
Capítulo 120
(Hum, desculpe) Eu Reencarnei!
108 – O Vovô do Shou
Publicado em 4 de junho de 2017 por crazypumkin
Editado por Poor_Hero
" O que você está fazendo... "
Um homem idoso, com cerca de 60 anos, disse, com uma expressão de choque.
O jovem, que foi surpreendido de repente, pulou. Depois, virou-se lentamente e com timidez.
" Ah... não... Eu... er... "
Os olhos do jovem vagavam enquanto ele tentava explicar, mas então seus olhos inquietos cruzaram com os olhos arregalados do idoso, e sua voz foi ficando cada vez mais baixa, até parecer que ele estava falando consigo mesmo.
Durante todo esse tempo, os olhos do jovem se desviavam ao redor, como se estivesse perseguindo uma mosca que só ele conseguiria ver. Mas, infelizmente, ninguém percebeu. Por quê? Porque aquele jovem era…
" Você parece muito suspeito, com esses óculos escuros e a máscara cobrindo o rosto... Não vou ajudar se você for denunciado à polícia."
Os ombros do idoso se soltaram, enquanto ele deu uma longa e profunda inspirada. Sim, o jovem que carregava uma sacola vindo da escola... seu próprio neto, tinha o rosto coberto por um par enorme de óculos escuros e uma máscara. Ele não conseguiu nem ficar bravo com ele.
Quanto a isso, o velho sabia o motivo das ações do jovem. Ele assumiu a responsabilidade de ajudar o neto, mas isso só lhe dizia que sua ajuda ainda não era suficiente, por isso os ombros caíram. Mas o maior problema era a maneira de pensar do jovem.
" Ah, não se preocupe, Katsuo-san. Eu pareço ter no máximo 4º ano, então as pessoas pensariam que estou só brincando."
O velho... Katsuo, suspirou novamente. O jovem tímido respondeu com uma resposta bastante racional. Para piorar, ele ainda colocou os dois polegares para cima, numa pose de "qualidade".
Tudo isso vindo de um garoto do 3º ano...
Katsuo sentiu vontade de chorar. Ele não fazia ideia de onde seu idiota de filho tinha ido, mas se por acaso aparecesse na sua frente, ele tinha plena confiança de que daria um soco até os braços ficarem cansados. Até não conseguir mais levantar uma bandeira branca. Porque seu filho era um homem fraco, que poderia até desmaiar se aquilo acontecesse.
Enquanto Katsuo continuava a amaldiçoar mentalmente seu filho idiota, também se sentia grato por, pelo menos, ter o neto ao seu lado.
" Você pensa em fazer isso mesmo quando passar para o 5º ano?"
"...Ah."
Katsuo perguntou, com a voz misturando um suspiro, enquanto seu neto, Shou, respondeu suavemente. Parecia que Shou ainda não tinha pensado tão longe assim. Katsuo ficou aliviado por ainda ser infantil nesse aspecto.
Pensar em tudo que estava na sua frente era o jeito de uma criança agir.
Pensar no que o futuro reservava era o jeito de um adulto agir.
Quando Katsuo tinha a idade de Shou, ele brincava com todo mundo, causando muitos problemas. Ficava assustado quando apontavam uma arma para ele ao atravessar uma cerca de um estrangeiro…
Enfim, crianças deviam brincar, aprontar e correr por aí com o corrimento pelo nariz. Pelo menos essa era a opinião de Katsuo.
" E? Por que você se cobriu assim?"
Perguntou enquanto caminhavam por um corredor. Shou, com os óculos escuros e a máscara ainda no rosto, seguia logo atrás de Katsuo.
"...P...Para não ficar doente."
Depois de um longo tempo, Shou respondeu com uma voz trêmula. Katsuo não podia ver o rosto de Shou, que caminhava atrás dele, mas sabia que ele estava fazendo uma cara amarga.
"Parece algo bastante sério."
Disse Katsuo para si mesmo.
◆
Depois que a mãe de Shou faleceu, ele foi levado para um apartamento velho de um cômodo, onde morava um homem... seu avô.
Enquanto Shou ainda estava atordoado, muitas coisas aconteceram, e antes que percebesse, ele estava morando com aquele homem. Parecia que se chamava Katsuo. Desde que nasceu, ele nunca conheceu nenhuma família do lado do pai, então achava que todos tinham morrido. O homem, que apareceu de repente, parecia mais um parente distante do que seu avô.
A princípio, sentiu-se muito inseguro. Mas, mesmo Katsuo tendo uma boca afiada, cada frase dele era de preocupação com ele. Além disso, ele nunca olhou Shou com desprezo ou relutância, como sua mãe sempre fazia. Katsuo era um homem muito gentil.
Shou sabia de tudo isso. Mas algumas coisas ainda estavam fora do seu controle.
Ele decidiu viver com força, mesmo sem sua aparência, mas por mais que se esforçasse, seu rosto estava fixo na cabeça e não podia ser removido de seu corpo. Não podia transformar seu rosto em um ovo liso e sem manchas. Queria que as pessoas vissem suas conquistas, e não sua aparência, mas a primeira coisa que sempre veem é seu rosto.
Por isso, sem ter outra alternativa, tentou esconder seu rosto, mas Katsuo olhou para ele, surpreso. É verdade que, com isso, antes que as pessoas percebessem suas conquistas, poderiam vê-lo como uma pessoa suspeita.
