de Sangue. Talvez estivesse tendo uma alucinação; ou talvez não. Mas o que não podia negar era a voz doce que não deveria existir na sala de hospital privada onde eu estava.

"Querido irmão… Desculpe… Deixe o resto comigo..."

'Irmão? Desculpa? O que você está dizendo tão loucamente?'

Antes que minha alma se afastasse por completo, dei uma última demonstração de resistência contra a Morte. Concentrei-me ao máximo e tentei manter-me consciente. Minhas pálpebras pesadas se abriram parcialmente, fazendo o possível para desafiar o destino de dormir eternamente. E, embora minha visão não fosse nítida, ela me deu uma última chance de olhar para a intrusa que havia invadido meu quarto.

Uma mulher jovem de tirar o fôlego. Pelo menos, era isso que dava para perceber com o pouco que conseguia enxergar. Ela tinha cabelos brancos e sedosos e um corpo impecável. Sua pele era pálida, mais branca até do que a neve que caía do céu.

"Meu amado irmão… Tenha um soninho tranquilo… Não se preocupe com nada… Quando você despertar, finalmente poderemos ficar juntos novamente."

"…"

Não sabia como reagir. Não, não conseguia responder. Estava às portas da morte e não conseguia compreender uma palavra do que aquela jovem tinha acabado de dizer. Mas, ao ver os olhos daquela mulher tão bela adquirirem a mesma cor da Lua de Sangue que pairava além de seus ombros…

"Que lindo..."

E com isso…

A consciência pela qual eu lutava desesperadamente…

Desapareceu.