Somente percebeu isso quando Katsuo apontou o fator. Shou tirou a máscara, ficando com o rosto corado. Embora Katsuo, que caminhava na frente, o tivesse olhado com surpresa, não foi um olhar de colerta ou desprezo, e Shou ficou feliz por, pelo menos, não ser indiferente a ele.
Quer fosse raiva ou surpresa.
Era assim que se sentia quando alguém se importava com ele, pensou Shou feliz, ajustando seus óculos escuros, com um sorriso nos lábios. Ao chegar ao final do corredor, Katsuo abriu a porta à direita. Lá dentro, havia um kotatsu sobre um tatame, uma sala de estilo tradicional japonês.
[1] - Kotatsu: mesa com aquecimento abaixo, comum no Japão, acompanhada de um cobertor para aquecer as pernas.
Sobre o kotatsu, havia uma tigela de tangerinas, e de frente a ela ficava a TV. Para Shou, que passava os dias entre tarefas domésticas ou estudos, foi a primeira vez conhecendo algo chamado 'diversão'. Kotatsu e tangerinas eram a combinação mais perfeita do mundo! Assistir TV nos fins de semana, relaxando, era melhor do que ele imaginava.
Por sinal, algumas pessoas chamavam as tangerinas de 'TV oranges' (laranjas de TV).
[1] - TV oranges: expressão em inglês, usada de modo informal para as tangerinas, brincando com a ideia de que o consumo delas combina com assistir TV.
Além disso, havia romances e jogos deixados pelo pai de Shou. Uma vez, ele se esqueceu do tempo enquanto lia romances, quase perdendo a hora de jantar. Nunca pensou que isso pudesse acontecer com ele.
Fazer tarefas domésticas foi algo que Shou mesmo propôs. Queria fazer isso como forma de agradecimento a Katsuo, por tudo que ele tinha feito por ele.
E, ao convencer Katsuo com esse motivo, Katsuo tinha um sorriso estranho no rosto. Depois disso, sempre elogiava a comida de Shou. E, novamente, Shou se sentia feliz.
Enquanto esses pensamentos passavam pela sua cabeça, ele parou na porta, sendo olhado de forma estranha por Katsuo.
"Nada.""
Shou sorriu de canto, entrando na casa.
◆
Deixando a mochila no seu quarto, ele se enfiou imediatamente dentro do kotatsu. Ao lado da sala, havia um cômodo de 5,6 metros quadrados, seu quarto. Katsuo o tinha equipado com uma escrivaninha e uma estante.
A cada vez que Shou voltava para casa, corria para sua escrivaninha. Como sempre fazia a lição de casa adiantada, o máximo que podia fazer ali era ler romances. Sempre se sentiu um pouco culpado por não usar a escrivaninha com mais frequência.
Parece que Katsuo chegou mais cedo do que o normal hoje. Normalmente, ele só voltava no fim do dia, pois parecia estar muito ocupado no trabalho. Uma vez, Katsuo levou Shou ao seu local de trabalho, e as pessoas disseram: 'Katsuo-san é realmente competente'.
Aquele homem parecia respeitar muito Katsuo, e Shou se sentia orgulhoso de ser seu neto. Então, ele traçou em sua cabeça um objetivo de vida: tornar-se alguém que também conquistasse respeito.
Como Katsuo tinha vindo mais cedo hoje, Shou ficou secretamente feliz por dentro. Os dois ficaram aconchegados no kotatsu assistindo TV, até que Katsuo de repente falou.
"Ah, Shou."
"Sim?"
"Você... isso... Não, na verdade, hoje uma filha de um subordinado me repreendeu dizendo: 'Por favor, vá para casa mais cedo de vez em quando! Não é bom se você ficar doente!'. Era bastante cansativo ficar até tarde na empresa. Mas, de alguma forma, não faço mais isso. E, ao pensar nisso, percebi que é porque você está aqui."
"
Katsuo parecia que queria falar alguma outra coisa no começo, mas agora, Shou não tinha mais interesse no que fosse. Apertou os punhos, tremendo sob a mesa, profundamente emocionado.
Porque você está aqui.
A palavra de Katsuo ecoava na sua cabeça várias vezes. Shou ficou feliz por ser útil, por ter vindo morar aqui. Percebeu que, sim, esforço traz resultados.
"...Então, obrigado... Ei! Você está bem, Shou?! "
Shou ficou tão emocionado que não conseguiu segurar as lágrimas, que começaram a rolar pelo rosto. Katsuo, percebendo as grandes gotas, se moveu, nervoso. Sem saber o que fazer, deu um tapinha tímido nas costas de Shou, mas quanto mais tentava acalmá-lo, mais as lágrimas caíam forte.
Ele precisava.
Shou ficou muito feliz, mas já fazia um tempo que não chorava tanto, então, sem conseguir controlar, simplesmente não parou de chorar. Não sabia ao certo quando ou por que estava chorando, mas continuava chorando.
E chorou até adormecer, enquanto Katsuo, que inicialmente ficou desnorteado, também ficou calmo no meio do caminho, continuando a acariciar Shou, que, por sua vez, chorava ainda mais.
E aquele foi o dia em que Shou chorou até adormecer pela primeira vez.